domingo, 31 de julho de 2011

não consigo

A sério, há 3 dias que estou a tentar pensar em qualquer coisa com piada e não consigo. Não que eu tivesse sempre piada, às vezes não tinha. Tenho a autocrítica suficiente e a humildade para o reconhecer. Mas outras vezes, tinha muita piada. Muita mesmo. Eu mesmo ria e ria e ria das coisas que escrevia. E diziam de mim: "és genial LOL!" e faziam likes no facebook e recebia e-mails de miúdas a dizerem "loool \o/ adorei!" Mas esse tempo acabou. Então quero ser a sério como o Valter Hugo Mãe, tentar ser como ele e fazer as pessoas chorar só com 3 ou 4 palavras bem escolhidas. Um escritor que toca as pessoas (no bom sentido) com palavras comoventes e sensíveis e não um desses palhaços que só sabe é fazer rir. Portanto, a partir de agora, vou ser uma pessoa com sentimentos e com profundidade poética e muito sensível. Em todos os meus posts vai dar para imaginar um mimo a chorar enquanto escreve e isso é uma imagem que comove, como por exemplo a dos bombeiros a sair da poeirada toda do world trade center em escombros.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

o romance, status update

O romance já marinou uns meses, já tem feedback, anotações pertinentes e uma crítica global encorajadora. Resisto ao impulso de fazer agradecimentos aos dois indivíduos que me ajudaram ao longo deste ano e pouco, porque não acabei e eles merecem uma coisa em condições.

Agora olho para o draft como um corpo estranho e basta-me folheá-lo para encontrar coisas a alterar. Vou ver se trato da última revisão então, que o segundo romance teve duas tentativas louváveis mas que esbarraram na página 40 ou 50, por diversos e variados motivos. Também não ajuda ter de trabalhar, stress, coisas em que pensar e uma vida emocional estável como um sismógrafo no Japão.

Gostava muito de conseguir fazer um num planalto permanente de euforia delirante. Precisava primeiro de dormir uma semana.

estar apaixonado é...

... achar esta música boa e adequada. Deus me livre.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

e no entanto, sou uma pessoa geralmente muito tranquila

World Domination Enterprises - Can't live without my radio

diário de Anders Behring Breivik #1

11 de Junho de 2011, Quinta do Hafleikr, Arredores de Oslo
Querido diário,
Hoje lanchei salmão fumado com tostas integrais. Gosto das tostas integrais do Slipp Søt, são mais baratas que as de marca e melhores que as do Kontinentet. Prefiro fazer as compras no Slipp Søt porque o Kontinentet uma vez tinha um muçulmano a arrumar as prateleiras dos frescos. Tenho de ver quem são os responsáveis pelos recursos humanos do Kontinentet e actualizar a minha lista de alvos (estou quase quase a chegar ao milhão de alvos a abater).

13 de Junho de 2011, Quinta do Hafleikr, Arredores de Oslo
Querido diário,
Hoje, depois de lanchar e experimentar os explosivos fui dar um pequeno passeio nas imediações da minha quinta. O contacto próximo com bela natureza da Noruega limpa o espírito e revigora-me. Fico inspirado, este ar límpido é relaxante e salutar. Penso que a vida nas cidades é nociva para o espírito e defendo um regresso a um tempo mais simples e verdadeiro. No caminho vi esta vaquinha e tirei-lhe uma foto.
Depois testei a Glock automática nela e correu bastante bem. Admito que era um alvo fácil mas o meu o objectivo era ver se as balas que explodem no impacto tinham o efeito dilacerante que o simpático senhor da loja me garantiu que tinham. E confirma-se. Tenho hamburguer para meses. Só não sei se a vaquinha era marxista... é que não como "carnes vermelhas".


16 de Junho de 2011, Quinta do Hafleikr, Arredores de Oslo
Querido diário,
Estou a ficar muito frustrado com o meu exército online do Call of Duty. Andei dias a treinar o meu esquadrão com um português, o Tolan_007 e ele é realmente um sniper fabuloso antes de ficar com os copos, o que acontece por volta das 23:45. Mas agora deixou de ir aos treinos porque está a jogar ao Dirt 3, um jogo estúpido e infantil de corridas de carros. É 3ª baixa este mês no meu exército, o kilah_beast666 joga singstar com a esposa e os filhos, o crazy_nazy98 parece-me gay porque comprou uma wii e o mario karts... Como é suposto defendermos a europa da invasão muçulmana? Às vezes desconfio que não levam as coisas tão a sério como eu. Só para os lixar, na véspera da minha acção militar em Ultoya vou mandar um mail comprometedor a todas estas pessoas. Sim, sim, um que comece com "meus caros, obrigado pela vossa ajuda preciosa, sem a vossa inspiração e ajuda logística não seria possível levar a cabo esta gloriosa acção" etc. etc.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

escrever músicas e poemas para elas

Eu agora ando sempre a ouvir a star fm, tem uma excelente selecção de oldies.

O Phil Phillips escreveu uma música chamada sea of love que eu ouvi há dias no eixo norte sul e que me comoveu, é esta aqui ó:


Já fizeram muitos covers dela, desde versão tocante da Cat Power, ao hilariante Robert Plant em versão Marco Paulo, passando pela assombrosa versão do Tom Waits.

No mundo da música acontece o contrário do que acontece no mundo real: são os brancos que roubam coisas aos pretinhos. Não que se possa falar em roubar, quer dizer, os direitos são legais e há recriações do original, o problema é o mérito da música porque muitas vezes não sabemos que existe um original e que aquele é um cover. Na Star Fm estou sempre a descobrir originais de músicas de que só conhecia um cover. O Elvis então tem 201322 sucessos assim.

Ao que consta, o Phil Phillips queria conquistar uma miúda e então escreveu a música para ela, o que é louvável, porque sabemos que os pretinhos quando querem uma coisa, como quando OJ Simpson queria resolver o problema conjugal ou o Kanye West queria o microfone da outra, ou o Michael Jordan queria meter a bola no cesto, não estão com meias medidas, são muito pragmáticos.

«Atirar ao cesto!? WTF!? É muito mais prático assim ó!»

Mas o Phil Phillips não conseguiu a miúda. Talvez o nome Phil Phillips não tenha ajudado, como não ajudaria chamar-se Coll Collins. Talvez a letra que diz "That's the day I knew you were my pet" não tenha sido muito lisongeira para a sua apaixonada. Não obstante, a música foi um sucesso e chegou ao nº1 e, para além de umas palmadas no ombro do executivo branco dono da editora, deve ter ganho bastante para pretinho (uns 1000 dólares) e deve ter comprado correntes de ouro, peles, moet&chandon e um dente de ouro e ainda lhe sobrou trocos para umas ricas melancias. Com este aparato e com a fama, deve ter conseguido outras mulheres, mas aquela em particular, que era a que lhe interessava, não conseguiu. Então porque a música foi um sucesso?

Eu explico (não sei se estavam a responder à pergunta do parágrafo anterior mas eu não vos oiço falar e ia explicar de qualquer maneira). Porque as mulheres gostam muito de se colocar no papel abstracto de uma personagem a quem é dedicada uma música ou um poema romântico e lamechas. Mas é como situação teórica, na prática essa coisa de fazer músicas ou poemas românticos resulta muito mal para conquistar uma mulher se ela à partida não gosta de nós. Não é um poema ou uma música que a vai fazer mudar de ideias, nem que seja o Sea of Love. Acham creepy e lamechas que se farta e há jovens que demoram muito a perceber isso e ainda bem porque pelo entretanto vão fazendo músicas e poemas que são bem mais interessantes do que elas.

:P

e valeu a pena porque o kill death ratio do Breivik foi de uns 80/0 e teria sido mais se os miúdos pudessem fazer respawn

«Breivik treinou matança com videojogos 'online'» - DN

._.

*suspiro*

Há mais de 100 milhões de jogadores de consolas PS3 ou XBOX 360, mais outros tantos em PC em todo o mundo e pelo menos 80% serão homens que jogam a First Person Shooters o que dá uns 160 milhões de pessoas altamente treinadas em matança de noobs desarmados e encurralados.

grande cidade

Acordar com um corte num dedo porque às 3 da manhã com os copos, antes de dormir, quisémos umas fatias de torresmo para fazer uma sandes. E de manhã ter apenas uma vaga recordação disso.

Tomar duche de água gelada porque no apocalypse now é assim que põem o martin sheen sóbrio. Gritamos como o martin sheen mas não acordamos como o martin sheen.

Sentir o orgulho ferido com o papel que diz "compro carros velhos" colocado no pára-brisas do nosso carro.

Ter a sensação que nos esquecemos de qualquer coisa mas só quando precisarmos dela é que nos vamos lembrar e já será tarde demais.

Königsforst #5


Na altura este programa chocou-me um bocado pelo título: "Conversas de Escritores", em vez do natural "Conversas com Escritores". Pensei que fosse o José Rodrigues dos Santos a moderar uma conversa amena entre o Dan Brown e o Paulo Coelho (e depois entrava um crítico psicopata no estúdio e matava os três ao tiro e em directo muaahaahahh).

Mas não, pelo que percebi de relance, eram conversas entre José Rodrigues dos Santos e outra pessoa, por vezes um escritor. O "conversas de escritores" sugere de forma bastante óbvia que o José Rodrigues dos Santos perante o José Saramago ou o Gunter Grass não se coloca na posição de entrevistador mas de igual. Puto, a humildade é uma cena que a ele não lhe assiste.

E eu queria aqui deixar esta faixa que é como me sinto hoje
Beijinhos e abraços, força, continuem.

terça-feira, 26 de julho de 2011

decisões

A tentativa de ser jogador de poker profissional online foi uma boa terapia. No online jogamos milhares de mãos em pouco tempo e isso dá uma perspectiva da "sorte" e do "azar". Os ganhos e perdas estão fortemente correlacionados, no longo prazo, com a justeza das decisões que tomamos e, no longo prazo, toda gente tem a mesma sorte e o mesmo azar. Ou seja, o azar não é uma coisa pessoal ou intencional.


Na vida, as coisas são mais complicadas e complexas porque as perdas - especialmente as perdas - são potencialmente infinitas. E não é verdade que esse azar esteja uniformemente distribuído por todos nós como está no poker. No nosso curto tempo de vida não jogamos 200 mil vezes a mesma situação até ter exactamente a mesma sorte que o vizinho do lado. Existem acontecimentos pontuais que simplesmente acabam com o jogo (por exemplo, vir um camião fora de mão direito a nós porque o condutor adormeceu) ou nos deixam marcas permanentes.

Temos de ter cuidado a definir o próprio azar. Antes de azar existirá um conceito de condição adversa que nos é completamente independente, como o pneu de um carro estoirar ou ter José Sócrates como primeiro ministro. Isso podemos chamar de azar. Mas se vamos com o cinto ou não, se vamos a 120km/h ou 220km/h, já depende de nós.


O saldo sorte / azar da vida tende fortemente para o que compreendemos como azar. Porque para nós, azar é uma coisa que nos prejudica, faz mal, deixa tristes, magoa, empobrece, aborrece, irrita, enfraquece etc. E há muito disso e de cada vez que acontece, faz-se sentir. E não vemos a sorte invisível à nossa volta. Podemos ter passado ao lado do camião com o condutor quase adormecido e mesmo no momento em que ele ia adormecer o rádio deu uma música mais espevitada e ele caiu em si e abriu as janelas ou podemos ter tido o José Sócrates e não outro ainda pior que podia ter-se filiado no PS ou outro ainda pior que não nasceu e que teria levado o PNR à maioria absoluta com o apoio dos portugueses que comentam os jornais online. Podíamos ter tido leucemia aos 8 anos se uma determinada célula de medula se tivesse mutado da forma errada e não mutou, apesar de ter estado quase, quase. Como essas coisas são invisíveis, não temos o reflexo de pensar que de cada vez que algo não corre mal, tivémos sorte. No poker vemos porque quando temos probabilidades boas de ganhar e ganhamos, sabemos que aquilo podia não ter corrido assim daquela vez, como acontece 2 ou 3 vezes em 10 ao fim de mil jogadas iguais.

Portanto, pode ter razão aquele cristão que agradece todos os dias à divina providência o facto de estarem todos vivos e de haver comida na mesa, enquanto que a nós, intuitivamente, nos pareceria que se há comida na mesa é porque ele trabalhou para a ganhar e se há saúde, é porque as pessoas daquela família comem as coisas certas e fazem exercício físico.



O problema de pensarmos que controlamos demais as diferentes variáveis da nossa vida é o de isso gerar uma frustração enorme quando as coisas correm mal. No poker chama-se a isso tilt. Mesmo o jogador mais calmo e zen tem tilt ocasionalmente se for sujeito a uma sucessão de azar que parece desafiar as regras da lógia. Se em 10 jogadas, em vez de só perder as previstas 3 ele perder 10 (esquecendo-se que umas semanas antes ganhou 20 sem perder nenhuma) é possível que comece a ficar alterado.

E quando se altera começa a tomar más decisões e a ficar cheio de um sentimento autodestrutivo: ele não quer saber do resultado e desafia a sorte e o bom senso, vingando-se da sorte ao agir sem lógica e sem amor próprio, com pena de si mesmo. O poker tem a vantagem de nos podermos retirar da mesa se conseguirmos pelo menos identificar que estamos assim, em tilt. Um bom jogador reconhece sinais do tilt e abandona a mesa ou relaxa precisamente por reconhecer esses sinais. Comecei a ganhar mais quando simplesmente desligava o pc depois de momentos de azar e ia apanhar ar ou beber uma cervejinha e relaxar. Na vida não. A vida é uma chatice do caraças neste aspecto porque não nos podemos retirar da mesa.


Contudo, temos tantas vezes a ilusão de nos retirar da mesa. Uma depressão é um retirar da mesa visto que os sintomas incluem isolamento e perda de interesse por fazer coisas. Um desgosto ou uma desilusão de amor também pode gerar essa vontade de nos retirarmos da mesa e deixar-nos num estado de tilt permanente. Contudo, só passamos de uma mesa para outra, estamos sempre vivos, vamos para outro jogo, um jogo bem mais desinteressante em que a única certeza é de não perder tudo depressa, mas sim devagarinho, sem dar por isso.

Este foi o momento anual Doctor Phil deste blogue e pelo facto apresento as minhas sinceras desculpas.

têm vertigens? :|

ao cuidado dos senhores do Partido Socialista

Vocês escolheram o António José Seguro em vez do Francisco Assis e com 2/3 dos votos. Para Secretário Geral do Partido Socialista e candidato a Primeiro Ministro. O António José Seguro, em vez do Francisco Assis... Estão loucos!? Jesus Cristo! Estão loucos! *FACEPALM* Portanto, de um lado têm o António José Seguro e do outro o Francisco Assis e vocês escolhem o lado que tem o António José Seguro? Em vez do lado que tem o Francisco Assis? É que uma coisa era escolher entre o António José Seguro e o Vital Moreira ou entre o António José Seguro e o Seguro José António. Como é que vocês fazem escolhas no vosso dia a dia? Como é que sobrevivem a fazer escolhas como atravessar na passadeira quando o sinal muda para o vermelho para os peões e parar quando muda para verde? A selecção natural não faz o seu trabalho por essas bandas!
Era só isto.


Já agora, obrigado, entretanto descobri que na página do grupo parlamentar do PS é possível ver a maior foto disponível na web da muito bonita Inês de Medeiros (é clicar em cima da foto, é gigante!)

escrever com muito sono

Foi numa tarde quente de julho, tinha acabado de chegar do trabalho. Fui ao frigorífico e abri uma cerveja. Acendi um cigarro e deixei-me ficar debaixo do jacto de ar frio do ar condicionado, em frente à janela, observando a rua cá em baixo. Estava encharcado em suor e arrefeci depressa. Tocaram à campaínha. Abri a porta. Era a senhora do gás. Era bastante atraente, tinha belas orelhas, um nariz apurado, o cabelo sedoso e cheirava bem.
-- É para fazer a leitura do contador.
-- Gosto muito do teu cheiro. -- disse-lhe.
-- Também gosto do teu. Mas devias deitar fora o caixote do lixo que tens coisas estragadas lá desde ontem. -- disse-me, deitando a língua de fora e arfando um pouco
-- Gostas de coelhos? -- perguntei-lhe.
-- Sim.
-- Sei de um sítio onde há coelhos, queres vir?
-- É muito longe?
-- Não, é já ali.
-- Não me posso demorar, tenho de fazer as leituras em todas as casas desta rua.
-- A sério, é já ali.

Saímos de casa e fomos a andar até ao limite da cidade, perto de uns terrenos baldios que em breve teriam construções.
-- Dizes que há coelhos aqui? -- perguntou-me, farejando e deixando a mão suspensa no ar.
Eu cocei a orelha e farejei na mesma direcção, a do vento. De repente esticámos os dois as orelhas e abrimos muito os olhos. Nem precisámos de falar nem nada, sabíamos o que era e desatámos a correr na mesma direcção. Era um coelho, mas escapou.

Deitámo-nos no feno (agora havia feno) e cheirei-a no pescoço. Ela abanou o rabo. Era muito atraente, o nariz estava fresco e húmido.
-- Não tens de voltar ao trabalho? -- perguntei-lhe.
-- Despeço-me, quero lá saber.
Então chegaram os pinguins que tocavam acordeão em feiras e festas e começaram a tocar para nós a Cavalgada das Valquírias de Wagner. Dei-lhes dinheiro para se irem embora mas eles intepretaram mal o meu gesto e pensaram que era um incentivo para continuarem lá. Depois da Cavalgada das Valquírias tocaram o Saturday Night da Whigdiefld e depois o Wake Me Up Before yo Go Go do George Michael e por acaso tocaram bem, mas já não ouvimos o resto porque entretanto ela disse que tinha de ir.
Estávamos ao balcão do bar quando


Estou com demasiado sono. Peciso dormir.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Utoya

Tolstói critica fortemente os historiadores - como bem se recordam - por estes tentarem explicar o passado com uma metodologia aparentemente científica mas que na prática resulta em coisas desonestas, parciais e muito incompletas. Fazem da "história" um conjunto de factos descontínuos e finitos e marcados por personalidades poderosas e acontecimentos supostamente importantes. E depois seleccionam eles os factos ou a forma de os ver. E é assim que nós aprendemos história, decoramos datas de batalhas ou descobertas e o nome dos reis.


É certo que isto evoluiu, os historiadores de hoje não serão os mesmos de há 150 anos. Contudo, basta ver a discussão entre investigadores e historiadores que é gerada por figuras como Salazar de cada vez que sai uma biografia do dito, para perceber que há coisas que provavelmente nunca vão mudar. Existe informação quase infinita e ambígua e sintetizar essa informação e procurar "explicar", será sempre sujeito a enviesamento.

Sabemos que é preciso passar tempo para depois haver mais objectividade e se cristalizar uma ideia mais clara de um determinado acontecimento ou personalidade. Mas por outro lado, isso também é feito à custa do desaparecimento de informação, considerada ruído ou irrelevante, que existe na informação contemporânea.

Um bom exemplo foi o massacre de Utoya e a bomba. Este atentado tem gerado uma série de teorias nos jornais. Assim que o atentado sucedeu, muitos acreditaram imediatamente na suspeita da Al Qaeda ou de outros grupos de fundamentalistas islâmicos em retaliação pelas caricaturas de Maomé. Para mim isso era totalmente credível. Depois, deu-se uma pirueta e afinal é o grupo de gente oposta, um cristão fundamentalista e de extrema direita.

Daí, considera-se este caso como exemplar de qualquer coisa e faz-se a ligação ao ressurgimento da extrema direita em toda a europa como uma resposta ao multiculturalismo. Portanto, tão depressa se explicam bombas e assassínios em massa por fundamentalismo islâmico como por xenofobia e extrema direita (sendo que as vítimas, apesar de tudo, são jovens noruegueses).

Se o tipo fosse apenas um psicopata sem ideias políticas, então veríamos toda uma série de teorias de que os jogos de computador, a internet e o heavy metal alienam os jovens e teríamos um Columbine norueguês.

O massacre de Columbine tinha aquele toque de gratuitidade e inexplicável: como pode um adolescente (naquele caso dois) nutrir tanto ódio por colegas, sendo que nem sequer era vítima de bullying e tinha uma educação e classe aparentemente normal? Então o enigma focava-se nisso apenas e na questão de ser fácil obter armas automáticas. O massacre de Utoya, que é talvez ainda mais enigmático e grotesco, como tem um contexto político, vê recair sobre si para já toda uma série de reflexões políticas, ao ponto de nos telejornais e rádios e jornais, se fazer um apanhado do crescimento da extrema direita na europa e dos actos de violência dispersos e completamente desligados entre si, para apoiar a teoria.

não tive sono entretanto


Comecei a fumar lentamente, depois dos 20. Antes disso fumava ocasionalmente, para me treinar para as drogas leves e não tossir quando a C. me passava um charro no bairro alto. Um escritório onde todos fumavam contribuiu para me tornar fumador mais depressa, havia o culto da pausa para o cigarro e eu queria integrar-me no mundo dos adultos. Então em vez de só fumar quando saía à noite, comecei a fumar diariamente e durante o dia. Também há os filmes, o rock, os escritores envoltos em nuvens de fumo.




Deixei de fumar por longos períodos. Até que uma sucessão de coisas más, uma delas muito triste (uma morte) me colocou num estado de espírito niilista que no íntimo me fazia pensar que não era assim tão importante morrer aos 36 ou aos 56, que era tudo a mesma coisa. Não vou dizer que hoje penso de forma diferente nesse aspecto. Não tenho minimamente medo de morrer de cancro ou de outra coisas qualquer, continua a ser-me indiferente. Há poucos dias mataram a tiro quase 100 jovens na ilha de Utoeya. Em termos absolutos, não é desonesto achar que umas pessoas têm sorte e outras azar? Que direito tenho eu de achar que a minha vida é "melhor" por ter vivido mais 10, 15 anos que um miúdo na ilha de Utoeya que estava no sítio errado à hora erada? A única forma de entender isto é esticar as coisas ao infinito e relativizar, ver que não existe diferença entre viver uns segundos ou viver oito décadas. A opção contrária é demasiado cruel e absurda para se verdadeira, é anti-natural,. A morte é uma condição inerente à existência.




Por isso para deixar de fumar são precisos motivos mais práticos: é caro, os dentes ficam amarelos no longo prazo, temos mau hálito, o coração e os pulmões sofrem, custa-me mais fazer surf ou btt e sobretudo, tenho dores de cabeça com muito mais frequência. Mas o Bukowski fumava.

a polícia anda atrás de mim

Não sei o que se passa, não há carro patrulha da BT que não me mande encostar para vistorias de rotina. A de hoje foi por uma multa pela inspecção (250 euros) que devia ter feito há umas semanas. Mas havia mais por onde pegar, ter bebido, a morada da carta ser diferente do BI, uma arma de fogo no porta-luvas, um corpo amarrado na bagageira e uma luz de stop avariada. Até tive sorte. E conduzo devagar, com calma, nunca é por excesso de velocidade ou infracções, só mesmo por rotina. Em mais de uma década de carta nunca me tinham mandado parar, ultimamente perseguem-me, no meio de 4 ou 5 carros escolhem-me sempre a mim e nem sequer sou preto. Independentemente disso, hoje deixo de fumar, já escrevo sobre isso, se não tiver sono entretanto.

domingo, 24 de julho de 2011

Amy

Nunca compreendi como era possível empurrar a Amy Winehouse para um palco em estados catastróficos de bebedeira, quando seria evidente o desastre. Ela era um freak show a explorar. As suas ocasionais humilhações em palco criavam buzz e publicidade gratuita, só isso explicava como agentes ou responsáveis pela sua carreira a deixavam expôr-se repetidamente nessas situações em vez de cancelar o concerto. Tinha o ar de ser uma pessoa totalmente à deriva do próprio talento e que este era também uma maldição. A morte dela não é uma surpresa mas talvez por isso mesmo seja mais triste ainda. Porque ninguém a salvou?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

quinta-feira, 21 de julho de 2011

às vezes somos o casal...

... às vezes somos o creepy lama.

o sabor da cereja

Ao meu lado na viagem de 10 horas veio um senhor de idade. Era daquelas pessoas simples e de idade que se sentam no lugar e na fila errada, que não atinam com os headphones, que ouvem com atenção as instruções de segurança e apalpam debaixo do banco para ver se lá está o colete, que de vez em quando levantam a cabeça e olham confusos para algo que lhes chamou a atenção tentando detectar sinais de perigo no comportamento de uma hospedeira e que se benzem antes do avião descolar. A propósito do pão duro de 3 dias (uma vergonha na tap) meteu conversa comigo, foi para o Brasil em 1959, vindo de Castelo Branco. Há muitos anos que não voltava a Portugal e estava de férias umas semanas. Com o início da turbulência já em cima do Atlântico, tentou encetar uma conversa sobre o avião da airfrance que caiu mais ou menos ali mas eu consegui fingir que estava com muito sono e só murmurei qualquer coisa. Depois, de repente, perguntou-me se ainda havia cerejas em Portugal. 'No Brasil não há cerejas, só umas do Chile mas não têm nada a ver, o sabor é completamente diferente'. Disse-lhe que sim, que havia cerejas ainda. Disse-me 'espero bem que haja porque é a última vez na vida que vou as vou poder comer'. E disse isto a sorrir.

terça-feira, 19 de julho de 2011

porque gosto deles

Lev Tosltói

Como podeis certamente apreciar pela fotografia de Tolstói, ser um grande escritor russo não era sinónimo de se ser uma pessoa daquelas que são divertidas e dão entrevistas para aquele programa da SIC dos domingos depois do almoço, o Fama Show, aquele em que miúdas giras e divertidas entrevistam pessoas famosas e divertidas em coktails em vilamoura e corridas de carros vintage no estoril e a camara faz zooms muito rápidos e música de fundo e comentários muito espirituosos em rodapé com aqueles pontos de exclamação em Comic Sans que dá um efeito muito irreverente e cómico e eu farto-me de rir.

Portanto, o grande escritor russo não era esse tipo de pessoa. Aliás, é do conhecimento geral que a editora do Tolstói em 1865, a Ophiciniskaya do Libriusko, sugeriu que este fosse publicado todo em comic sans o que Tolstói terá recusado, mergulhando a cara chorosa nas mãos e recebendo palmadinhas de conforto do seu agente que fez sinal com a cabeça ao senhores da editora que era melhor esquecerem essa ideia e seguir em frente na reunião.

Fiodor Dostoiévski

O grande escritor russo era uma pessoa que se preocupava com problemas muito sérios e pensava muito neles e ficava um bocado angustiado com isso, particularmente com o facto de se sentir bastante incompreendido e impotente face aos problemas que identificava. E ao contrário dos emos, o escritor russo quase nunca usava eyeliner.

O grande escritor russo pensava naquilo que os estrangeiros chamam "o grande filme" - "the big picture" ou, como dizem os franceses "le grand croissant". Não lhes bastava os seus próprios problemas, tinham de se aborrecer com os dos outros, como a opressão, a miséria, a hipocrisia, a maldade, a injustiça, a guerra, a crueldade, o sofrimento... um pouco como aquelas pessoas que para além de ficarem tristes do Angélico morrer, também ficam tristes pela morte dos outros ocupantes do carro, mais o outro que vinha atrás e que atropelou um deles e que vai ficar com um peso na consciência para o resto da vida. Essas pessoas, comentando este tipo de acontecimentos no café, no trabalho e no quiosque, nem que seja dois minutos por dia entre o plantel do Benfica e o rating da Moody, estão sem querer a aproximar-se do ideal do grande escritor russo.

e Nikolai Gogol

Todos os grandes escritores russos admiram o homem simples e prático, com sentido de ética, um ideal de virtuosismo, que não pensa demais e é feliz. Em todas as suas histórias haverá uma personagem deste tipo, normalmente alguém ligado ao campo, ao arquétipo do russo que vive para trabalho, para a família e prazeres simples e que aparece aos olhos do urbano decadente dilacerado por paixões, vicios e ciúmes, indisciplinado e inquieto, como o homem mais sábio, o mais sábio à face da terra. E sente-se que aquilo é real, pois não haverá certamente pessoa menos sábia que aquela que quer resolver os problemas das dores do mundo e da alma em vez de se preocupar em ir viver para o Baleal perto de Peniche e pescar peixes e trabalhar numa fábrica de enlatados de sardinhas (por exemplo).

o fim do Guerra e Paz

Como qualquer grande obra que se preze, o Guerra e Paz tem dificuldades em lidar seu próprio fim. Na parte final, que é uma migalha em termos de dimensão, o Tolstói comete o crime que já vinha ameaçando cometer. Acho que é a partir do II volume que começa a fazer introduções aos capítulos com ensaios sobre história e as relações de causa-efeito. Insurge-se muito contra os historiadores porque estes simplificam infantilmente (e desonestamente) a história, cristalizando-a em acontecimentos chave e personalidades importantes, conforme as suas próprias vontades.


Isto é um tema que pelos vistos diz muito ao Tolstói porque nas últimas páginas ele mete-se com ensaios atrás de ensaios, repetindo à exaustão a mesma ideia. Via-se que ele estava ressabiado com isto. Acho que escreveu o Guerra e Paz porque em 1860 discutiu no café com um gajo que ateimou que não, que a história era decidida em acontecimentos pontuais e pela mão dos poderosos e com outro que dizia precisamente o oposto, que os poderosos eram a expressão da vontade do colectivo, e o Tolstói, está-se mesmo a ver, bufava de indignação porque ninguém sabia nada, ninguém podia achar que era assim ou assado e como estava tudo bebedo e ninguém o ouvia como deve ser, foi e escreveu um romance de mais de 1000 páginas só para veres que é para aprenderes e apareceu no café em 1865 com o livro na mão.

E não é que pelas 900 páginas uma pessoa não tivesse percebido essa intenção, até porque há vários ensaios ali pelo meio. Ele escreve os ensaios directamente, como Tolstói, dirigidos ao leitor. O Dostoiévski ou o Thomas Mann usavam uma técnica muito mais desonesta, tinham uma coisa chamada "personagem" e essa personagem dizia coisas em debates, exprimia ideias. E havia personagens que tinham ideias opostas e então discutiam. Ora, ao Tolstói, claramente, não interessa mentir e criar personagens que, como bonecos de ventríloco, andem praí a tecer grandes considerações sobre a história porque é uma coisa que pessoas que a estão a viver, não comentam assim por aí além. Por exemplo, dois judeus a caminho da câmara de gás não discutem se estão ali porque Hitler o quis ou porque os soldados o levam a cabo ou se foi o povo alemão que o determinou.


Com este epílogo gigante ele demonstra abertamente que não se apercebeu do que tinha acabado de escrever, o que explica, em boa parte, porque acabou por desistir de escrever. Ele irritou-se com aquilo. No fim acaba com a farsa e dá uma lição como quem diz "o que eu queria dizer era isto, nestas 900 páginas, estão a ver?" Só que aquilo que ele disse não era bem aquilo que ele pensava que estava a dizer. Lembra-me o gajo que ficou milionário ao criar o primeiro processador de texto no início dos anos 80. Era um estudante desses dos MITs e tal que, para escrever a sua fabulosa tese de mestrado que lhe daria prestígio e sucesso, criou um programa para poder escrever a tese: o primeiro processador de texto.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

os paulistas nos negócios


Tenho saído de todas as reuniões verdadeiramente entusiasmado com o nível do top management brasileiro aqui em São Paulo. São bons, mesmo bons. As capacidades de comunicação são fenomenais, são simpáticos, acessíveis, informais, straight to the point, forma de estar americana (a melhor), positivos e curiosos. Notem que pelo menos aqui em S.Paulo não é aquela simpatia espalhafatosa, o trato é fino e educado e têm muito humor. É preciso dizer que isto contrasta bastante com a forma de estar portuguesa no top management em que há uma formalidade e uma distanciação pesada, às vezes sorumbática e inibidora, mesmo nos bons administradores e gestores, que os há. A diferença é essencialmente cultural.

Isto vê-se em todas as áreas portuguesas, basta pensar nos políticos que são, regra geral e passe a expressão, uns enconados, desculpem o termo, sendo Cavaco Silva a expressão máxima desse enconanço e que, como ganha eleições, tal significa que o português não é avesso a uma forma de estar mais frígida e impessoal que um frigorífico.

O que muitos me têm avisado é que essa proximidade e entusiasmo que os brasileiros suscitam também é por vezes inconsequente. Eu não sei avaliar isso por experiência pessoal ainda e não tenho motivo para acreditar que assim é. Contudo, pessoas que cá estão a trabalhar há mais de um ano referem esse aspecto unanimemente e que é preciso "dar desconto" e não "ficar demasiado entusiasmado" por tudo parecer que vai correr bem e que se fizeram emotional bonds rapidamente. E que tanto se aplica aos negócios como nas relações pessoais.


Um amigo que cá vive dizia-me que acha que eles não fazem por mal (até porque não têm nada a ganhar), que são mesmo assim simpáticos e positivos e querem que naquele momento uma pessoa fique contente e que tudo decorra no melhor espírito possível. Então entusiasmam-se genuinamente com a pessoa com quem estão a falar. Assim, despedem-se com um "a gente combina!" que normalmente significa que nunca mais nos vão ligar. Notem que em Portugal muitas reuniões também não dão em nada, provavelmente na mesma proporção que aqui, no entanto, não se sai de lá com a sensação que todos os problemas da nossa vida foram resolvidos numa hora e a assobiar.

Depois de algumas desilusões, o português aqui vai afinando e calibrando as suas reacções. O que é certo é que é agradável trabalhar com gente assim, mais vale a mais do que a menos.

Nas amizades e nos amores, não possuo elementos para firmar uma opinião, é uma área em que a informação em 2ª mão me diz pouco, pelo que tenho de recolher informação empírica e prática no terreno.

gays no poder

Ir cortar o cabelo é uma coisa que me chateia. Só vou quando o meu aspecto se aproxima perigosamente de um cantor pimba dos anos 80 cujo aspecto se aproxima perigosamente do aspecto do Jorge Jesus.
Os barbeiros cortam mal que se fartam e por isso corto em "cabeleireiros" e é um momento na vida em que tenho de por de parte a minha heterosexualidade. Especialmente aquele momento em que, depois de me lavarem a cabeça, tenho de andar com uma toalha enrolada de um lado para o outro ou de me porem molas coloridas a prender madeixas quando cortam ou de usarem mais de um produto no cabelo, como aquilo do amaciador.
Perguntam-me "tem preferência?" e eu escolho sempre o gay do salão. Há sempre um gay no salão, mas nunca mais de um. Isto porque eles são muito territoriais. Os donos dos salões gostam de ter lá um gay porque o gay confere sofisticação ao salão e dá aos patrões uma desculpa para terem mais meia dúzia de suburbanas baratas a mascar chiclete, daquelas com o cabelo todo frito e alopécia de experimentarem uma cor diferente todos os dias.

Eu escolho sempre o gay porque acho que temos de ajudar as pessoas que precisam e também porque os gays são os únicos que levam aquilo mesmo a sério, como aquele café que eu vi lá em cima que tinha só deficientes a servir à mesa e eles serviam muito mais dedicados e concentrados que os empregados brasileiros por exemplo e as pessoas nem ficavam chateadas do cego despejar o chá todo ao lado da chávena ou do autista fingir que não ouviu o pedido e que não os está a ver de braço esticado no ar há meia hora. Os gays estão concentrados e são perfeccionistas. Às vezes entusiasmam-se um bocado e começam a fantasiar com a hipótese de eu usar espuma para efeito despenteado ou se quero gel. Às vezes saltitam à minha volta com a tesoura tshk tshk tshk tshk e estão em tal frenesi criativo que tenho medo de mexer e ficar sem uma orelha ou uma vista, mas admiro-lhes o entusiasmo.

Eles são mesmo bons naquilo, nascem ensinados, aos seis anos já fizeram quatro mises à bárbie da irmã e um corte escadeado à franja da cocker spaniel. E nessas alturas eu penso que se calhar era positivo para a sociedade em geral que aos gays fosse dada a hipótese de terem empregos sem ser cabeleireiro, estilista, modelo, poeta, decorador, padre ou toureiro. Acho que era bom que os houvesse na economia, na política, nas empresas, nos organismos públicos, nas autoridades. Infelizmente existe um forte preconceito nas pessoas em geral e acham que os gays só podem é ser cabeleireiros. Eu acho que eles podem ser tudo o que quiserem e a sociedade devia aceitar que um gay também é uma pessoa acima de tudo. É só uma questão deles estudarem um bocadinho e de nós os ajudarmos a integrarem-se nesse tipo de profissões, porque há regras apesar de tudo e isso de saltitar e fazer lip-sync à shakira que está a dar na Rádio Cidade não funciona bem em todas as profissões, excepto as que citei acima e que são normalmente reservadas para os gays.

domingo, 17 de julho de 2011

agora para os roedores que lêem este blogue e têm medo de gatos (3% das visitas)


Olha ali tanto queijinho ó

o meu departamento de marketing avisou-me de uma descida nos níveis de visitas e interacção devido à falta de conteúdos dirigidos ao target que constituí 75% do mercado deste blogue


E pronto.

mapa de vida


Pela internet, vi um restaurante japonês de ramen, no bairro da liberdade (o bairro japonês). Vi no google maps e no mapa de papel e não me pareceu longe do meu hotel. O mapa tem muitos (muitos) quadradinhos e estes quadradinhos do hotel e do bairro da liberdade estão mais ou menos no meio dos quadradinhos todos do mapa. Foram 12,5km. Para se ter uma ideia, da calçada de carriche à praça do comércio são 8 km, que estive agora a ver no google maps.

1 522 986 km². 20 milhões de habitantes.
A partir de uma certa dimensão de cidade ocorre um efeito de diluição do eu. Este efeito pode sentir-se vagamente no metro de Lisboa em hora de ponta. Mas aqui e noutras metrópoles gigantes somos literalmente despojados da nossa individualidade (e dos nossos reais quando andamos de taxi) e arrastados numa corrente de vida em que não há tempo para contemplações, filosofias e melancolias. É uma sensação libertadora mas também é esgotante. A qualidade de vida serve-se em doses de prazeres rápidos, como a cultura, a noite, a comida, o parque ao fim de semana (onde eles correm e fazem patins e skate e bicicleta que nem uns malucos)

Penso que para mim - e para muitos estrangeiros e portugueses que conheci por aqui - São Paulo não é uma cidade para se criar raízes. Seria diferente noutras cidades que não se definissem, precisamente, por serem boas para se trabalhar.

Aquilo que caracteriza o ocidental que vem cá parar, normalmente um quadro médio/alto, consultor ou empresário, é uma vida de permanente viagem e riscos. Como estão fora desde a universidade (mestrados, doutoramentos, mbas etc) têm menos lastro que outra pessoa que não teve essa vida. É uma vida muito interessante e tenho muita admiração.

Mas ao Tolan, custa-lhe sair de Lisboa. Foi difícil tirá-lo do Tejo, tiveram de usar gruas e de o desmantelar.

sábado, 16 de julho de 2011

São Paulo é duro

São Paulo é uma cidade muito cara. A 10ª a nível mundial e a mais cara da américa do sul. A mais cara do mundo é Luanda. É mais cara que Londres, Milão, Paris, Oslo, Berna... NY está em 32º lugar.

Há uma bolha imobiliária: uma renda equivalente a 1300 euros é considerada normal. Os empréstimos imobiliários cresceram 40%. A cidade tem crescido na periferia de forma caótica e ausência de uma rede de transportes sólida faz do trânsito aqui um caos. Não é apenas por luxo que S. Paulo é a 2ª cidade do mundo com mais helicopteros privados (NY é a primeira). Morrem 2 pessoas atropeladas por dia e uma pessoa é atropelada todos os 25 minutos. As passadeiras não têm semáforo de peões.

Voltando ao custo de vida, uma refeição para dois que em Lisboa custaria 50 euros num bom restaurante aqui chega facilmente ao equivalente a 100 euros. A ideia que fica é que assim que se dá o salto para "outro nível de vida" os preços disparam.
E tudo isto num país em que o salário mínimo é de pouco mais de 200 euros.

Ou seja, coisas como jornais, comida em sítios simples, tabaco etc. não estão muito mais caras do que em Lisboa, mas assim que se dá o salto para coisas de classe média como, rendas, carros, andar de taxi, sair à noite, jantar num sítio engraçado, um iPhone etc. os preços explodem. Um iPad custa 700 euros, em Portugal perto de 500.
Os carros são ainda mais caros que em portugal. Um honda civic custa o equivalente a 31 mil euros. Em Portugal pode ser comprado a partir de 18 mil euros.

Isto tem várias causas: o câmbio (o real valorizou muito), os impostos (pesam 40% do PIB, semelhante a Portugal), o crédito a consumo disparou 20% num ano, concentração na economia e um optimismo recorde. Um economista traça o paralelo com Buenos Aires, numa revista: há 10 anos Buenos Aires era uma das cidades mais caras do mundo, depois da crise, é uma das mais baratas.

Falei com muitos portugueses da minha idade que aqui vivem. É possível ganhar dinheiro em S.Paulo. Mas também comentam que tem vindo uma vaga de portugueses que julgam que S.Paulo é o el dorado, que chegam aqui com um curriculo debaixo do braço e esperam a fortuna e a sorte. Não é fácil, fica aqui o aviso. Isto não é para meninos.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

viagens em trabalho

Viajar em negócios é bom porque podemos andar com um portátil, fato e pouca bagagem em aeroportos, o que manda sempre estilo e isso é fixe. E também não somos nós que pagamos a gasolina do avião e o alojamento.

Depois, toda gente sabe que a informação nova absorvida num sítio tem uma curva logarítmica. A minha é esta:

Nas primeiras horas temos muita informação nova e depois vai diminuindo ao longo dos dias, semanas, meses e anos, no caso de sítios onde se vive.

Em viagens de negócios raramente saímos da fase inicial da curva e por vezes só se tem umas horas no fim de um dia ou numa manhã antes de apanhar o avião de volta. E estamos normalmente sozinhos, quando muito com colegas, mas nunca com a namorada por exemplo, para andar de mão dada com ela e começar a discutir à brava por causa do cansaço das divergências sobre o que ver e a que ritmo. E eu nem sequer tenho namorada, pelo que é duplamente deprimente.

Para se poder dizer que se esteve em Frankfurt ou Estocolmo ou Paris a pessoas que lá foram em férias e visitaram tudo, desenvolvi um método bom. Envolve andar a pé a partir do hotel (se for num sítio central) e ter sentido de orientação. Quando se tem muito poucas horas é irrelevante (e até um desespero) querer correr para museus e ex libris e coisas dessas, embora haja quem o faça. Eu prefiro andar como se vivesse ali e fosse ao café da esquina, abstraindo-me do facto de nunca mais ir meter os pés em Estocolmo ou Frankfurt ou Paris. Na fase inicial da curva é indiferente. Só o facto de ver habitantes estrangeiros e que falam línguas estrangeiras e de ver que os carros têm chapas de matrícula iguais às dos emigrantes portugueses em Agosto, é giro.

Cansado da viagem e do dia de trabalho, ficar no hotel é sempre uma hipótese. Há muitos canais de televisão e ligamos canais financeiros, só para dar wallpaper executive a toda a cena.

Olha S.Paulo ali. Hmm hmm, está ali. Bom. Vamos ler Tostói na cama?


Depois, o viajante tenta fazer nos hotéis em que fica uma espécie de toca. Aqui podem ver como eu fiz para fumar num quarto para não fumadores, equilibrando o cigarro na latinha de guaraná.


Cuidado com as vertigens, são 20 andares. E liga-se o ar condicionado para o vento empurrar o fumo para fora e enganar o sensor!

Descobri isto sozinho. A latinha só descobri no 2º dia, depois de ver as marcas de queimaduras que o cigarro deixou na pedra ^_^ ups...

Também podem ver que a caixilharia da janela é de qualidade e a pedra também.

Lembro-me sempre de um primo afastado, mais velho, que é assim muito dado à bricolage e que sempre que ia de férias comentava estas coisas. Podiam pô-lo no Louvre que ele ia olhar para os rodapés dos corredores a ver se estavam bem envernizados e como é que faziam para impermeabilizar o tecto.

Ele a olhar para isto à noite devia pensar "iih, tshh, tanta luz acesa, é bom que tenham o tarifário bi-horário para isto..."

E hoje vou para ali para o meio à noite, há jantarito e festa. Espero sobreviver, mas também espero ver crime e violência e execuções sumárias na via pública porque dizia no guia turístico que havia disso aqui e ainda não vi nada.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

perdido na tradução

Não estou em S.Paulo de férias mas sim em trabalho. Passo o dia em reuniões de um lado para o outro com chofer particular (sempre quis poder dizer isto) e tenho tido o privilégio de ir conhecendo detalhes da mega economia paulista e as elites que nela se movem. Aqui, é verdade, dá gozo pensar numa carreira ou ser empreendedor ou ser rico. A olhar pelas enormes janelas de um escritório high tech e sóbrio num 18º andar, sozinho, a ver o sol cair atrás dos arranha-céus e do véu de smog, com helicópteros a pousar no topo dos prédios, com as avenidas paulistas de 8 faixas todas bloqueadas de carros e as formiguinhas a correrem para os seus comboios e onibus... ah... uma pessoa sente-se com vontade de agarrar o mundo. De pertencer a isto! De ser uma peça relevante na máquina esmagadora! De não ser apenas mais um!! De ser dono da cidade!!!

Felizmente, sei que me vai passar assim que voltar ao meu bairro e for à minha tasca beber umas cervejinhas e folhear A Bola do dia anterior. Voltarei a ser português rapidamente.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Porque ler grande literatura clássica na tasca da minha rua às vezes é má ideia

«- Oh, meu Deus, o povo é como uma fera, como poderia ele ficar vivo? - ouvia-se no meio da multidão - E era novo, era um rapaz... devia ser dos comerciantes, irra, que povo!...»
- Então o que é vai ser hoje?
- Pode ser uma canja e o entrecosto frito com arroz de feijão.
- SAI UMA CANJA! E É QUENTE NÃO É A FERVER! SAI MEIA DE ENTRECOSTO DEPOIS DA SOOOOPA! E para beber?
- Pode ser uma cerveja.
- Com certeza. Posso pôr aqui o pão?
- Não quero pão mas ponha aqui o cestinho, dá jeito para me segurar o livro aberto, obrigado.
Ok Tolan... onde é que tu ias... ah... «- Oh, meu Deus, o povo é como uma fera»
- Ó sô Antunes, fiquei-lhe a dever alguma coisa de ontem?
- Ficou a dever duas minis.
- Não fiquei nada!
- Ai isso é que ficou Sô Antunes, ele é um caloteiro!
- Não perca dentro de instantes a grande entrevista a Durão Barroso aqui na RTP1.
- Olha m'este agora, tá lá com o bom tacho a mamar! Havia era de ser delapidado!
- Lapidado ó ignorante!
- Ó Sô Antunes, é mais 5 minis!
Calma Tolan, calma, concentra-te no livro, tens de ler o 3º volume até ao fim hoje.
«- Oh, meu Deus, o povo é como uma fera, como poderia ele ficar vivo? - ouvia-se no meio da multidão - E era novo, era um rapaz... devia ser dos comerciantes, irra, que...»

- Olha o Benfica ó!
- Então o Saimar ainda joga lá?
- O "Saimar"?
- O Savola!
- Saviola!
«- Oh, meu Deus, o povo é como uma fera, como poderia ele ficar vivo?» concentra-te Tolan 
- Olha a gasolina vai aumentar outra vez ó.
- Que cambada... é impostos a subir e a gasolina a aumentar... um gajo tá fodido.
- Bebe mas é, cala-te!
«- Oh, meu Deus, o povo é como uma fera, como poderia ele ficar vivo?» concentra-te Tolan «ouvia-se no meio da multidão - e era novo, devia ser dos comerciantes, irra, que povo!...»
- Oh Sô Antunes a máquina não tá desbloqueada!
- Tá desbloqueada tá, a luz verde tá acesa.
- Atão não aceita a nota!
- Ó urso, tás a pôr uma nota de 10!
- E isto não aceita?
- Só aceita de 5!
- A dali do Manel dos Frangos aceita de 10!
- Tás mas é parvo!
- Aceita aceita, vais lá e vês se não aceita.


- CALEM-SE! SIM O CARALHO DA MÁQUINA DO MANEL ACEITA NOTAS DE 10!!! CALEM-SE! POR AMOR DE DEUS! ESTOU A LER O TOLSTÓI! O Tolstói! Tenho de acabar o 3º volume hoje ou tenho de levar este e o 4º volume no avião amanhã! Por causa de 10 ou 15 páginas vou ter de ir com o 3º volume que vou ler logo que estiver sentado no avião 10 horas de seguida. Tolstói! Tolstói!  Preciso de acabar de ler esta merda hoje, faltam-me umas 30 páginas, ainda tenho de fazer a mala e dobrar camisas e fatos e vocês SABEM DOBRAR CAMISAS? NÃO POIS NÃO? E eu vou ter de VIDEOS DE DOBRAR CAMISAS NO YOUTUBE ! Só vim aqui comer uma canja e um entrecosto frito e ler em paz, dá só para falarem um bocado mais baixo? É preciso gritar?... Irra, que povo!

mentalizar-me

O desafio será o de retroceder a um estado infantil puro, dominado por memórias infantis e por uma ficção permamente e total. Um estado em que não existe ressentimento e não existe memória de longo prazo. O tempo corre lentamente e cheio de detalhes, como uma formiga que trepa um muro e desaparece numa fenda ou a textura do nariz de um cão, ou como aqueles grandes planos estáticos e escatológicos dos bonecos do Ren & Stimpy. Não existe formatação prévia. Não existe preconceito. O conhecimento é feito de ilhas isoladas que são interligadas de forma quase onírica para preencher os espaços vazios do desconhecido. Se está a trovejar, pode ser S.Pedro a arrastar cadeiras ou nuvens como sólidos gigantes a roçarem-se umas nas outras e a soltar faíscas. Se o meu lobinho fantoche de peluche fala comigo quando eu o animo com a mão, ele é o Lobinho Jeremias e não um fantoche de peluche. Se esta cana é uma espada ela é uma espada e aquela árvore é na realidade uma planta carnívora. É preciso retroceder aos arquétipos das formas, das cores, dos sons e dos sentimentos. O medo do escuro existe porque no escuro se esconde um monstro. O monstro é real. A alegria é real e não tem consciência de si, livre da melancolia de ser um estado transitório. Nem sequer a vida é transitória. Somos imortais.

Hans Christian Andersen

Tenho lido os contos de Hans Christian Andersen e para todos os efeitos, ele está lá. Os contos são estranhos. Não são minimamente lineares. As personagens são incoerentes, o tempo “cronológico” é completamente abstracto e mesmo os recursos da linguagem são inesperados. Há toda uma diferença para com os contos de Oscar Wilde por exemplo, estes últimos (e mais ou menos da mesma época) são bem mais “ocidentais” (e muito bonitos, é certo). Os contos de Andersen, até pela ausência de moral recordam-me contos muito antigos, escritos pelos Sufis (há uma edição disso na Assírio& Alvim) ou mesmo contos primitivos da Papua Nova Guiné. São histórias cheias de elementos oníricos e fortes, carregados de simbolismos primitivos, crueis e viscerais e cujo o curso é por vezes desconfortável por não se colar a nada do que deve ser uma história nem se preocupar com justificações. E uma criança a ler aquilo encontra uma lógica natural ou então empancará com detalhes que a um adulto parecerão inusitados. Por exemplo, em vez de perguntar "como pode um sapo falar?" ela perguntará "porque é que o sapo não arranja outra noiva?"

isto acontece 1, 2 vezes na vida, no máximo

domingo, 10 de julho de 2011

São Paulo


Como o texto dali de baixo é muito grande (mas é giro, a sério) era só para dizer que vou para São Paulo em trabalho uma semaninha e que pode ser a primeira de muitas semaninhas em São Paulo este ano, essa Nova Iorque da América do Sul. Gosto de São Paulo à partida porque tendo a gostar de grandes cidades cosmopolitas em que uma pessoa pode andar por lá sem ser obviamente turista. Agradecem-se dicas de sobrevivência e não só.

depois do início, as aranhas

Depois de nos instalarmos na aldeia, começaram as obras. O meu pai queria aproveitar o sotão da sala principal para fazer um quarto e assim mandaram abaixo o telhado e o tecto da sala. O chão estava coberto de plásticos para proteger o soalho de madeira enquanto uma equipa de pedreiros escavacava tudo. Era muito engraçado sair do quarto e a caminho da cozinha ter uma sala sem tecto nem telhado. Via-se o céu azul ou estrelado, dependendo de ser de dia ou de noite.
Insisti com os meus pais para deixarmos a sala assim e a minha mãe até achou boa ideia porque podia ser um pátio interior mas o meu pai disse que ela estava maluca.
As obras tiveram de parar uns dias porque começou a chover muito e realmente era pouco prático, especialmente à noite quando queríamos ir de pijama e chinelos do quarto à casa de banho e tínhamos de passar por ali e ensopar os chinelos dos coelhos. Para além de um novo quarto para os meus pais, contruíram outra sala que seria o meu quarto e ainda uma casinha encostada à nossa casa, com um forno de lenha. Passou a ser 'a casa do forno' e tinha um grande terraço no telhado e podia-se ver muito longe. O meu pai usou o forno umas duas vezes para cozer pão, não era muito prático porque o fumo vinha para dentro e ele saía de lá todo farrusco a tossir e com os olhos vermelhos, mas ficou casa do forno na mesma porque como não tinha telhado mas sim um terraço, aquecia muito quando batia o sol e era impossível estar lá dentro.
Descobri que tinha medo de aranhas mais ou menos nessa altura. A minha mãe tinha muito medo de aranhas e fez com que eu também tivesse medo de aranhas. No campo havia muito mais aranhas do que na Bélgica. Acho que na Bélgica só vira uma vez uma em casa da minha avó, na banheira e também no museu de história natural em que havia tarântulas vivas dentro de uma gaiola de vidro. O meu pai dizia que de vez em quando fugia uma e podia estar em qualquer parte de Bruxelas e depois a minha mãe ralhava com ele, nem era por me assustar mas porque a assustava a ela.
Mas ali no campo era todos os dias. Com as obras no sotão e o destruir do telhado e madeiras, elas fugiam para as outras divisões da casa e todas as noites havia uma aranha gorda e peluda num canto do tecto do meu quarto. As tábuas do tecto eram escuras e só mesmo olhando com muita atenção podia aperceber-me que lá estava uma à espreita e depois gritava muito a pedir ajuda.
A minha mãe vinha ver o que se passava e não ajudava porque às vezes até se recusava a entrar no quarto e eu ficava deitado na cama a pedir-lhe para que viesse para o pé de mim.
-- Je vais apeler papa! -- e partia a correr.
E deixava-me ali a tremer, escondido nos lençois com o Snoopy que gozava comigo porque ele não tinha medo das aranhas. O meu pai vinha e já se sabia que antes de me ajudar iria fazer parelha com o Snoopy e gozar muito comigo e com a minha mãe.
Não levava a tarefa de matar a aranha suficientemente a sério e eu e a minha mãe dávamos instruções:
-- Non! Não uses o vassouro, merde, vai antes buscar o de plástico ou o esfregone!
-- Não lhe dês só um toque que ela cai para trás da biblioteca e depois desaparece!
-- Dá-lhe com força! Não a deixes fugir!
--Encore! Encore!
As aranhas ficavam imóveis à espera mas quando a vassoura se aproximava começavam-se a mexer e eu arrepiava-me todo e a minha mãe magoava-me com as unhas espetadas no meu braço. Quando o meu pai não estava em casa ou não tinha paciência para vir resolver o problema, a minha mãe usava insecticidas. A pontava à aranha de muito longe e gastava quase meia lata a fazer fssssss e a fugir e depois a fazer fsssst outra vez e a fugir.
As aranhas nunca morriam logo, começavam a andar e a tossir e quando o faziam a minha mãe afastava-se mais e soltava pequenos gritos e eu ficava com a impressão que se a aranha avançasse para mim ela fugia e não dava a vida por mim, como nos filmes.
Finalmente as aranhas caíam no chão mas continuavam a andar aos tropeções. Quando aquilo acabava eu ficava com uma nuvem tóxica no quarto.
Nas noites em que as aranhas me deixavam em paz, havia sempre uma centopeia de pelo menos dez centímetros. Quando vi uma pela primeira vez abri o meu livro dos dinossauros, havia uns fósseis parecidos com elas.
Para me sossegar e ajudar a adormecer depois de um avistamento de aranha, a minha mãe contava-me aldrabices. Dizia que não havia mais de uma aranha por sala, que se tinham morto aquela não haveria mais nenhuma, que os familiares daquela iriam contar às outras que aquele quarto era perigoso e era melhor não irem para lá, que era só porque tinha chovido ou por causa das obras e que normalmente não teria tantas aranhas e outras coisas do género. O meu pai não ajudava nada, só dizia 'é uma aranha, não faz mal ninguém, até dá cabo das melgas'.
Realmente, havia muitas melgas também. E moscas, havia tantas moscas no pátio e que nos obrigavam a andar sempre com um mata-moscas. Na região havia muitas quintas com porcos e vaquinhas e o meu pai dizia que era disso, as melgas e as moscas nasciam nas águas porcas.
Barravam-me com Tabard e quase que nem conseguia respirar. Apetecia-me dormir debaixo dos lençóis e fechar bem a minha toca para que nem aranhas nem melgas nem centopeias pudessem entrar na cama mas o problema é que passado um bocadinho estava cheio de calor e tinha de respirar. Nessa altura ficava exposto ao perigo mas resistia com muito heroísmo. O meu pai fazia pesca submarina e uma vez tentei usar o tubo da respiração na cama, deixando-o de fora dos lençóis fechados mas não me resolvia o problema do calor e também podia dar-se o caso de um bicho entrar pelo tubo adentro, o que seria mau. Então desistia e punha a cabeça de fora, ao fresco. Não demorava nem dois minutos até começar a ouvir o zzz de uma melga nos meus ouvidos. Tentava adivinhar onde elas estavam e dava grandes estaladas na minha cara e por vezes, no dia seguinte, ainda tinha as marcas das porradas que me dava e depois a minha mãe explicava na à dona Célia da creche que eu é que me tinha feito aquilo à cara. Também acendia a luz e tentava caçá-las mas era muito difícil porque o tecto era muito escuro e quando elas pousavam no tecto eu não as conseguia ver.
Como se não bastasse, toda esta inquietação dava-me pesadelos muito reais com aranhas a prender-me em teias e melgas a sugarem-me todo o sangue e não se pode dizer que dormisse descansado naquele tempo.

sábado, 9 de julho de 2011

o início

O meu pai discutia sozinho se devia parar o carro na próxima bomba de gasolina ou se devia continuar mais uns quilómetros. A minha mãe tinha o mapa Michelin aberto e tentava descobrir onde estávamos mas o meu pai disse-lhe que ela tinha o mapa ao contrário e a minha mãe disse-lhe que não. O meu pai tinha um papel preso com fita-cola no tablier do Peugeot 504 com uma lista de cidades e as horas a que devíamos passar por elas e irritava-se se estivessemos atrasados.
O meu pai insistia que a minha mãe tinha o mapa ao contrário e a minha mãe dizia que não, que uma autoestrada às vezes passa ao lado das cidades e por isso é difícil perceber onde se está. Eu disse que tinha vontade de fazer chichi e o meu pai disse-me para aguentar mas a minha mãe disse que também tinha vontade de fazer chichi e parámos na bomba de gasolina com o meu pai a corrigir as horas no papel do tablier, muito enervado.
A minha mãe parecia muito contente de ir para Portugal porque havia sol lá e na Bélgica não havia sol. Eu não gostava de chuva e não gostava de neve. Naquele ano tínhamos passado um Natal na floresta das Ardenas, os meus pais, as duas irmãs da minha mãe e amigos. Havia muita neve e frio e por isso não foi bom. A neve é fria e molhada e depois queremos andar e enterramo-nos até aos joelhos e o pai tem de nos pôr às cavalitas. O meu pai era alto e eu sentia-me tonto e sempre a cair quando andava às cavalitas dele, mas era melhor do que enterrar-me todo na neve e ficar para trás nos passeios. Às vezes o meu pai esquecia-se que eu estava às cavalitas dele e passava por debaixo de ramos cheios de neve e eu chocava com a cara nos ramos e a neve caía-nos toda em cima. O meu pai ralhava comigo como se a culpa fosse minha e punha-me no chão e eu enterrava-me todo outra vez.
O meu pai também não gostava muito de neve porque para além de lhe cair em cima quando eu estava às cavalitas dele, não podia pescar quando o rio estava gelado. Passava muito tempo na cozinha do grande chalé porque os amigos da minha mãe eram contra a televisão e riam de forma desagradável quando o meu pai queria ver o Benfica a jogar na Taça dos Campeões Europeus. O meu pai dizia que os amigos da minha mãe eram os ‘intelectuais da merda’ e era ele que cozinhava coisas enquanto os intelectuais da merda discutiam filosofia e política à lareira e fumavam muito e não percebiam de futebol. A minha mãe explicou-me que o meu pai dizia muitas asneiras porque tinha estado no exército mas que eu não podia dizer asneiras. Os intelectuais amigos da minha mãe também diziam muitas asneiras só que era em francês, porque não tinham estado no exército. Diziam ‘merde’ muitas vezes: ‘ah merde il neige encore’, ‘merde, mes cigarretes son finies’, ‘ah non hein, merde, encore c'ete stupide telé ’. Tinham grandes barbas e não me ligavam muito. Eu tinha uma pistola de cowboy com fulminantes e corria de um lado para o outro a dar tiros.
O Jean Michel era um intelectual e parecia o John Lennon. Andava sempre com uma máquina fotográfica e tirava fotografias sem parar. Depois revelava as fotografia. Lia muito concentrado num grande cadeirão, coçando a barba e ajeitando os óculos redondos que lhe caíam para o nariz. Falava muito pouco e eu até gostava dele porque estava sempre a sorrir sozinho e a olhar para as coisas embasbacado.
Uma vez quis brincar com ele e aproximei-me por trás porque ele era um índio, só que ele não sabia que era um índio e dei-lhe um tiro com a pistola mesmo ao pé dos ouvidos e ele assustou-se muito e ficou com dificuldades em respirar. A minha mãe tirou-me a pistola e ralhou mas o meu pai deu-me uns bocados de toucinho na cozinha.

o antitaxista

No CERN procuram a antimatéria. Eu ontem descobri alguma na forma de antitaxista. Foi a caminho do bairro alto, com um amigo. Parecia um taxista normal, tinha uma pulseirinha de ouro, t-shirt coçada, cabelo um bocado comprido e penteado para trás. Até que largou num anti-monólogo, com a techno da Orbital em pano de fundo

Com o Salazar é que era... uma pobreza, miséria... que filho da puta aquele Salazar, havia era de ter morrido logo à nascença. Isto era só analfabetos e eles queriam assim tá a ver? "Assine aí! Ai não sabe escrever? Ponha só o dedo, tá bom assim". Que miséria. E ainda há pessoas que "ai o Salazar!" foda-se, até me faz confusão (...) E depois metem os pretos todos ao molho a viver em sítios horríveis, a polícia nem entra lá tá a ver? Estão à espera de quê?  (...) E é por isso que para mim desde o Eça que não há um escritor português de jeito, daqueles mesmo bons, e depois você vê as críticas é tudo corrido a 4 e 5 estrelas, foda-se, parece um país de analfabetos (...) E agora é as agências de rating ó caralho, tá tudo entretido a cascar nas agências de rating e esqueceu-se tudo que tamos endividados e que a europa não consegue resolver o problema da grécia mas é melhor desviar as atenções e dar muita importância a isso, parece coisa de Salazar: "eles é que são maus lá fora, nós temos de nos unir todos" etc. Têm é de investigar os conflitos de interesse na estrutura accionista dessas agências, mas isso da guerra euro-dólar é uma tanga porque nem a China nem os EUA ganham seja o que for se o euro for abaixo, pelo contrário (...) E querem criar uma agência europeia, pública, como se as avaliações dela tivessem credibilidade assim por magia, é do caralho, o Salazar havia de achar muito boa ideia (...) E hoje foi o último voo do vaivém Atlantis, por acaso tenho pena porque isto significa que agora isso de ir a Marte fica muito adiado e se calhar já nem vivo para ver isso, é uma pena. (...)

Saímos do táxi convictos que se aquele taxista comete o infortúnio de se aproximar demais de um colega, pode ocorrer uma mega-explosão capaz de arrasar boa parte da Península Ibérica.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

mais sapiência do Dr. Tolan


fã nº1 (sim, é ela)
porque é que (mais de) metade das pessoas hoje em dia é incapaz de escrever uma frase que seja sem erros? são as pessoas que estão a ficar mais burras ou é um problema educacional?
Dar erros é uma forma de expressão individual e nesta sociedade que tenta obliterar o indivíduo e transformá-lo numa máquina, erros como "combina-mos para a semana" ou "fize-mos um bom passeio" são formas de nos destacar-mos.

fã nº1 (de novo, é a única que leva isto mesmo a sério)
porque é que há pessoas que anos e anos depois da invenção da internet continuam a acreditar em mails em cadeia e a entupir-me o email com essas porcarias? será que têm mesmo medo de cair numa poça de merda se não enviarem o mail a 20 pessoas?
Por incrível que pareça, também há pessoas que anos e anos depois de votarem continuam a fazê-lo e outras que depois de anos e anos a terem relações amorosas e as respectivas naturais desilusões catastróficas continuam a querer tê-las.

fã nº22422
Interrogo-me porque é que todos os senhores da publicidade deixam na caixa do correio não "nenhum panfleto", não "apenas um panfleto", mas sim "dois panfletos iguais"? Será que pensam que vamos querer ler não nenhuma, não uma, mas sim duas vezes a Dica da Semana?
São panfletos em 3D, com uma técnica conhecida por estereograma. Deverá a fã colocar as Dicas da Semana lado a lado numa superfície plana a cerca de 50cm e tentar focar um ponto invisível entre as duas. Com alguma prática conseguirá ver a embalagem de Fairy e o compre 3 pague 2 e o Angélico em pose sensual, como se estivessem ali na sua sala.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Urso Panda


Este é mais um post dedicado ao Panda Bear, porque o Tomboy é claramente um dos melhores discos que ouvi nos últimos anos e eu gosto muito disso quando isso acontece e depois apetece-me desabafar e um blogue é óptimo para isso.

Panda Bear - Alsatian Darn (Tomboy 2011)


Por vezes ao ouvi-lo sou acometido de uma agradável sensação de estar a aprender a ouvir música e, ao mesmo tempo, de já conhecer isto de algum lado. Nunca consegui entrar em Animal Collective (a banda a que ele pertence). Adorava certas músicas mas, no geral, considerava os discos um pouco caóticos demais. Reconhecia-lhes uma imensa qualidade e originalidade, mas também por vezes a sensação de que a originalidade, o soar como nada antes, era uma busca radical que sacrificava componentes mais melódicas e clássicas e não se compadecia com o conforto do ouvinte. É uma busca legítima para uma banda, mas também pode colocar facilmente a música num terreno de uma atitude mais superficial. Aliás, vejo os Animal Collective como uma pop levada a um extremo forte e interessante, mas que dificilmente conseguia fazer uma ligação emocional comigo. É o tipo de bandas que depois influencia 300 bandas que aperfeiçoam os conceitos em bruto e os arredondam para um consumo mais amplo. Certamente que voltarei a ouvi-los com atenção, desde o início.

O Noah Lenox é ele próprio uma emanação (ou será um arquétipo?) de algo que está nos Animal Collective mas que aqui aparece mais humano e simplificado. O que me surpreende na sua música é a forma como se desenrola com ondas que depois encaixam, a música dele é como um puzzle que se vai resolvendo até fazer sentido. Como alguém que julgamos ser louco e alienado e que depois de uns minutos, começamos a perceber que afinal está ali um génio. Tudo isto me lembra outra descoberta deste ano, o Gary Wilson. E nada disto parece ser feito com esforço ou artificialismo. A nível de produção (um hobbit) é magistral a forma como as misturas dominam os reverbs (complexos) e as camadas sucessivas e saturadas que brincam umas com as outras, conseguindo fazer de um disco gravado numa cave em Lisboa, por um gajo que se auto-intitula Urso Panda, uma coisa própria de espaços luminosos e grandes horizontes e enlevos de alma e flashbacks à infância e correrias em campos de trigo.

Não quero exagerar e dizer que oiço o "ar de Lisboa" no Tomboy do Panda Bear, porque isso seria reduzir o meu apreço por ele a uma coisa provinciana e patriota (já o ter um tema chamado Benfica, confesso que contribui) mas sem dúvida que o considero uma feliz coincidência. Quando caminharei por Lisboa a ouvir o Tomboy nas orelhas e dentro da cabeça, sentirei um poucochinho mais a música e a cidade, um privilégio. Deviam dar o nome dele a uma rua. Quem não gostaria no nº2, 2ºDTO da rua Panda Bear? E vou utilizá-lo muito porque eu ando a precisar de ouvir coisas assim nesta fase.

coisas que me fazem pensar que é boa ideia continuar em Lisboa, pagar as quotas ao Benfica e eventualmente casar com a linda portuguesa

...ao senhor Panda Urso, mal não fez:

Panda Bear - Tomboy (2011)

open letter to Moody

Dear Mr. Moody,

We tries. We really really tries here at our great country who ivented India and Brazil. We was not very happy with A- but still, it was A. But now we only got B in your speculative expectations class and our parents are going to kill us when they find out :(

Mr Father Christmas already told us that this Christmas we would only have half of our presents because we was not good people. It is really sad to recieve half of new iPad because it probably will not work. But now with B, Father Christmas will give us socks, not even iPad battery and included cables and instructions.

We feels this is very much unfair because this time we said we was going to try really very hard, study very much and grow very much and spend very less and pay the monies to the jews.

But it is like you read our mind. You knew that we would be garbage before we were garbage. This is much shock to us and it really changed the way we think of ourselfes and afected our self-estime. We need therapy now.

Yesterday we looks at mirror and see brave potuguese who invented square tactic to punch spanish toreros in the face and build greatest bridge in europe that we celebrated with the biggest beanary in the world and owned half the world and gave the other half to the spanish toreros because they were crying like babies.  Today we look at the mirror and we see garbage.

And not even recyclabe garbage, like the one in the yellow, blue or green containers. Just garbage, like spines of sardines and banana peals and leftovers of pizza.Now all the american raccoons will want to live here and we will have infestation!


But this will not last long! America has superpower of secret recipe of Coca-Cola. Germany has superpower of making german cars. French have superpower of making museums like Louvre that magically atract foreign valuable things. Italians have superpower of having a country called Italy. Spanish have the superpower of thinking they have superpower. But only we have superpower of desenrascanço!

This is such a superpower that it is impossible to translate to mortal foreing languages like english or american. We are able of thinking of many great ways of solving things when things neeed to be solved. If USA was governed by Portuguese, we would have captured mr Bin Laden in 1999 using bits of chouriço and a fishing net.

We are misunderstood geniouses, like Einstein. He also had B in "relativity theory" class but he left university and invented relativity theory and got AAA in it. And his parents were much happy and sorry that Father Christmas gave him socks the year before. His work created the atomic bomb that you used to downgrade the rating of Japan.

We are not afraids. We will study speculative expectations such much that we will have AAAAAAAAAAARGH FUCK YOU+++  in the end of the year!

Best regards
the portuguese peoples

quarta-feira, 6 de julho de 2011

sugestão para próxima campanha do turismo de Portugal

Come to Portugal!
... where even the garbage welcomes you!

plágio

Quando eu era pequeno pensava que plágio (que escrevia "pelágio" até há uns 4 ou 5 anos) era aquela fase anual dos cães em que eles perdem imenso pêlo.

"Mãe, mãe, a Patinhas está com 'pelágio', olha só a minha camisola azul escura!"


Portanto, ainda hoje distingo as duas coisas: o plágio, acto de copiar qualquer coisa que outra pessoa criou e tomá-la como sua, e o pelágio, fase em que os cães perdem mais pêlo que o normal. Tive muitas dificuldades na pontuação desta frase.

Nas áreas criativas, em que uma pessoa cria muitas coisas, sejam piadas, anúncios, porcos, marcas, galinhas ou músicas, acontece por vezes um plágio de coincidência.

Perante um determinado problema que é sempre o mesmo, o criativo lembra-se de uma solução criativa que já foi usada. E se não souber disso mas outra pessoa souber, pode ser - injustamente - acusado de plágio.

Uma pequena dose de má fé ajuda a ver má fé nos outros. Felizmente, não há pessoas invejosas no mundo da criatividade, é tudo gente boa e que fica feliz pelos sucessos uns dos outros. Aliás, o maior medo que um criativo tem, especialmente o masculino, é o do seu próprio 'pelágio' - a que se dá o nome científico de alopécia.

E se não é no particular, na frase, na ideia, na piada, também pode haver acusação de plágio / inspiração no global de uma obra. Nabokov estava sempre a levar com a "acusação" de que o Convite para uma Decapitação era inspirado no Processo do Kafka, apesar deste jurar a pés juntos que não tinha lido Kafka porque nem havia traduções na altura em que escreveu o Convite para ma Decapitação.

O Borges, o escritor argentino, diz uma coisa muito gira. E ele diz que é inútil tentar escrever metáforas rebuscadas para ser original porque as metáforas boas são as simples e que toda gente usa, como "a vida é um sonho" ou "o Passos Coelho é uma alforreca".

terça-feira, 5 de julho de 2011

Tema político nº221: o fim das golden shares

Portugal tem muitas empresas com golden shares. Ter algumas empresas com golden shares é normal, mas tantas também não. Isto porque as golden shares prejudicam a eficiência das empresas. Golden shares são as acções detidas por uma linhagem de golden retrievers com um antepassado comum; um golden retriever do século XIX que herdou a fortuna imensa de Sr. Lord Tweedmouth depois deste excluir da herança a mulher e os filhos por 'não ficarem tão contentes como ele quando chego a casa'.

Sr. Lord Biscuit, primeiro herdeiro da fortuna de Sr. Lord Tweedmouth

Contudo, apesar das gerações de golden retrievers com golden shares, estes não são especialmente famosos pelas suas qualidades de gestão, pelo menos, não tanto como pelas suas qualidades de caçadores de aves aquáticas.

Uma empresa com golden retrievers com golden shares a mandar tem cantinas onde só se comem golden mcnuggets ao almoço e a sobremesa é goldem grahams, prejudicando o moral e a motivação dos restantes colaboradores que pretendiam uma dieta mais diversificada.

E depois gastam uma fortuna em jardins com lagos cheios de patos reais que mandam importar da inglaterra, quando temos cá patos portugueses bons e de qualidade, mas que como não são importados não prestam.

Os outros accionistas queixam-se destas e de outras exigências mirabolantes, como a de todas as viagens de negócios, mesmo as intercontinentais que habitualmente se fazem em executiva no avião, se terem de fazer de carro com a janela aberta e a cabeça de fora.


Também têm o hábito pouco convencional de fazer chichi quando querem marcar uma posição numa assembleia de accionistas. Estas e outras atitudes têm afastado investidores das empresas com golden shares e resulta numa gestão pouco transparente e despesista. Por isso, é de aplaudir o fim das mesmas e a sua troca por generosas quantidades de saborosos biscoitos, troca a que os golden retrievers não parecem hostis à partida.