terça-feira, 31 de julho de 2012

tensão e clímax

Gosto muito dos romances do século XIX em que a corte era assumida desde início. Não havia conversa ente uma Natacha e um Romanovitch sobre a música de Schubert e o direito de Napoleão a ser Imperador que não fosse enquadrada no contexto de se estar a preparar uma proposta de casamento. Há quem diga que isso tira parte do encanto da coisa, ser tão explícito e formal. Eu gosto de histórias assim, tem de haver tensão e um clímax. Não uma sucessão de etapas previsíveis. Hoje em dia é preciso acender a própria fogueira em que nos vamos imolar, ninguém faz isso por nós.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos

Acabei de assistir à cerimónia oficial de início dos jogos olímpicos de Londres, realizada por Danny Boyle. A Plaft está sentada no chão, num canto da sala, apática, a abraçar os joelhos flectidos contra o peito, balançando-se numa mímica autista. Tentei falar com ela para confirmar a minha impressão, mas foi como se não me conseguisse ouvir… os olhos permaneceram fixos num ponto invisível para lá de mim, do mundo. Estou também um pouco confuso e em choque e talvez fosse bom dormir umas horas, apanhar ar, ver o Tejo, antes de escrever. Gosto de ver o Tejo. Relaxa-me. Gosto do sorriso das crianças, dos velhinhos a jogar dominó no jardim, os cafés, o bulício da normalidade conforta-me. Mas por outro lado, pensei que escrevendo agora, conseguia captar com mais intensidade a avalanche de sentimentos ambíguos que me preenche a alma. Tentei evocar outros momentos da minha vida em que me senti assim, para colocar as coisas em perspectiva. Lembro-me de uma matança do porco a que assisti por engano aos 8 anos (“tás a anhar ó quê? Tamos a atá-lo qu’ele muita traquinas, é só na brincadeira” disseram-me eles). Lembro-me também de ver o segundo avião a chocar com o wtc em directo. Recordo-me de uma crónica da Laurinda Alves na Xis, sobre ser boa pessoa. Sim, creio que na vida tive muitos momentos em que aquilo a que assistia era mais do que conseguia processar. Eu tinha dito à Plaft que a cerimónia dos jogos olímpicos de Pequim tinha sido estrondosa e que esta, apesar do orçamento menor e dos vestidos da rainha de Inglaterra, podia ser engraçada. Ela nunca tinha assistido a nenhuma. Olhando para ela agora (continua no canto da sala), penso que terá sido a última cerimónia que vai ver na vida. Talvez… talvez a última coisa que tenha visto na vida. Vou abster-me de comentar todos os segmentos em concreto, os detalhes, porque ainda é demasiado cedo para me recordar de tudo com nitidez e posso precisar de hipnose regressiva. Lembro-me da rainha de inglaterra e de dois cães e do Beckham num barco no Thames. E de ver o Mike Oldfield a tocar vários instrumentos. E da JK Rowling a ler uma coisa com uns monstros e de aparecer a Mary Poppins. Muitos aleijados também, como num video promocional do pirilampo mágico.

Por vezes, quando é tarde e estou no youtube entorpecido por falta de sono, stress, café e álcool, chego àquela parte… da internet… do youtube... Vocês sabem a que me refiro… clicamos naquele video do fail do programa de metereologia em que a gravata do tipo tem a mesma cor do fundo de croma e fica invisível e depois clicamos no outro do anúncio dos anos 40 a elogiar os benefícios do tabaco e depois no outro com os acidentes mais aparatosos do rally da corsega e depois no outro com o genérico do bay watch e depois outro com o nipple slip da Mariah Carrey nos grammys e passado um bocado estamos a ver um documentário chileno sobre chá verde e três horas depois, a meio de um vídeo de um concurso japonês em que uma apresentadora com orelhas de coelhinha inflige pancadas fortes com um taco de cricket nos genitais dos concorrentes masculinos, sentimos a consciência suficientemente aniquilada para dormir? E dormimos como mortos?

Boa noite, Danny Boyle.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

banda sonora para o verão 2012

video não-oficial para a faixa "Follow" dos DIIV (pronuncia-se Dive) do lp de estreia "Oshin"(2012)




Pela foto dá para ver que os os Diiv são putos extremamente hipsters, mas vendo as coisas pelo lado positivo, as camisolas XXL de lã que a minha avó me tricotava e que eram depois alargadas para XXXXL pelo meu cão, voltaram a estar in... yes...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

common people

O Jarvis Cocker, numa entrevista muito fixe com o Steve Merchant que eu pus ali no meu facebook, diz que depois de cair de uma janela para impressionar uma miúda (todos fizemos algo parecido) e de ficar dois meses no hospital a recuperar numa cadeira de rodas reflectindo no sentido da vida, percebeu que os temas para a sua música estavam mesmo ali debaixo do nariz, na vida das "common people" dos subúrbios.

E agora, para as pessoas de esquerda que lêem este blogue,  se clicarem aqui habilitam-se a ganhar um iPad igual ao das pessoas de direita.

meu querido mês de Agosto

Os meus verões tendem a ser iguais de há uns anos para cá. Os escritórios esvaziam de tudo o que tem crias e responsabilidades familiares enquanto eu fico até Setembro pelo menos. Agosto é sagrado. Dizer a um português para não ir para o Algarve em Agosto deve ser o mesmo que dizer a um pinguim da antárctica para não marchar. As visitas no blogue caem a pique e fica apenas um resíduo de utilizadores de iPhone e iPad e outros que não tenham responsabilidades familiares. Não desgosto da situação. Durante este período Lisboa fica deserta, o trânsito é rarefeito embora enervante devido às pessoas que conduzem em modo "férias": braço de fora, carro cheio de tralha e/ou crianças, 30 à hora, apatia perante um semáforo verde aberto etc. Também é aborrecido quando todos os cafés e restaurantes de um determinado raio geográfico da cidade fecham todos ao mesmo tempo. Gosto da experiência de testar o que será Lisboa no início de 2014 quando sairmos do euro. Infelizmente este ano as coisas tenderão a ser mais complicadas para o meu lado, a nível de trabalho, pois é o fim de um projecto meu muito importante para uma multinacional localizada numa grande cidade do hemisfério  sul que está em pleno período de trabalho, muito activa, e que nos últimos meses me tem enviado pelo menos um e-mail por dia com pedidos que vão desde o "é absolutamente necessário reduzir o prazo da etapa 4 de 15 dias para 2" ao "enviem-nos isso de novo mas agora queremos isso em azul, de trás para a frente e em mandarim". Quando for lá, logo nos primeiros dias de setembro, vou ter três apresentações para três equipas de marketing diferentes, hostis e encarniçadas, daquelas que levam o mundo do trabalho global a sério e não são de todo ursos feiticeiros. A minha motivação também é excelente. Entre layoffs, despedimentos, atraso nos salários e cortes de custos (já nem tenho café de borla) é extremamente provável que a empresa feche em breve. As chaves do carro alemão vão ser devolvidas no fim deste mês. Perguntaram-me se queria comprar o remanescente do leasing. Apesar de achar excelente a ideia de adquirir um reluzente bólide alemão para me reconfortar no desemprego, recusei. Se ficar livre vou ter tempo para mim, desde que resista às oportunidades de emprego e empreendedorismo que não faltam a quem tenha um mindset neoliberal. Mas não queria. Só preciso de um computador, uns tostões para comida e cerveja. Livros já eu tenho, pois acumulei um belo espólio de coisas que ainda não li. São os meus sonhos. Queria começar outra coisa e atirar para o lixo o passado, tirar estas roupas. Gostava de descer até um chão simples, mesmo que modesto e inóspito, e poder ser um urso feiticeiro real ou um pinguim concreto em vez de viver no surrealismo do mundo dos negócios.





terça-feira, 24 de julho de 2012

sou um urso feiticeiro

muahahahaahahh! Às vezes tento sobreviver aos dias de trabalho stressante, criando um mundo alternativo de fantasia em que sou outra pessoa, neste caso, um urso feiticeiro que foi apanhado numa terrível maldição que o obriga a fingir que é um ser humano que é consultor e faz powerpoints. Então tem de representar o dia todo e observar como os outros agem e imitá-los, enquanto não descobre forma de quebrar o feitiço. É um jogo divertido, embora crie alguns problemas de relacionamento profissional visto que o urso feiticeiro não percebe nada do que faz, só percebe de mel (há muitos tipos de mel), frutos silvestres, florestas, tocas, salmão etc. Também percebe de feitiços mas são feitiços um bocado inúteis nesta situação porque não há aqui salmões vivos sequer. Enfim. Preciso de dormir também.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

«há muitos licenciados a esconder habilitações para arranjar trabalho» - Público

«...mais uma entre muitos recém-licenciados e mestres que têm de omitir habilitações e criar várias versões do curriculum vitae (CV), de forma a garantir que a chamem mais depressa para entrevistas de trabalho...»

«Já me aconteceu numa entrevista dizer que sou licenciada e, do outro lado, responderem-me: "Que pena... se tivesse só o 12.º ano ficava mais baratinha.»

 «já foi preterida por ter mais formação do que as pessoas que seriam suas superiores hierárquicas ou colegas»

«já foi mesmo aconselhada por uma empresa de recursos humanos a reduzir o currículo. A mensagem que lhe passaram foi: "Tem de tirar coisas do seu CV".»
 - Público






quarta-feira, 18 de julho de 2012

lá por sermos geeks, não significa que não f**amos com regularidade


Volta e meia oiço a boca. A última vez foi quando abri no escritório, todo excitado, a caixa do Mansions of Madness (inspirado na obra de Lovecraft) e comentei para os curiosos à minha volta: - Vou fartar-me de jogar com a Plaft esta noite! Muaahah vou ser o keeper e mandar-lhe zombies e shoggoths para cima e levá-la à loucura com trauma cards!

É inevitável ouvir o comentário seguinte.

 - Há coisas melhores para fazerem, não?

Não sei como é a vida dos outros casais que vivem juntos, mas pelos comentários que oiço, imagino que seja romance, sexo e vida social (ou tudo ao mesmo tempo) 365 dias por ano. Eu sei que levar a Plaft à loucura e ao suicídio pelo intermédio de cartas num jogo de terror é algo que muitos outros casais considerariam pouco romântico e até algo mórbido. Concedo.

 Mas nenhuma destas actividades implica uma maior ou menor quantidade de sexy time do que qualquer outra actividade como ver tv ou ir ao shopping.

Aliás, já estamos a pensar em cenários para o Mansions Of Madness (dá para desenvolver os próprios cenários) que envolvam sexo real para criar uma envolvência maior. Deixo aqui o rascunho de um deles, chama-se "The House of The Lesbian Witches".

Este é o intrépido Aschan Pete e entra na mansão com a guitarra e o Bobby.


O Pete quer apenas um sítio para passar a noite e tocar umas do unplugged dos nirvana. Chega lá e dá com um bando de bruxas mal encaradas. Elas não querem nada com o Pete porque são lésbicas e mostram-lhe as mamas para gozarem com ele 'querias disto não é? toma toma, não é para ti muahahahah' e lançam-lhe trauma cards que dão impotência por um turno.


O Pete tem de as encontrar pela casa, com a ajuda do Bobby e de cada vez que encontra uma, deve fazer um teste de destreza e ir-lhe à cona (se estiver na mesma casa) ou, se estiver a uma casa de distância fazer um teste de pontaria e vir-se para as mamas delas. A lésbica fica curada e passa a fazer parte do exército do Pete.

De cada vez que uma bruxa é convertida em boazona, subsitui-se pelo boneco da Jenny Barnes que é especialista a fazer broches ao Pete para lhe restabelecer a energia e dar-lhe tesão para depois o ajudar a converter mais bruxas lésbicas.



É uma ideia bastante básica e ainda está em desenvolvimento, a Plaft discorda do número de jogadoras necessárias e de alguns elementos.

Em retaliação está a desenvolver um cenário em que o Pete entra na House of The José Luís Peixoto Readers.


São zombies gays e o Pete tem de fugir porque eles tentam enrabá-lo e dar-lhe damage tokens no cu. Podem também dar-lhe horror tokens se lerem poesia do José Luís Peixoto a pelo menos 3 casas de distância. Se a sanidade do Pete for reduzida à zero ele fica um zombie também.

O objectivo do Pete seria destruir o próprio José Luís Peixoto, aqui representado pelo boneco mais parecido com ele que eu encontrei.

E pronto. Longe de mim, a milhas, considerar que somos um casal exemplar. Conheço um casal que se dedica a memorizar listas de coisas completamente aleatórias e depois exibem a habilidade aos amigos: ele escreve num papel a lista de coisas e ela recita a lista pela ordem certa. É preciso muito treino e entrosamento para atingir aquele nível de perfeição e felicidade conjugal, espero um dia lá chegar. O que é preciso são equivalências.

terça-feira, 17 de julho de 2012

este é praí o meu 14º texto sobre TPM mas...

... a Plaft quando está em vésperas do período chora, do nada. Mas tipo, do nada. Está muito bem e começa a chorar. E eu pergunto-lhe 'o que foi baby? estiveste a ler Schopenhauer outra vez? viste aquele programa da manhã, o da TVI? É horrível não é? A voz da gaja...' e ela diz 'não é nada disso' e eu 'é o quê então?' e ela 'não é nada' e continuam a escorrer-lhe lágrimas tímidas e perfeitas nas faces sardentas de miúda. Fica mesmo sexy assim a chorar, os olhos verdes liquefeitos em esmeraldas fluídas. Eu gosto. Dá-lhe um ar de Bibi Andersen ou outra estrela de filme do Bergman, assim sueco, em que as mulheres choram com elegância. Porque ela é actriz e então as actrizes devem ser assim, nervos à flor da pele, uma alma inflamável como éter. Surpreende-me sempre quando de repente se assoa muito, porque não imaginaria que tal ser etéreo e intangível pudesse ter muco como os meros mortais. Também é um aviso de que devo ser o mais querido e romântico possível e compreensivo e tratá-la com carinho e amor, cozinhar coisas boas, ouvi-la conversar comigo... Dali por dois dias vem o período e é bom aproveitar enquanto dá, depois é aproveitar para descansar um bocado e sair com amigos. Enfim, eu pergunto-lhe 'o que foi?' e ela dá aquelas respostas 'nada' e eu 'quem nada não se afoga ehehe' e quando ela não ri, é porque está com a TPM e o sentido de humor fica afectado.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

expliquem-me isto

Esta dúvida surge-me sempre que vejo anunciar que um veículo eléctrico é livre de emissões de CO2.
Não consigo compreender isto.

Os veículos eléctricos funcionam a electricidade, com baterias.
A electricidade tem de ser gerada. Pode ser fabricada de muitas formas, incluindo formas renováveis, mas nem sempre. Nos países da OCDE a coisa é assim:

Gás: 21,6%
Carvão: 20,4%
Biomassa: 3,4%
Hidro: 2,1%
Nuclear: 11%
Petróleo: 40,8%
Outras: 0,7%

 Vou evitar falar no caso concreto de Portugal. Temos 15% de renováveis, sendo 13% hidro e a meta é chegar aos 30% em 2020. Também não vou falar nos impactos ecológicos das barragens que estão muito para além da minha parca compreensão, mas quero apenas frisar que a "emissão de CO2" não é a única coisa má para o ambiente digamos assim.

Todas aquelas fontes de energia, excepto a hidro, nuclear (que tem outros problemas...) e o "outras" geram CO2 ao produzir electricidade.

Fossil Fuel Emission Levels
- Pounds per Billion Btu of Energy Input

Pollutant Natural Gas Oil Coal
Carbon Dioxide 117,000 164,000 208,000

Muito bem. Portanto, podemos dizer que em média na OCDE 85% da energia eléctrica produzida emite CO2, sem contar com os 11% do nuclear que daria uns 95% de energia poluente.

Agora falemos de entropia. Produzir energia eléctrica com petróleo num sítio, processar e transportar essa energia eléctrica numa rede imensa cheia de dissipação, consumos ineficientes e desperdícios, carregar uma bateria normalmente mais densa e pesada que o volume equivalente de combustível e que tem um output inferior à energia que recebe e, no final, produzir movimento ou força motora, parece-me algo ineficiente e não sei se compensa o facto do motor eléctrico ser substancialmente mais eficiente que um motor a combustão a nível de utilização da energia. Por ex: o veículo também alimenta a bateria nas travagens ou descidas, algo que não acontece nos veículos a combustível em que tudo é perdido.

Em qualquer caso, parece-me desonesto dizer que não existem emissões de CO2 quando a quase totalidade da energia que faz um veículo eléctrico funcionar é produzida com libertação de C02, a não ser que o proprietário ligue o carro a uma ficha de electricidade de um gerador eólico que tenha no quintal. Se estiver enganado, expliquem-me.


à primeira vista

«Ter sido presidente da assembleia geral de uma Associação de Folclore foi um dos aspetos valorizados na experiência profissional do ministro. Currículo valeu-lhe 160 dos 180 créditos necessários para concluir a licenciatura na Lusófona.» - Expresso


Em janeiro já tinha escrito um aparte sobre Relvas, caracterizando-o como uma daquelas «pessoas que não entendemos bem a necessidade de existirem no nosso televisor».

A expressão facial de Relvas e muito especialmente o olhar, traduz uma enorme tensão / contenção de quem tem intenções férreas e um pragmatismo a toda prova. Uma espécie de desprezo, desprezo por obstáculos aos planos simples cogitados na sua mente em funil, que pensa numa coisa de cada vez. Esta tensão acabou por traí-lo ao ser libertada no caso da jornalista do Público. O facto de ter surgido do nada como número 2 de um governo, quando não se lhe conheciam quaisquer capacidades para lá de usar um telefone, conhecer pessoas, ter um curso na Lusófona e ser presidente de coisas como associação de folclore, é raro e próprio de alguém sem sede de protagonismo público, uma vez que uma maior discrição evita chamar a atenção para coisas menos positivas do passado, como, aliás, tem vindo a acontecer. Os olhos pequeninos são frios e inexpressivos, o que traduz a falta do que se pode chamar de "calor humano" e sentido de humor. O cabelo curto e a escolha de fatos, tudo austero e sem uma marca de vaidade assumida acentuam ainda mais o pragmatismo e a ausência de "alma". A forma do rosto, larga e quadrada, o queixo agressivo, a cabeça atarracada nos ombros, revelam origens humildes ou rurais, uma espécie de labrego com um fato e gravata que lida com o mundo da política como lidaria com uma negociação de ração para porcos, assim com uns esquemas pelo meio. E é isto, um número 2 de um governo português, em 2012.

confirmo


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Fantasia de Fausto


Segunda feira passada (9 de Julho) fui com a Plaft ao São Luiz ver o Fantasia Fausto do Peter Stein que dispensa apresentações. Também já leram o Fausto do Goethe e o original do Marlowe e o Faust do Mann, ou de outro modo seria impossível apreciarem devidamente o Tolan a sua arte épica, clássica, mítica, seminal e canelónica. Eu e a Plaft às vezes por brincadeira recitamos partes do Fausto do Goethe (em alemão) mas com uma palavra trocada, ela diz um verso, tipo 'euch ist bekannt, was wir bedürfen' e eu tenho de dizer o verso seguinte, mas com uma troca de palavra, tipo 'wir wollen stark Getränke estrünfen!' e partimo-nos a rir :))))) - não é estrunfen (como sabem), é schlürfen, tipo duh...

De qualquer forma, no teatro de São Luiz havia legendas por cima do palco para quem não compreendesse o poema em alemão. Também havia um pianista a tocar a acompanhar o poema e tive pena de não colocarem outra legenda electrónica com a partitura da música que ele estava a tocar para quem não saiba de música como é o caso da Plaft que só sabe cantar e tocar tambor. Gostei muito do espectáculo. O Fausto do Goethe é daquele tipo de obras que mexe mesmo com uma pessoa que saiba apreciar as coisas devidamente. Cada versadela, uma minhoca. Verso a verso enche a alminha o papo. A moral é quem tudo quer, tudo perde. E cuidado com o mafarrico.

com o tempo

O que os outros pensam de nós vai perdendo importância. É por isso que as pessoas mais velhas parecem um bocado chanfradas. Sem aquele impulso de querer ser compreendido (ou incompreendido) que atinge o pico na adolescência, as idiossincrasias apuram. E começamos a perceber que todas as músicas compostas pelo Burt Bacharach são perfeitas, porque começamos a ouvir os clássicos na Star FM. Suponho que sou cada vez mais conservador. Nem sou conservador, sou regressivo e recessivo, como a economia e a democracia. Ficam aqui dois exemplos de perfeição bacharachiana e um bom dia a todos, muito obrigado pela atenção.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

mais bem disposto

É verdade, não cumpri a promessa de escrever todos os dias, quebrei logo  a promessa no dia a seguir. Isto de se fazer promessas cria muita ansiedade. É sempre melhor quebrar as promessas rapidamente do que ficar a anhar muito tempo para depois quebrar na mesma, numa altura em que toda gente se habituou à promessa e a levou a sério. Os políticos aprendem isto na escola de políticos. A escola dos políticos é muito boa, dá competências para governar o país e 32 equivalências (no mínimo) em qualquer curso. Há bastantes médicos que fizeram a escola de política. "Tome estes comprimidos que vai ver que fica bom" e o paciente "obrigado doutor!" e uns dias depois "lamento muito, mas temos mesmo de lhe amputar qualquer coisa ou morre. Se calhar um braço. Ou os dois, pelo sim pelo não. A culpa não é minha, o médico anterior é que se enganou, amputou-lhe as pernas, um disparate nestes casos..."

Entretanto, eu e a Plaft temos desenvolvido telepatia conjugal e ganhamos todos os jogos de tabuleiro com amigos, até contra gémeos que supostamente têm estas coisas assim genéticas. Se jogamos ao pictionary ela faz um risco e eu digo "seringa" e acerto. Se jogamos à mímica eu faço assim com os braços para cima ela diz Homem Vitruviano, Leonardo Da Vinci, 1490, nem preciso de fazer os braços na diagonal e para o lado. Já aconteceu no tabu a palavra ser Robbie Williams e ela só diz "homem da terra de sua majestade" e eu digo logo Robbie Williams e acerto. Porque não dizer Elton John ou David Bowie? Mistério. Mas é assim que as coisas são, para quê questionar?

Também tem os seus lados negativos, esta coisa da telepatia conjugal porque podemos ter discussões sem falar. Às vezes estamos no sofá a ver um filme e ela resolve provocar-me mentalmente por causa de uma coisa qualquer que a aborreceu, como ter-me esquecido que ela fazia anos ou pegar fogo (sem querer) à blusa preferida dela por causa de um pequeno percalço na execução de um flambée na cozinha, e eu respondo-lhe da mesma moeda e ficamos assim a olhar de lado um para o outro. Só que aquilo vai acumulando e às tantas ficamos mesmo zangados, sem sequer falar, um suspira e o outro abana a cabeça. O raio de telepatia é mais ou menos 10 metros, a partir daí o sinal fica mais fraco. Se nos afastarmos um pouco, podemos interromper discussões. Só que a casa é pequena e ela tem de ficar na varanda da sala e eu pendurado no estendal da roupa que fica do outro lado da casa. A alternativa é usarmos os capacetes de folha de alumínio, não é mau, mas também prejudica a imagem na televisão, faz assim uma espécie de interferência. 

sábado, 7 de julho de 2012

vamos continuar a tentar...

Decidi escrever aqui todos os dias, mesmo que não me apeteça nada. Talvez me comece a apetecer a pouco e pouco. Pode também ser interessante, para todos nós, ver o que a minha cabeça produz num estado de total ausência de inspiração. Tanto pode ser uma espécie de ruído branco indistinto como um quadro abstracto, aquelas salganhadas de salpicos do Pollock. Às vezes leio blogues de outras pessoas e fico deprimido. A culpa nem sempre é das pessoas. Estamos condenados a ficar presos num ciclo eterno, desinteressante e estéril. Como as notícias do trânsito que oiço no rádio todos os dias de manhã, informações que o locutor diz com um entusiasmo que não parece fingido, especialmente quando há um acidente num ponto específico da rede rodoviária portuguesa a quebrar a monotonia da enumeração dos engarrafamentos de Lisboa e Porto. Ontem fui beber copos para a zona do Cais do Sodré, não ia lá há anos, aquilo está muito diferente e também me deprimiu. Os bordéis que eram tão interessantes transformaram-se em bares da moda. Os chulos e traficantes à coca nas esquinas e as putas rascas foram substituídas por jovens bonitos. A rua cheia de gente, intrusa, turística, uma espécie de pastiche Las Vegas de uma zona marginal que, nos meus tempos de explorador do submundo, era a zona proibida. Tinha-se medo, porra. Medo. Era emocionante. Acho que preciso de dormir, o problema é esse.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

o maior sinal de decadência dos tempos modernos...

...e que devia preocupar o Pacheco Pereira, são as citações de motivação e espiritualidades constantemente atribuídas a gente do tipo Fernando Pessoa, Albert Einstein ou Pablo Neruda,  inocentes, que já morreram e tudo, e que não se podem defender das constantes calúnias nos mails e status do facebook que lhes atribuem coisas escritas por e para leitores de Paulo Coelho. Eu prefiro não acreditar que o Albert Einstein disse coisas como "Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor... Lembre-se. Se escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor com ele você conquistará o mundo."  As pessoas que dizem este tipo de coisas são primeiras a atropelar e esmagar crianças e velhinhos num cenário de pânico num incêndio ou a atiçar uma matilha de advogados contra um(a) ex ou a subscrever uma limpeza étnica no bairro enquanto condenam a do Ruanda ou então são brasileiros bem intencionados desejando ajudar você a ser feliz :) E se o Einstein disse mesmo aquilo? Apesar de não aparecer em nenhum site de citações mais oficial (e há lá centenas), pode ser, acontece, as pessoas ficam senis, mas porquê escolher essa citação? O Einstein disse coisas como "deve ser possível explicar as leis da física a uma empregada de bar". Gosto desta citação, não sei qual o contexto mas gosto de imaginar que era uma espécie de desculpa esfarrapada à mulher ao chegar a casa a horas impróprias, a cheirar a perfume rasca e cerveja.





recomeçar a escrever

devagarinho. É fácil. Escrever é como andar de bicicleta, depois de aprender-mos, nunca se esquece.