domingo, 30 de outubro de 2011

a Kapital

Depois do deprimente post de Tolan sobre o tal “Limbo”, gostaria de falar de um sítio onde saía bastante, no final dos anos 90, com os meus amigos do ragueby ou da tuna: o sítio era a Kapital. Suponho que a maior parte de vocês não conhece a Kapital a não ser de fora, porque era um daqueles sítios que era exigente na selecção das pessoas que podiam entrar ou não. A zona de Santos estava a bombar naquela época, com o Kremlin (um pouco mais chunga) e o Plateau para quem gostasse do género rock mais alternativo dos anos oitenta. Também havia a zona dos bares, do qual o Vacas Loucas era o mais sofisticado. Por isso achei que seria interessante para vocês que nunca lá entraram, perceber como aquilo era lá dentro.
Havia fila para quem não conhecesse ninguém mas no meu grupo de amigos do ragueby havia um que conhecia toda gente e entrávamos sempre. Às vezes um de nós estava sem sapatos de vela e camisa e íamos a casa de um, buscar outro par e ele calçava, nem que os sapatos fossem um ou dois números abaixo e andasse o resto da noite a coxear (aconteceu-me uma vez). Depois lá dentro havia dois pisos e era tudo muito luminoso e branco, cheio de gente bonita e saudável. Se quisessemos música mais alternativa tinha-se o piso de baixo, onde passavam êxitos de música de dança. No piso de cima a música era mais pop e acessível. Quando vou a uma discoteca para sair e me divertir só peço uma coisa: que a música não seja daquela muito barulhenta e esquisita ou então que não seja daquela que ninguém conhece e que não dá para dançar e que enxota as raparigas bonitas. Já me aconteceu estar duas horas no piso de baixo do Lux sem conseguir reconhecer uma única música, encostado ao balcão, tudo porque um amigo meu, um forcado de Vila Franca, contou umas histórias ao pessoal que no Lux havia muitas estrangeiras. No piso de cima do Lux ainda se está bem e melhorou substancialmente nos últimos 10 anos.
Uma das coisas mais agradáveis na Kapital era o sentimento de pertença, reconhecíamos que as pessoas à nossa volta eram pessoas como nós. E as mulheres eram as mais bonitas da noite de Lisboa. Vestiam-se bem, arranjavam-se, tinham brincos de argolas e colares com cruzes e muito bronzeadas, mesmo no Inverno, o que indicava que iam passar férias na neve e praticavam desportos, o cabelo era loiro e tinham os dentes brancos.
Voltei à Kapital há alguns anos mas achei que a média de idades tinha decrescido ou então eu é que estou mais velho, não me senti lá muito bem e por isso tenho ido para o BBC. É pena no BBC não serem tão selectivos à entrada como eram na Kapital, mas creio que isso tem a ver um pouco com a crise. Quando vou ao BBC faço a contagem de calças de ganga azuis com camisa branca. Se for inferior a 75%, vou-me embora, quer dizer que a noite está a ficar para o xunga e não tarda nada há facadas e tiros.
Alguém mais gosta da Kapital?

Saudades de ouvir isto... :)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Limbo



No Bairro Alto havia um sítio, o Limbo. Não sei se alguém alguma vez aproveitou o Limbo. Alguém? O Limbo era escuro e frequentado essencialmente por góticos. Eu tinha uma amiga meio gótica, pálida, com cicatrizes de tentativas de suicídio nos pulsos e neonazi, era fixe. Não pensem que era neonazi mesmo, era uma coisa que dizia que era, como eu quando digo que sou neoliberal e sou apenas liberal. Tinha o cabelo curto à rapaz, espetadinho e tatuagens e era incapaz de me tratar por "tu", tratava toda gente por você. Chorava quando ouvia músicas tristes no meu velho ford às voltas por Lisboa comigo com os copos e sem saber bem o caminho para casa. A pista de dança tinha uma teia de aranha gigante no tecto, o que me deixava um pouco desconfortável, mas suponho que era uma decoração gótica. Era inocente aquela teia, era uma espécie de helloween permanente. No piso de cima havia uma mesa de matraquilhos. E os góticos pareciam monstrinhos simpáticos que corriam da criptas para aquele sítio, fugindo a luz e da família, escondendo a cara coberta de base branca na gola dos sobretudos de cabedal e não os conseguia imaginar num transporte público. No escuro (era mesmo escuro o sítio) ninguém reparava na minha indumenta de beto surfista. O bartender e a bartender (deviam ser um casal) estavam cobertos de tatuagens e vestiam cabedal justo e eram simpáticos. E o dj, num trono decorado com autocolantes de sinais de radioactividade, passava Joy Division, New Order, Smiths, Cure, Depeche Mode e muitas coisas industriais e pesadas que não conseguia identificar. E ficávamos sentados encostados à parede, no escuro, a beber vodkas que brilhavam nas luzes negras e os góticos pareciam-me guaxinins eriçados, a dançar aos sopetões na pista e havia amor, digo-vos meus amigos, havia amor pela música naquele sítio como nunca mais vi em lado nenhum. Depois fechou.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Outono!

Não me soube muito bem comer castanhas de t-shirt e óculos escuros, há coisas que não são naturais. Este Outono chegou de repente, nem deu tempo para uma pessoa se habituar e a julgar pelas sirenes dos bombeiros no domingo à noite, muita coisa foi apanhada de surpresa. Parece que estamos noutra cidade, noutro país, noutra latitude. O trânsito fica mais caótico, parece que de repente há muito mais carros, como se ocorresse um fenómeno com a água da chuva e os carros do género gremlins. E gosto de como em Lisboa há poças de água. Noutras cidades em que chove torrencialmente é raro ver poças de água mas aqui há poças de água nas estradas e nos passeios e podemos chapinhar nelas com os sapatos e ficar de meias molhadas e podemos ser refrescados por um 46 a passar a toda a velocidade na faixa do Bus. Perto de uma casa em que vivi havia uma misteriosa poça de água no passeio que nunca secava o ano todo. As pedras da calçada submersas tinham algas e víamos seres unicelulares a evoluírem na poça, uma espécie de the poss of life. Mas era devido a uma fuga de um esgoto. Se déssemos tempo suficiente às amibas para evoluírem, não me admirava de ver sair de lá um palmípede ou um militante do PCP numa bela manhã de Outono. É bom este tempo, estes dias mais escuros e tristes, porque o que estava a acontecer com a crise económica e os dias de praia em Outubro é que o cenário não colava bem ao argumento, como querer filmar um filme de terror nas Bahamas ou um filme romântico no Pólo Norte.

- Amo-te Pikatti, percorri estes glaciares gelados para te trazer este peixe, agora namora comigo.
- Oh Akiak! Meu herói...


*nariz com nariz
(entra música romântica e épica)

domingo, 23 de outubro de 2011

The Tree of Life, Malick


Ontem, em vez de alugar o tradicional filme de terror à meia noite de sábado, optámos (eu e O Autor) pelo Tree of Life que finalmente ficou disponível no meo. Gostei muito do filme e as duas horas e pouco passaram a correr, com choraminguice nossa pelo meio. Há um ramo na minha árvore que não é necessariamente universal, mas que aparece intacto no filme, o que também me faz ter alguma dificuldade em apreciá-lo objectivamente ou, pelo menos, partilhar uma opinião. Mas é muito bonito, um dos filmes mais bonitos que já vi. Tirando a última sequência em que Malick força um bocadinho a barra com uns planos um pouco esotéricos, é um filme perfeito. Lembrou-me o 2001 Space Odissey do Kubrick, mas ao contrário. A par de Lynch, acho que ninguém filma tão bonito hoje em dia como Malick. Depois também há a questão de Deus e de ser um filme evangelizador de acordo com alguns críticos ressentidos que me lembro de ter lido. Suponho que também devem sentir o seu íntimo violentado de cada vez que apanham com obras de Bach, Dostoiévski ou Michelangelo. Há uma ideia que só reverbera em nós com a abertura do espírito a algo que transcenda o mundo conhecido e a finitude da existência. Um equilíbrio pode ser uma espécie de ateísmo intermitente, uma fé na fé dos outros, emprestada por momentos, seja ao Malick, seja a uma personagem de Dostoiévski que se redime. Deus pode ser uma metáfora do mistério, do belo, ou da dependência de um destino insondável para as coisas fundamentais da nossa vida, como o amor, o nascimento e a morte. Ia escrever sobre não ser um filme para pensar mas sim para sentir, só que isso é um bocadinho complicado de se fazer. A crítica ideal seria uma que também não desse para ler, mas só para sentir, por exemplo, um boneco, umas frases soltas. É o que se arranja.

sábado, 22 de outubro de 2011

sobre amor

Olá a todos.
O meu nome é Tolan. Bem vindos a este espaço que se pretende repleto de boa disposição e cultura. O meu Autor disse-me que só poderia comer cheetos e beber cerveja se falasse de um assunto bonito. Escolhi o assunto "amor" e fiz então uma pesquisa no motor de busca google por frases bonitas sobre amor. As imagens também fui eu que escolhi. Espero que gostem todos e reflictam muito.

"Nada é pequeno no Amor. Aqueles que esperam por grandes ocasiões para demonstrar a sua ternura não sabem amar."



"Um momento não é tudo... Mas você é tudo em um só momento."




"Nada de grande no mundo é feito sem paixão."



"Quando duas pessoas se amam, elas não se submetem e não se dominam, apenas se completam."


"Não sei se dentro de você existe um pouco de mim, mas dentro de mim existe muito de você." 




Fixem particularmente esta última, é um subtil elogio para dar ao vosso homem durante o intercurso.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

comunicado

Caros leitores,
Antes de mais, agradece-se as visitas a este espaço de social media, bem como a fidelidade e boa disposição de todos os participantes. Também se agradece ao Tolan a sua perseverança e esforço ao longo deste tempo.

Pretende-se com este comunicado d'O Autor clarificar alguns pontos, tendo em vista a clarificação de todos os intervenientes neste espaço de social media.

Gostaria, primeiro, de me distanciar totalmente de todos os conteúdos deste blogue que consideraram ofensivos, aborrecidos ou medíocres. Esses foram da autoria exclusiva do Tolan. Por outro lado, pretendo reclamar a autoria de todos os conteúdos que consideraram acertados, entretenidores e de insofismável valor literário.

Uma vez que os social media são interactivos, a apreciação entre um grupo de conteúdos e outro pode variar de indivíduo para indivíduo, deixo à interactividade e ao vosso critério a correcta segmentação dos mesmos e a respectiva atribuição ao respectivo autor.

O Tolan é uma criação minha e a mim deve a sua existência e bons momentos. Também criei outras bastante mais interessantes e elaboradas, mas que não obtiveram por parte do público os desejáveis índices vulgarmente utilizados para aferir do sucesso de um meio de comunicação de Social Media. Estou em crer que tal se prende com a degradação do gosto e exigência do público português, bem como outros factores conjunturais, como seja a falta de investimento do Estado numa política cultural consistente.

Para usar uma metáfora, podemos considerar o sucesso relativo do Tolan como uma mutação resultante de um acidente nuclear. A energia nuclear é bem intencionada mas às vezes faz das suas e deixa as pessoas com alopécia num raio de trezentos quilómetros. Contudo, entre desgraças e mutações genéticas, pode acontecer uma que seja divertida, como uma vaca que em vez de dar leite, dá cerveja e que em vez de mugir, ladra. Nesses momentos, é preciso tirar o melhor partido daquilo que se tem. Pode-se ter a vaca de guarda e substituir o cão ou, no inverno, deixá-la uma hora ou duas na rua e depois ter cerveja fresca. Foi isso que se pretendeu com a exibição do Tolan neste espaço, resguardando a dignidade do Autor.

Voltando à nossa vaca, o Tolan, pretende-se que todos saibam que o mesmo foi admolestado pelos conteúdos de mau gosto que frequentemente têm causado problemas e que prometeu portar-se melhor e voltar a incluir gatinhos entre parágrafos, bem como incluir alguns conteúdos culturais, no sentido de educar e fazer reflectir, quiçá, substituindo o papel que deveria ser do Estado.

Também se vem reiterar que o Tolan não é O Autor e no entanto, inúmeras vezes, como podem certamente comprovar pelos seus acessos de orgulho, narcisismo e egocentrismo, reclama para si coisas que não são dele, mas sim minhas, como o bonito carro alemão ou os fatos da Labrador nos quais, devo dizer, o Autor é uma pessoa bastante digna.

Queria só deixar uma nota relativamente à questão da emigração. É certamente provável que o Autor emigre, uma vez que considera ser necessário um contexto materialmente estimulante e uma viatura luxuosa de 180 cavalos, no mínimo, para a prossecução dos seus objectivos artísticos e literários. Contudo, o Tolan ficará em Portugal em qualquer caso, nem que seja para engolir as coisas que disse a propósito da actual crise que, claramente, não está a levar a sério, uma vez que vive às minhas custas e tem a sensação que essa situação é imutável.

Sem mais, despeço-me com amizade e espero que a admolestação privada e comunicado público sejam produtivos na nossa estratégia conjunta de sucesso e criação de valor artístico e cultural.

O Autor

no lusco-fusco

E aquele estado de espírito impreciso em que não se sabe o que se tem ou o que se pode perdeu, se estamos felizes ou tristes, ou ambos, e em que qualquer caminho parece improvável e provável e só conseguimos ficar a olhar para uma chávena de café a fumegar até alguém falar connosco sobre as declarações do Cavaco sobre equidade fiscal? Vocês sabem do que estou a falar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ajudem o Tolan a decidir

Não sou grande fã de mulheres com “opiniões políticas” e só queria fazer aqui o aviso às leitoras deste blogue. Não levem a mal. Não me choca nada que as mulheres possam votar e emitir opiniões engraçadas, mas nem todas podem compensar noutras coisas como ser a Joana Amaral por exemplo. Gosto que pensem sobre poesia, arte, moda, acho isso bonito como o canto do passarinho que me acorda a chilrear à minha janela, ao Sábado de manhã. Sabe-me sempre bem ouvir uma mulher a falar de coisas e a querer impressionar-me. Mas sobre política e economia, não sei, faz-me um bocado de confusão, como aquelas que querem ser administradoras de empresas e depois vestem tailleurs e tentam fumar charutos no camarote do estádio e tossicam aborrecidas com aquilo. Penso que dentro da política há certamente áreas em que foram úteis, nos anos 60, nas revoluções cívicas pela europa civilizada, como poder usar mini-saia e decotes, coisas com que concordo.

Dito isto, abro a caixa de comentários e perguntava o que acham da situação na Grécia que, pelo que tenho lido, parece estar para a extrema-esquerda como o dia do juízo final para os católicos. E se estão confortáveis com acontecer uma coisa que a extrema-esquerda e/ou os católicos desejam ardentemente para eles e todos os outros. E se acham que isto pode acontecer em Portugal. Obrigado, espero que participem, porque preciso de decidir se emigro ou não. Peço só que identifiquem o sexo a que pertencem logo no início do comentário, por uma questão de comodidade.

o monstrengo

o seguinte texto é escrito no seguinte tom


O meu melhor amigo é um monstrengo imaginário. Sei que é imaginário porque já perguntei a pessoas se o vêem e elas dizem que não. Perguntei poucas vezes e de forma discreta e no meio de outras perguntas ou de uma conversa. O monstrengo gosta de cerveja e cheetos e é imbecil. Estou a conduzir e ele diz-me "buzina a essa gaja que está no meio de duas faixas" e eu buzino por reflexo, a senhora pede desculpa e eu sinto-me mal. O monstrengo refastela-se no banco e ri-se com as mãos na pança redondinha e peluda. Estou no escritório e tenho trabalho para fazer e abro os ficheiros e o monstrengo diz-me "joga aos blogues" e eu digo-lhe "agora não, monstrengo" e ele puxa-me a manga do fato e desvia-me o ponteiro do rato e cometo erros imbecis, "joga àquilo de seres escritor" e eu dou-lhe um berro que faz os meus colegas darem um salto na cadeira. Tento concentrar-me e ele está sempre a coçar-se e a sacudir as orelhas com flap flap flaps sonoros e despudorados. Ao almoço, no restaurante, vira-me as páginas do livro com as patas sujas de óleo do rissol de camarão que pedi para ele, às vezes antes de eu ter acabado de as ler. Ele não lê rápido, ele simplesmente não lê, vê só os padrões geométricos das letras ou começa a contar quantas vírgulas há naquela página. Depois de almoço deixa-me sossegado, dorme debaixo da secretária no meio dos cabos ou faz bonecos na parte de trás de folhas com prints velhos e esquecidos. Tenho de o levar ao colo para o carro e ele adormece com o para-arranca do eixo norte-sul e o update das notícias da crise no rádio.

À noite fazemos concursos de bebida os dois. Temos um jogo que é assim: eu tenho de beber o mesmo que ele. É só isso o jogo e tem acabado sempre num empate.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

as super equipas, venham elas

Vamos apenas em sete jornadas mas a tendência de polarização do campeonato espanhol entre dois grupos de equipas (Barcelona e Real Madrid vs os "pobres") que se acentuou nos últimos anos é já notória, pegando no exemplo no total de golo marcados. Em baixo está a Liga Portuguesa, também à 7ª jornada (clique para se ver melhor).

O número total de golos marcados será o indicador mais relevante para expressar diferenças abissais entre as equipas. Uma equipa sólida pode ganhar jogos "à tangente" de forma mais ou menos consistente e até sofrer poucos golos, mas são as vitórias expressivas constantes que demonstram um hiato significativo de qualidade entre duas equipas. Em 2009/2010 o Barcelona foi campeão com 98 golos, seguido do Real Madrid com 102. Em 3º lugar ficou o Valência com 59 (57% do total máximo do Real). Nos pontos a diferença foi logicamente enorme também, mas obviamente menor que a de golos: Barça com 99, Real com 96 e Valência com 71 (71% do Barça).

Nos EUA são sobejamente conhecidas, pelos amantes do desporto, as regras que tentam ao máximo fazer um reset de época para época e evitar o liberalismo total entre clubes. Desde a fórmula indy ou nascar que "força" os carros a terem os mesmos motores, passando pelo basket onde supostamente o último classificado tem o direito de preferência dos jovens universitários até (e sobretudo) um mercado de transferências e salários fortemente limitado, tabelado e regulado.

Da minha parte, não me oponho ao liberalismo total, mesmo que isso implique, para os dois grandes clubes portugueses (Benfica e Sporting (o FCP é um outlier económico, demográfico e judicial e de competência dirigente que voltará ao seu lugar real com a senilidade de Pinto da Costa)), inseridos numa economia portuguesa, tenham orçamentos ridículos no contexto de uns quartos de finais da Champions. Gosto de super equipas. Jogam melhor do que qualquer selecção, criam futebol novo, um pouco como aqueles restaurantes inacessíveis e misteriosos que inovam na gastronomia ou a Ferrari e a Lamborghini que fazem coisas bonitas, mesmo que sejam só para eu ver passar.

É curioso ouvir coisas imbecis como "Ronaldo não joga nada na selecção" ou "Messi não joga nada da selecção", como se a culpa fosse deles e não de uma descida abrupta do valor económico dos restantes companheiros e equipa técnica.

Gosto da ideia de poderem existir algumas equipas que sejam as melhores equipas possíveis com os jogadores que estão no activo em todo o mundo. Nem tudo é perfeito porque ainda há sentimentos e é impossível, a não ser no PES ou no FIFA, metermos o Messi e o Ronaldo na mesma equipa.

Acresce que a existência destas equipas concentra o prazer e a estética em ocasiões especiais: os jogos entre grandes, esse momento em que os titãs se enfrentam, em vez de uma sucessão de jogos indiferenciados em que o talento está diluído.

só mais uma músiquinha nova fofinha... ^_^

... para as pessoas a quem a electrónica faz confusão e o tum tum tum não é música, isso não é música woof woof arghh

Real Estate - It's Real

grande power

Axel Willner AKA The Field. Pinta não lhe falta.

Primeira faixa do seu novo Looping State of Mind.

anos de heroína

Há um ano eu ia de bicicleta para o trabalho e era ecologista e agora vou num carro (não sei se já disse que ando com um carro alemão) suficientemente grande para albergar os secretários de estado de um ministro.
Felizmente, tem daqueles sistemas stop / start que desligam automaticamente o motor quando o carro pára. Nesses momentos sinto-me ecológico de novo e até fico chateado de voltar a não ser ecológico assim que o semáforo abre. Sou um ecológico intermitente digamos assim.
O lado negativo é que não cabe na apertada garagem do emprego. É muito grande, o meu carro. É comprido e largo. Dá para garagens apertadinhas mas tem de ser com muito jeitinho e manobras delicadas e eu de manhã quero é despachar. Então voltei ao estacionamento no beco dos arrumadores.

Há ano e meio que não voltava ao beco dos arrumadores e já tinha saudades deles. ano e meio é muito tempo na carreira agitada de um arrumador, é o equivalente a três décadas na função pública. Vejo com agrado que o capitalismo funcionou e houve grandes transformações. O que domina o beco agora é um que há dois anos tinha direito apenas a uma faixa de dez lugares em frente ao Pingo Doce e que era frequentemente escorraçado pelos outros. Agora, ou porque foi mais resistente à SIDA e hepatite e overdoses, ou porque escapou à polícia, está no topo da cadeia e os outros desapareceram. Foram substituídos por novos arrumadores que não conhecia, recém-precários da rua. Admiro um arrumador resistente, é preciso ser-se um filho da mãe da mãe duro para resistir a anos de heroína e rua. Subimos os dois na vida, penso para mim mesmo enquanto obedeço às suas ordens precisas com o jornal enrolado e lhe dou não um, mas dois euros, uma vez que o meu carro é enorme e potente.

Depois de admirar o meu carro e assobiar, vê-me com um livro e pergunta:
- Estás a ler o quê?
- Um livro do Nabokov.
- É um romance?
- É.
- Nunca li um romance… isso é tipo telenovela não é?
- Este em concreto, por acaso... é. mas os romances não são necessariamente novelas, há de guerra, terror…
- Epá, isso eu gosto.
- Devias ler um, um dia.
- Para quê?
- Não sei. - realmente não via motivo nenhum para ele ler um romance.
- Tenho lá três livros em casa por estrear, mas nunca os li. A minha cabeça. - faz sinal em direcção à testa.

Ainda falamos mais um bocadinho e depois vou tomar o pequeno almoço. Antes tinha medo (ou fantasiava com isso?) que iria parar à rua ou por alcoolismo ou jogo, ou ambos. E depois deixaria de sentir culpa e libertava-me de todas as preocupações metafísicas e eventualmente deixava de conseguir ler por causa da cabeça. A avaliar pelas notícias, os anos de heroína que aí vêm, não vão ser para os fracos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

um pouco de perfeição neste blogue

dia histórico

O dia de ondas perfeitas de ontem do 2011 Rip Curl Pro Portugal colocou Supertubos e Peniche (ainda mais) no mapa mundial do surf. Já era conhecido de qualquer surfista profissional, mas são dias como o de ontem que transportam as coisas para um mainstream global. A vida como a conhecemos, na pacata vila, pode ter acabado. Para a economia local, deprimida, isto é muito bom. Tenho visto ao longo dos anos cada vez mais estrangeiros e uma profissionalização crescente das escolas e da hotelaria associada ao surf. Tenho sentimentos ambíguos quanto a isso. Conheço estes sítios e aquele mar desde os 12 anos e vou regularmente de férias para lá e aos fins de semana. Agora e cada vez mais, vai ser do mundo. Mas fico muito feliz pela região e no global acho que é muito bom. Os surfistas e comentadores não poupam elogios a Portugal, à comida, às pessoas, ao profissionalismo ímpar dos organizadores, às condições da região. Nada mal para uma vila piscatória e para coisas que começam sempre pela carolice de putos que um dia pensaram "e se eu ganhasse a vida a fazer uma coisa de que gosto?". Parabéns Peniche! :]

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

o cão do Benfica


Já por aí falei no problema do delay, os golos aparem-me na tv com um atraso de pelo menos 20 segundos face às tvs de outros benfiquistas do bairro e nos jogos importantes oiço o "gooloooó" e estraga-me um bocado o tal "golooooó". Nos jogos que vejo pela net (a crise obrigou-me a mandar a sportv dar uma curva) o delay ainda é maior. Contudo, por causa da crise e do Pedro Passos Coelho, penso que o vizinho também já não tem sportv agora. O problema parecia resolvido.

Infelizmente não está. Já percebi que há um cão nas traseiras que ladra cerca de um minuto antes do golo me aparecer no computador WOOF!?! WUOOOOOOÓF! Woof woof woof Auuuuf!*

Colocam-se várias hipóteses para explicar este facto:

1)o dono do cão é um octogenário que ouve o jogo pela Renascença e agita a bengala, fazendo o cão ladrar

2) um cão na proximidade do estádio ladra devido ao golo (por exemplo, em Portimão, perto do estádio do Portimense ou no Porto, perto do estádio do Dragão) e os cães vão ladrando em cadeia até este.

3) o Jorge Jesus tem uma ligação telepática com o mundo canino, hipótese mais credível



*tradução: golo! Golooooóóóó! golo golo golo! tomaaaa!

sair da crise, sugestões

Tenho muitas saudades do senhor José Sócrates, porque quando era ele, a dívida pública até podia duplicar em seis anos mas as coisas pareciam muito melhores e nós não tínhamos estes problemas todos que apareceram subitamente com os 100 dias do Governo de Passos Coelho (coincidência...?)

Concordo inteiramente com o senhor António José Seguro, uma pessoa que muito respeito e tenho em elevada consideração. Isto foi o orçamento da recessão e está a afundar o país e é preciso é investimento público e salários e criar emprego.

Gostei muito de o ver demarcar-se do Orçamento e de agora ser uma oposição credível. Os comunistas também têm razão, como sempre aliás, há mais de 100 anos que têm razão e demonstraram-no sempre.

É preciso é o estado agir sobre o tecido produtivo e essas coisas, porque produzir e criar riqueza e empregos, é muito melhor do que estar aí a fechar empresas e a despedir pessoas.

Não sei como é que o Pedro Passos Coelho não percebe que cortar o subsídio de Natal e de férias é uma coisa que faz mal às pessoas, em vez de fazer bem... Não percebe que fazer cortes na Saúde e na Educação é uma coisa que dificilmente melhora a Saúde e Educação? E que ter Saúde e Educação é uma coisa boa? Então? Isto é tão simples de perceber.

É capaz de ser o primeiro ministro mais incompetente de sempre, não percebe o mesmo que os outros todos em 35 anos de democracia perceberam e que até o João Jardim percebe. Sinceramente senhor Passos, se está à espera de ganhar eleições assim, está muito enganado.

Então, num esforço de ajudar todos os cidadãos que compreendem estas verdades económicas, vou apresentar aqui um pacote de medidas concretas para tirar Portugal da crise rapidamente:

1) Criar empresas para contratar pessoas que estejam desempregadas (exemplo, criar uma empresa de relações internacionais para contratar pessoas de relações internacionais, criar uma empresa de economia para contratar pessoas de economia, criar uma empresa de filosofia para pessoas de filosofia etc.)

2) Criar projectos essenciais para o tecido produtivo.

3) Cortar na gordura do estado.

4) Poupar dinheiro em coisas que são desnecessárias (parece igual ao 3 mas não é, a gordura faz mal, a despesa desnecessária não faz propriamente mal, mas não é necessária).

5) Fazer investimentos criadores de emprego e riqueza em áreas estratégicas nacionais.

6) Apoiar o investimento com uma linha de crédito bonificada.

7) Congelar os despedimentos no sector privado para evitar a subida da taxa de desemprego.

8) Eliminar a pobreza.

9) Contratar alunos para os professores não colocados.

10) Apoiar e investir na Cultura.

11) Contratar público para os espectáculos e criações artísticas do ponto 10)

etc.

mais sugestões?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

carros e mulheres

Ter o carro alemão está a ser uma experiência interessante. Nos primeiros dias estranhava sempre ele estar tão limpinho. Estacionava-o cheio de pó na minha rua e no dia seguinte, de manhã, pimbas, limpinho e a brilhar. Entretanto descobrir porquê, a minha vizinha da frente lava-o espontâneamente quando está a regar as plantas.


Mas não é só a vizinha e na minha rua. Em qualquer sítio onde o estacione, aparece sempre uma rapariga que começa a espumar do nada e a esfregar-se toda no carro.


O meu velho carro andava sempre todo sujo e os únicos que se ofereciam para o limpar eram putos romenos nos semáforos da avenida das forças armadas e que eu tinha de enxotar aos berros. Devia ficar feliz com isto, mas às vezes é pouco prático, porque o carro já está limpo que chegue e tenho de ficar ali à espera que acabem de lhe puxar o lustro com o rabo ou os seios.

Outra capacidade curiosa do carro é a de ser apelativo como zona de descanso. Sei que há poucos bancos públicos nos jardins, mas isto começa a ser ridículo. É como se fosse um sensor de estacionamento. Mal o carro está no sítio certo, oiço um pequeno "bomp" de um rabo de bikini, mini-saia ou calções curtos a encostar-se à porta ou ao capot.


ai tão bem que se está aqui hi hi hi


vou aproveitar este carrinho para reflectir um pouco sobre José Luís Peixoto

Parece bom, mas com o tempo começa a ser chato porque temos de pedir licença e incomodar.  É fácil percebermos onde está o carro porque aelas são bastante vistosas e usam saltos altos, de maneiras que as vemos ao longe. No Colombo ou no Vasco da Gama até dá jeito, mas no El Corte Inglês ou nas Amoreiras há demasiados carros bons e então o parque está cheio delas encostadas aos mesmos e instala-se a confusão entre os proprietários.

- Olhe, desculpe, a sua é aquela loira lá ao fundo?
-Não, a minha era uma morena alta... não a viu não?

E nisto tudo, temos ainda o problema das namoradas ou das esposas, que não acham piada nenhuma a este mecanismo de memorizar o local de estacionamento.

Claro que tudo isto é proporcional ao carro. No meu carro velhinho, quem se lhe encostava era o arrumador do bairro onde trabalho, a quem eu tinha de pedir licença para poder entrar e dar um cigarro.

Um amigo meu tem um desportivo italiano de topo e no caso dele, é ainda mais complicado tirar o carro do estacionamento, às vezes tem de esperar meia hora.


Os carros tendem a atrair mais ou menos o seu equivalente feminino. Se morarmos na margem sul e gostarmos de carros de tuning, o tipo de mulheres é diferente, cuidado.


Não quero com isto fazer qualquer sugestão misógina que os carros atraem mulheres. Não são só os carros, elas não são limitadas. Pode ser um bom relógio, um fato caro, uma casa boa, etc. Basicamente, tudo o que signifique estatuto social, riqueza ou poder. Por isso, se sentem sozinhos e com pouco amor na vida, comprem coisas bonitas, nem que seja a crédito.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

melhor em campo

carros

Cederam-me um carro alemão tão bom que eu me sinto um tanto ou quanto intimidado por ele e já percebi que vou ter de comprar roupa upa upa. O comando não funciona quando não tenho um fato ou pelo menos um blazer ou um polo lacoste, é inútil carregar no botão de abertura de porta, e se eu aparecer de calções de licra para o BTT ele até desata a tocar o alarme. Os pedais não vão para baixo se não forem carregados por calçado italiano. É tão grande que agora me sinto na obrigação de constituir família para dar uso a tanto espaço. Sinto-me socialmente culpado quando vou passear os seus 180 fogosos cavalos. Sou alguém que "ganha dinheiro na droga" ou "rouba" ou "não tem dinheiro e nem come para andar com aquilo". O único aspecto positivo é fazer comunistas benzerem-se quando o vêem passar. Adoro a cara deles quando tento furar pelos piquetes das manifestações :))) deixem o capitalista passar looosers PII PIIII

Em compensação, o meu carro tem 11 anos e 140 mil quilómetros. Comprei-o em 2ª mão com o meu pai, em 2003. Os seus 70 cavalos cansados olhavam para mim apáticos quando lhes dava chicotadas no acelerador e depois uns para os outros e encolhiam os ombros de cavalo. Às vezes até relinchavam um "tens pressa, vai de tgv Rriicnh riinch riiinch" (<-onomatopeia de riso de cavalo). Está estacionado, coberto de pó, riscos e algumas mossas, com os retrovisores em baixo e os faróis melancólicos e lacrimejantes apontados para mim: Já não me queres? Não fui um bom carro? Eu levava-te de um sítio para o outro... e todas vezes que te levei a casa sem tu estares em condições sequer de te lembrares do caminho... e enchias-me de areia e esquecias-te da revisão e punhas-me óleo a mais e eu aguentei tudo... e agora trocas-me assim?

Sinto-me muito culpado. Tratei-o mal. Cheio de cagadelas de pombo e eu completamente nas tintas. Era eu, aquele carro. Agora neste até raspo um mosquito esborrachado, com a unha, cuidadosamente. Estou com problemas de personalidade. Vou ter de reflectir, já não sei se a vida de escritor maldito e essa palhaçada toda é para mim.

o arquétipo

Revejo o romance pela última vez. Gosto dele. Mas não é um clássico, para grande pena minha. Releio bocados do Guerra e Paz do Tolstói e do McBeth do Shakespeare e vejo enormes, gigantescas diferenças. Começo a suspeitar que o meu espírito falecido não vai ombrear com essa gente arquetipal e que vai sim, na melhor das hipóteses, ficar como uma graçola do seu tempo. Seja. Eu podia fazer um clássico se quisesse, era só apagar cenas e ser uma pessoa digna. Porque os clássicos, aquilo que os caracteriza, é aquilo que não dizem, a contenção, a sobriedade, o elo com a grécia antiga, com Homero ou a puta que os pariu e todo eu sou ruído e lixo e internet.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"I know our posters say 'Think Differently,' but our real slogan is, 'No refunds.'"

A citação do título é retirada de um polémico episódio dos Simpsons sobre a Apple e o Steve Jobs. Os adoradores da Apple são retratados como uma espécie de membros de uma seita que adora um Steve Jobs - “like a God who knows what we want.”

 Homer Simpson tem algumas dificuldades em lidar com os produtos Apple, não é what he wants)

A certa altura no episódio, Bart agarra no microfone e fala por cima da voz de Steve Jobs, com um discurso que enfurece a seita:

“You think you're cool because you buy a $500 phone with a picture of a fruit on it... Well guess what? They cost eight bucks to make and I pee on every one,” (...) “I've made a fortune off you chumps, and I've invested it all in Microsoft,Now my boyfriend Bill Gates and I kiss each other on a pile of your money.”


Confesso que sempre nutri pela Apple uma certa embirração e que se confirma com a consternação global pela morte do empresário Jobs. Penso que há algo aqui que está mal direccionado. A filosofia de Jobs, inspirada no minimalismo zen budista de que era seguidor, era a de fazer produtos muito bons em qualquer coisa, com design minimalista e apelativo. E não há dúvida que o conseguia fazer. Eu de facto babo-me a ver o MacBook Air na Fnac e sentia realmente orgulho de cada vez que sacava do novíssimo MacBook Pro numa reunião, algo que não acontece quando uso um vulgar Toshiba (a que voltei). No avião, uma miúda saca do iPad e o comissário de bordo interrompe o seu trabalho para lhe perguntar "é o dois?" ao que ela responde que sim e ficam ali os dois a falar de iPads e que ele comprou o dele em Nova Iorque. Uma facebook machine bem cara.

A Apple para mim simbolizava uma inovação e génio aplicado ao puro consumismo. É como transformar uma máquina que cumpre uma determinada função num objecto de luxo ou de afirmação pessoal, uma espécie de acessório do século XXI, algo sensual e íntimo. Sem dúvida que foram feitos com a máxima "think different". Sem Jobs, é possível que os computadores e a electrónica ainda estivessem no domínio dos obscuros geeks que querem apenas uma coisa que faça coisas depressa e bem (longe vão os tempos em que a novidade no mercado era um novo processador com montes de gigahertz e uma motherboard com muita ram).

Não discuto que Steve Jobs era um génio e um visionário. Mas questiono um pouco a adoração desta aplicação do génio e da visão a algo que não é assim tão relevante para a humanidade, digamos assim, e que ainda por cima é perene. É ridículo que o iPad 2 seja anunciado como tendo o dobro da velocidade de processamento do iPad 1, quando este último saiu há apenas um ano. Nem sequer podemos incluir a sua criação nos domínios da arte, porque a electrónica por definição envelhece rápido e torna-se obsoleta. No fundo, é entretenimento na forma de gadget. O impacto no progresso da humanidade ou na produtividade é quase nulo, uma vez que estas novas categorias que Apple cria, limitam-se a absorver riqueza. De repente, precisamos um tablet PC, mesmo que ele não satisfaça qualquer necessidade que se tivesse antes dele existir. Mas quando inventaram o frigorífico, por exemplo, podemos admitir que a necessidade de conservar alimentos existia desde sempre, assim como as necessidades satisfeitas pela  penincilina (não morrer de uma infecção qualquer) ou pelo avião(deslocação).

Apple também é a sua exclusividade: são produtos premium, estão para os gadgets como a BMW para os carros, caso contrário eu não me sentiria orgulhoso ao tirar o MacBook Pro da empresa numa reunião.

Mas ninguém muda o mundo com produtos premium. A história demonstra-o: as grandes revoluções na área do consumo (Ford T, livro impresso, frigorífico etc.) vão sempre no sentido da democratização de um bem ou de uma tecnologia. Há mais "revolução" nos computadores de marca branca a 300€ num hiper, do que num Macbook Pro. Houve mais revolução no sony walkman do que no iPod

No âmbito da electrónica / software, aprecio mais os génios invisíveis da Google porque o seu processo de inovação é mais semelhante ao da ciência na sua tentativa / erro e vai tendo implicações fundamentais na forma como vivemos as nossas vidas e vemos o mundo. Está despido de adornos e o minimalismo do que faz parece fruto de uma racionalidade espontânea e não algo de intencional e resultado de um esforço consciente de síntese de design e ergonomia. O impacto na forma como vivemos a vida é global e democrático: os seus produtos são gratuitos. Utilizamos o google, o gmail ou o google maps de borla ou com custos marginalmente nulos. Isto sim foi revolucionário como modelo económico, esta economia do gratuito e da escala global. Também se pode dizer que o Facebook é revolucionário, na medida em que satisfaz como nunca algo satisfez, uma necessidade humana: a de estar em contacto. E é de borla. Ou a Wikipedia que satisfaz a necessidade de conhecimento e o democratiza. Basta pensar nos preços obscenos da Itunes (que arruínam Lisa no dito episódio) e no seu formato fechado, para ver que a perspectiva da Apple era bem mais old school e que a caricatura feita pelos Simpsons era certeira.



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

ser fixe e assim

Ora bem, estamos em 1990 e tal e eu descubro que os Crash Test Dummies não são fixes numa conversa com uma rapariga (ela era fixe) que me fala de Pixies. Não sabem o que são os Crash Test Dummies, não faz mal, não procurem. Tinham uma música com o refrão que era "mmm mmmm mmmm mmmmmmm" etc. e eram canadianos. Foi o primeiro cd que comprei.
Depressa percebi que na escola havia dois grupos de rapazes. Então havia os fixes e outros todos que, por diversos e variados motivos, não eram fixes. Ou porque eram maçarros (cresci na província), ou porque eram pobres, ou porque eram muito totós e gostavam de Crash Test Dummies ou por qualquer outro motivo. Esta questão obcecou-me durante muito tempo, porque os fixes ficavam com as raparigas mais giras e a mim só me calhavam as mais sensíveis e inteligentes, que é como quem diz, as menos giras.

E então meti na cabeça que devia ser fixe, porque a minha função de utilidade atribuía mais utilidade à "chearleader" loira de olhos azuis do liceu, que constava que fazia broches a todos menos a mim, do que à rapariga sensível que me acompanhava até casa e me falava de Kafka, ajeitando os óculos e apertando os dossiers e livros contra o peito tímido. E nisto, tinha vergonha dos meus amigos e amigas que não eram fixes, e quando passava uma miúda gira, fingia que não os conhecia e afastava-me um pouco, de forma discreta para que não percebessem.

O meu esforço começou primeiro por querer deixar crescer o cabelo e usar roupa 3 números acima e de aspecto de lenhador americano, para imitar aquele que era o Deus dos fixes, o Kurt Cobain. O máximo que consegui foi parecer um sem-abrigo que tinha encolhido à chuva. Devo dizer que tinha 1,80 na altura, embora fosse magro e bastante desconjuntado no geral. Tinha jeito para o basket e para guarda-redes de andebol, mas o futebol que era uma das disciplinas que fazia os rapazes serem fixes, estava fora do meu alcance, excepto a potência e colocação do remate. Um dos motivos pelos quais gosto muito do Cardozo é porque o Cardozo seria exactamente o jogador que eu seria se fosse muito bom dentro das minhas limitações, numa qualquer realidade paralela. É por isso que me sinto na pele no Cardozo quando vejo jogos do Benfica e ele é assobiado pelos próprios adeptos, porque perdeu desastradamente um lance ao tentar um drible patético. E acontecia-me o mesmo com o Mats Magnusson na altura, de quem se dizia, "ficar o jogo todo à mama". As pessoas não admiravam quem, dentro da sua "tosquice", fosse eficaz. Queriam a finta fixe.

Para além do futebol, havia mais formas de ser fixe. Ter roupas e aspecto fixe, ser muito conhecido por algum motivo, normalmente associado a problemas disciplinares e gostar de coisas fixes. Esta última parece relativamente fácil e barata de conseguir, mas na altura não era. Era necessário ouvir horas de rádio com o leitor de cassetes sempre pronto para gravar, quando começasse a dar uma música que fosse considerada fixe e não havia rádios fixes assim a dar com um pau, muito menos na província em que as músicas fixes eram frequentemente interrompidas por anúncios de rações ou por um locutor que gostava de cantar por cima da música. Tenho cassetes com o Creep dos Radiohead interromido por anúncios às rações Valouro.

Existe um grupo de pessoas que depois dos 20, às vezes mesmo pelos 30 adentro, continua a coleccionar coisas fixes (músicas, filmes, livros etc.) e a falar delas, porque registaram esta lição dos seus tempos de adolescência. Por exemplo, não há um único bom crítico que tenha perdido a virgindade antes dos 25, 26 anos. As coisas são como são. Felizmente, com a progressão na vida, as pessoas vão encaixando num universo mais específico e confortável e rodeiam-se de pessoas um pouco mais semelhantes. A escola, que tem como único critério agregador o ano de nascimento de uma pessoa, acaba por juntar indivíduos de proveniências e feitios diferentes. Hoje, o único contacto que tenho com os fixes do liceu, é quando vou ao talho do supermercado ou pago o depósito de gasolina numa bomba da autoestrada.

de acordo com o meste Butch Vig (produtor do Nevermind dos Nirvana, cérebro dos Garbage) a primeira canção "grunge"



Referem muitas vezes uma espécie de dicotomia Beatles vs Rolling Stones como Good boys vs Bad boys, mas nunca ouvi uma música dos "bad boys" com semelhante carga sónica e, talvez correndo o risco ser polémico (lol) diria que só gosto do som dos Rolling Stones, a nível de produção, ao vivo e cru, porque em estúdio, almejavam as massas num rock relativamente formal e ortodoxo, hiper produzido e sólido, contido e de riffs monolíticos. Quanto a bad boys, os Stooges já existiam.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

vou ser pai

Estou muito contente porque finalmente resolvi a questão dos filhos. Vou ser pai. É verdade. Ainda não escolhi a mãe e não concebi crianças, mas tomei a decisão de ser pai num futuro próximo. O título talvez tenha sido enganador, lamento.

Acho que ser pai é uma experiência literária positiva e necessária e creio que para melhorar certos aspectos do meu estilo preciso de passar por essa experiência, uma vez que sou uma pessoa essencialmente fútil e pouco em contacto com a natureza humana e essas cenas. E já percebi que não só não vale a pena pensar em casar, como não vale a pena pensar em arranjar uma companheira. Ou até se pode fazer isso, mas já sabe o que acontece. Portanto, queria começar uma coisa num regime de divorciados, que é uma relação bem mais estável (é muito raro divorciados voltarem a casar um com o outro). Às vezes até dá uma certa pica e tudo.

Faz-se o filho (até se pode ir passar umas férias num sítio qualquer e dar um ambiente romântico e assim) e depois cada um vai à sua vida, encontramo-nos na maternidade, tiram-se apontamentos e fotos e depois eu espero uns anitos, talvez 8 ou 9 anos, que é quando eles começam a jogar decentemente playstation. Claro que pago as despesas e ajudo no que puder e não envolva a minha presença física.Idealmente esperaria até terem 13-14 anos, para poderem praticar desportos comigo. A mãe até fica feliz, tem o bebé só para ela, elas desde pequenas brincam com aqueles nenucos, está-lhes no sangue. E depois, os homens são uns ogres, uns chimpanzés, pioram com a idade, ficam chatos e estúpidos e chateiam-nas até à morte e assim elas podem viver descansadas.

A vantagem de não haver casamento e depois divórcio é que não há clima de tensão e discussões fúteis por facturas e despesas, nem aquele em grande FAIL que é ter "divorciado" no BI. Aliás, felicito a lei portuguesa de inspiração católica por obrigar os divorciados a terem "DIVORCIADO" no BI, acho que é uma excelente medida e é uma vergonha que noutros países abandalhados uma pessoa volte a ter "solteiro" no BI e assim engane pessoas honestas, por exemplo, empregados bancários, que não fazem ideia que aquela pessoa que quer abrir conta é divorciada.

Eu só preciso de garantir duas coisas na educação deles:
1) nascem do benfica
2) tiram um curso científico ou técnico (engenharias, matemáticas, programação, economias etc. nada de letras / humanidades)

E pronto. A mãe tem de ser asseada, bons genes, querer ser mãe, não pode ser promiscua, tem de apresentar declarações do IRS dos últimos 3 anos para avaliar a sua capacidade económica, não pode ser de "esquerda" naquele sentido "bloco de esquerda" e tem de saber ler e escrever.

Nem sou muito exigente :]

sábado, 1 de outubro de 2011

Alberto João Jardim, uma análise 'darwiniana'



O caso de Alberto João Jardim e do povo do arquipélago do PSD foi já amplamente estudado por biólogos e antropólogos. O próprio Charles Darwin, ao voltar da Patagónia, passou pelo Funchal e relata nos seus apontamentos as observações que fez:


«O elo que faltava entre o homem e uma forma de vida primitiva pode residir nos espécimes que observei num comício do PSD na ilha do Funchal. Em nenhuma ocasião anterior a este comício do PSD Madeira, me foi dado a observar um número tão elevado de caucasianos com traços tão semelhantes, evidentemente fruto de consanguinidade, a mesma que encontramos na Papua Nova-Guiné ou nos nativos da Amazónia.


Aqui, o processo de selecção natural não parece ter tido lugar, uma vez que estas gentes vivem protegidas das ameaças normais que afectam os outros povos, como a pobreza e a fome, as invasões militares, liberdade de imprensa ou as condenações jurídicas. Explicam-me que Portugal financia este habitat, transferindo riqueza e recursos para a sua defesa, impedindo que os habitantes sejam exterminados por uma espécie mais desenvolvida. Não encontrando qualquer explicação para este facto, julgo pois tratar-se de uma grande e onerosa experiência científica. Não posso deixar de ficar preocupado. A humanidade contraria frequentemente o processo de eliminação natural. Construímos asilos para os imbecis e os doentes, ajudamos os pobres e a ciência médica faz o impossível para salvar os fracos nos hospitais. Assim, os elementos inferiores da espécie humana propagam a sua fraqueza e impedem o refinamento da raça. Aqui, em nome da ciência, aplicam este princípio a toda uma ilha povoada por militantes do PSD Madeira que, de acordo com as minhas observações, podem muito bem constituir o elo que faltava entre a raça humana e uma forma de vida um pouco mais evoluída que o chimpanzé. Esta conclusão não é final, pois o espécime que tem aqui o estatuto de xamã ou líder tribal, Albertus Joannis Jardinus, parece ser mesmo uma forma de vida inferior aos gorilas mais sofisticados do Zoo de Londres.



Levanta-se a questão do próprio gorila ou do  chimpanzé ser o elo entre o homem ocidental e o militante do PSD Madeira e não o oposto. Uma coisa parece ser clara: num contexto em que é garantida subsistência a uma espécie e lhe é garantida protecção de todas as ameaças, a espécie dotada de características como a apetência para a corrupção e a pantomina simiesca, pode dominar e procriar com mais velocidade, uma vez que está mais adaptada a um contexto em que as normais ameaças não se fazem sentir. 


Apesar da minha preocupação quanto ao resultado final desta onerosa experiência científica, admito que a observação desta ilha me forneceu dados tão ou mais interessantes que os recolhidos na Patagónia. Espero que a experiência e as suas consequências se limitem ao estado português. Felizmente, os povos mais evoluídos do norte da Europa não serão afectados por mecanismos tenebrosos do tipo "comunidade económica e financeira" ou, algo ainda mais absurdo, uma "moeda única". Fica aqui, contudo, o meu agradecimento ao estado português e ao povo de Portugal, pelo bem da ciência.» - Charles Darwin, 1833

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*tolan apaga o último cigarro e vai dormir