sexta-feira, 30 de setembro de 2011

experiência científica


Descobri da pior maneira que aquilo dos Mentos e da Diet Coke é verdade, resulta mesmo. Agora estou num dilema. Uma rápida passagem com a esfregona não parece ter sido suficiente para evitar o efeito peganhento e a empregada só vem na próxima quarta feira. Podia tentar usar água quente e talvez um pouco de detergente, mas tenho medo que estrague o sofá de pele, o tapete de lã e o portátil. Ela normalmente sabe sempre o que fazer, percebi isso quando as manchas de vinho na parte de baixo do armário do lavatório desapareceram misteriosamente. E dessa vez nem foi em nome da ciência, não encontrava o saca rolhas e só tinha um martelo e uma chave de fendas. Penso que desta vez lhe vou colocar um desafio à altura.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

o meu mundo desabou

1- O Elmo é uma marioneta.

2- É um pretinho que controla o Elmo e faz a voz do Elmo.



Aposto que ele inventou o Elmo e faz aquilo para distrair as pessoas, enquanto um colega lhes rouba discretamente as carteiras e os telemóveis.

O mundo não é um lugar próprio para uma criança ingénua e de boa fé. O que vem a seguir? O Misery Bear é um "urso de peluche" manipulado por ciganos romenos?

o mundo é um lugar estranho

Desde muito cedo que fui exposto a orgãos de informação, muito antes de ter capacidade de entender o que se passava. Achava os telejornais e os jornais muito confusos e misteriosos. Logo a começar por se referirem a eles como "orgãos de informação". Para mim orgãos ou eram partes do corpo como o nariz ou as orelhas ou então como o orgão eléctrico em que se aprendia a tocar piano. Quando falavam de Inglaterra, era sempre os "conservadores" e os "trabalhistas" e eu realmente ficava confuso porque se é verdade que os trabalhistas eram os que trabalhavam, os conservadores seriam responsáveis pelas latas de atum e sardinha de que eu gostava bastante. E pensava que a sociedade inglesa se dividia entre esses dois tipos de pessoas. Achava que a Inglaterra era um país estranho e ainda por cima ameaçado pelo IRA que era uma coisa que metia medo, chamava-se IRA, podia ser RAIVA ou AMUO ou ARRUFO mas era mesmo IRA! Metia medo, como o Irão! O Irão era assim uma Ira muito grande e era de onde vinham muitos terroristas. Eu pensava que os terroristas eram realizadores de filmes de terror que queriam subsídios do governo para fazer filmes e como não tinham subsídios faziam as cenas de forma amadora, sem efeitos especiais e no mundo real. Os americanos tinham democratas e republicanos. Aqui não era menos confuso. Os democratas eram os que defendiam a democracia, o que fazia dos republicanos os maus da fita, se bem que a República era uma coisa supostamente boa porque em Portugal até tínhamos um presidente disso, que era o Ramalho Eanes. Na Rússia só havia comunistas, estes eram fáceis de entender, eram aqueles que nunca achavam nada de especial e não se impressionavam com nada, era tudo muito comum, faziam as coisas todas comuns e diziam aos designers e aos engenheiros para inventarem coisas muito comuns. Quem fizesse algo especial era enviado para a Sibéria (o que também era muito comum). O meu pai não gostava de comunistas mas também não gostava daqueles de quem os comunistas não gostavam (o meu pai não gostava de ninguém que aparecesse na TV, excepto jogadores do Benfica e o Ericksson). Estava sempre a dizer "estes reaccionários!" quando apareciam padres na tv. Eu achava que reaccionário era alguém com muito bons reflexos ou então uma pessoa que reagia mal a certas substâncias. Também não compreendia porque chamavam direita aos "centristas" do CDS. Ainda hoje não compreendo isso. Os centristas seriam os que estavam no centro. Então pensei que se calhar eram como aqueles da inquisição, os que chateavam o Galileu Galilei e que achavam que estavam no centro do universo, só que era um universo sem lado direito, só esquerdo. A minha mãe dizia que era de esquerda e que o capitalismo era mau. Aí concordava com ela porque também me parecia errado que houvesse capitalistas que defendessem Lisboa e Paris e que se concentrasse tudo nas capitais. E quem defendia a minha aldeia? Eu queria ser aldealista. Mas não existia isso. O mundo era um sítio extremamente confuso em que toda gente tinha de ser qualquer coisa. Eu secretamente queria ser ditador como o Hitler porque detestava escrever com a caneta (não havia computadores na altura) e devia ser o cúmulo do fixe poder ditar coisas a milhões de pessoas em vez de ter de ser eu a escrever! E podia ditar parvoíces à vontade, as pessoas só tinham era de escrever o que eu dizia e mais nada. E se não prestassem atenção, iam parar aos "campos de concentração" para se concentrarem e não serem distraídos como os judeus. Quando perguntava ao meu pai: "o que é que eu sou?" ele respondia "adoptado". Também não ajudava.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

um cão na estrada

Estou cheio de pressa pela a8 e depois de Torres Vedras vejo um cão na berma da autoestrada. É dia de caça, é comum nos dias de caça aparecerem cães perdidos. Parece-me um setter irlandês, tem o pêlo sujo de lama e está parado e confuso na faixa de segurança. Vou a 140km/h travo e ligo as luzes de emergência, tento sinalizar aos carros atrás de mim para abrandarem. O cão continua parado, a olhar para o outro lado da estrada, tem o focinho branco e o pêlo das orelhas cheio de pequenos cardos da vegetação rasteira. Passo por ele e hesito, devia encostar, mas tenho um carro atrás de mim, imagino o cão a fugir de mim para o meio da estrada e eu a ser o responsável pela sua morte e por um acidente grave. Enquanto hesito já avancei uns 500 metros é impossível voltar atrás e perco o cão do retrovisor numa curva, ele está no mesmo sítio, a olhar para a outra berma.

Passo o resto da viagem sentindo-me um cobarde. Abro o porta luvas, está lá o colete. Visualizo-me a ter o reflexo rápido de abrandar até parar, se possível antes do cão, na berma, vestir o colete e depois aproximar-me dele lentamente. Ficar a uma distância segura. Conheço muito bem os cães, cresci com cães. Não quero que se assuste, tem de ser ele a avançar para mim. Imagino-me ali a chamá-lo com voz doce.
- Anda, anda, vem...
Ele avançaria, uma pata, depois a outra pata no asfalto quente. Tem as patas feridas e doridas de andar perdido o dia inteiro. Estico a mão para ele se aproximar e cheirar. De vez em quando tem um sobressalto, como quando passa um grande camião. Está cada vez mais perto. Quando está ao meu alcance, lanço-lhe a mão à coleira. Ele assusta-se, mas depressa o agarro contra mim e levo-o para dentro do carro, que fica cheio de lama e pêlo. Por fim sossega, fica quieto e adormece. De vez em quando abre os olhos e vê-me a conduzir, depois fecha os olhos outra vez, está exausto. Digo-lhe palavras num tom de voz meigo e calmo.
- Então? Estavas perdido meu pateta? Ias sendo esborrachado. Não sei se a minha mãe te vai querer aceitar, ela já tem lá três cadelas em casa, duas delas também eram vadias como tu...
Saímos da autoestrada e entramos na sinuosa estrada de caminho à aldeia. Abro um pouco a janela e o cão fareja o ar, não parece reconhecer os cheiros, não deve ser da zona. Seja como for, nem me vou preocupar em devolvê-lo ao dono. É um cão bonito e inteligente e vê-se que está habituado a andar dentro do compartimento das pessoas e não num reboque. Ainda não sei, naquele momento, mas a minha mãe não pode ficar com mais um cão e que é uma enorme confusão com as três cadelas que costumam ter o cio sincronizado e acabo por ficar com ele e levá-lo para Lisboa. Como não tenho vida para ter cão, despeço-me do emprego e vou viver para um sítio onde possa passear com ele e sou muito feliz.

Mas nada disso é real, deixei o cão, abandonei-o naquela berma e, ao almoço, enquanto como a sopa e provo os bons vinhos, não falo muito, não me apetece falar da semana, das viagens ao brasil, da vida. Não conto o sucedido à minha mãe porque ela tende a chorar quando se fala de histórias tristes com cães (muito mais do que com pessoas). Em torno da mesa, cães deitados aguardam pela sua refeição.

está mesmo ali

domingo, 25 de setembro de 2011

domingos

De ressaca e em boxers fumo um cigarro à janela, num domingo à tarde. Não consigo escrever, nem sequer pensar. No quintal do vizinho crianças jogam à bola. Há uma baliza e eles chutam e jogam de forma caótica. De cada vez que a bola entra, o que acontece de 30 em 30 segundos, ouve-se um GOOOoOOOOooOOOOooOOoOOOLOOOOOooÓóóóó
As modulações de volume e tom prendem-se com o facto do marcador correr histérico de braços abertos em direcção aos canteiros de rosas, suponho que é onde está o topo sul e a claque. Fascina-me a capacidade de, a cada golo, terem a mesma alegria e surpresa, como se fosse a primeira vez. Pequenos imbecis. "Isso não é real!" apetece-me gritar da janela num acesso de ressentimento. Volto para a cama, preciso de dormir por cima desta, foi das pesadas. Enquanto adormeço ao som do golóóós abafados pelas janelas fechadas penso na minha própria correria pela casa no golo do Gaitan ao FCP e de como os cães começaram a ladrar 10 segundos antes, devido ao delay do jogo na net face às sportvs legítimas do bairro. Ainda não percebi algumas coisas na vida e tenho medo de as perceber.

entrada directa para o top de "miúdas giras em filmes de terror"

Lauren German no Hostel 2:






Aqui assim no mundo real:





sábado, 24 de setembro de 2011

love is only in your mind, not your heart

utilidade e curvas de indiferença da procura de parceiro reprodutivo

Acerca deste e deste post, que criticam duramente a preferência dos homens por mulheres mais bonitas e voluptuosas em detrimento das inteligentes e interessantes, gostaria de dizer umas coisas.

Os homens avaliam as mulheres de acordo com uma função de utilidade:


em que U é a utilidade que uma determinada mulher tem e x1, x2, x3... xn são os diferentes atributos dessa mulher. Por exemplo, x1 pode ser o índice de maminhas, x2 o índice de pernas, x3 o índice inteligência, x4 o índice boa disposição e por aí fora. As funções de utilidade divergem de indivíduo para indivíduo. Há homens que conferem mais importância à beleza e outros mais importância à inteligência, uns conferem utilidade máxima a maminhas grandes e outros a cultura literária.

Mas mesmo congregando os atributos todos em dois, x1 como "beleza física" e x2 como "inteligência", podíamos ter de incluir um terceiro muito importante, o x3, a que daríamos o nome de "hipóteses de sucesso reprodutivo". Contudo, este atributo não é independente de x1 e x2, uma vez que quanto maior for a inteligência e beleza da mulher, menor serão as nossas hipóteses de sucesso e quanto menor for a inteligência e beleza de uma mulher, maiores serão as nossas hipóteses de sucesso e a correspondente utilidade (admitindo que há utilidade zero para uma mulher com a qual não seja possível reproduzir, mesmo que tenha grandes quantidades de x1 e x2).

Este é realmente o grande paradoxo contido no discurso destas nossas duas bloggers inteligentes. A mulher é um bem que também procura ou rejeita o utilizador. É como um detergente para loiça dotado de vontade própria. Imaginem que vão ao supermercado comprar cerveja e, em vez da Sagres do costume, decidem levar uma Heineken ao dobro do preço. Ao estenderem a mão para a Heineken ela dá-nos uma sapa na mão e diz-nos "não, não és bom que chegue para mim, leva a Sagres".

Aqui um gráfico que explica o conceito de curva de indiferença entre dois bens, o bem Y e o bem X. Imaginando que a mulher em si é composta por bens (e não apenas um bem composto por atributos), diremos que Y é o bem "beleza feminina" e o X o bem "inteligência feminina"
  


As curvas vermelhas correspondem a uma zona de indiferença de combinações de X e Y. Para o homem, ter mais X e menos Y ou mais Y e menos X é igual, em determinadas quantidades: "aquela faz-me rir e não é feia, a outra gosta de José Luís Peixoto mas tem umas ricas maminhas, estou indeciso, é como se fossem iguais!" etc.

No gráfico há 3 curvas correspondentes a 3 indivíduos. O I3 é o mais exigente, pois a sua curva exige sempre níveis mais elevados de X e Y para o mesmo nível de utilidade (curva vermelha). O I1 é o menos exigente, uma vez que pequenas quantidades de X e Y conferem a utilidades tão boas como as que I2 e I3 retiram de muito mais X e muito mais Y. É normalmente o homem mais feliz de todos.

Com o consumo de álcool verifica-se um efeito curioso que é a deslocação da curva de indiferença para zonas mais próximas dos eixos. O homem começa a noite na curva I3 e, quando são 6 da manhã e já bebeu 10 imperais e não conseguiu consumir nenhuma devido ao facto de estar abaixo das curvas de indiferença das suas escolhas, estará na zona I1, menos exigente e com a sensação que a discoteca está cheia de mulheres gostosas e inteligentes (admite-se que no caso do álcool a função de utilidade tende a conferir um peso próximo de zero ao atributo inteligência).

Já no caso da mulher, este grau de consciência não é tão elevado, uma vez que ela pensa ser sempre escolhida de acordo com uma curva I3. Parte da culpa é nossa, uma vez que depressa aprendemos ser um erro tremendo dizer algo como "gosto muito de ti porque não és nem demasiado bonita, nem demasiado inteligente" e assim a curva nunca sofre reajustes.

E pronto, espero ter sido esclarecedor ao dar-vos alguns conceitos de economia e desejo-vos boas escolhas.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

mudar as pessoas, um truque agora revelado

Descobri um truque muito fixe que pode ser usado para moldar a mente dos outros e partilho agora com vocês. Quando temos a infeliz ideia de escolher uma música de que gostamos para despertador no telemóvel, com o tempo, basta ouvirmos a música noutro contexto que temos aquela sensação desagradável de ter de acordar, como um reflexo pavloviano. É uma excelente forma de dar cabo de músicas boas por isso mais vale escolher um toque simples.

Mas se substituirmos o toque por uma gravação de palavras podemos criar uma repulsa forte a essas palavras e mesmo ao seu significado. A maior parte dos telemóveis possibilita a gravação de memo's de voz por isso é fácil fazer isto. Querem evitar que o vosso filho seja do Sporting? É só ele acordar com uma gravação de voz a dizer "Sporting... Sporting... Sporting... Sporting..."

Se ele protestar (imaginem que já é do Sporting) então acordem-no vocês todos os dias às 6 ou 7 da manhã, durante meses, gritando para o quarto "Sporting! Sporting! Sporting!" e depois aplicando uma paulada no lombo com o cabo da vassoura ou da esfregona - os cobertores absorvem parte do choque. E mal ele começar a acordar todo estremunhado, escondam-se, ele não vai perceber bem o que aconteceu mas o subconsciente vai registar.

Com a namorada também dá para usar isto. Ainda hoje há por aí uma mulher que não percebe porque sempre que ouve "IKEA" sente um arrepio desagradável e náuseas quando outrora fazia questão de ir lá semana sim semana sim, muita gostava ela de ir à p#@a da IKEA f#%@-se...

arte, não é só nas galerias dela (da arte)

Minilogue - Animals

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

há pessoas do Porto que odeiam Lisboa

Há muitas pessoas do Porto que odeiam mesmo Lisboa. Já ouvi histórias bem reais e credíveis sobre pessoas do Porto que nutrem por Lisboa o mesmo sentimento que os ewoks nutrem pela Death Star do Darth Vader. Fantasiam sobre Lisboa a arder e imaginam-se, qual Nero, com uma lira de cordas de tripa de porco nas muralhas do castelo, contemplando a destruição e os gritos de pânico. Se dermos um jogo de legos a uma criança do Porto ela vai logo construir uma cidadezinha e fazer o reinactment do terramoto de 1755, com os bonequinhos mouros todos a correr de braços no ar enquanto abanam e destroem as casas.

Eu não percebo porque há estes preconceitos porque eu gosto imenso do Porto e conheço o Porto muito bem, aquela avenida, a dos aliados e aquele café muito bonito, o Majestic. Agora também gosto muito daquela livraria antiga, a Lello. Aí está um bom exemplo de preconceito desfeito: eu pensava que a Lello fosse uma livraria de cultura étnica cigana e depois de lá entrar um dia a contra-gosto vi que afinal era só uma livraria bonita e antiga. E desfiz dois preconceitos de uma vez, foi esse e aquilo do Lello Universal que eu pensava que era um termo xenófobo para nomear um cigano padrão (português, romeno, chinês etc.)

As pessoas do Porto têm algumas qualidades melhores que as de Lisboa. Para começar e a propósito do Lello, são muito menos racistas do que em Lisboa porque não há pretinhos como há em Lisboa. Na minha aldeia de infância era a mesma coisa, tudo gente boa e católica. Uma vez chegou lá uma família de pretinhos ao casal e ficou tudo racista por causa disso, desaparecia roupa dos estendais e era o macaquinho que as roubava e a massa do pão não levedava porque ela tinha mau olhado e ele falava com as árvores a dar estalinhos com a boca. As pessoas de Lisboa, especialmente as da margem sul, tornam-se racistas e más e estão sempre com estas conversas.

As coisas são mais genuínas, as lojinhas com 50 anos que vendem maçanetas de porta ou ganchos de cabelo... lembram muito a Lisboa que começou a desaparecer nos anos 80 e é como um passeio pela saudade.

Também há requinte e sofisticação no Porto

No Porto são mais genuínos e engraçados, dizem imensos palavrões, dizem o que pensam e são frontais, metem-se uns com os outros na rua e conhecem-se todos. Também não ligam ao próprio aspecto como as pessoas de Lisboa que são umas snobs e superficiais. A forma de falar, a pronúncia, também é muito cómica mas se rirmos eles não levam a bem. Acontece-me começar a falar como eles passado uns dias, não só porque aquilo se pega por ser giro, mas porque se não o fizer, eles têm tendência a desconfiar pois não estão habituados a forasteiros. É preciso falar com uma voz calma e estender-lhes uma guloseima qualquer - um pedacinho de enchido faz maravilhas e quando lá vou, levo sempre umas rodelinhas de chouriço.

No Porto, todos se conhecem e são amistosos.

Isto dos povos se darem bem só exige um pouco de esforço de parte a parte e o quebrar de preconceitos e barreiras, como as que existem actualmente entre os palestinos e os judeus e que tanta morte têm causado.

Faço daqui uma sugestão: organizem-se visitas guiadas a Lisboa para pessoas do Porto que odeiam Lisboa com o mesmo conceito daqueles pacotes de aventura radical, o swimming with sharks: trazem-nas para aqui num autocarro com grades (ou gaiola de acrílico, mas é mais caro...) para se sentirem seguros e mostrem-lhes coisas de que iam gostar de certeza e que as iam fazer sentir-se em casa; aquelas pitorescas partes velhas da encosta do castelo, com aquelas casinhas cheias de vegetação no telhado e com a utilização de materiais reciclados como chapa e contraplacado, o IC19 que também tem trânsito como a VCI, os jardins com pombos para eles poderem dar pão e também lancharem os seus enchidos, depois o mercado da droga na Maria Pia e terminavam o tour no museu nacional de arqueologia para uma visita guiada às relíquias do terramoto de 1755, só para se divertirem um pouco também e a viagem não ser só cultural.

o funeral

Um excelente exercício que aplico invariavelmente a toda gente que conheço é o de imaginar-lhes o funeral. O que é que pensaria daquela pessoa no seu funeral? Sentiria falta dela? Perdoar-lhe-ia os defeitos? De que coisas boas me ia lembrar? É engraçado mas quando faço este exercício, vejo que o grupo de pessoas "más" se reduz muito, sobra uma coisa destilada (sublimada?) e alguns defeitos até aparecem como idiossincrasias engraçadas. Na prática não conheço ninguém verdadeiramente mau, como aquelas que vejo na TV, como o Bin Laden ou o Batatinha. E às vezes há pessoas que a gente vê que teriam um funeral mesmo comovente à brava e temos vontade de abraçar aquelas pessoas e dizemos "gosto tanto de ti!". E então fica só um amor desapegado.

Claro que isto tem um o seu quê de mórbido porque para além de imaginar o funeral em abstracto também imagino em concreto e ao detalhe. Tento perceber que tipo de funeral é que a família lhe faria, se católico ou agnóstico, se enterradinho ou tostado, se com jazigo à novo rico ou discreto e, sobretudo, o que escreveriam no seu epitáfio! Isto chega a tal ponto que tenho um word só com epitáfios para as pessoas de quem gosto. E sei que se morrerem tenho de ter calma e não mandar logo um sms aos pais ou irmãos a dizer: "Lamento muito :( Tenho aqui uns ricos epitáfios para meterem na lápide, vou mandar e escolham o que gostarem mais :)"

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sous les pavés, la plage

Sonic Youth - Youth Against Fascism

workaholic

Já aqui falei no "queijo da aldeia" que foi o que percebi quando comecei a trabalhar e me falavam no casual day (com péssima pronúncia, diga-se). Outra, quando comecei a trabalhar, foi aquela em que pensava que workaholic era uma pessoa que bebia no emprego e fiquei muito bem impressionado com a primeira chefe que tive e que disse que era um bocado workaholic na primeira entrevista que tive e eu disse que também não me importava de ser workaholic e consegui o emprego. Pensei que ia trabalhar no paraíso! Queijo da aldeia num dia (sexta feira), cerveja e vinho noutros... infelizmente não foi o caso. Na altura eu tinha muito má vida, culpa de uns amigos malucos e chegava frequentemente ao trabalho com ressacas monumentais e duas horas de sono e pedia licença a meio de uma reunião, ia ao WC, vomitava-me todo e quando voltava piscava o olho à chefe workaholic e ela tomava aquilo por flirt e começámos a jantar juntos e coiso. Ora, ela não era workaholic mas bebia, digo-vos, ela bebia a sério, como uma marinheira russa. Então bebíamos muito e andávamos de carro, eu nem tinha carta na altura, ela é que conduzia e tinha um mazda mx5 e íamos aos s's para bares a ouvir hits dos 80s e depois para a praia e hotéis e depois no dia seguinte íamos trabalhar e éramos os dois workaholics achava eu, mas ela dava-me ordens, toda ressacada e de mau humor e eu ficava sentido com isso, era como se ela tivesse duas personalidades, tipo o Jeckyll e o Hyde. Ela achava que havia trabalho para fazer e isso fazia-me confusão, ela levava o trabalho mesmo a sério e percebi o verdadeiro significado de workaholic.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

vamos tentar psicologia invertida

Gostava de ganhar uns trocos a escrever umas crónicas. Isso é que eu gostava. Sim senhoras, isso é que era uma rica coisa, tinha de ser um formato assim livre à lobo antunes ou miguel esteves cardoso. Se alguém me convidasse "tolan, eu pago-te estas centenas de euros por um texto teu". Isso é que era. Haviam de ver os textos, eu dava-lhes os textos mais filhos da mãe que já tinham visto! Passava fome para o escrever, abandonava o meu emprego, abandonava os meus amigos e a minha playstation porque "tenho de acabar uma crónica até 5ª feira!"

Seria para mim revolucionário ter a escrita equiparada ao trabalho, significaria que poderia levá-la a sério e não como um hobbit e tudo funcionaria em função dela! Tudo! E nunca mais teria uma reunião. Odeio reuniões. É só por isso que escrevo, quero um emprego sem reuniões por toma-lá-da-cá aquela palha!

As impressoras da tipografia até espirrariam tinta por todo lado ao imprimirem-me as crónicas e o papel chegaria húmido e quente às bancas! Os leitores sentir-se-iam excitadinhos só de passar as mãos pelas letras, eu faria sexo mental com todos eles! As vendas iriam aumentar em flecha e todos iriam elogiar o gesto de coragem do editor que descobriu e apostou num diamante em bruto desconhecido! Ah! Era bom.

E tinha de ter uma página só minha e com uma caixa a bold à volta do meu texto, para o enquadrar e isolar do resto da publicação porque eu compreendo que as outras pessoas que partilhassem a página contígua não pudessem estar ao mesmo nível... mas eu seria misericordioso para todos e até me esforçaria para não ser tão genial, só um pouco, ali ainda na fronteira do humanamente possível. Mas de vez em quando faria uma travessura e zás, espetava com um texto genial, textos que no espaço de duas linhas fariam as pedras da calçada chorar e alguém como o Cavaco Silva rir com gosto.

É pena que não haja editores assim em Portugal, é de facto pena.

Um editor justo e bom, corajoso, com bom gosto. Uma pessoa boa, amigo do seu amigo, mas ético e inflexível, um que não alinhasse em modas. E que fosse bem parecido também e bem sucedido. Uma pessoa fantástica, no geral, e que eu pudesse ser citada dali por 20 ou 30 anos e entrevistada em documentários sobre mim.

Mas eu compreendo. Sei que é complicado arriscar e que há muita pressão para não falhar. Sei que a vida de um editor ou director de publicação é complicada. É preferível apostar em valores seguros, testados pelo mercado e que é muito difícil que deixem uma marca pessoal, que se orgulhem mesmo daquilo que fizeram e da importância que o seu trabalho teve. É preferível agir da forma como sempre agiram, da forma como fazem os outros e que é aquilo que se espera deles e depois quando morrerem nem deixam nada de especial para trás, pagaram dinheiro a pessoas sem talento para escrever crónicas ou colunas invisíveis e assépticas, textos que o tempo rapidamente irá apagar, coisas sem estrutura literária, lixo, mero lixo reciclado de ideias batidas e clichés e piadas forçadas e tudo de uma alma baça e vulgar, aquilo que imaginam eles que é o espelho de um leitor medíocre, o tal que nem sequer compra jornais e revistas boas...

É triste, mas é perfeitamente compreensível e eu aceito bem.
Um abraço.

adormecer sóbrio

Adormecer sóbrio é-me complicado. Quis experimentar hoje e estou a dar-me mal. Saí da cama e vim para aqui escrever. O meu subconsciente sóbrio na hora do sono é como o FMI a vasculhar as finanças da Madeira. O comum dos mortais não tem problemas deste tipo, acho eu. Parecia que estava a correr tudo bem, estava com sono há uma hora atrás.

Na cama, sem querer, pus-me a pensar em coisas como entrar numa Igreja e converter-me ao catolicismo e nas consequências positivas e negativas que isso teria. As negativas são incontornáveis. Então pensei em como é difícil manter um equilíbrio entre a necessidade de estar subjugado e obedecer e a desesperante solidão da liberdade absoluta. Quando bebo pelo menos três cervejas não penso nestas coisas, revejo mentalmente os golos do último jogo do Benfica e adormeço feliz.

Por esta altura já me parecia muito improvável que fosse adormecer. Então continuei na mesma linha editorial dostoiévskiana, a escavar mais fundo. Lembrei-me de coisas más que me aconteceram e de coisas más que eu fiz e depois coisas más que não me aconteceram a mim mas sim a pessoas ou animais, porque a verdade é que não me aconteceram assim tantas coisas más nem fiz assim tantas coisas más. E de ser domingo, eu odeio os domingos, desde puto.

Não sei que como é que vocês aguentam isto de adormecerem sóbrios. Para descomprimir, resolvi fazer uma maldade, que foi vir aqui e dar-vos um texto depressivo para a vossa segunda feira de manhã. Já estou mais aliviado e vou tentar dormir de novo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Jorge Jesus na liga inglesa

Vão surgindo boatos de que há clubes ingleses interessados no Jorge Jesus, carinhosamente apelidado de Rod Stewart. Não é difícil de imaginar o que aconteceria no balneário de um famoso clube inglês, se tal facto se confirmasse.

- Evra, you go defend! Defend foda-se! Defend! É assim tão complicated? They come to marcar goals, you denfend! Foda-se... é simples caralho! Ferdinando, you fazes compensations quando o Evra sai à marcation e ficas ao primeiro poste nos corners! First post! Stay foda-se! Stay!
- I... I...
- Ai ai o quê? Dói-te alguma coisa?
- No mister. Ok mister.
- Miguel Oven, you make diagonals da esquerda para a direita se o Ronei receber a ball in the big area, not da direita para esquerda! This, wrong! Wrong! This right! This right! Ok?
- Errm... yes...
- Jigs, não mandes chouriçadas de meio campo foda-se! Não quero cá chouriçades! Put the balls on the chão, play by the chão, look esquerda, look right e Nani troca de flancos com o Hernandez.
- What?
- Hernandez, tu tienes que passar la pelota ao César Peixoto, entiendes? Quando la pression es muy alta, no faças passitos às cieguetas, mira! Mira caralho!
- Si mister.
- César Peixoto is on the half camp left flanco, siempre ali! Why ninguém pass the ball to César Peixoto? Hã? Foda-se! And Phil... watch for Hulk! He be dangerous comó caralho, if you tás distraído...
- But Mister, Hulk is not playing... he's playing for Oporto, we are playing against Chelsea and...
- Piu piu piu ronhonhó fala português caralho, não percebo nada do que este gajo diz. Nani, o que é que ele disse?
- Não sei, também não falo inglês, mister.
 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

24h de viagem

Fiz uma espera de 7 horas. No único bar do aeroporto de Viracopos em Campinas acabei por conhecer o Lucas e Mateus, por intermédio de um músico brasileiro a viver em Portugal, que por sua vez conheci porque começarmos a falar na fila do check-in, a propósito do seu amplificador de duas toneladas. Bebemos muitas cervejas juntos e falámos de música. Gostaria muito de registar este momento épico com um texto que lhe fizesse jus mas todas as minhas tentativas revelaram-se pálidos retratos do sucedido, talvez porque o meu cérebro esteja esgotado.

Depois tomei o meu antiestamínico antes de embarcar, um zirtek. É a coisa legal e sem receita médica mais potente que conheço para me adormecer. Eram 22h. Só embarcámos às 23h por problemas técnicos e então o meu cálculo do efeito do zirtek saiu-me furado. Só queria que me batesse dentro do avião e não na sala de embarque. Os últimos metros para o avião foram penosos e estava com medo de me estatelar ao comprido.

Já no avião, esperamos mais uma hora e meia, com uma tentativa de descolagem abortada (antes de iniciar os motores). Ouvi o piloto dizer "senhores passageiros, brrztksww vôo está cancelado".

Pensei que era o vôo que tinha sido cancelado e tive vontade de chorar, nunca me senti tão longe de casa, parecia um pesadelo, mas afinal era só o plano de vôo. De qualquer maneira adormeci, pensei que me iam ter de retirar do avião em maca e tive pesadelos em que sempre que ia para um avião o vôo era cancelado e vivia o resto da minha vida em aeroportos.

Não dormi profundamente, mas dormi feliz a saber que me estava a deslocar a 880kmh de groundspeed para a minha playstation.

Fiz o seguinte video. A primeira parte, em Campinas, foi filmada com a moca cerveja + zirtek + Panda Bear. Em fundo podem ouvir os brasileiros a chilrear cheios de energia e assunto, mesmo às 23h. A 2ª parte transmite o meu estado de euforia ao ver a Lisboa do ar.



(entretanto dormi 14h, uma marca que não atingia desde os tempos da faculdade)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

uma pessoa depois já não se encaixa nessas coisas


neon sign neon sign
you get me everytime
I feel that thrill
just like before
but now I dont fit in anymore
fit in anymore




não estou a ignorar o sucesso do post abaixo, tantos comentários! ._.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

conselhos úteis para o sexo do ponto de vista delas

Chamaram-me a atenção para este texto de um blogger chamado Arrumadinho que me disseram que faz intercurso com uma blogger conhecida que se chama Pipoca Mais Doce e que são casados como deve ser. O post que é sobre intercurso, começa com um aviso para não pensarmos que se refere a intercursos seus com a Pipoca Mais Doce e deixa bem claro que tudo o que sabe sobre problemas neste capítulo se refere a coisas que leu e ouviu dizer.

Também informa os leitores e as leitoras que o homem perde a erecção depois do referido intercurso, o que constitui certamente grande surpresa para as senhoras que pensavam que era uma coisa pessoal, que era por causa de serem elas e com outras isso não se verificava e também é surpresa para homens que ficavam intrigados com isto e como tinham muita vergonha não diziam a ninguém. São também usados termos técnicos como "toma, toma, toma, já está" e "toma-lá-dá-cá".

Eu achei que se calhar devia fazer o meu também e também do ponto de vista da mulher, só para completar o do senhor Arrumadinho, porque também tenho algo a dizer neste domínio. Tal como o Arrumadinho, também não é por mim, é por aquilo que oiço dizer e vejo nos filmes e leio em revistas e livros da especialidade.

Eu tento sempre ver as coisas do ponto de vista da mulher porque é importante ver as coisas do ponto de vista delas pois só assim se compreendem alguns mistérios da vida, como os símbolos das etiquetas de roupa que para nós são como os aerogrifos egípcios.

Então sobre o ponto de vista da mulher no sexo, para além do que o Arrumadinho disse e que grande iluminação suscitou, o que acho é o seguinte. Não se deve implorar por sexo. E é importante não forçar a mulher a ter sexo no caso dela não querer ter sexo. Isto parece evidente mas não é, deve haver o envolvimento emocional que a mulher valoriza. No caso das que não consomem álcool é preciso criar o ambiente certo e dizer as coisas certas no momento certo. O momento é muitas vezes descurado e até se podem dizer as coisas certas mas se for no momento errado pode resultar muito mal. Dizer "a beleza da Cristina Ricci é ambígua mas ela é muito sensual " ao jantar é correcto e um tema interessante pois fica sempre bem nomear mulheres que não a Scarlet Johansen ou dessas que são mesmo muito mais bonitas do que a mulher com que estamos a jantar. Mas se dissermos isso durante o intercurso pode levar a que fiquem desconcertadas e acendam a luz.

Também é boa ideia tirar os nossos bonecos de peluche de cima da cama porque nem todas as mulheres gostam de menáges e por vezes até se sentem incomodadas se metermos o snoopy em cima da mesa de cabeceira virado para a cama para poder ver também. Percam uns segundos a tapar os olhos do snoopy com as suas orelhas. A propósito de ver, algumas mulheres não consideram a pornografia excitante e acham-na degradante até, pelo que é essencial esconder a webcam ou a sonyhd e desligar a luzinha vermelha do REC, é uma questão de se consultar o manual.

A duração do intercurso é muito importante e o Arrumadinho diz que é normal haver intercursos de 2 a 5 minutos o que realmente é muito mau porque 2 a 5 minutos nem chega para os preliminares que é o tirar da roupa delas, especialmente o soutien, muitas vezes às escuras que é como aquele truque do Houdini, o do cofre no fundo do rio Hudson e que ele tinha um gancho do cabelo para abrir quinze cadeados.

Um bom treino é comprar um soutien e ir a uma quinta de um amigo de confiança e prendê-lo numa porquinha ou numa vitelinha (tem se ser algo que se mexa e tenha uma sensibilidade feminina, para ser realista) e tentar abrir o soutien o mais depressa possível com os olhos fechados. Com a prática conseguem ter mais tempo disponível para o fazer do amor.

No intercurso também se podem alongar e esforçar um pouco. Em vez do «toma, toma, toma, já está» optem antes pelo «toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma e... toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, tooooooma, tooooooooma, TOMAAAA, já está».

Fazer o amor não é só o antes e o durante, também é o depois. Deitem-se de lado ou de barriga a seguir porque elas começam a falar e dão por estarmos a dormir se ressonarmos, o que consideram indelicado.

E pronto, não custa nada fazer alguns pequenos esforços no intuito de melhorar as coisas porque uma mulher é como uma boa motocicleta, podemos montá-la toda a vida mas é preciso ser estimada e estar sempre bem lubrificada.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

lashalshdsldashldsi

Tinha aqui vontade de escrever uma coisa imensamente depressiva e estava a conter-me, porque 98% de vós vai ler isto numa segunda feira de trabalho e sei que isto de escrever coisas depressivas é péssimo para as visitas nesses dias. Os textos depressivos postam-se à noite, para os noctívagos e alcoólatras. Durante o dia de trabalho as pessoas querem humor e o prosador por vezes pensa, erradamente, que o mundo gira em seu torno e que as pessoas têm de estar em sintonia com o seu estado de espírito ou, caso não estejam, que se sintonizem consigo, arrastando-os para o fundo.

Mas quis o destino que tivesse aqui ao meu dispor no hotel uma garrafa de Encosta Longa, Douro, reserva 2004. E um copo elegante. Portanto, bebo um pouco de Portugal a 8000km do mesmo. Tenho também um Dostoiévski comigo. Há certos autores que funcionam como uma boa garrafeira. Uma pessoa compra um Dostoiévski numa feira do livro e coloca-o na prateleira ao lado dos outros 42 Dostoiévskis e depois afasta-se, orgulhoso das suas posses.

Acabei pois por não escrever nada de consequente ou significativo, talvez porque a minha mente se encontre entorpecida por um Portugal mineral, absorvido pelas raízes de vinhas, concentrado em uvas colhidas por mãos calejadas, liquefeito e destilado em pipas de madeira de árvores que já foram bosques nos vales do  Douro. Não tenho nada para dizer e digo-o com muita convicção. Oiço um cão a ladrar na rua. É estranho ouvir um cão ladrar na Nova Brooklyn. O que faz um cão ladrar, aqui? O que faz um cão, aqui?

domingo, 11 de setembro de 2011

Portugal é mais ou menos naquela direcção sempre a direito


Não tenho saudades nenhumas de casa. Nenhuminhas. Pfff. Aqui é que se está bem num Domingo em S.Paulo, a jogar ao powerpoint.

o melhor é não se fazer nada

«Uma ocasião em que o interpelava quanto à questão de como acabariam os estados modernos e o mundo, e de como se renovaria o mundo social, guardou um silêncio longo mas, por fim, lá consegui arrancar-lhe umas palavras:
- Acho que tudo isso ocorrerá de modo muito banal - disse - Todos os Estados, simplesmente, apesar de «feitos todos os balanços orçamentais e dada a ausência de défices», se verão un beau matin, todos, numa atrapalhação definitiva e não irão querer pagar para, no meio daquela falência geral, se renovarem. Entretanto, todo o elemento conservador de todo o mundo se oporá a isso, porque será ele, justamente, o accionista e o credor, e não quererá admitir a bancarrota. Aqui começará, obviamente, a oxidação total, por assim dizer: virão muitos judeus e começará o reino dos judeus; em seguida, toda gente, mesmo aqueles que nunca possuíram acções e, em geral, nunca possuíram nada, isto é, todos os miseráveis, não quererão, naturalmente, participar nesta oxidação... Dar-se-á início a uma luta e, depois de setenta e sete derrotas, os miseráveis liquidarão os accionistas, evidentemente. Talvez tragam uma palavra nova, talvez não. O mais provável é que também vão à falência. A seguir, meu amigo, sou incapaz de prever seja o que for nos destinos que mudarão a face deste mundo. Aliás, podes sempre consultar o Apocalipse...
- Será tudo assim tão material? Será que o mundo actual vai ruir por causa apenas das finanças?
- Oh, é claro que referi só um cantinho do cenário geral, mas esse cantinho está ligado ao resto por laços, por assim dizer inquebrantáveis.
- Então, o que é preciso fazer?
- Oh, meu Deus, não tenhas pressa: isso tudo não vai acontecer tão cedo. De qualquer forma, de uma maneira geral, o melhor é não se fazer nada: assim, pelo menos, terás a tranquila consciência de não teres participado em nada.
»
Dostoiévski, O Adolescente (1875), tradução de Filipe e Nina Guerra.

sábado, 10 de setembro de 2011

ressaca de cachaça

Ontem descobri que tinha andado a beber caipirinhas de limão o tempo todo porque aqui no brasil limão é o que nós chamamos lima e lima é o que nós chamamos de limão. Muito entusiasmado pela minha descoberta e cheio de vontade de aplicar este conhecimento recém-adquirido, pedi muitas caipirinhas de limão. Com a cachaça que eles colocam numa só caipirinha aqui, posso dizer que três numa noite são suficientes para um homem experiente na bebida começar a ficar subitamente inexperiente na bebida. Considero-me um especialista em ressacas. Não propriamente em curá-las, mas em tê-las. Não sou o tipo de bebedor inconsciente que bebe sem consciência do inferno do dia seguinte. Não que isso altere o meu comportamento, mas confere-lhe mais prestígio e honra, pois não acordo chocado e surpreendido com o sofrimento, como um cobarde. Há muitos tipos de ressaca e o dia de hoje confirmou definitivamente os conhecimentos empíricos que tinha recolhido da última vez que vim ao brasil: a ressaca de cachaça ou pinga é das mais peculiares que se pode ter. Dá vontade de pedir a legalização da eutanásia. A vida deixa de fazer sentido, assim como a noção de espaço e tempo. Os sentidos ficam muito aguçados. Para além de não poder abrir os olhos sob pena de cegar devido à fresta de luz ténue que vem de um bocadinho de um estore um poucochinho aberto, conseguimos ouvir os pássaros tropicais na amazónia. Não é aconselhável qualquer espécie de movimento porque há como que uma decantação da alma. O corpo move-se na cama, a alma arrasta-se lentamente, como azeite em água. Para além de forte enjoos, isto suscita pertinentes questões existenciais como 'quem sou eu?' ou 'onde estou?' ou 'porque tenho os ténis calçados, se estou em boxers?'. O travo ácido a lima e o bafo a destilaria deixa adivinhar o que se passa no nosso organismo ocidental europeu, pouco habituado à intensidade da destilação dos trópicos. Depois das questões existenciais estabilizarem, conseguimos andar até ao wc, recordando a logística complexa de colocar um pé à frente do outro e esticar os braços para paredes e objectos sólidos e tridimensionais para balizar a direcção. Em larga medida, isto é como nascer outra vez, uma experiência que instiga poderosos sentimentos de humildade e resignação à condição humana. Estamos em sintonia com o sofrimento universal, mas pode ser curado com três aspirinas. Há um vulto no espelho e evitamos cuidadosamente olhá-lo nos olhos, com vergonha e sentimento de culpa. Rastejamos de volta para a cama, desta vez a gatinhar. Já na cama, começa a fase dos gemidos que, com a cachaça, adquirem tonalidades desafinadas de bossa nova. A posição fetal recomenda-se.
Umas horas depois acordamos com a dor de cabeça mitigada e a alma dorida. Estamos felizes porque afinal estamos vivos, algo que parecia muito improvável uma horas antes. É possível abrir os olhos, é um bom começo. A partir daí cada acontecimento é como que uma revelação, uma epifania. Alguém telefona-nos para saber como estamos e estranha o nosso estado de deslumbramento que se manifesta por parcos recursos de linguagem e monossílabos. Insiste connosco para que falemos mas não sabemos o que dizer e articulamos coisas como 'hmm?', 's...sim' ou 'p... pois'. A pessoa que fala e não está ali fisicamente, não se parecer aperceber do absurdo que é para nós que a sua voz venha de um objecto que nos chamou a atenção momentos antes porque estava a tocar e a vibrar, com "mãe - mobile" a piscar no ecrã.

as minhas amigas estão sempre a avisar-me para ter "cuidado" em São Paulo




tentei fazer um em português mas não tinha tanta piada. devia ter feito STD e não DST mas até tem mais piada ainda, como se isso fosse possível...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

deixem-me ser a vossa lagartixa para me jogarem contra a parede

O meu motorista tem muitos recursos estilísticos para descrever mulheres que estão na rua e que suscitam desejo de cariz sexual (embora mais discreto e reprimido no meu caso)

-- Ué! Minha nossa olha só aí essa gostusuda Se jogasse confeti na cueca e desse um pum era carnavau o ano inteiro! *abre janela* DEIXA EU SER SUA LAGARTIXA PRA VOCÊ ME JOGAR CONTRA A PAREDE *fecha janela* cê viu? ficou brava mas se riu toda! Você viu! AH AH!

- As portuguesas normalmente não acham piada a piropos assim do carro, aqui no brasil é diferente?

- Não gosta de piropo a mulhé portuguesa? Ué!? Toda mulher gosta de ser elogiada! Ela pode fazer cara feia mas sua bucetinha até bate palmas assim ó *faz gesto de bucetinha a bater palmas*

Telemóvel toca. É a mulher.

- Sim amor. Claro. Não, vou chegar a horas. Eu passo buscar você... comprei, não esqueci a lista que cê me deu... sim...

a homofobia

Durante muito tempo pensei que era homofóbico porque tinha fobia de pessoas em geral e pensava que a homofobia tinha origem grega e se referia a uma coisa do género fobia ao homo sapiens. Depois, graças às aranhas, percebi a diferença entre uma fobia e o não gostar de e confirmei numa enciclopédia que o termo correcto seria antropofobia.

Quando percebi que a homofobia se referia a fobia a homens que gostam de andar aos beijinhos com outros homens fiquei fascinado com os homofóbicos e com a homofobia. Primeiro, certifiquei-me que isso não implicava que nos quisessem dar beijinhos a nós contra a nossa vontade. É  que disso eu tenho medo, desde criança, quando as minhas tias idosas me davam aqueles beijos pegajosos na cara. Mas não, pelos vistos há pessoas que têm mesmo medo e ódio de homens que gostam de dar beijinhos uns aos outros e andar de mão dada e decorar casas e ouvir Abba. É preciso ser-se muito maricas....

Compreendo perfeitamente a claustrofobia, ninguém gosta de ser encerrado vivo num caixão. Também percebo a aracnofobia. Para além de ser possuidor da mesma, a verdade é que isso advém de um instinto natural, o medo de animais venenosos e que explica porque temos medo instintivo de cobras ou administradores de bancos. Ou fobias como a nictofobia, o medo do escuro. É instintivo ter medo do escuro e penso que o racismo pode ter aqui uma base legítima onde se sustentar.

Mas a homofobia? Colocaria a homofobia no mesmo patamar da anatidaefobia (medo de ser observado por patos) ou da ombrofobia (medo de chuva).

O que é que um homossexual nos vai fazer? Bater-nos com a malinha de mão? Declamar poesia de José Luis Peixoto em voz alta? Precipitar-se e arrancar-nos das mãos a última peça de roupa nos saldos? Cortar-nos mal o cabelo? Contratar patos detectives para nos observarem em dias de chuva?
Francamente, há preconceitos que não se entendem.
Aqui há dias fui alertado pelo Facebook para um abaixo assinado devido a manifestação homofóbica vinda de um homo erectus chamado António Saraiva e que é o editor de um jornal que é o Sol.
Gerou-se um movimento no facebook para que se boicotasse o Sol e com isso se prejudicasse muito aquela publicação, uma vez que sabemos que é possível destruir Londres ou mudar regimes ditatoriais com recurso a muitos likes no facebook. Fiquei surpreendido de saber que na base de leitores do Sol se encontram muitos homossexuais e defensores da causa homossexual, algo que pensei que era exclusivo da Maxmen, da GQ ou da Mens Health.

Eu pessoalmente boicoto o Sol desde que existe porque sempre fui AntóniSaraivofóbico. O António Saraiva tem a capacidade de escrever de uma forma tão repulsiva que já me aconteceu ver a minha opinião expressa por ele num texto que me enviam, assim sobre assuntos triviais como justiça, economia ou política internacional e com o subject "olha-me este bronco" e simplesmente passar a ter opinião oposta à que tinha. Era capaz de ser a favor da pena de morte se ele escrevesse um texto a explicar porque era contra e eu o lesse. É por isso que evito lê-lo ou ainda me iam encontrar com os Talibans no Afeganistão e depois ia preso para o Forte de Peniche e ser fotografado numa cela, com o Paulo Portas orgulhoso em primeiro plano.
Existem homofóbicos que são de facto básicos em geral e a homofobia é apenas uma manifestação de ódio indiferenciado, ao mesmo nível que ser nazi, do Opus Dei ou adepto do FCP.

Mas o António Saraiva manifesta aquela homofobia de quem é, no íntimo, homossexual reprimido. Isto é algo que verifiquei ao longo da vida: pessoas que têm um determinado impulso e se tornam fundamentalistas contra quem cede a esse impulso e o tema emerge do nada, nas alturas menos propositadas. Estão num café a ver a bola e viram-se para o lado e comentam "O Cristiano Ronaldo corre muito rápido porque tem uma estrutura muscular igual à do Bolt, tem mais músculos no tronco superior e pernas mais longas e bem torneadas. É aquele corpo perfeito que lhe permite ser tão rápido. Malditos paneleiros que não gostam de bola não é? Não é malta? Chamam-se maridos uns aos outros, sabiam? Ah ah! Olha já tenho uma ideia para um bom editorial... Porque é estão a olhar para mim assim?"

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

capitalismo, uma história de amor

De volta a S.Paulo gosto de fingir que já conheço isto. Fui a dois restaurantes neste bairro de negócios onde está o meu hotel que fica a 50 metros do anterior. Há cerca de 67 restaurantes num quarteirão e eu fui a dois. Gostei mais de um do que do outro e então vou sempre a esse, ao que gostei mais. Sou um habitué, digamos assim. Há um quiosque de jornais aqui por perto e eu vou sempre a esse. Deve haver mais do que um em S.Paulo mas eu acho que aquele é o melhor porque é o mais pertinho.

Já falo brasileiro com as pessoas que contactam comigo porque me fartei do "oi!? você é argentino?". É simples: em vez de dizer "era um café expresso por favor" diz-se "quEHro um cafEÍspresso".

Aqui um video feito à pressão da minha chegada a s.paulo num carro que eu pensava que era blindado mas só tinha vidros anti-vandalismo como 90% dos carros aqui, conduzido por um motorista que "já levou o Rei de Espanha e o Cafu e o Ganso". Tinha uma foto autografada do Cafu e do Ganso, que me mostrou com orgulho. Do Rei de Espanha não tinha, mas eu acredito. Se tem nível para me conduzir a mim, tem nível para conduzir Jesus ou o Calvin& Hobbes tanto quanto sei.

Mitologia passional


Diego Armés - Mitologia from MPAGDP on Vimeo.

oui, c'est la folie

consequências nefastas da parceria Assírio & Alvim com a Porto Editora

O comunicado oficial diz:

«A Assírio & Alvim beneficiará das sinergias criadas no contexto do Grupo Porto Editora, sendo fundamental sublinhar que a continuidade editorial está expressamente assegurada, preservando-se assim as características fundamentais de uma editora de prestígio reconhecido.»

Imagem mental da próxima edição do Livro do Desassossego:

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Bernardo Soares* 

LIVRO DO DESASSOSSEGO

Assírio & Alvim 
Com a chancela da Porto Editora


BASEADO NUMA HISTÓRIA VERÍDICA



"Obrigatório. Um must. " - Lux Woman
 
"Uma obra imperdível." - Time Out

"Injusto não ter ganho o Nobel" - José Rodrigues dos Santos

* Fernando Pessoa

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 E a contra-capa:




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Bernardo é um homem solitário e sonhador. Vive na sua rotina como tantos de nós. Até que um dia, o existencialismo bate à sua porta e transforma a sua vida pacata num mundo em que sonho e realidade se confundem! Conseguirá Bernardo mudar a sua vida e encontrar o que procura? Conseguirá trazer para a vida as lições dos sonhos?


Considerado por muitos como uma das obras fundamentais da literatura portuguesa, o Livro do Desassossego influenciou gerações de escritores portugueses como José Luís Peixoto e Inês Pedrosa e foi lido por milhões de leitores em todo o mundo. De que é que está à espera?



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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

pensava que não :( há assim tantos por descobrir?

(clique para ver em grande)

( o folder do spam do meu mail yahoo às vezes arma-se em engraçadinho)

o melhor buffet de sempre

O hotel de SP onde estou não é tão chique como o outro mas tem um buffet que me resolveu o problema do pequeno almoço, almoço,  lanche e jantar. Havia comida suficiente para alimentar e apaziguar uma pequena favela. Foi uma noite agitada. Tinha de enviar uma coisa pronta para Lisboa e confundi-me com o fuso horário, de maneiras que acordei às 6:30 de Lisboa pensando que eram 6:30 de S.Paulo. Na prática eram 2:30 em S.Paulo e tinha dormido apenas 40 minutos e não 4 horas. Estranhei o meu sono e a escuridão total e às tantas, confuso e trôpego de janela em janela, já nem sabia se estávamos no século XXI a fazer de consultores com portáteis ou no XVIII num romance de Dostoiévski a discutir niilismo à luz das velas.

Quero deixar-vos o seguinte trecho de que gostei muito:

«A princípio não compreendia como tinha sido possível descer tão baixo, cair em tal ignomínia, e, sobretudo, ter esquecido o caso e não me ter envergonhado nem arrependido. Só agora consigo consciencializar o que aconteceu: a culpa tinha sido da «ideia». Em resumo: a minha conclusão é a de que, quando temos na mente alguma coisa imóvel, permanente e forte, que no-la ocupa obsessivamente, é o mesmo que afastarmo-nos do mundo e retirarmo-nos para o deserto, e os acontecimentos passam por nós quase nem nos tocarem, passam ao lado do essencial. Até as sensações nos chegam deformadas. Ainda por cima, temos sempre uma desculpa. Quantas vezes, durante todo aquele tempo, eu tratava mal a minha mãe, e de que maneira vergonhosa era desatento para com a minha irmã: «Tenho a minha "ideia", o resto são insignificâncias» - era isto que parecia estar sempre a dizer a mim mesmo. Também me insultavam, dolorosamente, e eu ia-me embora insultado; depois, dizia de repente a mim próprio: «Não interessa, sou vil mas tenho a minha "ideia", e eles não o sabem.». A «ideia» consolava-me na vergonha e na humilhação; também todas as minhas ignomínias pareciam ficar ofuscadas, encobertas pela ideia; esta, por assim dizer, aliviava-me de tudo, mas também enevoava tudo diante dos meus olhos; tal imprecisão no entendimento dos casos e das coisas é também susceptível, sem dúvida, de prejudicar a própria ideia, para já não falar do resto»

O Adolescente, Dostoiévski, tradução de Filipe e Nina Guerra, Editorial Presença.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

a minha contribuição para a resolução da crise portuguesa

Round 2 em São Paulo.

Para além de roupa para 4 estações diferentes, vou com a mala cheia de chouriça, alheira, pastelinhos de bacalhau, vinho do porto, gadgets electrónicos em cortiça e queijos diversos. O meu objectivo é encontrar uma lanchonete perto do estádio Morumbi que se prontifique a ser o meu distribuidor. É um objectivo difícil de atingir porque o mais provável é nem sair do hotel e comer isto tudo sozinho, para evitar a pesada tributação que o Brasil impõe a produtos importados. Deposito grandes esperanças no protótipo do iCorky, o tablet pc de cortiça que fiz a partir de uma base de panelas recortada e esculpida a partir de um modelo muito popular destes tablet pcs que não digo qual é porque não quero levar com um processo de violação de patente. O iCorky é bom. Dá perfeitamente para tocar nele com os dedos, todo ele é táctil e não apenas o ecrã, como os tablets concorrentes. É fofinho e não deixamos dedadas. Vem com um set de 4 pionés para pregar firmemente as fotografias e folhas com prints ao iCorky, para depois se poder tactear à vontade. Os pionés são reutilizáveis. E para além de tablet pc, também serve de prática base de panelas.

sábado, 3 de setembro de 2011

conselhos a nubentes

Por motivo inexplicável, amigos e amigas casam-se. Alguns até reincidem nisso, deixando-me perplexo. Eu era incapaz de me casar. Eu sou uma pessoa tão complicada que até tenho pena de não ser legalmente possível divorciar-me de mim mesmo. Mas gosto de casamentos, muito mais do que de funerais porque é inconveniente beber demais em funerais e temos de levar nós a bebida de casa. Por isso, nada contra. Casem-se todos para eu ir aos vossos casamentos. Obrigado.

- Estou tão feliz Carlos! ih ih
- Eu também estou! eh eh

Os padres, nos casamentos católicos, fazem sempre um discurso sobre casamento. Não sei se o nome técnico daquilo é discurso, mas antes de celebrarem o sagrado matrimónio dão sempre excelentes conselhos matrimoniais: "não deixai os pés dele por lavar", "não protesteis com a comida que ela vos preparará todos os dias", "confessei-vos depois de a encornardes", "não deixeis maçãs ou outra comida que simbolize o pecado ou o cartão de crédito ao alcance delas" etc.

Eu acho que eles só sabem umas coisas muito teóricas e de ouvido, das coscuvilhices que aprendem no confessionário e na Bíblia. Casar é uma cena muito complicada. É completamente diferente de simplesmente viver junto, porque casar implica testemunhas e misturar a família, chatear as pessoas num fim de semana de praia etc. Tornam público e partilhado com as famílias o compromisso. Não chega a ser tão significativo como mudar o status no Facebook para "in a relationship with" mas o casamento, mesmo assim, é um compromisso sério e é muito chato quando se divorciam. Tipo, é um bocado embaraçoso.



Quero aqui dar alguns conselhos simples e práticos, para que isso do divócio não aconteça. São baseados na minha profunda e atenta observação destas coisas.

  • Sejam fiéis. Se tiverem flirts e casos, sejam fiéis ao clube, ao cão, a uma marca de iogurtes... A fidelidade é muito importante.
  • Sejam amigos. É importante ser amigo. É normal que não se suportem ao fim de uns anos, mas sejam amigos de outras pessoas porque dão jeito para ir dormir a casa deles quando as coisas estiverem complicadas.
  • Não durmam de costas voltadas. Este é talvez o mais delicado num casamento porque quando estamos a dormir às vezes andamos às voltas na cama e pode acontecer ficarmos de costas voltadas. Decidam previamente quem dorme virado para onde, façam turnos. Se for preciso durmam perpendiculares um ao outro, em T, para evitar este problema nefasto.
  • Façam tipo uma aposta a ver se aguentam casados até um morrer. As pessoas tendem a ser muito orgulhosas e determinadas quando apostam. Apostem uma coisa do género "o primeiro que pedir o divórcio tem mergulhar numa pilha de estrume! nú!" ou "o primeiro que pedir o divórcio tem de comprar lugar cativo no estádio de alvalade e ver todos os jogos do princípio ao fim!"
  • Respeitem-se. Se há necessidade de insultar o outro, façam-no com classe, como os deputados na AR. É errado dizer "meu mentiroso do c"#!lho, ficaste tu de pagar aquela conta!" digam "está a dizer uma inverdade senhor esposo, uma inverdade! E os portugueses sabem!"
  • Admirem-se todos os dias. Admirem-na por se esforçar para esconder a cara de ressacada com maquilhagem. Admirem-no pela coragem de continuar a beber cerveja apesar dos conselhos do médico. Admirem-se os dois do sexo piorar tremendamente ao fim de uns anos.
  • Não tentem mudar o outro. Paguem a outros para o fazer. Ela está a ficar assim cheínha e cheia de pregas? Inscrevam-na num ginásio. Ele é pessimista e amargurado? Paguem-lhe um terapeuta. Há sempre um especialista que sabe fazer as coisas melhor do que vocês.
  • Tenham filhos, constituam família. Ter filhos é uma boa forma de se prenderem um bocado mais. Dá trabalho à empregada e à playstation, mas também se podem distrair com eles até terem 14 anos e pensar que até valeu a pena casar.

E pronto, são alguns conselhos. Espero que sejam úteis e contribuam para a descidas da taxas de divórcio e para a vossa felicidade.

Eu cá vou ali pôr uma pizza no forno. Nem queiram saber a discussão que isto de ir comper pizza gerou aqui em casa. Era a pizza ou o MacDonalds. Eu preferia MacDonalds mas ao Sábado há muitas crianças histéricas e ciganos. Então escolhi pizza. Ainda estou contrariado e ressentido com a minha decisão.


- Nem penses que vou pedir o divórcio e perder a aposta pázinho.
- Eu é que não vou perder de certeza. Prefiro morrer amanhã já do que ver o Sporting jogar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

sugestão aos senhores que fazem máquinas de tabaco pseudo-automáticas

A vantagem de uma máquina ser automática é que não é preciso intervenção humana a não ser a nossa: moedas, botão, recolher tabaco. Ora, o que sucede desde que instalaram o mecanismo de protecção de menores é que temos de pedir para desbloquear a máquina. E temos de o fazer a empregados que estão a correr de um lado para o outro e que usam comandos com as pilhas sempre gastas. E que carregam e pensam que aquilo já está mas não está e temos de pedir outra vez. Nada disto é automático. Assim, em vez de um mecanismo desse tipo, sugiro que as máquinas tenham um pequeno quizz de 3 perguntas aleatórias a quem quiser comprar tabaco e com apenas 3 segundos para responder certo, detectando se o comprador tem menos de 18 ou mais de 18 anos de idade.

Sugestões de perguntas:

O  amor da Julieta...
a) é o Romeu
b) é o Dartagnan
c) é o Dartacão

O Carlos Cruz dizia 1,2,3 quando:
a) tocava em meninos da minha idade
b) contava até 3
c) apresentava um concurso

O Festival da Eurovisão é:
a) um festival de canções
b) A Convenção europeia de oftalmologistas
c) uma merda agora.

O Marco Paulo...
a) tem um amor
b) tem três amores
c) tem dois amores

O Aquaparque é...
a) um paraque aquático
b) um estacionamento de barcos
c) uma armadilha fatal

O Citroen AX é...
a) um carro da citroen do anos 80
b) o carro do Yuri, o jardineiro que trata do quintal do meu pai
c) revolucionário

Esta noite vai dar um filme 3D na RTP. Toda gente está histérica com isso. Tens de comprar uns óculos na papelaria:
a) compro os óculos!
b) não sei, é capaz de ser tanga.
c) é tanga.

O MacGyver é
a) uma foleirada que às vezes dá na sic r ou na rtp memória
b) um menu do MacDonalds
c) o gajo mais cool de sempre! :)




quinta-feira, 1 de setembro de 2011

lesbian night

Aqui há tempos fui jantar com a minha amiga lésbica e ela veio com a namorada. A minha amiga lésbica é uma velha paixão mas na altura nem eu nem ela sabíamos que ela era lésbica. Ela simplesmente não gostava de mim, o que me parecia, naturalmente, estranho. Um dia ela disse-me "sou lésbica, namoro com outra mulher". Não fiquei chateado. Não percebo aquela história dos homens que acham terrível que a mulher os deixe por outra mulher, sinceramente. É muito pior sermos trocados por outro homem. Se elas gostam de mulheres, hei, isso só reforça a nossa masculinidade. Até não me importava nada de a partilhar com outra mulher, por mim tudo bem.

Alimento sempre a secreta esperança que ela descubra o caminho da santidade e se desvie do pecado e durma comigo numa noite de copos a mais, mas tem sido difícil. Para além de lésbica ela é extrema esquerda e ecologista radical, vegetariana, defensora dos animais etc the whole package. Era lixado sair com ela, a maior parte dos meus argumentos e qualidades não surtia qualquer tipo de efeito. Não se interessava por playstation, magic, btt, computadores... enfim, não tinha nada a ver com outras mulheres. Bastava-lhe ter um vislumbre do meu cartão de sócio do Benfica na carteira quando pagava o jantar no tibetano para perder pontos. E depois todas aquelas opiniões radicais... eu só dizia "sim, concordo, é muito triste que as pessoas abandonem animais". Eu também acho errado que se abandonem animais mas também me abandonaram uma vez e não isso não parece fazer-lhe pena.

Mas o jantar. Apareceu com a namorada. Jesus Cristo. Sapatona. Cabelo curto, parka, camisa de homem, calças e ténis da decathlon. E um físico de impor respeito. O que é que ela tinha que eu não tinha? Não falou o jantar quase todo, só olhou para mim com desprezo, como se eu fosse um macho sujo e misógino, enquanto eu cogitava se era capaz de a comer ou não. Talvez muito bêbedo, por trás e com a participação da minha amiga. Mas senti-me ofendido por aquele preconceito dela. A minha amiga ia falando da brutalidade das touradas e eu imaginei-me a tourear as duas com uma toalha vermelha, nú, num quarto de pensão rasca da baixa pombalina. Não lhes disse o que estava a pensar. Nem uma nem outra bebiam, bebi sozinho uma garrafa de Piriquita e depois um whisky.

Saímos para a rua, estava fresquinho e agradável. Depois de um momento de silêncio desconfortável despedi-me com um aperto de mão. Elas foram para o bairro e eu voltei para casa.

a solidão é um sentimento muito racional e realista.


Terra e Lua, fotografadas pela nave Juno, da NASA, a 26 de Agosto de 2011, a dez milhões de quilómetros de distância. Se eu me sinto assim, nem quero imaginar como se sente a Juno :(

Misery Bear Goes To Work