sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

arte & dinheiro

O Ípsilon traz hoje uma interessante reportagem sobre a sobrevivência dos artistas e projectos culturais num cenário se crise. Recomendo a sua leitura. Tenho empatia pelo problema. Até porque afecta todos os sectores da economia, incluindo o meu que tem sofrido despedimentos em catadupa. Mas o sector da cultura é particularmente sensível, uma vez que tudo o que foge ao mainstream vive em crise ou na corda bamba desde sempre, devido à ausência de uma base de público interessado suficientemente ampla. O próprio jornal O Público, o melhor generalista e o seu suplemento Ípsilon, podem desaparecer e isto enquanto o JN ou o Correio da Manhã têm 3 ou 4 vezes mais tiragem. É o retrato do país que temos.
Por outros artistas, confesso, não tenho qualquer empatia. Há uma caixa de um Alfredo Martins, actor e encenador, umjovem, que tem pérolas como “é impossível pensar numa prática artística que ignore o social. A arte que o faça produz um discurso vazio e sem sentido”. José Sócrates levo-o passear à Finlândia com o seu INOV-Arte. Depois tudo entrou em depressão por “responsabilidade de um sistema político que não soube cuidar do sistema cultural do país” e pela “ausência de políticas culturais que não são concertadas de maneira a criar aos artistas os melhores espaços de criação”. Também diz que “há um sector experimental que precisa de apoios do estado e vai deixar de chegar ao público”. No mundo dos Alfredos Martins, existe um público extremamente preocupado com a ausência de sector experimental a chegar-lhe, mas não o suficente para pagá-lo sob a forma de bilhetes. Contudo, a peça não se foca neste tipo de funcionários culturais que fazem broches a secretários de estado da cultura e ministros, enquanto se armam em arautos do social.

A peça não fala de escritores, embora tenha uma caixa com o director da Porto Editora e entende-se porquê. O escritor é pobre por definição e são ridiculamente raros os casos de escritores portugueses que vivem disso. O escritor pode ser responsável pelo produto todo, só precisa de um computador e de tempo. Ao contrário do cinema ou do teatro, a materialização da obra de arte não precisa de investimento de produção, embora já tenha ouvido falar de casos (que quero acreditar serem um mito) de escritores que são financiados por subsídios. Um músico também precisa de salas para tocar, um elo para com o público, se for uma banda precisa de outros músicos, precisa de coordenar coisas. Um escritor não, pode ser uma criatura que faz a sua coisa sossegado, só precisa de criar espaço e tempo para isso. Se o Luiz Pacheco vivia como vivia, que direito tem um escritor burguês do século XXI em Portugal de se queixar?

Admito que parte do meu problema em não conseguir, por enquanto, levar a escrita a sério, se prende com uma ausência total de prémio, combinado com a existência de alternativas mais plausíveis e melhor remuneradas e que ocupam grande parte do meu tempo. Toda a minha vida fui habituado a uma recompensa material mínima pelo meu esforço. No caso da escrita essa recompensa é difusa e imprecisa, especialmente no curto médio prazo. Então só escrevo quando preciso e quero. Se por um lado isso parece ser uma coisa muito independente e genuína, por outro, faz-me não escrever quando não preciso e não quero, o que inclui 90% do tempo quando tenho projectos importantes a nível profissional e 100% do tempo subsequente ao lançamento de um novo Battlefield para a playstation. Não tenho qualquer pretensão de ter algo de importante a fazer nesse campo e que precise de ser feito. O dinheiro, para mim, é a tradução da utilidade que a sociedade, tal como existe (e que eu não faço intenções de mudar) me confere. Não significa que seja essa a minha utilidade real, mas é aquela que vêem em mim. E o dinheiro também atrai talento.

Uma pessoa pode decidir ser escritora, poeta, músico, actor ou, horror dos horrores, realizador de cinema, só porque sim. Estou a generalizar, obviamente que há excepções, mas tudo segue a mesma regra da oferta e da procura. Se temos bons jogadores e treinadores de futebol é porque gostamos de futebol, há procura de futebol e então há muita gente a tentar o mesmo e existe uma forte concorrência e filtragem de mediocridade. Na arte, pode muito bem nunca existir um filtro. O Estado só pode agravar este estado de coisas porque avalia estas pessoas e estes projectos, com os seus critérios e filtros altamente científicos e objectivos que envolvem lamberem-lhes o cu. Um artista tem o direito (até o dever) de se queixar de viver num país de imbecis (um facto) que não lhe reconhecem valor ou até do azar, mas não se deve queixar nunca do Estado.

Eu percebo essa coisa de querer ser artista. Ser artista é ser especial e as miúdas gostam. Dá status. Não há ricaço ou político que dispense a companhia de artistas, as coisas são como no século XVI com os patronos e as cortes, nada mudou. Um artista é uma joía, um excêntrico, um ser especial e talentoso. Desde puto que queria ser artista, primeiro actor, depois comediante, depois realizador, depois músico, depois argumentista, finalmente escritor (pelos motivos apontados acima). Mas grande parte desse sentimento vinha de um desejo de ser relevante de alguma forma ou compensar problemas afectivos, carências, um ego desmedido etc. e que me faziam ver-me ao espelho como aquela imagem do gatinho que vê reflectido um leão. Quando comecei a escrever era muito megalómano. Lembro-me de um projecto de romance meu que versava sobre um reality show por ocasião dos 500 anos da viagem para índia em que portugueses, todos castiços, com os nossos defeitos, conseguiam fazer a viagem à custa de muito desenrascanço. A acrescentar a isto, queria fazer tudo inspirado nos Lusíadas, como o Ulisses de James Joyce e ainda ser um Eça moderno. Ena. Mais um pouco e tínhamos um Gonçalo Tavares II.

Com a idade, esse sentimento megalómano foi desaparecendo e sendo substituído por uma resignação pacífica. Os temas tornaram-se mais claustrofóbicos e minimalistas. E escrever um romance bem feito dá um trabalho desmedido e faz mal à saúde e à vida social. Também há a questão sempre relevante do medo do fracasso. Não propriamente o fracasso visto pelos outros, mas de descobrirmos que afinal não somos assim tão bons como pensávamos que éramos ou queríamos ser. Os Alfredos Martins têm sempre o escape das "políticas culturais". Um verdadeiro artista é perfeccionista e angustiado e está muito mais preocupado com a sua obra ideal do que com as condições sociais e "subsidiais" que a permitem materializar-se.

Acredito que em 2012 vou concluir dois projectos importantes, só mesmo porque seria humilhante não os concluir. Em pleno ano de crise. E depois hei de ser editado por uma editora amadora alternativa que irá à falência poucos meses depois e criticado negativamente em jornais falidos obscuros e fecha-se o ciclo, mas já terei a medalhinha dos paraolímpicos da arte no peito e poderei trabalhar para a casa à beira mar, os filhos, o cão e o veleiro.

eu tinha paixão platónica pela gaja dos slowdive, a Rachel Goswell




40 anos, cheia de pinta ainda, sim senhor.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

hoje estou extremamente profícuo* e a irritar os followers no reader porque lhes spamo aquilo

Fui cortar o cabelo curtinho, puseram-me espuma e também passei a usar perfume. Estarei a tornar-me metrossexual? Todos os anos é a mesma coisa, na véspera da passagem de ano tomo as resoluções todas e implemento-as por um ou dois dias. Assim, quando começa o ano seguinte, posso desistir delas e os meus comportamentos decadentes passam a ser resoluções assumidas. Coisas como "vou chegar atrasado todos os dias", "vou continuar a beber cerveja", "vou ao Mac 3 vezes por semana", "não vou escrever com disciplina" etc. tornam-se decisões minhas e tenho a ilusão de ter controlo sobre a minha vida, enquanto as outras pessoas acabam por ficar deprimidas porque escolheram fazer coisas que, sinceramente, não querem fazer. Isto de usar perfume não foi bem uma resolução. Ofereceram-me um perfume este natal e sinto-me coagido a usá-lo. É verdade. A minha noção de perfume é o stick roll'on do Minipreço. Sou fortemente homofóbico, mas no sentido de ter medo de ser gay e não propriamente medo dos gays (já fiz um post sobre isso). E incluo o "usar perfumes caros" no rol de sintomas preocupantes. Outros incluem apertar a mão a um homem sem ser com força suficiente para causar dor ou outro qualquer contacto de pele com pele, por exemplo, quando pegamos os dois no mesmo copo de cerveja sem querer. Quando estou a dançar ao som de Scissor Sisters no Tramps penso "como é que o Hemingway dançaria isto?" Também entro sempre na rodinha dos comentários homofóbicos, muito frequentes em ambientes de trabalho saudáveis e sofisticados, em que homens, para reforçar os laços de guerreiros viris do mundo dos negócios, exorcizam o mesmo medo que o meu, comentando coisas homossexuais e reforçando que não são. Quanto ao corte de cabelo, é uma necessidade profissional, vivemos num mundo de aparências e um consultor "que parece o Jorge Jesus" (comentário real) é uma coisa má, quando para mim, no meu mundo, seria uma coisa positiva e de se incentivar, até porque não nada homossexual. Acho que o aspecto de uma pessoa deve ser a expressão da sua individualidade, daí que considere que deixar as coisas seguirem o seu rumo natural é o mais adequado. Um dos momentos mais traumáticos de hoje foi quando o cabeleireiro, um daqueles gays brasileiros que anda como um bambi a saltar de nenúfar em nenúfar e canta músicas da Mariah Carrey com voz de falsete, me fez uma massagem ao couro cabeludo com um creme hidratante. Dei por mim quase a gostar da massagem e tive de me concentrar no desconforto da posição com o pescoço todo torcido para trás. Mas fiquei muito giro :)

*profícuo: proficiente **

** proficiente: Hábil, capaz. (oh foda-se não era isto que eu queria dizer)

bolas, estou a andar para trás e para a frente há 2 horas, onde é que ele anda?

é sempre o melhor

é uma poderosa metáfora

é completamente diferente

pensei numa pessoa

ok, eu faço isto

é um padrão

isto aconteceu à minha frente

é vê-los na Fnac a fingir...


(vou-me divertir a fazer mais destes nos próximos dias)

já disse que não gosto do Natal?

ser especial

À conversa com um distinto senhor que tem o hobbit da numismática, aprendi que as moedas e selos e outras coisas do género ganham um valor explosivo quando têm um defeito. Foi o caso das últimas edições das moedas de 100 escudos em 1999 que tinham República Portugusa escrito. Claro que ele fez um rico negócio porque andou a coleccionar estas moedas de 100$ e elas chegaram a valer 100 vezes o valor facial. Segundo o link que ali coloquei, hoje devem valer 5€.

Isto é uma bela metáfora, às vezes são os defeitos que nos tornam especiais e raros. Gostava que pensassem nisto antes de ralhar comigo por ter deixado peças de roupa espalhadas pela casa. Eu não tenho culpa. Para mim deixar meias dentro do lavatório ou uma toalha molhada em cima da televisão ou umas calças na máquina de lavar loiça é instintivo. É como se estivesse a fazer um ninho com cotão ou algo do género, a tornar o lar mais confortável e acolhedor. Também considero mais fácil perceber onde estão as coisas quando elas estão à vista e não escondidas em gavetas, daí que retire as coisas das gavetas quando as procuro e as deixe em exposição. Quando é um gato a fazer esse tipo de coisas, é fofinho, quando sou eu, é uma desordem e não ajudo nada e chora-se etc. Admito que é um defeito, mas é um defeito que me torna especial e único. Gostava que isso fosse encarado assim.

a direcção geral de impostos é a minha teenage babe

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

já agora, para corroborar a minha visão sexista que são as massas do sexo feminino a determinar os tops

Top de vendas de livros da fnac:

1º O Último Segredo
2º Dei-te o Melhor de Mim
3º Minha Querida Inês
4º 1Q84
5º Claraboia
6º Marquesa de Alorna
7º Contos Completos
8º O Filho de Mil Homens
9º A Guerra dos Tronos
10º O Caso Rembrandt

Tudo livros para gajas...


Top 20 de discos em Portugal:
1 1
Ai Se Te Pego
Michel Telo

2
Someone Like You
Adele

3
Paradise
Coldplay

4
Perdoname
Pablo Alboran

5
Moves Like Jagger
Maroon 5 & Christina Aguilera


6
Set Fire To The Rain
Adele


7
We Found Love
Rihanna & Calvin Harris

8
Without You
David Guetta & Usher

9
Esta Noite
David Carreira & Jmi Sissoko

10
All I Want For Christmas Is You
Mariah Carey

11
Rolling In The Deep
Adele

12
Beautiful Lie
Keemo, Tim Royko & Cosmo Klein

13
Tu
David Carreira

14
Santa Claus Is Coming To Town
Michael Buble


15
Keep On Dancing
X-Wife

16
Give Me Everything
Pitbull

17
Ai Se Eu Te Pego
Hallux & Marcus

18
Chuva
Mariza

19
Benfica Sempre
Miguel Gameiro

20
The Girl From Ipanema
Amy Winehouse


Tudo discos para gajas. Excepto ali o David Guetta para suburbanos e o Benfica Sempre, o único disco de jeito na lista.

mais um desabafo sobre música e por aí fora



Às vezes sinto-me fortemente inclinado a concluir que ainda não veio um período de música tão boa como desde o início da década de 90 (antes sim, houve até muito melhores, muito muito melhores). É um período que não inclui só o rock grunge ou indie ou alternativo dos sobejamente conhecidos Nirvana ainda sobrepostos a ecos de heavy metal e rock progressivo (Guns, Metallica) que depois definhariam.

Temos também a electrónica com o revolucionário Blue Lines dos Massive Atack,  os Primal Scream, a formação de uma techno alternativa, o hip hop em força com a Tribe Called Quest, Dr. Dre, Bestie Boys e outros, o melhor dos Red Hot Chilli Peppers, o Dangerous do Michael Jackson (talvez o último álbum relevante do rei da pop) etc. a lista não acaba.

Dizem que o mainstream antes do grunge estava também dominado por "má música". É uma generalização errada, mas é certo que foram os Nirvana que escancararam as portas do "alternativo" para o mainstream e produziram uma pequena revolta cultural que não queria absolutamente nada de especial, não glorificava drogas ou o amor, era apenas um sentimento focado no "eu" enquanto inadaptado e o meu grupo de amigos inadaptados e queremos que a sociedade e as roupas sem buracos e com o tamanho certo se lixem. Era, portanto, maravilhoso e intemporal e que naturalmente o mainstream tratou de filtrar e processar.

O perigo de dizer isto é o de cair naquele cliché do velho cretino que acha sempre que antes é que era bom e hoje é muito mau. E não gosto de cair em clichés. Um dos sinais que corrobora o meu feeling foi a morte da MTV enquanto estação de televisão dedicada à música (hoje é algo para mentecaptos ao nível de participantes da casa dos segredos) e o fim do lugar de destaque que a música pop rock de qualidade tinha nas televisões nacionais.

Não digo que a culpa seja das televisões ou da MTV, não senhor, elas são apenas um reflexo e mesmo nessa época obedeciam a critérios comerciais e de procura e oferta.

O meu feeling é que os € e os $ do mercado da música estão num segmento de pré-adolescentes do sexo feminino e em massas fortemente incultas e insensíveis que tiveram poder compra (também maioritariamente do sexo feminino). Notem que isto não é uma afirmação sexista, é apenas uma constatação da realidade, passa-se o mesmo nos livros, os homens das massas, o povão masculino, compram outras coisas mas pelo menos não compram discos ou livros, não tendo grande influência nos tops de vendas. Também se criaram outros mercados como o infantil. Acho que pais que oferecem aqueles discos do ursinho gummy e do fantasminha brincalhão, deviam ver-lhes retirada a custódia dos filhos. Mas isto sou eu. Um top de tabelas de vendas em portugal dá-me vómitos.

Notem que esta decadência não se reflecte só ao nível do que é divulgado, mas também no próprio "fabrico" das coisas. Um exemplo desta máquina está num livro que li há tempos, um manual de masterização do engenheiro de som Bob Katz, uma daquelas velhas raposas de estúdio, de ouvido apurado. Ele refere vários problemas nos ouvintes actuais, são cada vez mais intolerantes e desabituados a som pouco comprimido e sem afinação automática. As próprias rádios ainda somam mais compressão (as rádios mainstream, como a Cidade, RFM, Comercial etc.) porque sabem que para captar a atenção do ouvinte, ele precisa de ouvir coisas com power.

Do lado da oferta de música, da qualidade geral dos artista, não sei... Há uma fragmentação enorme. Oiço 4 discos novos por semana em média e mesmo assim não sei o que se passa, não entendo nada. Acho que no mainstream não há nada de jeito de forma consistente. A arte é fruto dos seus tempos, mas não é uma coisa democrática, a arte pertence às elites, no caso do rock e da pop, às elites jovens. Depende do contexto destas em cada época e, claro do destino, da divina providência de existir aquela e aquela pessoa na mesma época e tudo aquilo se conjugar e depois em retrospectiva se falar em "movimentos" e a crítica colar rótulos. Uma coisa eu sei quando ouvia rock no início dos anos 90, achava as épocas anteriores extremamente ingénuas (e eu tinha 14 ou 15 anos) e que as pessoas dos 90 eram bem mais lúcidas e evoluídas. E hoje olho para trás e lembro-me de vibrar muito com o Ninja Turtles do Vanilla Ice... Não obstante, mantenho o que aqui escrevi, por enquanto.

o marketing da Apple é mesmo muito bom

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

sou muito mimado

vida social


diálogo com puto austríaco de 13 anos e gago (e o melhor jogador de Battlefield que já vi)

- He... he... hello... h...h... h... ow are you?
- Fine thanks! Woooow! You just stabed 3 guys in a row!!!
- Ah y... yess... e was g... going to k k k k k kill us.
- Wow, you are a great player. Just Kill them and I'll support you.
- I do not... und... und understand english verry well.
- Nevermind.

(pausa, explosões, mortes, tiros, ele continua a chacinar a equipa adversária enquanto mantém um diálogo comigo, é complicado entendê-lo porque gagueja mesmo.

- Wh... wh... where arre you fff ff f ff frrom? --- destrói um tanque
- Lisbon, Portugal... wow! you planted c4 on that tank, nice!
- Ah. I am frr.. fr. from Austrria. H... how old arrr... you? -- elimina 3 tipos com uma caçadeira
- 34.
- D... do you... h h h h h haaave ki?
- Sorry?
- Do... doo. ... you.. haave the ki?
- I dont understand (é um bocado difícil de understand quando chovem morteiradas à nossa volta)
- Ch... children, do you have ch... children?
- Ah, kids. No I dont.
- Oh.

Continuámos a conversar e a chacinar e no fim ele adicionou-me como amigo e perguntou por mensagem: tomorrow you play? Aceitei, claro, por pena. Não deve ter muitos amigos, coitado.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

gosto de ler as embalagens e depois deixo a imaginação fazer o resto :)

"Nesta deliciosa receita de Lasanha Bolonhesa, Marco Bellini seleccionou a melhor carne de vaca e a massa mais saborosa. Refogou a cebola e o alho, adicionou a carne picada, juntou o tomate e temperou com especiarias. Depois de bem apurado colocou alternadamente uma camada de massa e molho de carne. Regou com molho bechamel e natas, polvinhado com queijo ralado, conferindo-lhe um gratinado muito apetitoso depois de ir ao forno. Itália é famosa pelos seus pratos de massa, onde os ingredientes e a mestria na preparação são factores chave para criar pratos únicos."
- embalagem de lasanha congelada iglo, que consiste num bloco de cenas às camadas brancas e vermelhas

diário de mim no futuro (muito optimista)

Nota prévia: isto começou por ser a introdução de uma coisa que depois parou. O Autor aproveitou parte da coisa e trabalhou nela para um conto do Autor na Sul de Nenhum Norte que sai em janeiro e este é um bocado que antecede tudo e não encaixava em lado nenhum e iria para o caixote não fosse eu ter aqui no blogue uma comunidade de guaxinins sedentos de lixo fresco.




Podia dizer que me considero um tipo normal mas a verdade é que não sou e isso seria mentira. Detesto que as pessoas não me dêem a devida atenção e quando isso acontece amuo e não digo mais nada. Só por aqui se vê bem a inclinação que tenho para ser uma pessoa especial.

Tinha um emprego num Instituto e fui promovido e deram-me um gabinete só para mim, com vista para um parque de estacionamento e para a fachada de um hotel Ibis de quatro estrelas. O parque de estacionamento não era bem um parque de estacionamento. Tratava-se de um terreno baldio que teria um jardim que nunca veio a ter porque a empreiteira faliu. O espaço era aproveitado para estacionar carros com a ajuda de dois arrumadores que se estavam sempre a pegar à pancada. Depois um dos arrumadores morreu, provavelmente de Sida porque andava mesmo com aquelas manchas na cara e muito magro e já só tinha direito a um pequeno lote do parque. O outro que ainda estava saudável ficou com pelo menos noventa por cento dos lugares mas também não enriqueceu porque gastava tudo em porcaria.
No inverno, com a chuva, o terreno baldio ficava lamacento. Alguns carros, especialmente os citadinos de baixa potência, atolavam-se e os donos enterravam-se na lama até aos tornozelos ao sair do carro.

Eu não precisava de passar por isso porque tinha lugar de garagem. Para além disto, muito normal em si, eu era casado, tinha dois filhos e um gato que detestava, mas que a minha mulher quis. Tentei livrar-me dele de várias maneiras, tentando fazer parecer que foi um acidente, mas ela acabava por salvá-lo no último instante ou então eu arrependia-me e não ia até ao fim, como da vez em que o atraí para dentro da máquina de lavar roupa com um rasto de pedaços de atum e depois não a consegui ligar, nem sequer no programa de tecidos delicados.

Eu gosto de animais, especialmente cães e alguns gatos, mas o Jeremias em particular irritava-me bastante pois não tinha qualquer respeito por mim ou pelas minhas coisas, nem pelas pessoas em geral. A Sara, como todas as mulheres, ainda gostava mais dele por isso mesmo. É curioso que para elogiar os gatos face aos cães a Sara dizia que 'os gatos não são lambe-botas como os cães, são independentes' e depois a mim exigia-me um comportamento servil. Bastava-me ter um rasgo de vontade própria que ela desatava aos gritos ou a chorar, como fazem as mulheres quando querem qualquer coisa e não sabem bem o que é.

Os meus filhos eram o Manuel, que hoje deve ter uns quinze ou dezasseis anos e a Inês, que terá uns doze ou treze. Dava-me bem com o Manuel mas a Inês intimidava-me um pouco e não sabia bem como falar com ela. Parecia estar sempre a censurar-me ou a considerar-me patético. Li que é normal as meninas quererem casar com o pai mas a Inês não parecia seguir este padrão. Quando entrava na sala onde eu e o Manuel jogávamos playstation, suspirava, abanava a cabeça e voltava para o seu quarto para desenhar.

Gastámos uma fortuna em lápis de cor e de cera e folhas de papel cavalinho. Desistimos dos guaches porque ela sujava-se demais, tinha dificuldade em compreender que a tela era a folha branca e não as paredes do quarto ou a própria roupa. A Sara achava isso muito criativo e dizia que quando era pequena também era assim, mas já bastava o Jeremias para espalhar o caos e a destruição em casa. Uma vez a Inês pintou o Jeremias com os guaches e ele apareceu-nos todo cor de rosa e com as orelhas azuis. Fez uma grande porcaria e deixou marcas das patas cor de rosa por cima dos meus móveis vintage.

Tudo isto parece 'normal', digamos assim, não acho que seja muito diferente daquilo que é a vida da maior parte das pessoas de classe média alta e que vivem em Lisboa num apartamento.

Não posso deixar de referir uma particularidade que se calhar já deu para perceber pelo facto de não saber bem a idade dos meus filhos: tenho uma memória muito limitada para certo tipo de coisas. É normal esquecermo-nos do sítio onde estacionámos o carro, mas eu já nessa altura por vezes esquecia-me de como era o meu carro, o que dificultava bastante o acto de o encontrar e de ir para o trabalho. Sabia que era cinzento e grande e então tinha de experimentar a chave em vários carros cinzentos e grandes, o que provocava situações embaraçosas quando aparecia o respectivo dono à janela do prédio. Também me esquecia de nomes de pessoas, números, confundia os dias da semana e aconteceu-me umas vezes ir trabalhar a um sábado, deixando o porteiro do Instituto muito surpreendido de me ver chegar bem disposto de não haver trânsito naquele dia.

Esquecia-me de quase tudo o que me diziam e das coisas que tinha para fazer. A Sara sofria bastante com esta minha amnésia mas eu descobri com o tempo que me podia esquecer do que não me interessava só me lembrar do que me interessava. No trabalho utilizava muito a agenda do outlook. Assim que me diziam algo eu apontava logo a tarefa, com o prazo e quem me pediu e porquê e explicava a mim mesmo porque motivo aquilo era importante e tinha de ser feito. Mesmo assim não ajudava muito porque quando o alarme da tarefa soava e ela aparecia no meu ecrã, normalmente era na véspera de concluir a tarefa e não tinha tempo para a acabar como deve ser. Felizmente, no Instituto, as coisas não eram muito exigentes e uma pessoa, desde que fosse discreta, podia ir vivendo.

Em casa era a Sara que tentava organizar as coisas. Ela tinha, e deve ter ainda, uma excelente memória prática, ao contrário de mim. Mas ao contrário de mim, era muito irracional a tomar decisões, quase uma criança. Isso não deve ter mudado. Juntos tentávamos manter a ordem em casa e fazer as coisas andar e impedir que os nossos filhos morressem à fome ou vivessem na rua. Ela, com a sua excelente memória, enumerava os factos todos, as coisas que era preciso fazer e que tinham de ser resolvidas e eu depois decidia no momento qual a melhor opção. Eu era excelente a decidir e a improvisar embora no Instituto onde trabalhava me exigissem muito pouca capacidade de improviso e decisão. As coisas que tinha normalmente para fazer estavam já definidas e não valia a pena tentar inventar muito porque senão o meu director ia corrigir tudo e mandar aquilo para trás três ou quatro vezes até eu desistir.

Quando eu e a Sara estávamos a decidir coisas e a fazer contas da prestação da casa e do carro, e a discutir alternativas, o Manuel e a Inês observavam-nos um pouco preocupados porque pressentiam que não sabíamos bem o que fazíamos, mais ainda quando se tratava de assuntos que lhes diziam directamente respeito, como as vacinas ou a inscrição na escola. Às vezes intrometiam-se e davam uma sugestão e eu e a Sara fingíamos que os ignorávamos mas depois às tantas percebíamos que se calhar a sugestão não era má e, subtilmente, concordávamos com ela sem que as crianças percebessem isso, pois iria pôr em causa as nossas capacidades enquanto pais.

Para além de não me lembrar de coisas e de me enervar muito quando não me prestam atenção, tenho outros problemas. Não sei bem por onde começar para falar nos problemas. Acho que os tenho desde pequenino mas não me lembro bem. Talvez nessa altura não fossem propriamente problemas, só começaram a ser mais tarde. Apesar de eu não ter mudado muito ao longo da vida, pelos vistos a minha vida mudou muito e rejeitou-me a certa altura, como se eu não tivesse evoluído da maneira que ela queria que eu evoluísse. No entanto, nunca me explicou de forma clara e precisa, para eu anotar nas minhas tasks no outlook, exactamente o que pretendia de mim e com prazos e tudo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

portugueses a andar na baixa


Sempre que algum telejornal português faz uma reportagem sobre qualquer coisa a propósito de estatísticas sobre portugueses, lá vem a merda das imagens de pessoas a andar de um lado para o outro na baixa, o plano da mulher apressada cheia de sacos, do homem pobre a fumar, dos velhos a arrastar-se, mais mulheres apressadas cheias de sacos, estudantes a rir...

Recessão de 3,5%? «Mete as imagens de arquivo das pessoas a andar de um lado para o outro na baixa!»
Portugueses poupam mais em 2011? «Mete as imagens de arquivo das pessoas a andar de um lado para o outro na baixa!»
Fumadores aumentam 10%? «Mete as imagens de arquivo das pessoas a andar de um lado para o outro na baixa e escolhe-me os planos das pessoas a fumar!»
Podemos sair do Euro? «Mete as imagens de arquivo das pessoas a andar de um lado para o outro na baixa!»
Impotência afecta 30% dos homens com mais de 40 anos? «Mete as imagens de arquivo das pessoas a andar de um lado para o outro na baixa, mas escolhe-me só planos de gajos velhos, pode ser aquele, aquele tem ar de impotente... e aquele....»
Compras de Natal caem 20% face a 2010? «Mete as imagens de arquivo das pessoas a andar de um lado para o outro na baixa!»
Obesidade aumenta 11%? «Mete as imagens de arquivo das pessoas a andar de um lado para o outro na baixa! Mas escolhe só os planos dos gordos... olha aquela vaca, sim mete essa... e aquele gordo ali, mete aquele plano do gajo a comer a bola de berlim ahah vai ser famoso logo à noite e nem sabe!»

não tenho lido nada

O arrumador que ia fazer a cura de desintoxicação de consumo de cerveja voltou ao beco do costume, onde arrumo o carro. Curioso por novidades, cumprimentei-o com um "então pá?" Não me reconheceu, o sacana, mas sorriu educadamente e aceitou a moeda. Não insisti, pressenti que da parte dele havia algum embaraço e timidez e eu estava bastante atrasado (e ressacado). É estranho, o tipo pelos vistos estava permanentemente bêbado (não parecia) mas lembrava-se de mim dia após dia. Ficou sóbrio e puff, adeus Tolan.

Pelos vistos correu-lhe bem a cura de desintoxicação. Sinto-me mais sozinho. E sinto-me melancólico por meses e meses de agradável convívio matinal terem sido remetidos para uma amnésia total, quando antes eu existia num universo etílico. Agora dou dinheiro a um tipo sóbrio que encara aquilo como um emprego e em vez de investir o dinheiro em cerveja vai começar a cobiçar lcds na worten.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

a minha namoradinha do liceu

PJ Harvey faz-me companhia há quase 2 décadas, com momentos bons e momentos maus e é a minha namoradinha de liceu. Às vezes não nos entendemos bem, e estivemos separados algum tempo. Passámos por muitas coisas más e muitas coisas boas. Mas depois voltamos a estar juntos como dantes.



(os videos de Seamus Murphy, um para cada música do Let England Shake, são todos fabulosos)

:)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

150 a 200 mil prisioneiros políticos são um detalhe, o importante é ser sócio do clube.

"PCP expressa condolências ao povo norte-coreano "

(e o PCP que pelo menos tenha consolo nesta hora tão difícil no facto de Kim Jong-il ter nomeado o filho Kim Jong-un para lhe suceder)

não tenho tempo para isto

Estou a começar este post sem saber minimamente o que quero dizer ou escrever nele. Isto é só para vocês verem o meu talento inato (prometo que nem sequer vou rescrever isto) (falta um "e" em rescrever, é reescrever, mas nem vou mudar só para vocês verem que isto é genuíno e em bruto que é como as mulheres gostam dos homens e os homens gostam dos carros). Vou tentar inspirar-me em coisas à minha volta, podia começar por falar no ambiguidade do efeito de aquecimento do meu calorífico que sopra ar quente mas que também faz corrente de ar e arrefece-me, havendo pois uma distância e um ângulo de sopragem de ar quente que é subtil e difícil de calcular, especialmente se eu próprio me desloco de um lado para o outro. O ar condicionado deve estar atulhado de penas de pombo (eventualmente um ou dois pombos mortos) e faz um barulho que se ouve no quarteirão inteiro, pelo que opto pelo seu desligamento e privilegio a opção do pequeno calorífico portátil. Curioso, o corrector ortográfico não me sublinhou desligamento, mas sublinhou sopragem. Sublinhou de novo. Sopragem. Vou aborrecê-lo: sopragem sopragem sopragem ahahah Vocês não conseguem ver mas se fizerem copy paste do texto deste post para a janela do vosso próprio blogger como se fossem vocês a postar vão ver que sopragem, post e blogger aparecem sublinhados a vermelho como estando errados, o que não é necessariamente verdade. Enerva-me fortemente trabalhar com o powerpoint com isto ligado, há colegas meus que o fazem e não entendo como sobrevivem à quantidade de sublinhados vermelhos nos textos devido aos termos como comoditização, upselling, costumização ou downgrade. No forno tenho um arroz de pato congelado a fazer-se. Faltam-me mais 153 slides até ir dormir. Não tenho tempo sequer para deixar de fumar, mas em compensação fico com o carro alemão mais tempo (já me disseram que sim) e os professores de esquerda são obrigados a emigrar, o que, naturalmente, me deixa contente, uma vez que os de direita dão aulas em colégios privados e ficam cá a explorar os pobres. Gostava de ter um cão se o conseguisse treinar para formatar slides no powerpoint, até podia eu fazer alteração no slide e depois ele só tinha de carregar no f4 para aplicar a mesma alteração em todos os sítios onde fosse necessário proceder à alteração. Já tentei mas o problema é que a falta de polegares oponíveis e a dimensão exagerada das patas implica um resultado sempre um pouco aleatório quando pressionam as teclas. Talvez possa contratar um licenciado em Filosofia Clássica Aplicada à Sociologia Moderna (inventei agora) para fazer isto, a troco de uns cheetos e umas cervejas. E pronto, agora vou abrir uma garrafa e jantar e feliz natal para todos, e boas festas, são os votos do Tolan, do Autor e do alce de peluche Swen (é sueco) que está vai não vai para voltar para o seu país com 38% de endividamento e estado social digno de uma boa velha URSS.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

workshop Tolan

Várias vozes fizeram-me chegar ao e-mail, ao sms e até à caixa de comentários, o alerta de que deveria dirigir-me ao blogue do Arrumadinho e tomar em atenção o workshop Como Conquistar o Homem dos Meus Sonhos que, pela módica quantia de 40€, pagos a pronto ao Arrumadinho, promete elucidar as mulheres sobre a melhor forma de conquistar o homem dos respectivos sonhos. Não sei porque me avisaram disto, mas suponho que pretendam que eu disponibilize o meu próprio workshop sobre o tema e, eventualmente, o faça a um preço mais acessível ainda, derivado à política de austeridade que se faz sentir sobre todos nós.

Estive a pensar muito tempo sobre a minha experiência acumulada neste campo e, sendo o BILF 2011, creio ter credenciais suficientes para apresentar o meu próprio workshop.

Como conquistar o homem
dos meus sonhos, for dummies
Tolan Edition #1
(ou pelo menos como me posso tornar
numa mulher menos repulsiva)
Módulo 1
LEVANTAMENTO DO PROBLEMA

1. O que é que eu tenho feito de errado?
O que as mulheres fazem de errado para eles não quererem uma relação com elas? E mesmo quando eles até estão dispostos a fazer o esforço para gostar delas, porque é que mesmo assim elas conseguem ser tão asquerosas que eles desistem? Onde é que nós, mulheres, estamos a falhar?
Espaço de discussão sobre os ensinamentos da Bíblia e do Alcorão.


2. Afinal, o problema sou eu ou têm sido todos eles?
É o facto de chorar quando ele diz que a comida está uma merda e que a mãe faz aquilo muito melhor? O que é que eles pretendem, Sagres ou Superbock? Como é que percebo se chamar-me "sua cabra, ajoelha-te e chupa" quando não gosta da minha comida é um convite para carinho ou se é um sintoma que não sou respeitada?

Módulo 2
RESOLUÇÃO DO PROBLEMA

3. Como me posso tornar numa mulher mais interessante?
Devia ser um pouco mais putazona? Mais virgem? Passar menos o bife? Fico melhor de quatro ou na posição de missionário? Devia investir mais em Sagres ou Superbock? Devo deixar de escrever no facebook dele porque isso afugenta as outras? Como posso ser outra pessoa, para eu mesma ser essa pessoa?


4. O que é que um homem quer numa mulher para ela ser “a tal”?
Temos mesmo de engolir aquilo? Ter sexo anal quando estamos com o período, dor de cabeça? Saber assinar cheques em branco para ele ir ao casino? Afinal o que é que um homem valoriza mais numa mulher e que pode fazer com que ele não nos abandone na estação de serviço da Mealhada?

Módulo 3
ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL
Durante o resto da vida, todas as participantes do workshop não podem contactar de qualquer forma o formador, nem sequer aproximar-se dele num raio de 200 metros, a não ser que ele considere que devem ter acompanhamento individual depois da devida avaliação.

Datas e duração
Os workshops terão a duração de uma noite e serão efectuados das 23h00 às 9:30h do dia seguinte.

Número de inscrições:
O workshop realiza-se com um número mínimo de 1 inscrita e máximo de 3 4. 

Localização
O espaço físico onde decorrerá o workshop ainda não está definido, mas será na residência das formandas ou num hotel.

Custo
O preço final ainda está a ser acertado, por causa do IVA. Mas rondará os €39,99 e recebe grátis um abre-caricas.

Pré-inscrições
Quem quiser reservar já uma inscrição, poderá fazê-lo enviando um mail para tolan.baranduna@gmail.com (no subject coloquem Workshop Homem dos Sonhos para não confundir com as inscrições do Workshop Burka é Fashion). Basta manifestar interesse, teste HIV recente e sugerir a data que mais lhe convém. Depois deve aguardar resposta e não voltar a incomodar o formador no caso de ausência de resposta.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

despedir pessoas

Alguns amigos meus estão a ter de despedir pessoas nas empresas onde trabalham. Como são gente nova, estão a fazer os primeiros despedimentos da sua vida e ficam claramente perturbados por isso, demonstrando grande inexperiência no processo e uma costela piegas e sentimental que não se compreende. Tento sempre dar-lhes alguns conselhos para que as coisas corram bem. Infelizmente, são conselhos teóricos, nunca pude despedir ninguém mas assim que tiver poderes para isso, vou contratar alguém só para experimentar a sensação de a despedir alguns meses depois :))
Quando há tempo, é fácil. Vai-se preparando o terreno durante meses, tornando óbvio que aquela pessoa vai ser despedida, ou não lhe dando trabalho absolutamente nenhum, ou dando-lhe trabalho que detesta. O essencial é que, quando receba a notícia, não fique surpreendida e possa mesmo ficar aliviada, vendo o despedimento como uma oportunidade para outra vida, ainda por cima com subsídio de desemprego durante uns tempos e indemnização, algo que não conseguia se se despedisse por si própria.

O problema é que esta crise obriga a despedimentos surpresa e nesses não há tempo para preparar terreno! E os tenrinhos dos meus amigos, mesmo quando sabem quem vai ser despedido e quando, não preparam as coisas como deve ser, ficam ainda mais queridos e compreensivos para o pobre coitado que não suspeita que o seu nome não consta do orçamento do trimestre seguinte e toma aquilo por sinais positivos. Quase que os imagino a chegar a casa e a confessar à namorada ou mulher "querida, acho que o meu chefe e eu nos estamos a dar melhor, ele hoje elogiou o meu trabalho e disse que, não importa o que acontecer, eu devo acreditar que tenho capacidades! Cheira-me a promoção!"

Sem preparar terreno, tudo se define numa conversa normalmente muito curta.

Uma sugestão que faço é usarem um boneco de peluche a quem dão o nome de Mister Troika. Depois fazem um pequeno teatro
- Então Mister Troika? O que significa isso da austeridade?
- Vais ter de despedir o Carlos! Muahaahaha!
- Mas Mister Troika, eu não quero, eu não quero, tu queres Carlos?
- N... Não.
- Vês Mister Troika? O Carlos não quer ser despedido!
- MAS TENS DE O DESPEDIR! A TROIKA MANDA! Muahahahaha!

É uma forma de fazer as coisas. Outra engraçada é deixar que seja o despedido a descobrir por si, isto atenua o choque. Por exemplo, dar-lhe as letras de scrabble E, E, I, D, D, O, P e S, dizer que é um jogo e esperar que ele descubra a palavra DESPEDIDO (em vez de PEEIDDOS). E pronto. É só usar a imaginação, o que custa é começar a conversa. Ficam aqui alguns bons desbloqueadores de conversa:

«O quê Carlos!? O teu computador desapareceu da tua secretária!? Meu Deus, isso é grave, não temos orçamento para outro! Agora sem computador como é que tu trabalhas?»

«Carlos, sabes... as pessoas hoje em dia são muito materialistas, dão demasiado valor ao dinheiro. Não achas? É uma sociedade de consumo, vazia, desprovida de sentido. Há quanto tempo não vais a uma igreja?...»

«Olá Carlos. E quem é esta bebé gorduchinha na foto? Ah, é o Martim. Parecia uma menina, nesta idade não dá bem para ver... Muito bonito. Olha, e o Martim, come muito? Dá muita despesa? E a tua mulher ganha bem?»

«Sabes Carlos, eu adoro este ramo, adoro ser o director financeiro aqui na empresa de moldes de plástico para a indústria automóvel. Não adoras? Não adoras o cheiro a plástico derretido pela manhã? Eu adoro isto, desde pequeno que quis ser isto, moldes e contabilidade. Sabes que uma pessoa só tem sucesso quando gosta mesmo daquilo que faz! Não dá para uma pessoa se "moldar" a este emprego! ahaha! Percebeste? "Moldar"? Epá, eu sinto isso, sinto amor, lágrimas, paixão, quando vejo um bom excel de unidades vendidas ao fim do dia. Diz-me, olha-me nos olhos Carlos, diz-me... tu sentes o mesmo?»

este video, eleito o melhor video fail de 2011, explica a questão da Fé dos homens, as suas origens e motivações.


(um dos fails maiores de 2011 foi o congresso americano ter votado favoravelmente a uma moção que considera a pizza um vegetal, com o argumento de de que está coberta de concentrado de tomate. Não é piada. O objectivo é contornar as leis de alimentação saudável em cantinas escolares. Ah, republicanos...)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

quem vê, tv tv, sofre mais que sei lá o quê

É curioso tratamento que é prestado à figura do escritor aqui em Portugal nas televisões. Não sei se é assim nos outros países, mas quando eu vejo escritores em tvs estrangeiras (pelo youtube) fazem-lhes perguntas sobre literatura, livros, crítica etc. e não apenas sobre banalidades gerais sobre a vida, o amor, as pessoas hoje em dia, o ritmo dos tempos modernos, o materialismo, o fim do livro, a degradação da juventude, o acto sagrado de ler, os rituais de virar a página, de tocar na merda do livro etc. Alguns, levam-se brutalmente a sério neste papel, vai de dizer que é a mão que escreve e que já chorou a escrever e o outro que o livro é uma igreja, dá a sensação que consideram o "livro" uma coisa melhor que um jogo de playstation ou um queijo bom.

Mesmo aquelas entrevistas na RTP2, daquela jornalista que parecia estar sempre a chorar ou em sofrimento, que nem eram más, não abordavam temas propriamente literários, eram sempre de pendor intimista e tanto podiam estar ali como numa SIC Mulher Intelectual. Tudo bem, acho isso tudo muito interessante, mas eu, que por acaso leio livros, gosto de entrevistas que falem de escrita, da própria visão do autor sobre a sua obra e a dos outros, mas uma visão crítica. E isso não acontece porque a entrevista na TV tem de ser passível de consumo pela maioria que, obviamente, não lê, pois estamos num país que está em último lugar no ranking da OCDE (em 41 países) na leitura e compreensão de textos e em penúltimo no ranking da iliteracia na Europa comunitária. E a televisão é para todos, especialmente a maioria. Não fazia sentido estar a ali a falar de livros e a confrontar o autor com críticas que lhe são feitas ou pedir-lhe a opinião obre coisas de literatura, porque isso era falar chinês lá para casa.

Reparar

Vi há pouco o Gonçalo M. Tavares no jornal da TVI a conversar com o professor Marcelo e a dizer coisas como "reparar", que era a mesma coisa que prestar atenção e reparar no sentido de reparar uma coisa mecânica e que por isso reparar nas coisas era importante. Marcelo sorria embevecido. Disse mais coisas do género. Concentrar é concentrar a atenção numa coisa. E que um livro era uma forma de abrandar o tempo, que cada vez mais se apercebia que ler era como entrar numa igreja. O Benfica ganhou, golo aos 85m.

sábado, 10 de dezembro de 2011

a minha vida corre-me mal

Está frio quando me deito e deixo as meias calçadas e uma camisola quente, mas depois a meio da noite tenho calor a mais. Depois tenho preguiça de tirar roupa e penso nisso constantemente, que tenho calor a mais mas que não me apetece tirar roupa e então durmo mal.

À noite bebo um bocadinho de sumo e não coloco a garrafa no frigorífico porque não vou beber mais naquele dia mas depois de manhã fico chateado do sumo não estar fresquinho.

Às vezes vejo o nível da água da máquina nespresso quase no fim e mesmo assim arrisco tirar um café e depois não há água que chegue e a máquina engasga muito tempo, mesmo que meta lá água outra vez e até desisto de beber o café. Também me esqueço se pus uma cápsula nova cinco segundos antes ou se tenho de por outra.

Sei que estou atrasado para o emprego quando o depósito do carro chega à reserva e a luz acende a avisar que tenho de perder tempo a encontrar uma bomba de gasolina e atestar.

Durante a minha semana está sempre bom tempo e sol e depois ao fim de semana chove-me em cima.

Quando se acaba o pão, vasculho pelos armários à procura de tostinhas e depois encontro um pacotinho só que as tostinhas estão moles porque abri o pacotinho e não o fechei. Quando encontro um pacotinho fechado, normalmente as tostinhas estão desfeitas como se alguém no armazém dos pacotinhos de tostinhas tivesse saltado em cima dele cheio de raiva (talvez um sindicalista).

Sei sempre quando o presidente da minha empresa me está a tentar ligar a pedir uma coisa urgente, é quando a bateria do meu telemóvel acaba e não consigo receber chamadas.

Quando fico em casa por estar doente ou de férias e quero descansar, passo a manhã muito assustado porque a campainha da porta se farta de tocar. Nunca abro nem vou sequer ver quem é, hoje em dia as pessoas telefonam ou mandam sms ou dão um toque quando chegam aos sítios para lhes abrirem a porta, já não se toca à campainha.

Não suporto filas de trânsito e quando vejo uma tenho sempre o reflexo inconsciente de me meter na primeira saída ou desvio que encontro e depois perco-me e acabo por perder muito mais tempo do que iria perder se tivesse ficado na fila ou então apanho outra pior mais à frente e já não consigo fugir.

Apanho sempre os bons programas de rádio já no fim, quando o locutor diz o nome das pessoas no estúdio e lhes pede os "comentários finais". Ou então os bons programas começam quando estou a estacionar o carro à porta de casa ou do emprego. Às vezes fico no carro um bocadinho a ouvir mas depois sinto-me deprimido.

Quando estou sozinho muito tempo começo a falar sozinho para não perder o jeito e treino pedidos do Mac. Quando sinto que estou pronto e ensaiei que chegue, vou ao Mac do bairro para dizer "era um double cheese, cerveja e em vez das batatas era uma sopa pequena" mas quando chego lá atrapalho-me e peço outras coisas. Tiro sempre palhinha do coiso das palhinhas, por reflexo, e só quando vou a abrir a palhinha é que me apercebo que foi estúpido porque estou a beber cerveja, mas levo a palhinha para casa porque posso precisar dela, por exemplo, para dar ao pedinte da minha rua que também pode precisar dela caso queira beber um cocktail ou algo assim.

Às vezes não tenho paciência para desabotoar os botões das camisas e tento tirá-las mas depois fica sempre uma manga presa e depois é tão difícil de a desabotoar quando está do avesso e repuxada que desisto e ando um bocadinho pela casa com a camisa assim presa pela manga, a fingir que não me incomoda.

Ao fim de semana quando se reúnem as condições ideais para a prática de playstation, a playstation network vai abaixo e, apesar de saber que não serve de nada, clico no loggin dezenas vezes de seguida e levo outras tantas vezes com o Error code 80028E01 até desistir. Até já decorei a merda do código. 80028E01. É como se fosse um jogo, é assim que tento encarar as coisas.

Deram-me um carro alemão de grande potência e gabarito, daqueles que instigam ódio e temor nos sindicalistas, mesmo na véspera da maior crise económica de sempre e ao conduzi-lo sinto-me como naquelas relações impossíveis que sabemos que vão acabar um dia e há aquela melancolia da separação iminente. Também é por isso que fico nele a ouvir rádio, são momentos para mais tarde recordar. Posso dizer aos meus filhos, um dia, que conduzi um carro daqueles, enquanto os levo ao parque infantil do IKEA num fiat punto em 2ª mão, ao sábado de manhã.

Sempre que vou ao minipreço há uma velha que invade o meu espaço pessoal quando estou a colocar as compras no tapete e depois há problemas no código de barras de um congelado. E a velha olha-me com o preconceito rancoroso de que o jovem acha que as velhas o olham com preconceito rancoroso.

Quando vou ao Pingo-Doce nunca levo carrinho, já desisti de levar carrinho, normalmente o que eu escolho tem sempre uma roda manca ou presa e chia o tempo todo ou então anda na diagonal contra as prateleiras e atira coisas ao chão e tento fugir dali discretamente mas o chiar das rodas chama a atenção de meio supermercado e olham-me com reprovação.

Disseram-me que aquilo do Segredo era pensar muito numa coisa e desejar muito uma coisa, mas suspeito que o meu segredo é ao contrário porque só tenho aquilo que não desejo e aquilo que desejo, normalmente não acontece. Primeiro tentei a seguinte estratégia para contornar isto: quando quero uma coisa, tento afastar rapidamente essa vontade para que o meu anti-segredo não destrua as poucas hipótese que tenho. Mas ainda era pior, é como quando fazemos um esforço para esquecer um mau dia antes de dormir e acabamos por piorar aquilo e pensar só em cosas más em cadeia. Então recorri ao truque de desejar coisas que me são indiferentes mas que fica bem dizer que se quer, como a paz mundial por exemplo, para ocupar o anti-segredo com qualquer coisa. Consigo viver bem com a consciência de que cada conflito e morte violenta no mundo é, em maior ou menor grau, culpa minha, mas é um preço que estou a disposto a pagar para um dia ser escrit... nada, nada.

estou a ficar ibérico, para além de alemão

O meu palpite é 3-1 para o Real.

Na imagem abaixo, o malvado Messi tenta um golpe de karate no coitado do Pepe que felizmente se consegue desviar a tempo. Esperemos que o árbitro não "contemporize com estas situações", como dizem nos relatos no rádio.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

percebem porque precisamos de uma gaja alemã ?

«Vamos criar uma nova união fiscal para o euro que será um união de estabilidade ao criar um travão à dívida para todos os países do euro e todos os que queiram aderir»
Angela Merkl



«As dívidas por definição são eternas (...) Pagar a dívida é ideia de criança (...) As dívidas gerem-se, foi assim que eu estudei (...) há uma campanha da direita contra a dívida, há um ódio ao Estado social.»
citação e palestra económica completa aqui.

novo disco de MGMT, de covers, este é de Bauhaus :)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

._.


Às vezes penso que o momento que estamos a viver pode ser um daqueles que antecedeu aquelas coisas que nos livros de história já estão totalmente mastigadas e digeridas pelo tempo e estudo e é facílimo percebermos o que se fez mal e encolhemos os ombros e pensamos "se eu fosse judeu tinha-me pirado dali logo quando quando Hitler foi eleito". Todos os dias, como um agarrado, procuro mais e mais notícias económicas, leio artigos, entrevistas, reportagens e analiso dados, tento formar o meu puzzle mental sobre o que vai acontecer no futuro e qual a opção objectivamente mais correcta para mim (emigrar? levantar o dinheiro e meter num cofre? consumir? abrir conta na suiça? desistir do Meo?) Não chego propriamente a conclusão nenhuma. Depois, como naturalmente sucede a propósito de qualquer assunto complexo, oiço opiniões de quem literalmente já nasceu com opinião, a começar pelo inevitável Cavaco Silva que nunca se engana e raramente tem dúvidas. Se calha ler comentários a notícias então, fico deprimido durante horas e fico sem sentido de humor e sem inspiração. Se for em doses pequenas isso não acontece, até pode servir de incentivo, mas agora fiquei soterrado na minha própria mente com os ecos das opiniões dos outros.
Limito-me a jogar Battlefield 3 nas poucas horas vagas, a beber cerveja, a fumar e a comer pizza congelada. Tudo isto levanta grandes reservas à minha fé na humanidade em geral, a propósito de tudo. Acho que não gosto de vocês, da imagem que tenho de vocês em geral. Sei que é injusto e estúpido, afinal, vocês não são comentadores de jornais e o meu leitor ideal não é o Cavaco Silva ou o Carvalho da Silva. Vou tentar abstrair-me o mais possível da novela em que vivemos e mergulhar de novo nos livros com histórias e esperar que todos se transformem em bonecos de peluche outra vez. É tempo de dizer chega às notícias.

gosto da Merkl, serei normal?

Registo com alguma apreensão e de passaporte na mão, a onda de nacionalismo e súbito espírito democrático dos portugueses quando se trata de criticar a Merkl ou sonhar com o escudo. Quase que se confunde com a histeria em torno da selecção de Scolari. Não chega ainda ao ponto dos gregos que se passeiam com cartazes com suásticas em cima de Merkl. Entretanto, Sarkozy, o político mais arrepiante que a frança pariu nas últimas décadas, tem atascado a solução mais natural (defaults controlados ou perdão das dívidas, falência de bancos etc.) há mais de um ano e passeia a sua hipocrisia anti-globalização enquanto vende milhões à China e recebe os seus turistas. É preciso acalmar a extrema direita, vencê-la no próprio campo. Só o BNP Paribas tem 12 mil milhões de dívida italiana. Para uma visão melhor do jogo político actual recomendo este gráfico. Olhem só ali a setinha vermelha e gorda das dívidas da Itália à França. Há muito que o Sarkozy percebeu isto e que a Grécia era o aperitivo. Mas sim, a Merkl é má. O que queremos da alemanha é que continue a pagar a factura e nos deixe brincar à classe média movida a endividamento, sem se armar em ditadora e exigir vir cá agora auditar as nossas contas e impor-nos limites. Queremos uma democracia de empréstimo e a bons juros. Ou então o escudo, sim, isso faria os sindicalistas contentes porque se devalorizarmos a moeda, Cavaco Silva style, eles continuam a receber 500 contos ao fim do mês e nem dão por nada, desde que haja hortas urbanas que cheguem.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

fado é património cultural imaterial da unesco

Não tive tempo de comentar isto. Agora se calhar não vou muito a tempo mas era para dizer que o fado é património cultural imaterial da unesco e que isso é bom e motivo de orgulho.
    Junta-se assim a uma nobre lista de patrimónios imateriais que conta, entre outras, com as seguintes entradas:

    Colombia The Wayuu normative system, applied by the Pütchipü’üi
    Spain Human towers
    Zimbabwe The Mbende Jerusarema Dance

    Comove-me muito saber que o fado foi equiparado às torres humanas de espanha e à dança Mbende Jerusarema.Foi um pequeno passo para nós, é a primeira entrada de Portugal neste clube de elite.

    António Costa a mostrar à Unesco o fado, instantes depois de ter posto inadvertidamente o mp3 do crazy frog a tocar

    De notar que a entrada conjunta: Greece, Italy, Spain, Morocco The Mediterranean diet, não conta com Portugal. É pena. Tanta vez que chorámos a descascar cebola e ficámos com as pontas dos dedos a cheirar a alho, tantos salpicos escaldantes de azeite, e tudo para nada, andamos a enganar-nos em vão.

    Por outro lado, a Grécia não aparece com nenhuma outra entrada para património cultural da humanidade, a não ser esta da dieta mediterrânica. Parece-me que pelo menos foi reposta a justiça com o facto de nós termos uma e eles 1/4 de entrada, visto que em tudo costumamos estar sempre um pouco à frente deles.

    Entretanto, cheira-me que a bola está a rolar, Coimbra já anunciou que vai candidatar o seu fado de Coimbra que é diferente do fado de Lisboa. E é conhecido o talento e apetência dos nossos autarcas pelos recordes do Guiness, uma forma sempre nobre de colocar um concelho no mapa. Acredito que com a ajuda de todos e muitas comissões, um dia chegaremos aos calcanhares da Croácia, esse país tão conhecido mundialmente pela fantástica contribuição para o património cultural imaterial da humanidade e que conta, sozinha, com 12 entradas, ficando no top 3 de países que mais contribuem com património imaterial para todos nós.

    Croatia Annual carnival bell ringers’ pageant from the Kastav area 2009 2009 ENA [47]
    Croatia Gingerbread craft from northern Croatia (Licitar) 2010 2010 ENA [48]
    Croatia Ojkanje singing 2010 2010 ENA [49]
    Croatia Lacemaking in Croatia 2009 2009 ENA [50]
    Croatia Procession Za Križen on the island of Hvar 2009 2009 ENA [51]
    Croatia The Sinjska alka, a knights' tournament in Sinj 2010 2010 ENA [52]
    Croatia Spring procession of Ljelje/Kraljice (queens) from Gorjani 2009 2009 ENA [53]
    Croatia The festivity of Saint Blaise, the patron of Dubrovnik 2009 2009 ENA [54]
    Croatia Traditional manufacturing of children’s wooden toys in Hrvatsko Zagorje 2009 2009 ENA [55]
    Croatia Two-part singing and playing in the Istrian scale 2009 2009 ENA [56]
    Croatia Bećarac singing and playing from Eastern Croatia 2009 2011 ENA [57]
    Croatia Nijemo Kolo, silent circle dance of the Dalmatian hinterland

    vem aí o Natal

    Hoje de manhã conversei um bocadinho com o arrumador, o tal que me pergunta o que estou a ler. Disse-me que ia fazer uma cura, 20 dias sem beber. É alcoólico e falámos um bocado disso, de como ele começou e trocámos impressões sobre cerveja, ressacas e sintomas. Disse-me que estava com a cabeça desarrumada, o físico já se ressentia, a vida estava toda confusa. É um tipo educado e sorridente e ainda não chegou aquele ponto de decadência final.
    Desejei-nos boa sorte. O Natal este ano não se deve manifestar com tanto fulgor como nos anos normais e por isso vai ser menos agressivo do que costuma ser e isso é bom. O cone gigante de plástico a que chamam a maior árvore de natal do mundo é capaz de ficar encaixotado e de não aparecer no terreiro do paço. Talvez não haja engarrafamentos nos parques de estacionamento dos supermercados nos dias em que só lá quero ir comprar uma pizza congelada e um pack de Sagres.
    As crianças gostam do Natal e o Natal é para as crianças. Porque recebem prendas, recebem mais prendas do que em qualquer outra altura do ano. Não gostam especialmente da Páscoa por exemplo, que é uma celebração religiosa com mais pontos na escala de richter da religião. Eu também gostava da árvore de natal e das luzinhas que de vez em quando davam choques a uma das minhas cadelas que insistia em farejá-las com o nariz húmido.
    Estou cansado. Ontem no pingo doce assisti a uma violenta discussão (é Natal, as pessoas andam tensas) entre um senhor e uma senhora, houve um mal entendido qualquer e depois de uma série de impropérios e acusações, o senhor gritou "aposto que a senhora é de direita! Pois eu, sou de esquerda!" Foi o momento alto do meu dia.
    O problema dos ganhos de lucidez com as desilusões da vida é que depois termos de fazer um esforço para procurar a inconsciência dos felizes e isso implica vícios. Uma boa forma de rebeldia para com a vida e as coisas em geral passa pela destruição do eu.
    Mas gosto imenso do Natal, espero não estar a transmitir a impressão errada. Gosto sobretudo pela caridade e amor que nesta época se revelam tanto e que aparecem em directo no telejornal, aquela ceia de Natal dos pobres, é bom estarmos a comer em casa e sabermos que nessa noite os pobrezinhos também têm uma postinha de bacalhau com couve. As pessoas que fazem coisas boas para ajudar o próximo e sentem o calorzinho, aquela satisfação de serem boas pessoas e bem intencionadas. O corrector ortográfico sugere-me que corrija "calorzinho" por "cavalo-marinho". Experimentem lá a ver se o vosso também sugere isso. Cavalos-marinhos, aí está um bicho que faz acreditar em coisas mágicas. É engraçado, o cavalo-marinho.

    domingo, 27 de novembro de 2011

    um post de bola

    Com este, os últimos 6 Benfica - Sporting foram vencidos pelo Benfica e a diferença de golos vai em 13-2. Assisti ao jogo numa tasca com 90% de lagartos, infelizmente é a mais próxima de minha casa. O jogo decorreu exactamente como previ, excepto pela ausência do 2 a 0 (houve duas bolas ao poste, a do Gaitan merecia ser 0,5 golo e duas oportunidades, numa delas até vimos o Cardozo sentar 2 defesas, algo que nunca pensei ver). O Benfica teve um jogo de intensidade enorme em Manchester e previ que iria descer de rendimento ao longo da partida e sem um 2 a 0 no momento em que as equipas estavam equiparadas a nível físico, o Sporting iria dominar a segunda parte. A substituição adequada seria Cardozo por Rodrigo mas o palerma foi expulso e isso quase tirou a hipótese do contra-golpe, encostando o Benfica à sua área. E penso que Nolito deveria ter jogado de início, mas admiro a coragem de Jorge Jesus de ter metido Rodrigo a jogar quando estávamos com 10.

    Ouvi expressões como "estas são as únicas duas equipas a jogar futebol este ano, o FCP está arrumado", mas honestamente, não acho nada disso. Não acho nem que o FCP esteja arrumado (hoje será um teste decisivo) nem que o Sporting seja uma equipa ao nível do Benfica, isso é quase um insulto aos credores do Benfica. O Sporting está melhor e tem uma atitude muito louvável, mas há um hiato de qualidade do plantel face aos rivais que virá ao de cima em jogos decisivos ou aqueles em que joga mal. O Benfica não perde há 23 jogos, é o único clube da Europa a fazê-lo (o Barcelona perdeu com o Getafe) e isto a jogar na Champions também. Obviamente que fez muitos jogos péssimos nesses 23, mas ganhou na mesma porque tem jogadores que podem, num lance, resolver a questão. Tenho visto o Benfica jogar de forma algo italiana, começa os jogos sempre com a carga toda, depois abranda e aguarda e é extremamente eficaz. A eficácia advém de um índice de confiança elevado, de maturidade e sobretudo qualidade individual. A confiança defensiva por sua vez vem de Artur que está a ser a pedra base desta época.

    Acredito que a diferença do FCP da época passada face a esta se deve quase exclusivamente à ausência de Falcão, combinada com uma baixa de forma de Moutinho. Podem dizer que não é um jogador só que explica uma diferença de qualidade, mas isso não é verdade. O Benfica sem Aimar não é o mesmo. O Barcelona sem Messi ou o Madrid sem Ronaldo, não são os mesmos. No caso de Falcão falamos de um goleador e a existência de um jogador com aquelas características tem uma influência enorme na forma como a equipa joga quando tem a bola. O objectivo é fazer uma assistência para o Falcão. E antes desse último passe, o objectivo é criar uma situação em que se possa fazer uma assistência para o Falcão. Sendo que "assistência", no caso do Falcão, podia ser qualquer bola em qualquer zona próxima da área. Sem essa referência (como Jardel foi para o FCP e o SCP) a equipa fica sem saber muito bem o que fazer. Chegámos ao disparate de ver Hulk a jogar no meio à frente da baliza e hoje devemos ver isso de novo, o que só me lembra os tempos em que jogávamos com o Simão aí, porque ele marcava mais golos que os pontas de lança. É uma tentação de qualquer treinador: é preciso marcar golos, vou meter o melhor jogador o mais perto possível da baliza. É desespero.

    sábado, 26 de novembro de 2011

    anedotas de matemática!!!!1!


    Acabei de descobrir que que tenho inúmeros fãs com conhecimentos de matemática na minha página FB. Nerds, unite!

    sem tempo para escrever, ou, em inglês, timeless to write

    Não sou eu que escrevo, é a mão, como diz o outro, no meu caso, as duas mãos, pois escrevo num teclado. A escrever à mão (sou canhoto), com caneta e papel, sinto-me como se estivesse num exercício de fisioterapia depois de um AVC. A minha letra assemelha-se a um electrocardiograma de um esquilo a quem roubaram a avelã. É tão ilegível que nem eu próprio percebo o que queria dizer e tem o efeito de me formatar a memória e substituir o que queria escrever por estática. É mau quando anoto um nome à mão, a meio de um telefonema para dar o recado a um colega, “Ligou o brrsSshshshhhh há bocado, quer falar contigo a propósito do brrSshshshshhh, disse que era urgente”.

    Noto sem surpresa e comoção que o facto do Autor ter sido publicado (já não é a primeira vez, note-se) fez aumentar o cinismo e a crítica vis a vis eu, o Tolan, algo que previ que iria acontecer e que vai certamente agravar-se uma vez que ele pretende cada vez mais ter protagonismo e diz que tem pouco tempo e o tempo que tiver vai dedicá-lo ao conto para a Sul de Nenhum Norte ou para terminar a revisão da do romance. Toda a sua pessoa é extremamente enervante para o tipo de pessoas que fazem greves gerais e até a mim me causa um certo mal estar, embora no fundo, desde que tenha a cerveja ao fim do dia, não estou muito preocupado. Com nada. A não ser…. Não, nada. E logo agora quando se exige outra postura, uma humildade, enfim, temos de ser uns para os outros, como se costuma dizer.

    terça-feira, 22 de novembro de 2011

    a selecção de discos do Tolan de 2011 (sem ordem específica) #5

    Live Music, dos The Strange Boys. Nada como encaixar um piano no rock e tocá-lo como um marreta eufórico, como sucede nesta faixa e neste vídeo castiço.


    (não ouvi o resto do disco ainda, é só a primeira faixa, encalhei nela, às vezes acontece, vrrrrrrr fica ali em loop)




    (e desculpem o excesso de vídeos e falta de textos de jeito, já fiz uns 5 ou 6 posts e não os coloco porque o Autor diz que não têm qualidade suficiente. O do poker ali em baixo foi um acidente, foi escrito num dia em que o autor e eu não dormimos por causa do poker e então ficou assim, eu escrevi-o mal e Ele não teve capacidade de perceber isso)

    Woof arf arf ':0P

    sábado, 19 de novembro de 2011

    green velvet

    Ontem, numa cave na amadora e debaixo de uma luz neon, percebi porque motivo deixei de jogar poker regularmente. Envolto em fumo, ensopado em minis e gin, a jogada decisiva aconteceu às 7 da manhã, entre os últimos 5 resistentes. A noite nem estava a correr mal, tinha triplicado o inicial, o que já constituía um montante considerável de acções do BCP, o suficiente para ter assento na administração. Quando saiu 589 e eu tinha 67 na mão. Flopei um straight. Numa mesa normal, um board tão seco não daria acção nenhuma a não ser que alguém tivesse um par alto na mão ou um set. As minha mão era as nuts. Mas aquilo não era uma mesa normal. Em sete jogadores, apenas eu e outro temos alguma experiência de table grinders online neste jogo e uma biblioteca de poker suficiente para cobrir duas prateleiras de uma expedit do ikea. Os outros que sobraram na mesa eram, digamos assim, mais instintivos. Raises sucessivos e dois jogadores sempre a corresponder, a pagar para ver. Nem queria acreditar, o pot crescia magicamente ao ritmo de uma taxa do BPN. Saiu um 10 no turn, uma carta perigosa, caso alguém tivesse o valete Mas o comportamento deles não indicava de todo que tivessem uma mão feita, estavam em draw de qualquer coisa. Isto porque toda a noite tinham jogado como kamikazes, sempre à procura da sorte grande e jogavam sempre os draws passivamente, cobrindo relutantemente as apostas, mas incapazes de largar uma mão. Agora, às sete da manhã, a mesa estava um tanto ou quanto delirante de cansaço e ébria. Pressenti impaciência nos jogadores, vontade que acontecesse algo antes de se irem deitar e então fiz all-in para lhes fazer a vontade. Um deles foldou mas para grande alegria minha tive um call. E ele só tinha uma dama, faltava-lhe o valete. E que carta saiu no river? Exacto.

    O que mais me doeu foi a convicção dele de que tinha jogado bem ao retirar as fichas todas da mesa. Expliquei-lhe que se ele fizesse aquilo 100 vezes ia perder 94 vezes, só tinha 3 outs para aquela mão. Na cabeça dele, ele jogou bem. Mas não. Ele teria jogado bem se tivesse sido ele o agressor, em semi-bluff por exemplo, representando um straight feito no turn e testando a força da minha mão. Mas fiz eu o all-in e não ele. De facto já estava pot comited porque nunca devia ter feito call aos meus raises no flop, visto que aí ainda lhe faltavam 2 cartas e tinha menos de 5% de probabilidades de ganhar porque eu tinha flopado um inside straight.
    Mas tudo bem.

    Fui para casa em break even, conduzindo num ic19 surpreendentemente cheio de trânsito às sete e meia da manhã. Não foi grave, em tempos este tipo de coisas eram graves devido aos montantes e ao facto de depositar algumas esperanças no poker como fonte de rendimento para criar uma família e ter um cão.

    quarta-feira, 16 de novembro de 2011

    a selecção de discos do Tolan de 2011 (sem ordem específica) #4

    Fun House, dos Stooges.
    Por acaso é de 1970 mas calhou ouvi-lo com mais atenção em 2011 e no género rock que dá vontade de mergulhar na mais profunda decadência e emergir a voar por acima do asfalto na cidade numa noite deserta envolto numa bola de fogo niilista, diria que este é o melhor deste ano, seguido de muito perto pelo álbum Ritmo do Amor de Emanuel.

    terça-feira, 15 de novembro de 2011

    a selecção de discos do Tolan de 2011 (sem ordem específica) #3

    Parallax de Atlas Sound.

    Atlas Sound é Bradford Cox. O Cox é, a par do Noah Lennox (Panda Bear, Animal Collective), um dos músicos que mais gosto na actualidade. Ambos têm em comum o facto de estarem integrados em bandas onde o seu traço pessoal criativo é potenciado em experimentalismo sónico e diluído no talento dos outros membros das bandas. Nos projectos a solo são mais intimistas. Aqui uma faixa dos dois a brincar juntos numa faixa que parece Beach Boys no século XXI.


    O Parallax é novinho.O Bradford Cox tem a mania de encher os discos de músicas que não percebo mas gosto.

    domingo, 13 de novembro de 2011

    está decidido, poesia aqui vou eu

    Vai deixar de ser um hobbit. Vou levar a poesia a sério. Sinto que tenho talento para isso, apenas nunca lhe dediquei tempo. Ando a fazer um esforço para perder preconceitos. Comprei um perfume e tudo. Sempre achei que usar perfume era uma coisa um pouco efeminada, mas pelos visto há mulheres que acham que não, de maneiras que fui à Sephora e pedi à senhora da loja o perfume mais másculo que tivesse porque eu era muito homem. A senhora olhou para mim de alto a baixo e sugeriu-me este.


    Desconfiei um pouco, no início, mas a verdade é que mal me borrifei de Jean Paul Gaultier fiquei cheio de vontade de escrever poesia.

    Vou tentar então escrever um poema.

    Oh, que sofrimento atroz
    diz o albatroz
    Oh, que imenso calvário
    diz o dromedário
    Ai, o que será de mim
    diz o guaxinim
    Ai, que estou a atrofiar
    diz o urso polar
    É um jardim zoológico
    muito muito melancólico
    os animais escrevem poesia
    e sonham todo o dia
    seguram nas canetas com as patinhas
    e escrevem muitas linhas
    o tratador pede desculpa à pequenada
    que veio ver a bicharada
    esperavam palhaçada
    uma experiência quiçá* animada
    e não estes tristes animais
    Olha! Olha! 

    Para a frente senão cais!


    *a poesia usa palavras que ninguém usa quando fala ou escreve em situações normais.