quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
gosto da Merkl, serei normal?
Registo com alguma apreensão e de passaporte na mão, a onda de nacionalismo e súbito espírito democrático dos portugueses quando se trata de criticar a Merkl ou sonhar com o escudo. Quase que se confunde com a histeria em torno da selecção de Scolari. Não chega ainda ao ponto dos gregos que se passeiam com cartazes com suásticas em cima de Merkl. Entretanto, Sarkozy, o político mais arrepiante que a frança pariu nas últimas décadas, tem atascado a solução mais natural (defaults controlados ou perdão das dívidas, falência de bancos etc.) há mais de um ano e passeia a sua hipocrisia anti-globalização enquanto vende milhões à China e recebe os seus turistas. É preciso acalmar a extrema direita, vencê-la no próprio campo. Só o BNP Paribas tem 12 mil milhões de dívida italiana. Para uma visão melhor do jogo político actual recomendo este gráfico. Olhem só ali a setinha vermelha e gorda das dívidas da Itália à França. Há muito que o Sarkozy percebeu isto e que a Grécia era o aperitivo. Mas sim, a Merkl é má. O que queremos da alemanha é que continue a pagar a factura e nos deixe brincar à classe média movida a endividamento, sem se armar em ditadora e exigir vir cá agora auditar as nossas contas e impor-nos limites. Queremos uma democracia de empréstimo e a bons juros. Ou então o escudo, sim, isso faria os sindicalistas contentes porque se devalorizarmos a moeda, Cavaco Silva style, eles continuam a receber 500 contos ao fim do mês e nem dão por nada, desde que haja hortas urbanas que cheguem.
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14 comentários:
Acho que recebem mais que 500 contos.
Estados Unidos, pá. A questão é: como fazer, se isto aqui é uma manta de retalhos, nem a mesma língua se fala entre todos?
a resposta á pergunta é : eu não gosto da merkel...admito que tenha razão nalgumas coisas, mas anda a brincar com o fogo, sem tomar decisões do fundo...apenas porque sabe que é talvez a única que não se vai queimar!
É completamente utópico um modelo europeu copiado dos estados americanos. No entanto, há coisas que podiam mudar aqui na europa e aproximar-se dos EUA. Se é quase impossível uma Alemanha transferir dinheiro para nos ajudar ou o BCE imprimir euros à maluca como faz o FED (e que vai dar bronca), é certo que no EUA ninguém se preocupa se o banco que vai à falência é da California ou do Minesota, é irrelevante. Nesta Europa não, os países (mesmo a Alemanha) defendem a sua banca e isso está na origem de parte do problema. O conceito de "banca alemã" ou "banca portuguesa" ou "banca francesa" devia acabar. Os bancos são empresas como as outras. Fazem más apostas, eles e os investidores e os seus accionistas que cubram as perdas. O meu ponto pro-Merkl é um pouco este, a Alemanha foi mais racional que os outros países e os seus bancos mais conservadores e avessos ao risco. É legítimo que os alemães não queiram premiar más apostas que os outros fizeram sem fortes contrapartidas. Acredito também que o que se está a passar agora em Portugal serve apenas para nos credibilizar politicamente, porque me parece que é impossível inverter a situação sem mais tempo, mais dinheiro e alívio de impostos. O medo, legítimo, da Alemanha é que assim que houver alívio e novas condições, desapareça o incentivo às reformas estruturais que o país precisa. É um facto que só agora, entalados como estamos, é que as pessoas começam a discutir os verdadeiros prolemas do país. As nossas últimas eleições decorreram com uma campanha profundamente falsa por parte do PSD e por uma recusa do PS em agir a tempo e de forma determinada (foram de Pec em Pec, a ver se doía menos). Se há coisas que não deviam acontecer, como o aumento enorme de impostos ou redução de salários na função pública (em vez de despedimentos), outras não são más de todo. O corte nos orçamentos obriga a um reajuste e a uma maior racionalização. Também há maior escrutínio público sobre as nossas contas e ao destino do dinheiro dos nossos impostos. O próprio ajuste no modelo de crescimento, baseado no crédito público e privado, foi bloqueado. Isso não é mau, do ponto de vista pedagógico. Eu noto no dia a dia das empresas por exemplo, um esforço de contenção de despesas superfluas ou um maior foco na internacionalização. A própria escolha de carreira dos jovens que escolhem cursos de humanidades à espera de um emprego inexistente pode finalmente ser vista como é e pode ser que os cursos de ciências e engenharia tenham mais procura... Tudo isso pode ter efeitos positivos assim que se aliviar a pressão fiscal, desde que aguentemos tempo suficiente e que haja coordenação europeia.
com o escudo a valer 0.5 do actual euro e a inflacao a 30/40% qualquer jardim publico vai ser um sitio formidavel para plantar uma batatinha
mas qual factura é que os alemães pagaram que eu não dei conta? Ou que se propõe pagar? Uma mentira mil vezes repetida não se torna verdade. Por acaso a Alemanha que gere o Euro é dos poucos países que consegue ter crescimento, não tem nada a ver uma coisa com a outra pois não?
E sim sim, a culpa é dos sindicalistas pá, foram eles que nos trouxeram até aqui, claro. E sim recebem todos 500 contos e andam todos de olhos nos bolsos do pessoal.
O que é preciso é criar fábulas com bons e com maus para conseguirmos continuar todos no mesmo carrossel e atacarmos os mauzões do costume, os sindicatos e sindicalistas preguiçosos, e agora riquíssimos.
LuísC
Tolan, duas notas:
1. Já acreditei mais que aquilo lá nos states vá dar bronca.
2. Ou se é pró-Keynes ou se é contra. Eu sou pró. Sou pelas teorias dele no que toca aos países e aos governos, sou contra ele se o quisermos aplicar às empresas ou às famílias, por exemplo (isto é paradoxal ou, pelo menos, paradigmático. Eu sei, mas penso fortemente assim). Porém, penso que isto é um assunto que extravasa em larga medida a ciência económica estrita (que não domino, não sou economista, embora seja um interessado e tenha uma actividade intimamente ligada ao tema) e entra no domínio da filosofia e da sociologia.
Quando quiseres mandar abaixo umas guinness e discutir o tema, apita.
... sabes que, por outro lado, cada vez sei ainda menos desta merda toda, de maneiras que as minhas convicções são cada vez mais fraquinhas. Creio.
Tolan, olha que o superavit da Alemanha (e também de países como a Holanda) - sobretudo dos bancos - deve-se aos juros dos PIIGS. Esta sangria toda que a Markel faz aos países do sul é por causa do filão interminável. Do que ela se esquece - e estou-me aqui borrifando para o politicamente correcto - é que nós (europeus e não só) já pagámos 2 vezes a reconstrução da Alemanha depois de terem destruído 2 vezes a Europa, com a terrível ironia de boa parte desse dinheiro vir da Grécia, que nunca o recebeu de volta...
Isto ainda vai acabar muito mal, sobretudo para a Alemanha que devia conhecer o ditado de "quem tudo quer tudo perde". Para a Merkel não, que ainda lhe vai valer umas eleições e fico-me por aqui que isto já vai longo.
Duma vez por todas, a jogada alemã do "nós não temos de pagar" não passa de um bluff. Não, eles o que querem mesmo é ter de paga porque os juros que recebem não só alimentam a economia como criam um superavit brutal.
Só para dar um exemplo não totalmente exacto, só de juros à Troika ficamos a pagar 30% fora comissões. Ok, pusemo-nos a jeito mas eles não nos vêm salvar cheios de boas intenções, pois não?
O "pusemo-nos a jeito" aliás tem sido o garante de comentadores como José Gomes Ferreira, Medina Carreira, Van Zeller e outros que tais quando não têm argumentos para sustentar a canalhice...Enfim, acho que agora fico mesmo por aqui :)
O valor a pagar ao FMI só tem significado em termos relativos. Pagamos uma taxa juro média de 5%. É elevado, mas bem abaixo dos 13% actuais que teríamos de pagar no mercado (16% no curto prazo). E não vi ninguém preocupado quando pagávamos 5% no mercado. Nao vi ninguém pedir contas ao Socrates ou ao Barroso. Mas como é ao FMI, epá, já não pode ser.
Por ajuda, entende-se a diferença entre os dois, a taxa de mercado e uma taxa muito inferior que, em contrapartida, exige reformas.
Além disso, 4% ou 5% é o que consegues num depósito normal. Não vejo onde está a "sangria" de se fazer uma aplicação financeira. O próprio fundo de estabilização financeira europeu cobra 4%. Também é mauzão como o FMI? Ou há algum trauma específico com o FMI?
E isso da alemanha investir nos piigs para lucrar é um disparate. Estar a emprestar a 4% quando o mercado acha que somos garbage ou junk e nos cobra 16%?
E por pagar a reconstrução da Alemanha, deves referir-te aos EUA ea o Marshall Plan.
Não disse que a Alemanha investe nos PIIGS mas é um facto que lucra e muito com os deficits dos países do sul da Europa.
A reconstrução da Alemanha não foram só os Estados Unidos que pagaram, foram também muitos países da Europa, entre os quais a Grécia.
Não estou, nem quero com isto desresponsabilizar-nos das nossas obrigações e daquilo que temos de pagar.
Tolan e Pedro Góis: O superavit da Alemanha é por exemplo os 5%PIB que a Grécia reserva para "despesa militar".
Com isto não se quer dizer que a nossa necessidade de "reformas" estruturais seja culpa da Alemanha. Basicamente o nosso problema foi o de sempre. Este agravar de juros e endividamento (de anos) é uma consequência, não a "causa"...
R.
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