segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

3 2 1 transform!

Esta música faz-me sentir poderoso, no sentido transformer. Estou muito molinho e orgânico a jogar ao excel e ao powerpoint e Bzzzt, transformo-me no lethal consultant robot. Só começo a trabalhar bem quando toda gente baza do escritório, ou quase.

Ratatat - Lex


Diga-se que nesta música é perfeitamente possível ouvir, a partir dos 2:56, um ratitinho a tocar cravivinho com as suas patitinhas muito contentitinho.

joyce, meu cabrão

Sentado no cais, ao sol, com as perninhas a baloiçar sobre o tejo, forço-me para ler o Portrait of an artist as a young man do enconado do Joyce. De súbito tive uma apoplexia grave, aqueles momentos em que penso "eu não tenho talento, que merda, o que é que estou a fazer foda-se!?" e imagino que os meus últimos 10 anos foram uma anedota de mau gosto, o meu sonho é um sonho é um sonho é um sonho tão ridículo como o dos concorrentes dos ídolos, mesmo daqueles que o ganham.

Há três tipos de escritores. Os maus (não falemos deles) e depois os bons que esmagam e os bons que entusiasmam. O Joyce pertence aos bons que esmagam. Quando leio Joyce fico brutalmente deprimido porque tudo aquilo é uma linguagem e um universo que me é completamente inacessível.
É como ser aspirante a actor porno e calhar ver um video do Peter North. Pior, ler Joyce e tentar escrever o romance no mesmo dia, é como entrar nú num set cheio de gente, com a Jenna Jameson de gatas a ser arrombada pelo Peter North e o realizador e a Jenna Jameson e todos ficarem impacientes comigo porque não consigo ter uma erecção.
O complexo do talento pequeno é forte por estes lados. Tanto é que já tirei os livros que me esmagam todos do escritório onde escrevo e só tenho uma pilha de livros que me entusiasmam atrás de mim. De vez em quando volto-me para a biblioteca e faço um brinde ao Bukowski nosso que está no inferno ou partilho um cigarro com o Boris Vian ou toco no Catcher in The Rye. Eu percebo o que eles estão a fazer, eu gostava de beber copos com eles, eu gostava de ser amigo deles e mostrar-lhes a minha colecção de cartas de magic e se calhar ensiná-los a jogar.

Do Joyce não percebo a ponta de um corno. Não me refiro a perceber o que está escrito, se bem que começa com uma citação em latim do Ovídio ou Orelhio ou como se chama, uma citação em latim que não percebo e nem vem traduzida porque quem gosta de Joyce, sabe latim. Logo a primeira frase. A primeira fase do Bukowski no Post Office é: “this is a work of fiction and its dedicated to nobody”. Isto eu percebo.

O que me custa perceber é a intenção do gajo. Então, é fazer uma obra de arte assim perfeita? Muito bem, epic win senhor Joyce.

Aquilo é doloroso, todas as frases escorrem génio misterioso, mas são como Deus a falar comigo nas igrejas, não o oiço bem, não o oiço, nunca o ouvi, mesmo quando ficava a olhar para Jesus muito tempo na cruz a ver se o gajo me fazia Ok ou um aceno de cabeça, nada. E toda gente parecia ouvi-lo, ou pelo menos, falavam com ele a dar com um pau.

Deste portrait até estou a gostar mais que do Ulysses, é mais perceptível e pelo menos explica porque é que o Joyce era um enconado. Para já, não gostava de desporto e estava sempre a atrofiar e doente. E meteram-lhe o catolicismo e as canções irlandesas deprimentes e soturnas na cabeça, desde tenra idade. Tenho de me lembrar disto para a educação do "filho artista" que quero ter.

dicas do Tolan para o jantar romântico - a escolha do vinho

Vinho é muito importante. Sem vinho, não há jantar! Eu preciso de vinho para ser eu próprio, sóbrio sou uma pessoa detestável e lúcida.

Quanto aos vinhos, há de três cores, tinto, branco e verde. Também há rosé, mas se querem escolher vinhos cor de rosa, este texto não é para vós.

Independentemente da cor, escolham o vinho como se fizessem ideia do que estão a escolher. Eu tinha por hábito pedir vinhos inexistentes só para me armar, como um "Focinho de vaca, Reserva 98" ou um "Bicicleta da Porca 2002", mas deixei-me disso quando um dia me trouxeram mesmo um "Pedra do Urso".

Normalmente os vinhos mais caros têm garrafas que parecem de vinhos mais caros e ficam mais bonitas na mesa. E quando forem provar o vinho, finjam que eram mesmo capazes de mandar uma garrafa de vinto euros para trás, elas gostam daquele momento de suspense.Uma vez de vez em quando cuspam o vinho, indignados e gritem com sotaque francês "Oh mon dieu, que porcarie eh eshta? Pfff" Nas outras, façam que vão mesmo aprovar mas antes do empregado começar a encher os copos, levantem a mão, como se tivessem acabado de detectar uma cena manhosa, deixando-o com a garrafa suspensa. E depois aprovem.

Não se metam é com merdas de toques de avelã e carvalho e canela, com final de boca prolongado. O mais provável é que se fodam se apanharem com uma que percebe de vinhos a sério. E estão vocês a confundir canela com baunilha ou final de boca com princípio de língua ou carvalho com contraplacado IKEA.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

as saudades do sony walkman



E quando as pilhas quase acabavam a meio da viagem de autocarro e não fazíamos fast forward às músicas, para poupar? E se carregássemos no play quase até ao click aquilo andava mais rápido e ouvia-se wwhwhhhshshsshadylanewwhshshshwvery body wantsonewwsssshsh...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

pode-se dizer que os Fogo da Arcada voltaram em grande

iam-me fazendo despistar o carro com aquela sensaçãozinha de nó na garganta por debaixo do nó de gravata, a euforia e melancolia, as faúlhas a saírem do cigarro à janela como um rasto de um cometa perdido que se vai desfazendo e tenta resistir ao modern man e não o vão quebrar, nunca, nem a morte o pode quebrar, ele prefere arder até ao fim!

Arcade Fire - Modern Man


(depois passou Cold Play no rádio e saí depressa do transe)

educar uma filha

Ter uma filha é muito complicado para qualquer homem. As filhas normalmente não sabem jogar à bola por exemplo e se souberem também não é bom sinal. Preferem uma wii em vez de uma ps3. Preferem bonecas em vez de armas de fogo. Todos os brinquedos que tenho, e que fariam delirar qualquer rapaz, parece-me que lhes seriam indiferentes, da guitarra eléctrica às bicicletas, das réplicas de espadas samurais à gigantesca colecção de cartas de Magic. As raparigas são mais sensíveis do que os rapazes, o que dificulta a aplicação do método pedagógico inspirado nos romanos e que consiste em constantes provações físicas e psicológicas, banhos gelados e lições de luta. Se eu tivesse um filho, de certeza que me divertia a partir do momento em que ele conseguisse ripostar minimamente nas lições de boxe e deixasse de choramingar, o que deveria acontecer aos 5 ou 6 anos.

No início é assim

depois é assim

e assim

Evidentemente que não tenho grande experiência na educação de crianças em geral, meninas em particular, apesar de ter tido namoradas um pouco infantilóides e uma cadela, uma cocker spaniel, que apresentava desafios psicológicos semelhantes a uma criança com disturbios emocionais graves. Mas os livros ensinam tudo o que precisamos de saber e agora, os blogues também, nomeadamente, este aqui.
A filha pode deixar de achar o pai o homem mais fantástico do mundo quando atinge uma certa idade e passar a controlá-lo e a oprimi-lo também. Nos casos mais extremos, felizmente raros, em que ainda não houve divórcio quando ela chega a esta idade, pode dar-se o caso de termos duas mulheres em casa. Em casos ainda mais extremos, e que conheço, chegam a ser três ou quatro mulheres em casa e ainda, de vez em quando, com visitas da sogra. E todas a chatear. A minha casa felizmente tem um quintal onde conto construir uma espécie de bunker com os meus brinquedos e fecho-me lá dentro. Depois, as filhas têm tendência a gostar de rapazes a partir de uma certa idade (19, 20 anos) e não é nesse momento que temos de nos preocupar com isso. É logo aos 6 meses de idade. Temos de usar as técnicas ancestrais que deram origem aos primeiros mitos urbanos, sob a forma de contos como o Capuchinho Vermelho. Estou a preparar uma extensa lista de todos os contos, lendas e e-mails forwardados por pessoas da faixa dos 40-60 anos que acabaram de descobrir a internet e a história da droga na bebida e do rim desaparecido, cuja moral essencial é: homens = perigo. E não só estou a recolher a lista como também vou escrever uns quantos de minha autoria, inspirados na obra de Stephen King. Já tenho títulos: “A discoteca da morte”, “O namorado esquartejador”, “O cinema fatal”, “A discoteca da morte II”, “Andar de mão dada, morte anunciada”, “Beijos e as doenças dos homens”, “A discoteca da morte III”…. E faço isso para o bem delas, não quero que acabem mal.

solidariedade com o Sporting e pacto de não agressão

Não queria deixar passar uma oportunidade de apoiar os meus amigos do Sporting. Digo isto sem sarcasmo. As coisas começaram lentamente. O primeiro sintoma foi deixarem de falar de futebol, até do futebol estrangeiro.

O Rogério Casanova parece ironizar com um seu hipotético suícidio devido ao leque de opções que se perfilam para o Sporting, nomeadamente, coisas como «Quique e Paulo Sousa na lista de Futre para os leões» ou «Ângelo Correia é trunfo de Godinho Lopes» e ainda «Octávio Machado mostra-se disponível para conversar com Santana Lopes».

Parece ironia, mas sempre que alguém se suicida, depois vem uma série de gente dizer que nada o fazia esperar, que era uma pessoa bem disposta e tudo mais, e vai-se a ver e num blogue ou num hi5 ou no facebook já havia referências ao suicídio e depois há debates no prós e contras e alguém na plateia grita "como é que ninguém percebeu?" e é aplaudido e os membros do painel, muitos psicólogos nomeadamente, ficam todos com aquela atravessada.

Acho que é engraçado brincarmos uns com os outros mas com respeito e consideração e há uma linha que não podemos passar, como a que a minha turma do 8ºF passou ao colocar uma potente bomba de bicarbonato de sódio no caixote do lixo ao pé da secretária da professora que era asmática e sofria de ataques de pânico.

O maradona fez um post sem comentários e bastante amargurado, umas horas antes da derrota com o Benfica. Fez o post antes do jogo, o que revela o estado actual do adepto do Sporting, um adepto que encontra alegrias em vaticinar com antecedência os desastres futuros, para assim encaixar melhor as coisas. Um dia ou dois depois do Sporting Benfica foi a vez do Alfredo Barroso quase desfazer-se em lágrimas em reacção às reacções de um treinador adjunto do Sporting chamado Cabral que 'ficou feliz com o jogo' e achou que jogaram bem.

Dias antes, foi o Liedson saiu e vimos milhares de sportinguistas a chorar comovidos, uma imagem que, admito, me causou alguma consternação e pena.
imagem da autoria e roubada sem autorização ao binary solo mas que como foi uma foto da televisão não conta.


E hoje um golo daquela equipa de alegados ébrios escoceses que marcam um golo no último minuto, um golo que, a bem dizer, poderia ter sido marcado por 1 dos 4 ou 5 jogadores que apareceram isolados em situação de marcar o referido golo. Foi como se a defesa do sporting também se tivesse sintonizado com o adepto e com o sentimento geral e quisesse também ela concretizar o que devia ser concretizado.

E isto é triste. Eu acho que não devíamos gozar mais com eles e é com toda a sinceridade que digo que não me dá prazer nenhum ver 4 ou 5 alegados ébrios do Rangers a surgirem em posição de golo e a defesa do Sporting toda com o braço no ar, como se tivessem todos uma questão muito pertinente a colocar ao árbitro ou estivessem a dançar o Saturday Night Fever.

E amanhã lá vão estar eles, pelos escritórios, taxis, spas, conselhos de administração, cabisbaixos e silenciosos, os sportinguistas. Receberão umas palmadas no ombro e vão dizer que já sabiam, que não têm equipa etc. e que não são parvos e que nem viram o jogo. Mas à noite, na cama, quando apagarem a luz e a esposa lhes sussurrar 'querido, o que tens?' não saberão responder, apenas chorarão em silêncio, resignados. E isto não é coisa de se gozar com.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

estar vivo é fundamental para não estar morto

A concentração é fundamental para não haver distracções. " - Anderson Polga, n'O Jogo

alegadamente os menos bêbados

Todos temos embirrações de estimação com vícios jornalísticos. A mim, nem são os frequentes erros de português. São a falta de informação e espírito crítico na análise de estudos publicados ou descobertas científicas e o uso indiscriminado do "alegado".

Um exemplo de alegado perfeitamente cretino:
A mulher que foi vítima de um sequestro numa dependência bancária no Porto sofreu “uma perfuração na zona do abdómen” e “escoriações”, encontrando-se “estável e consciente” (...) a vítima, de 43 anos, “está em recuperação”, encontrando-se já "a receber visitas”. A mulher foi vítima de um alegado roubo, seguido de sequestro, na área de uma caixa Multibanco de uma dependência bancária na rua Damião de Góis, na quarta-feira, cerca das 22h00. Público

Suponho que haja uma cadeira de jornalismo em que os testes consistem em preencher espaços em branco antes de qualquer facto ou pessoa numa reportagem sobre crimes com a palavra "alegado".

E depois, os estudos. Acredito que os leitores deste blogue já exclamaram, uma vez ou outra na vida, que "todos os dias sai um estudo a dizer A e depois outro a dizer B" etc. De facto, quem se ficar pelas notícias nos jornais pode chegar à conclusão que os estudos só servem para entreter. Por exemplo, veja-se este belíssimo título da referência que é o Jornal i:
Portugueses são dos menos bêbados do mundo
Não só o uso da linguagem é discutivel para um jornal que supostamente tenta estar no campeonato do Público ou DN, como o teor da notícia é suspeito.

Portugueses, espanhóis, gregos e italianos partilham uma característica: são dos povos mais sóbrios do mundo. Um estudo divulgado pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos mostra que México, Rússia, Ucrânia e África do Sul são recordistas em consumo de álcool e que alguns países europeus, a Austrália e a América do Norte são as zonas do mundo em que menos se consome bebidas alcoólicas.

O último estudo da OMS, uma instituição um pouco mais credível que o misterioso "Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos" que pelos vistos estuda o mundo inteiro, volta a colocar Portugal no 14º posto mundial de consumo de álcool, um valor que seria o 8º se não fosse a utilização de estimativas para consumos não declarados (mais elevados em países de leste por exemplo).

Felizmente, ambas entidades usaram o mesmo software para fazer o mapa:

O mapa do estudo do Centers for Disease Control and Prevention

O mapa da OMS (olha nós ali a roxo escurinho eh eh)

A questão aqui não é não noticiar o estudo do Centers for Disease Control and Prevention, mas sim que o jornalista, (neste caso, Sílvia Caneco) não desconfie ou não ache contraditório que de repente venha a lume um estudo com uma nova ordem mundial no que respeita a consumo de álcool e, no caso de Portugal, diga exactamente o oposto que décadas de informação das mais variadas fontes, destronando-nos de um pódio que por acaso eu até gosto.

Parte disto poderia ser contornado se tivessemos no corpo da reportagem um prático link para o estudo original e pudessemos fazer o resto do trabalho que o jornalista não fez. Não consigo encontrar o estudo da Centers for Disease Control and Prevention e acho estranho que não consiga e a Sílvia Caneco consiga, uma vez que o site da Centers for Disease Control and Prevention é bastante fácil de utilizar. Só vejo estudos relativos aos EUA. O da OMS consigo, é muito giro. Gostava de comparar as metodologias um do outro e perceber a origem do desvio. Manias, mas ninguém me ganha ao Buzz por algum motivo. O que me parece é que o da OMS é calculado pelos volumes de álcool vendido e consumido, daí que só em 2011 tenhamos os dados de 2005. O outro parece referir-se a drinking patterns, ou frequência de consumo digamos assim, uma informação que terá sido obtida por amostragem e inquérito. O meu conselho continua a ser o mesmo: não levem a sério qualquer alegada informação nos alegados jornais sobre estas alegadas conclusões....

writer fashion

Como se sabe, os escritores antes de começarem a escrever, preocupam-se muito com a sua aparência e estilo. Como estou com algum bloqueio e desmotivação, tenho estado a tentar decidir a minha aparência e estilo e estou indeciso entre estes vários modelos. Acredito que depois de escolher um poderei adaptar o meu estilo de escrita ao estilo de roupa que escolher. O contrário é complicado.

Estilo 1: vagabundo que nos vai chatear e cravar cigarros se olharmos para ele

Gorro de pescador em lã, casaco de tweed da zara, relógio timex, calças dos ciganos e relógio timex.
Modelo: Charles Bukowski

Estilo2: hipster
Barba hipster, casaco comprido da Gentle Fawn, camisa Obey, calças WESC
Modelo: Fiedor Dosotiévski


Estilo 3: padrinho de casamento na Quinta da Meta dos Leitões
Fato: Geovani Galli, gravata Zara
Modelo: José Rodrigues dos Santos

 Estilo 4: formal de casamento
Camisa branca da Victor Emanuel
Modelo: António Lobo Antunes

Estilo 5: Rapper meets House meets... não sei...
Cabelo Lúcia Piloto, casaco de pele da Berschka, calças Maximo Dutti, varão de cortinado serrado ao meio
Modelo: Oscar Wilde


Estilo 6: gothic emo
Casaco da darkside clothing, lenço da smart punk
Modelo: Edgar Alan Poe

Estilo 7: groupie dos moonspell

Tatuagem cat type spelling e outras decalcadas de capas dos Iron Maiden
Roupa preta lavada com gel roupa preta blancotex (continente online por 5,01€ a embalagem com 33 unidoses)
Modelo José Luís Peixoto

agora já percebi como se faz isto

John O'Brien-Docker - Say You'll Be Mine

mais uns pais

Aconteceu finalmente. Os últimos resistentes estão a cair. Até os amigos de quem nunca esperei esta decisão, têm filhos, sem sequer me consultar. E sem ser por acidente, com a empregada brasileira ou a secretária. Não me interpretem mal, acho excelente ter crianças, mas é preciso admitir que a individualidade dos pais desaparece em boa parte, se pretendem ser bons pais, evidentemente.

No campo, é sabedoria comum que as cadelas ficam melhores para a caça depois de terem uma ninhada e com as mulheres é igual. O 'melhor para a caça' resume-se a maturidade e foco. O instinto maternal leva-as a focarem-se mais nas coisas práticas e concretas, seja um coelho a fugir, seja uma promoção o trabalho. E começam a dizer coisas como "para mim o Paulo Pedroso devia ser executado" (ouvido de uma mãe recente). Percebemos que está ali um animal com um instinto primário quando sente uma ameaça à prole. Li num livro que só usamos parte da capacidade muscular por questões ligadas a sinapses e impulsos e que em situações de stress os nossos músculos até podem levantar um automóvel ou partir ossos e é isso que vejo numa mãe a dirigir-se à última caixa de Nestum no Pingo Doce que eu por acaso até estava quase a meter no carrinho, só por curiosidade e devolvo à prateleira rapidamente.

Depois, nos gajos o que sucede é que ficam cansados e sem tempo. A energia vital esgota-se, ficam uma sombra do que foram, uns zombies a conduzir carrinhas meganes com cadeirinha de bebé e tarados por rabos de miúdas de 20 e poucos que passam na rua. É um desastre. Elas e eles crescem décadas de repente, no dia em que são pais e ficam parecidos com os meus pais em vez de serem parecidos com os meus amigos. Mas eu acho bem, acho tudo muito bem.

Eu gostava de ter filhos também, para fazer experiências pedagógicas. Deve ser interessante ter alguém impressionável e moldável ao nosso dispor. É um bocado como no jogo que estou a jogar agora, o Mass Effect 2, temos uma squad de guerreiros de elite e podemos especializá-los em certas áreas, um pode ser sniper, o outro dominar energia telepática, o outro ser especialista em armas pesadas etc. e nós damos ordens. Se eu tivesse filhos era para fazer uma squad do género. Um seria o cientista maluco, o outro o artista e depois treinava um para ser jogador de futebol e garantir-me uma reforma confortável.

O difícil é o que fazer de uma rapariga, as raparigas não servem para nada, só dão stress e quando chegam aos 19 ou 20 já querem sair à noite e falar com rapazes. Só se fosse geek e feia. Aí gostava dela porque os rapazes não gostam de raparigas feias. E eu dizia-lhe "tu és feia, não percebes? só o pai é que gosta de ti" e depois aos 30 lá arranjava um senhor rico de 40 ou 50 que me garantia a reforma. Não sei, não percebo muito de paternidade.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

um craque


O Salvio é um craque daqueles que se percebe logo que é craque na primeira exibição. Quanto ao jogo, foi simpático, prejudicado pelo árbitro que começou mostrar cartões amarelos a tudo o que se mexia e redundou na desnecessária expulsão do Sidnei (deve ter caído em si depois). Mesmo a jogar com 10 e com uma perna atrás das costas, ao pé coxinho portanto, o Benfica controlou (sem dominar), ao contrário do FCP que foi controlado e dominado (e outras coisas acabadas em 'ado'). Prioridades do Mister Jesus, que sabe que 5ª feira há jogo com o stutegarda. O Sporting mostrou atitude, mas tem um plantel fraco e assim é complicado de maneiras que.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

o blogger da maratona

Com a excepção de alguns, são muito poucos os que compreendem os meus ímpetos desportistas suicidas que interrompem longas fases do mais abjecto sedentarismo. É evidente que sabia que fazer uma maratona de 40km em lama quando estou fora do btt há um ano, me deixar marcas psicológicas e físicas graves. Quanto às psicológicas, quando estamos a fazer um circuito de 40km por terreno acidentado e lamacento e somos ultrapassados pelos atletas dos 80km que partiram ao mesmo tempo que nós e já deram uma volta, sentimo-nos desanimados e tristes. Até ali vivíamos a fantasia do "até estou a fazer uma boa prova, tendo em conta". Depois, as feridas físicas. Basicamente, não me consigo mexer. O meu corpo está em estado de choque e revoltado comigo, habituado a maratonas de ps3 e escrita e hoje fez greve. Durante toda a prova sentia-o confuso e em intensa discussão.
- Mas que raio de merda é que se está a passar, estou aqui a bater forte e feio há 3 horas e meia, só nestas horas já bati mais que numa semana!? Ó pulmões vocês sabem o que se passa?
- Não coração, também estamos em ritmo acelerado e só sei que não veio fumo de tabaco ainda para aqui desde manhã. Já perguntaste à pilinha e aos tomatinhos se é sexo?
- Já mas só ouvi um 'mfff mfmmfmmff' abafado. Além disso, 3 horas e meia de sexo? Deves estar a gozar. Não será um jogo novo de ps3? O gajo às vezes entusiasma-se, lembras-te de quando saiu o BFBC2?
- Ele não comprou o Critical Mass 2 este fim semana?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

vintage geek erotica

geek radical

Amanhã vou fazer os 40km BTT da IV Maratona BTT Cidade do Cartaxo. É fácil reconhecer-me, sou o único que vai com o Gps mapcx60 e uma GoProHD no guiador, um blackberry, um relógio digital de treino, bebidas isotónicas, gel energético e uma bússola magnética porque o GPS pode ir abaixo (os satélites podem ser todos arrasados esta semana por causa das tempestades magnéticas dos ventos solares e nunca fiando*...) O meu lema é simples nisto dos desportos radicais: se não se pode registar electronicamente com todos os detalhes e filmar em hd a 60fps, não é divertido.

O sexo... o sexo podia ser bem mais divertido se me deixassem aplicar este princípio. Nem é tanto por querer filmar em hd a 60fps, mas stressam muito com os eléctrodos do EEG e as ventosas do aparelho de monitorização cardio-respiratória. Go figure.

*sou a única pessoa que vê o boletim solar da Nasa para ver como está o estado do Sol ao nível das tempestades magnéticas antes de sair de casa? :|

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

'Relaxem, inspirem, sintam a energia do sol nas patas, são um com a natureza...'

Prairie Dog Rapture (1994), Anthony Falbo

O Estugarda de Jorge Jesus


«Nós vamos pensar eleminatória a eleminatória, canhou-nhes, calhou-nos o stutegarda, não podemos fazer agora uma conjuntura muito forte, um conhecimento muito forte da equipa do stutegarda porque o campeonato na alemanha vai parar e normalmente a..»

um passarinho diferente

Hoje acordei com um chilrear de pássaro divinal, um assobio musical e elegante. As notas eram delicadas e imprevisíveis, absolutamente melódicas. Enquanto acordava, tentava imaginar que espécie de pássaro seria aquele. Um rouxinol? Não percebo muito de pássaros mas às vezes pousam na árvore em frente à janela ou mesmo no parapeito. Ia adormecer mas o passarinho recomeçou a assobiar com mais força e mesmo ao pé da janela. Levantei-me em boxers, abri as persianas lentamente e dei de caras com um pretinho das obras, a instalar uma cobertura no andaime, com o seu barrete enfiado até às orelhas. Viu-me, acenou adeus e continuou a assobiar. Fechei a persiana. Deve ter sido o mesmo que no dia anterior me tinha acordado a cantar o jingle do Pingo Doce. Mas só a parte do Pin-go Do-ce Ve-nha Cá, repetida a intervalos irregulares. As obras ainda vão demorar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

não foi um exemplo muito feliz...

Jornalista: Estudaste o quê?
Jovem desempregado: Cinema, na Universidade da Beira Interior.


Reportagem na SIC, no Portugal 2011, agora mesmo, sobre o desemprego e condições precárias dos jovens.

inquieto

Este texto foi escrito ao abrigo do memphis soul, uma música do misterioso Anders Lewen da banda sonora do BFBC 2 Vietnam

Gosto de andar de metro. Gosto de ver as caras das pessoas. No carro não se vê a cara das pessoas e depois julgamos que as pessoas são piores do que são e apitamos e elas também julgam que somos piores do que somos e apitam. E às vezes fazem gestos feios com a mão. E às vezes param os carros e começam à bulha, mesmo depois de verem a cara uns dos outros. No metro há muitos pretos e paquistaneses e parece que estamos numa cidade a sério como Londres e Nova Iorque. Há raparigas giras com livros e iPods nas orelhas e eu tento colocar-me no campo de visão delas e sacar das capas giras do Bukowski. Gosto da voz da senhora do metro, é sexy e imagino-a sempre a dizer coisas eróticas com aquela entoação, marquês de pombal… há correspondência com a linha mete-mo todo lá dentro ou próxima estação… dá-me com força. O marido dela deve divertir-se imenso. Há publicidade divertida e colorida por todo lado que nos faz sentir que tudo está bem. Gosto de escadas rolantes, quando as senhoras de idade ficam em pânico no fim, a olhar para os pés e para as escadas, para certar o timing. Às vezes as crianças sobem as escadas que descem e ficam no mesmo sítio ou descem as escadas que sobem e também ficam no mesmo sítio e os pais ralham. E adoro os tapetes rolantes, nos tapentes rolantes como o do Marquês ou de Sete Rios ou do Cais do Sodré, se andarmos a pé e depressa parece que vamos a voar mas sem grande esforço. E se vierem pessoas no sentido contrário vemos muitas caras a passar, cansadas, distraídas, sonhadoras, concentradas, preocupadas. O metro desaparece no túnel escuro e quando vem parece um dragão de olhos a brilhar. No centro comercial de Alvalade, hoje decrépito e quase vazio, e que ainda tem o helicóptero de moedinhas em que eu andava quando era miúdo, havia uma passagem para a linha verde que já não existe. Imagino os corredores e o cais abandonado e fechado, com velha publicidade dos anos 80, em cartazes cheios de rostos sorridentes e bolorentos, a anunciarem produtos que já não existem e modelos que já não são bonitos e jovens e se calhar já morreram. E à noite, no cais abandonado, nos bancos, talvez haja esqueletinhos a aguardar o metro fantasma enquanto à superfície, na cidade fustigada pelo alerta vermelho, alguém está inquieto.

história de arte

joguei a todos estes desde 1989, com um intervalo entre 2000 e 2004.
Recordo com particular saudade o Wolfenstein 3D, o Doom, o Nukem e muito especialmente o Quake e o Half Life 2.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Hill 137 blues

O Battlefield 2 para a PS3 disponibilizou um pacote Vietname, com uma banda sonora de luxo. O jogo está cheio de piscares de olhos a referências cinematográficas, do Good Morning Vietnam ao Full Metal Jacket e, claro, a música do Apocalypse Now*, a das Valquírias, Ritt der Walküren, de Wagner. É linda de se ouvir nos helicópteros enquanto lançamos uma torrente de rockets num acampamento vietcong**.

Nos loading times do mapa Hill 137 que recriam o divertido Vietname, toca sempre esta música:



E por toda a Internet se multiplicam os pedidos: como se chama aquela música, a do Hill 137?

Pelos vistos é de um tal misterioso Anders Lewens e chama-se Muscle Soul. Uma pesquisa pelo misterioso Anders Lewens revela-se infrutífera. Vem no All Music Guide como músico jazz mas não há qualquer referência biográfica.

Mas a música! Meu Deus! Muscle Soul! É básica mas faz-me cócegas na alma.


* O Apocalypse Now é, para todos os efeitos, o meu filme preferido.
** para os pacifistas anti-americanos por aí, saibam que durante o jogo troca-se obrigatoriamente de exército. Não sei se compreendem o que significa os americanos fazerem um jogo que coloca milhões de americanos (e não só) no exército vietcong a dispararem contra representações simbólicas americanas manipuladas por outros jogadores de todas as nacionalidades do mundo (já tinha acontecido o mesmo nos jogos da 2ª guerra em que podemos usar uniformes nazis). A paz mundial joga-se no éter. Muscle Soul para todos.

I’m immune to things In my dreams



The Fall - Living to late


Crow’s feet are ingrained on my face
And I’m living too late
Try to wash the black off my face, but it’s ingrained
And I’m living too late

Sleepless, in-control spleen
Agreed ace family
Must have stump tripod in the genes
I’m immune to things
In my dreams

I saw through the trees
O’er the poison river locks
Talk treacherous would beat
But still my heart it is rock

Finally going through old parasite gate
But there’s a 24-hour clock watch
And I’m living too late
Think

Sometimes life is like a new bar
Plastic seats, beer below par
Food with no taste, music grates
I’m living too late

Once talking was my favourite while
But now I know a conversation’s end
Before it’s done
Maybe I’m living too long

The daylight

I see trouble on the streets
Fearing catastrophe to meet
Walk down the devil’s boulevard
But still my heart is hard

They say them cellars [were’t even/were evil] black
But I know they’re wrong
Think it’s one
Been
Living too long

[extra verses on living too long:

Eyes like two tv screens
Continual open
Feel no pain
I live again

I’m super sad sweet sad
Line is cracked
[]
Vision gone
I’m living too long]

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A minha casa terrível


Em tempos vivi numa casa na zona de Sta. Apolónia, construída em 1930 e que tinha algumas particularidades. Tinha uma singularidade no espaço tempo, do género das previstas pelo Stephen Hakwing: tempo passava num ritmo mais rápido que o mundo lá fora. Isso explicava porque num ano as paredes envelheciam uma década e porque os alimentos, mesmo alimentos dentro de caixas, se estragavam e apodreciam em poucas horas, o prazo de validade era rapidamente ultrapassado ali.
A casa era assombrada por uma espécie de poltergeist biológico.

Uma vez chamei um canalizador para resolver o mistério dos canos do lava-loiças que entupiam sempre apesar de só deitar água lá para dentro e o canalizador, um senhor experiente, mal entrou na casa, sentiu as más vibrações, o mau karma e pareceu apreensivo, olhava em volta e transpirava. Ao testar as suas ferramentas no cano e ao ouvir os borbulhares da água negra parada, cheia de soda caústica, ficou branco e disse que caso eu voltasse a ter problemas para eu chamar outro canalizador e ponderar mudar de casa, a especialidade dele não era aquilo e saiu de casa a correr, sem sequer me cobrar nada.

Por vezes, de noite, ouvia ruídos de qualquer coisa a mexer-se nos canos. Talvez fossem ratazanas a tomar banho. Ou um pequeno aligator. Por falar em reptéis, tinha osgas dentro de casa, frequentemente. Era um trade-off porque me comiam as aranhas, as baratas e outros insectos, como uma praga de borboletas estilo traças que faziam os casulos no tecto. Uma vez cheguei a casa com uma miúda, vindo do lux, estamos na marmelada e eu chego ao quarto e vejo a puta de uma osga enorme na parede. Aquilo ia estragar o mood todo. Então disse-lhe para aguardar na sala enquanto eu arrumava ‘um bocadinho o quarto’ e voltei a entrar com um aspirador Hoover de 900w, com a maior das naturalidades. Aspirei a osga e senti-lhe o corpo a passar no tubo do aspirador tlunk tlunck tlunck. Deixei o aspirador na dispensa, com a osga viva lá dentro, durante meses e passei a varrer a sala.

Uma vez o tecto falso da cozinha caiu todo sem sequer explicar porquê. O empreiteiro benzia-se de cada vez que lá entrava. Noutra ocasião, estava a dormir sossegadinho e começou a cair água em barda no meu quarto, junto ao candeeiro de tecto, o que provocou um curioso curtocircuito às 2 da manhã com um estrondo monumental e chispas incandescentes no escuro. Se a isto juntarmos a sensação de água a cair-me em cima e a impossibilidade de acender uma luz, podem imaginar que não foi o melhor acordar que já tive na vida. Um dos hóspedes da pensão de cima tinha deixado a água a correr na banheira e fugiu sem pagar.

Quando passava um autocarro na rua ou alguém fazia amor na pensão por cima de mim, prédio tremia todo, as paredes vibravam, os móveis abanavam. Passava um autocarro de 10 em 10 minutos. A ocorrência de intercurso sexual era felizmente mais rara, a pensão não era propícia a grandes romantismos e infelizmente não admitia prostitutas, o que pelo menos animaria a vizinhança.

Quando descia as escadas tinha sempre uma variedade de sem abrigos que tinham achado por bem dormitar no vão, acessível devido ao facto de no 2º andar ser uma pensão e a porta estar aberta 24h por dia. Era chato porque não havia espaço para passar e era frequente ter de os acordar e pedir-lhes licença para passar e eles não gostam porque andaram a noite toda na rambóia que é beber tetrapaks de uva do monte e falarem sozinhos aos gritos no meio da estrada, forçando os autocarros a apitarem vigorosamente, antes de me abanarem o prédio.

Dia dos Namorados

Calha bem ser numa 2ª, é um dia em que nunca ponho os pés em restaurantes porque muitos estão fechados. Em anos anteriores já me aconteceu ir jantar sozinho, com um livrinho do tio Dostoiévski, no Dia dos Namorados e só me aperceber que é dia dos namorados meia hora mais tarde, pela profusão de casais jovens. Normalmente janto cedo e os namorados jantam tarde porque as namoradas demoram tempo a arranjar-se. E trocam prendas fofinhas. O problema é que não importa o restaurante onde se vá, é sempre a mesma coisa em todo lado. Vamos ao Gambrinus e estão lá a Pituxa e o Tomé, a trocarem vouchers de férias em Chamonix. Vamos à tasca do Tolan em alfama, e estão lá o Fanecas e a Soraia, a fazerem contas à vida para ver como vão sustentar o filho e o alcoolismo dos pais. Vamos ao McDonalds e o Joãozinho está a partilhar um happy meal com a Teresinha sob o olhar embevecido dos respectivos pais, divorciados ou a caminho disso.

Já me passou aquele ressabiamento que veio da adolescência, quando fazia uma espécie de maratona de procura de namorada nas semanas antes do dia de S.Valentim (eu levava o desafio a sério), delineava um plano, com prioridades e metodologias: urso de peluche para a Carina, poemas para Inês, ganhar campeonato escolar de basketball 3x3 da Coca-Cola Converse para impressionar Patrícia etc. Inevitavelmente redundavam em fracassos catastróficos e concentrados em muito pouco espaço de tempo. As raparigas têm tendência a contar tudo umas às outras. E se tu não és bom que chegue para a Carina, não são a Inês ou a Patrícia que vão ficar contigo. É assim que funciona. Tudo o que é preciso é a aquela 1ª, depois é sempre a rolar, até se pode ter as 3 ao mesmo tempo ou em ciclos curtos, uma semana uma, outra semana outra, outra semana outra etc.

A noite mais ridícula do dia dos namorados foi uma em que fui jantar com o meu melhor amigo (nem eu nem ele nos apercebemos que era dia dos namorados) e fomos a um restaurante pimpineli e o empregado, um brasileiro abichanado, acendeu-nos a puta da velinha na mesa e piscou-nos o olho.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

e o Sporting...

... parecia mesmo que ia ganhar. Parecia mesmo. Foi por pouco desta vez... Que azar. Dois zero e depois eles, o Olhanense não era?, marcam 2 golos assim. E o Postiga até marcou dois golos e tudo.
 Abraço amigo e força.

Queijo da Aldeia

Quando eu, jovem provinciano a viver em Lisba há 3 anos, comecei a trabalhar no meu primeiro emprego, ainda no 4º ano de universidade, num instituto pipi, a minha chefe, com péssima pronúncia a inglês, explicou-me que sexta feira era o casual day.

Percebi 'queijo da aldeia' e não casual day, ela tinha uma pronúncia miserável e eu, néscio, não fazia a menor ideia que no mundo dos adultos houvesse uma coisa tão absurda como um casual day.
A minha timidez e insegurança típica de novato, impedia-me de perguntar que dia era aquele do queijo da aldeia. Pensei naturalmente que se tratasse do queijo de um restaurante típico das redondezas, um queijinho saloio bom, e fosse ritual do depertamento fazer o frete de ir lá com a chefe e satisfazer-lhe a obsessão por queijo da aldeia. Ou então uma das administrativas trazia um queijinho da aldeia e tínhamos de trazer pão e talvez vinho e se calhar lanchávamos na deprimente sala de convívio.Ou então, pior, o novato tinha de trazer um queijo.

Tendo em conta a minha ambição profissional (que se esgotou ao fim de 2 ou 3 meses e para sempre), levei aquilo a sério. Na sexta feira todos a apareceram com roupa causal. E eu apareci de fato. E com um queijinho dentro da pasta que ali ficou até ao fim do dia, triste. Comi-o sossegado em casa.

Outra confusão fonética que tive, não sei se já a disse neste blogue, era acreditar piamente que o hino português dizia:

Nação valente e mortal em vez de Nação valente, imortal*
A minha versão do hino fazia-me imaginar os portugueses dos tempos antigos como uma espécie de ninjas fodidos, com quem os espanhóis e os mouros não faziam farinha. Mas pronto, é imortal. Bah.


*e não 'nação valente e imortal' como cantam as pessoas que não sabem

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

sonhei que o Sporting acabava

O Sporting fragmentava-se e os jogadores saíam todos do clube para clubes da 2ª divisão que depois desciam para a 3ª na época seguinte. Havia uma maldição sobre aqueles jogadores e sobre os membros da direcção também, voltavam todos para o BES e o BES falia em pouco tempo. Depois parte dos adeptos passava para o FCP e outra parte passava a ter apenas o único clube que lhes restava, o anti-Benfica. Até criavam camisolas e cartões de sócio e o único propósito era ver os jogos do Benfica, pagando e tudo, para assobiar. Abriam-se casas do anti-Benfica por todo o país e era um fenómeno de sucesso e com o dinheiro compravam jogadores bons do plantel do Benfica só para eles não poderem jogar no Benfica, oferecendo-lhes mais do que o Real ou Chelsea e obrigando-os a ficar simplesmente em casa ou em férias permanentes até encontrarem um clube. Acordei triste e com pena, mas não diria que foi um pesadelo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

gajas do cinema que me dão tesão é com o David Lynch





está com cortes de censura, não dá para ver maminhas :(

fim de uma relação

A propósito das fase de luto (de morte ou de fim de relação) que a ursa mor dos blogues postou, baseada nas melhores e mais bem intencionadas teorias da psicologia e que são, por ordem, choque, negação, depressão, culpa, ansiedade, agressividade e reintegração/aceitação, tenho a dizer que comigo as fases misturam-se bastante. A reintegração por vezes é a primeira, aceito sempre tudo formidavelmente bem e o choque é a última. Lembro-me que uma vez estava a conduzir e de repente apercebi-me do fim da relação com a S. e ia-me estampando num poste com o choque. E tinha acabado de namorar com ela há quase oito anos e tivera várias relações pelo meio e o Benfica até tinha ganho ao Sporting no dia anterior. Liguei-lhe ela nem se lembrava de mim, entretanto casara e tinha já um bebé e depois convidou-me a ir lá jantar e conhecer o marido. Obviamente que não fui. A culpa? Nasci com ela e nem sou católico. Tenho mais sentimentos de culpa que mil Judas a sair do Casino Estoril depois de perderem o dinheirinho todo da reforma da avó. Eu tenho tanta culpa que quando ponho os pés num tribunal, a minha tentação é de irromper pelas salas onde decorrem julgamentos e gritar 'fui eu! esse homem/mulher está inocente! fui eu!' Ansiedade? Depressão? Quando tinha oito anos, lembro-me de ter dito ao meu cão que tinha lido duas frases boas (eu, não o cão): 'quando contemplamos ao abismo em ele também nos contempla' e 'sentimos a dor mas não a sua ausência'. E notem que o meu cão era um afável Labrador, nem sequer se tratava de um Cocker Spaniel bem mais sintonizado com estes estados de espírito. ALiás, o cão foi manifestando progressivos sintomas de depressão, deixou de comer e andava cabisbaixo, só por lhe ter lido o Todas As Dores do Mundo do Schopenauer. Não sou agressivo contudo, ou melhor sou agressivo permanentemente. Não gosto da humanidade. Não gosto de pessoas. Não gosto de mim (sou uma pessoa, é lógico). Às vezes gosto de outra pessoa, por exemplo, uma mulher. E a mulher deixa de ser uma pessoa. Se passa para a categoria de pessoa, inclui-se no mesmo plano indistinto que o meu, somos meros organismos a caminho da morte que tudo relativiza. Isto por sua vez gera sentimentos de culpa evidentes e choques inesperados. A morte de uma pessoa próxima devia ter-me convencido de que nada do que é irreversível é importante mas não estou plenamente convencido que uma pessoa morta desaparece para sempre ou que uma relação acaba para sempre, o que significa que tudo acontece ao mesmo tempo, como uma enorme onda que se transforma em caos e ruído branco e os choques irracionais irrompem como relâmpagos enfurecidos em noites negras de tempestade.

Mas de resto, sou uma pessoa divertida, gosto de uma boa risota, boa comidinha, jantares românticos e de longos passeios pela praia :)

Bleurk Swan

Em primeiro lugar, gosto muito de um filme do realizador, o Darren Aronofsky: o Wrestler.

Em segundo lugar, o filme não é mau. Dar-lhe ia 3 estrelas e não 1 ou 2. Mas não 4 e muito menos 5. De vez em quando isto acontece, o mundo à minha volta embarcar num histerismo a propósito de um filme mau, como sucedeu com o fraco Gran Torino ou o Flag of Our Fathers do Clint Eastwood etc.

Mas os do Clint Eastwood são honestinhos. Este Black Swan não. Resume o que pode correr mal quando o cinema mainstream americano faz uma incursão por territórios que lhe são alheios, a puxar para o europeu a armar ao intelectual.

Enquanto que no No Country For Old Men, dos Cohen, ou na filmografia do Tarantino ou do Lynch, temos o absoluto melhor que o cinema americano tem para dar, quando o mesmo cinema americano se tenta travestir de sofisticado europeu, é costume dar merda, uma mistura de pretensiosismo, insensibilidade e de, bem, desculpem, pacóvio. Não chega a ser tão mau como aquele tortuoso remake do Asas do Desejo do Wim Wenders, aquele com a Meg Ryan e o Nicholas Cage e que faz qualquer pessoa querer suicidar-se, mas tem problemas.

O Black Swan tem excelentes momentos, sempre os mais contidos e sóbrios, uma boa produção e fotografia. Mas ao serviço de algo pretensioso e falso. E isso é, para mim, imperdoável numa obra de arte. Revela-se em coisas tão simples como a personagem idiótica do encenador ballet, com o seu sotaque francês, o requinte, o seu apetite sexual, as suas duras instruções para corrigir a pura Natalie Portman, no fundo, aquele encenador representa o cliché que o americano médio tem do que é um encenador de ballet francês, uma fantasia requintada.

O principal defeito do argumento do Black Swan é o buraco negro que se abre sempre que se introduz o cliché do “o que estamos a ver pode não ser verdade, pode ser alucinação da personagem”, o truque Sexto Sentido.
Este tipo de filmes envelhece pessimamente. É a diferença entre o Fight Club e o The Game, ambos do Fincher. Enquanto que o primeiro causou certamente um impacto maior, é inquestionável que o The Game é uma obra prima perdurável e o Fight Club um produto de época que se gastou. Quando um argumentista abre esta caixa de pandora de misturar sonho com realidade, está, de certa forma, a fazer batota, a criar efeitos surpresa sem esforço nenhum. E convenhamos, foi chão que deu uvas nas últimas duas décadas. Acho que chega. Já se percebeu. Aliás, o espectador hoje está tão treinado para isto (ou devia) que só mesmo alguém muito néscio não fica enervado quando o realizador insiste num truque que o espectador já percebeu como se faz.
Estes filmes tendem a ser sobreavaliados no seu tempo, porque transgridem o que esperamos de um filme de hollywood, à custa de excessos e de negrume. A cena de sexo lésbico deste filme tem a sensualidade das fotos da Maya para a playboy portuguesa. Comparemos como David Lynch filma a cena no Mulholand Drive. Os efeitos 3D escusados e metidos a martelo revelam bem a mentalidade bruta por detrás dele, são como sorrisos de Cavaco Silva ao pé de criancinhas, uma coisa forçada.

A milhões de quilómetros da sensibilidade do Repulsa de 1965 realizado por Roman Polanski e com uma mulher a sério, a Catherine Deneuve.

A Natalie Portman, a mulher mais bonita de hollywood, tem exactamente os defeitos da sua personagem, a bailarina boazinha, apesar de ser considerável a sua transformação no filme. Não é má actriz, pelo contrário. Mas não tem sensualidade. Já no Closer o tínhamos visto, na sua pose ridícula de striper e dominadora e num dos piores filmes alguma vez realizados. Não funciona. Há mulheres que têm sensualidade inata (Sharon Stone no Basic Instinct, Naomi Wats no Mulholand Drive) e outras que não (Natalie Portman, Julia Roberts, Gwyneth Parltrow) não que estas últimas sejam más actrizes e não sejam mulheres lindíssimas. Simplesmente, não conseguem ter aquele toque de puta que se exige numa actriz ou numa mulher em geral.

Um bonito videoclip com imagens do Repulsa.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

fazer render a loucura

É tudo muito simples, na realidade. Há dois tipos de artistas, os maus e os loucos. Se é verdade que nem todos os loucos são bons artistas, é no entanto um dado adquirido que é impossível ser-se genial sendo mentalmente lúcido.

Se têm a ambição de não serem maus artistas, devem conseguir aperfeiçar a loucura até ao ponto certo, mesmo ali rés vés Campo de Ourique antes de não poder usufruir dos benefícios de ser um grande artista derivado ao facto de, por exemplo, morrer.

Duas boas dicas

1- Isolem-se o mais possível. Não há melhor alimento para todo o tipo de psicopatias. Os outros tendem a normalizar-nos e a relativizar tudo. E isso é mau. Façam uma lista do que não gostam em cada pessoa que vos conhece ou possíveis ameaças e memorizem-na. Estaline e Hitler faziam-o e ficaram na história. O senhor Horácio Mendes e a Dona Josefina Matias não (e ninguém sabem quem são). Se isto for difícil, leiam todos os comentários de todas as notícias dos jornais online e convençam-se de que as pessoas são assim e que o mundo é assim.

2- Evitem ter animais de estimação, especialmente cães. Um cão absorve mau karma como uma esponja e devolve amor puro e nós não queremos isso. O Van Gogh cortaria uma orelha se, ao chegar a casa nesse dia, o simpático Cachorragio lhe lambesse a cara? O Fernando Pessoa acreditaria mesmo ter personalidades múltiplas se o seu Cãomões o identificasse sempre como o dono?

Há mais dicas, muitas mais, aceitam-se sugestões.

«Correio da Manhã: Primeiro casamento gay na GNR -Capitã Patrícia Almeida, comandante do Destacamento de Santarém, dá o nó com a cabo Teresa»

Imagem mental :)

Realidade :(

O pior é que sabemos que uma lesbiana, se puder vestir uma farda gnr com gravata como aquela, veste. Acham aquilo sexy. Só não veste um anorak, uma camisa de flanela e calças largas se não puder. E tudo em tons terra.

Penso que é perigoso a GNR admitir lesbianas porque elas podem usar armas e são extremamente violentas e duras, mais que os homens, basta ver a moça da foto, o seu ar de "saiam-me da frente, está a começar o halterofilismo feminino na eurosport, olhem que eu desato a disparar". E a violência policial é uma coisa que preocupa a amnistia internacional e a nacional também.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

a Fox está a passar um filme do Kevin Costner

Pelos vistos a Wikileaks está a divulgar as cassetes usadas em Guantanamo.

loucura

Ontem vi um excelente documentário sobre o LSD e as drogas psicadélicas. As drogas psicadélicas foram um produto da ciência e eram usadas em investigação, foram proibidas durante 50 anos e agora voltam a ser consideradas importantes para investigação nas áreas das psicoses e esquizofrenias. Um efeito curioso que têm é o de desligar as capacidades associativas do cérebro.

Uma pessoa sob efeito de drogas psicadélicas, ou um esquizofrénico, tem menos capacidades associativas e, como tal tem uma sensação de novidade permanentemente, aquela que nós, no nosso estado lúcido, reservamos apenas para coisas verdadeiramente novas. Isto está sem dúvida associado ao agradável efeito das drogas psicadélicas.

Um teste de esquizofrenia é o teste da máscara côncava. Uma máscara pode estar virada para nós ou virada "de costas". Somos normalmente incapazes de distinguir uma imagem da outra devido à ilusão de óptica e ao facto de já estarmos à espera que máscara esteja virada para nós, uma vez que representa uma cara e as caras não são côncavas.

Um esquizofrénico, no entanto, não terá esta associação e não é enganado pela ilusão de óptica. Ele vê o que lá está: uma máscara côncava. As pessoas saudáveis, apesar de saberem que a máscara é côncava, são incapazes de ver a concavidade. Há um momento deste vídeo em que a concavidade parece mesmo ter volume e nos engana, parece mesmo inverter o sentido de rotação. Se pelo contrário vêm-na sempre côncava, bem, é melhor consultarem ajuda profissional. Pensem bem antes de ver o video.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

terapia

flores

Ontem vi um documentário sobre a pintora Lourdes Castro, uma madeiriense nascida em 1930 que dividiu a vida entre Paris mas que se instalou definitivamente nesta ilha em 1983.
Teve notórias influências orientais que se reflectem não apenas na obra mas também na forma de vida.
Lourdes compara a terra a uma tela pintada pela natureza e todos os seus gestos, desde descascar uma maçã até estender a roupa ao sol são um deslumbramento constante, um ritual sagrado, como se vê na sua obsessão pela própria sombra e nas brincadeiras que ela permite. Isto é muito diferente do caso do José Saramago que, apesar de viver em Lanzarote, dificilmente teria inspiração nas sombras da Pilar a estender-lhe as ceroulas ao sol. A sua inspiração era o mundo, a política, a fé, a história, a literatura, a ilha era apenas o contexto de vida e um isolamento pacífico.

O Zen está intimamente ligado à filosofia de absorver o mundo real sem o processar pela razão. O processo de criação de Lourdes Castro é semelhante a uma brincadeira infantil, movido a curiosidade e experimentação. Sorri o tempo todo, como uma louca ou uma sábia, ambos. Cita um haiku que eu cito de memória “caminhamos no tecto do inferno, contemplemos as flores”.

O meu haiku seria algo do género "estamos no inferno, imaginemos as flores". Mas é indiferente a proveniência das coisas, ao fim e ao cabo. O papel da arte é, acima de tudo, entreter. Divirtam-se.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

private hell

Não percebo a quantidade de vapor que as mulheres são capazes de criar numa casa de banho quando tomam duche, até sai vapor de debaixo da porta como num videoclip do anos 80. É como se fizessem o seu infernozinho privado matinal. E depois segue-se a tortura do barulho do secador e o krrt krrrt de escovas, das placas e os sons de instrumentos de embelezamento e maquilhagem a serem manuseados com fúria e perícia. E depois a porta abre e ficamos encadeados pela luz e o vapor e um figura emerge daquele inferno, etérea e divinal e... descobri que é mau dizermos foda-se, até que enfim, estou à rasca para mijar, sai, sai

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

estar vivo é o contrário de estar morto

tenho crescentes dificuldades em reagir emocionalmente aos dramas da minha vida real mas algumas sequências do Straight Story, do ET ou do Ikiru e algumas músicas em certos contextos, sossegam-me sempre que as revejo ou oiço, existe uma costureirinha de coração ternurento e lamechas, algures em mim, que se comove. Esta sequência é particularmente tocante, devido à música do Badalamenti e por o velhote no tractor me lembrar um avô que nunca conheci.

semântica Jorge Jesus


(tentei transcrever literalmente dois bonitos momentos do video acima, mas depois apaguei um porque o que importa é o minuto 3:05)



Minuto 3:05 (importante ver o video e ler ao mesmo tempo)
«isso reforça, reforça a confiança da equipa, eu tinha dito que a equipa antes do jogo que nesta altura tava muito melhor quando nós jogamos aqui para o campeonato, ela justificou isso, também tínhamos a vantagem de ter feito o já cá um jogo e portanto AHRRrrcK analisámos e também não cometemos alguns posicionamentos que nesse jogo nos fez que com nós não fonssemos a mesma equipa e portanto tudo isso, o factor acrescido para esta vitória é a 14ª vitória consetiva e nada de mais quisto vai ter consequências»

aquilo que tenho em mente quando lhes digo que "sim, também quero ter uma família grande"

o mar é a mulher, a mulher é o mar

acreditem até ao fim

"Acredito que podemos acreditar a eliminatória" - título e citação acreditada a Villas-Boas no Jogo online

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Aprender a Rezar na Era da Técnica - Gonçalo M. Tavares

Lê-se depressa. Não estou a apreciar. Estou desiludido. Já não lia Gonçalo M. Tavares há 5 anos pelo menos e algo mudou, em mim, ou nos livros dele. Tinha gostado, agora não gosto. Este ganhou o prémio do melhor livro estrangeiro em França. E enquanto escritor, é elogiado a torto e a direito. Tenho sempre a sensação de estar a ler a introdução e já vou a meio. Gonçalo cria uma personagem que é apenas um veículo para reflexões forçadas, previsíveis, académicas e batidas. Sobretudo, não são credíveis.
Curiosamente, os temas sobrepõem-se ao La Carte Et le Territoire do Houellebecq e assim uma pessoa pode perceber porque é que o Houellebecq está noutro patamar. No Aprender a Rezar na Era da Técnica as personagens são bonecos unidimensionais, sem qualquer réstia de mistério ou interesse. Pode passar por intenção inicial, criar uma espécie de "sims" que se movem num espaço cartesiano com o eixo natureza e o eixo sociedade, mas percebe-se que não é opção, é limitação. É um livro desprovido de vida, neutro, inerte. A violência, sexo ou crueldade, descritas de forma fria e indiferente, não me causam o efeito que era suposto causar. Talvez provoquem calafrios a donas de casa entre dois livros do António Lobo Antunes ou a críticos literários que gostam das coisas no sítio do costume com um qb de irreverência para apimentar e ser moderno. E depois repete-se. Penso que já a li a frase "O que mais surpreendera Lenz, não fora a [COISA QUE PELOS VISTOS O LEITOR PENSAVA QUE SURPREENDERA LENZ] mas sim a [COISA QUE AFINAL SURPREENDEU LENZ]" umas quatro vezes. Percebemos a ideia num parágrafo mas ele continua a desenvolver o originalíssimo tema do combate com a doença que vai conquistando orgãos no corpo, ou da criança que teve uma educação muito rígida em que não podia mostrar medo ou era castigada ou dos comportamentos humanos em geral, como a ambição, a subserviência ou o medo. Não há risco neste romance, há apenas uns espamos ocasionais por territórios de absurdo forçado que me parecem a reinterpretação de coisas lidas e familiares. É um ensaio académico linear sobre a condição humana etc. etc. Desde o título, pretensioso, ao próprio uso de nomes forçados como Lenz Buchmann para criar um vazio de referências, tudo é consciente e pensado. Do Gonçalo M. Tavares, não há nada. Nem uma linha. Não tem voz literária. Não existe. Se ao menos houvesse um erro, uma vírgula mal posta, poderíamos dizer "ah, cá está o Gonçalo M. Tavares", mas não, aquela merda está escrita de forma perfeita, inteligente e escorreita e lê-se bem, como aquelas pautas de música barroca escritas por um computador com um algoritmo matemático inspirado nas obras de Bach.

os meus discos preferidos não interessam a ninguém #666: Dr. Dre - The Chronic e breve raciocínio sobre coisas e isso


As pessoas têm o hábito de reduzir coisas que não conhecem a um estereótipo redutor de que não gostam. Nunca me esqueci ouvir um fadista dos antigos, o João Braga (creio) dizer que "o rap é a antítese da música". Tive pena dele e na altura eu nem ouvia rap. Talvez aquela frase, daquele arquétipo de pessoa antiga, tenha contribuído para começar a ouvir rap. A primeira canção rap portuguesa, curiosamente, é do Herman José, a música do genérico do Tal Canal. Os meus amigos rockers também desprezavam (alguns ainda desprezam) música de dança, house, techno etc. Conheço algumas mulheres (a evitar) que não gostam de álcool, em geral. Tudo bem, a humanidade é assim. Eu não gosto da Federação Portuguesa de Futebol, ópera e instalações artísticas em geral.

A propósito da ópera, fico sempre com a sensação que as pessoas forçam um interesse na ópera por refinamento cultural e exibição social, embora algumas, muito poucas, acabem por gostar genuinamente da ópera. Penso que conseguem gostar de ópera quando passam para o nível de poder não gostar de ópera mais vezes do que as vezes que gostam de ópera. Existirá algures uma ópera que seria a ideal para mim, não a encontrei. O S. Carlos cheira-me a provincianismo e decadência, apreciação injusta, certamente.

Nas instalações artísticas de contemporâneos o problema é outro. Sem o filtro do tempo e uma biografia relevante, os textos que acompanham, criticam ou apresentam exposições de instalações de artistas contemporâneos são frequentemente um hino à ausência de nexo, inteligência e objectividade, embaladas num pacote pretencioso, críptico e elaborado. No fundo, tentam colocar a obra acima de qualquer eixo de apreciação objectivo, não existe "bom" ou "mau", apenas uma intencionalidade que é descrita e nós temos apenas que calar e ficar a olhar para o tubo de metal em cima de uma cadeira virada contra a parede que tem uma racha e um prego.

Voltando ao rap ou ao hip-hop, há bom e mau, como em tudo. Não percebo grande coisa disso, mas este dico do Dr. Dre está lá. Gostaria muito de descobrir o The Chronic da ópera. Quanto à Federação Portuguesa de Futebol, não quero gostar dela.

Yet The Chronic is first and foremost a party album, rooted not only in '70s funk and soul, but also that era's blue party comedy, particularly Dolemite. Its comic song intros and skits became prerequisites for rap albums seeking to duplicate its cinematic flow; plus, Snoop and Dre's terrific chemistry ensures that even their foulest insults are cleverly turned. That framework makes The Chronic both unreal and all too real, a cartoon and a snapshot. No matter how controversial, it remains one of the greatest and most influential hip-hop albums of all time

apesar de tudo, sinais de civilização em Portugal

Ministério Público leva Federação a tribunal - Acção judicial da iniciativa do Ministério Público vai obrigar FPF a alterar os seus estatutos.

os meus discos preferidos não interessam a ninguém #13421 The Kinks - Something Else By The Kinks


Face to Face was a remarkable record, but its follow-up, Something Else, expands its accomplishments, offering 13 classic British pop songs. As Ray Davies' songwriting becomes more refined, he becomes more nostalgic and sentimental, retreating from the psychedelic and mod posturings that had dominated the rock world. Indeed, Something Else sounds like nothing else from 1967.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pessoas que perderam o emprego e agora tiveram de arranjar outro: a jornalista que agora é recepcionista

- Bom dia Cátia, chegou correio para mim?
- Bom dia Dr. Gomes. Deiche-me ver... Esta aqui do banco está dirigida ao departamento financeiro, deve ser para si.
- Ah, isso mesmo, obrigado, até logo Cátia.
- Dr. Gomes, espere!
- Deixe-me passar!
- Dr. Gomes, á rumores de que não se têm pago as prestações do empréstimo que o banco fez há empresa, como comenta esses rumores?
- Desculpe Cátia? Quem é que diz isso?
- Nega estas afirmações?
- Não comento esse tema nesta altura, remeto explicações para a reunião de apresentação de resultados. Off the record, deviam era preocupar-se com o trabalho, se se preocupassem mais em facturar e arranjar clientes faziam melhor. Agora importa-se de tirar o pé da porta do elevador?
- Admite então que à problemas? Confirma que as vendas para segmento Be On Be caíram 1400%?
- 1400%!? Deve estar a referir-se às vendas B2B *BIIIIIIB* Oiça, o elevador está a apitar, ainda avaria a porta, tire o pé por favor!
- Mas não está a responder há minha pergunta, confirma que a empresa vai falir?
- Tenho de ir, obrigado, obrigado
*BIIIIIB* ADMITE QUE A EMPRESA VAI FALIR?
(...)
- Bom dia Cátia, já temos café?
- Bom dia Dra Paula. O fornecedor da nespresso ainda não veio.
- Avise-me quando chegar sim?
- Sim…. Dra Paula!
- Sim?
- O Dr. Gomes diz que a empresa está a ir há falência e que a culpa é sua porque não fatura que chegue. Que comentários tem a fazer?
- À falência!?
- E diz que a culpa também é das vendas B52 que baixaram 140%.
- As vendas B2B? 140%? Impossível! Não terá sido 14%?
- Whatever… disse, e passo a citar "se se preocupasse mais em faturar e arranjar clientes fazia melhor".
- Mato-me a trabalhar! Ainda ontem saí daqui às onze! Que lata que o homem tem, se não gastasse uma fortuna em lugares de garagem!
- Refe-re-se ao lugar do Tolan?
- Não cito nomes em particular, mas sabe-se quem é a pessoa em questão.
- Mas referiu o Tolan, a culpa é dele? *BIIIIIB*
- Cátia, tire o pé da porta do elevador! *BIIIIIIIB*
- MAS ACHA QUE A CULPA É DELE!?
(...)
- Bom dia Tolan, que bonito que tu vems oje.
- Olá borracho, faços os possíveis.
- Ih ih ih andá-mos na borga ontem bonitão?
- Cátia, tens mesmo de fazer algo quanto aos erros de português quando falas.
- Não desconverces. Estás com cara de ressaca…
- Fiquei em casa. Eu não saio à noite, já sabes disso.
- Oh, com essa cara de rassaca pensas que enganas quem?
- Não disse que não tinha bebido… hmm, tenho de ir...
- Espera, não vás já. Vais já assim, sem conversar um pouco comigo? Estou aqui sozinha o dia todo no twitter e nos blogs… Diz lá, bebeste muito?
- Não muito, mas estou com uma ressaca monstra, não há aspirinas aí não?
- Não, lamento. Queres uma massagem na testa?
- Não é preciso. Mas não saí. Estive a escrever. Sou um escritor sabes?
- Oh, o grande escritor… isso é tão sexy… devias desistir do emprego e dedicar-te à escrita, é o teu talento. Fala-me mais disso por favor.
- Eu sei que sou um génio, quero ser o descendente português dos russos do século XIX e dos americanos dos anos 30 e 40.. Mas quero mesmo um MacBook Air e pelo que me disseram, um escritor demora seis meses a conseguir juntar dinheiro para um e tem de passar a enrolar os próprios cigarros para poupar. E se não tivesse o meu dinheiro, como é que podia pagar o jantarinho que andas a combinar comigo há uma eternidade hã?
- Um dia Tolan, um dia, mas é melhor poupares, a Paula diz que por causa do teu lugar de estacionamento a empresa vai falir.
- A empresa vai falir? Por causa do meu lugar de estacionamento? A Paula diz isso?
- Sim! Que cabra não é?
-  Eu sabia. Eu sabia que aquela gaja ainda estava ressabiada!!
- Mas o Gomes diz que é porque ninguém trabalha e as vendas B on B aumentaram 140%.
- As vendas B2B? 140%? Devem ter caído e praí uns 14%, da última vez que vi era isso. Bah, não importa. Devia passar fome para escrever sobre coisas reais. Sim, até me fazia bem… Tu namoravas com um tipo sem dinheiro?
- Não com um tipo qualquer, mas contigo era capaz, só pelo teu amor à arte que me apaixona tanto, o teu olhar intenso...
(...)
- Bom dia Cátia.
- Bom dia Senhor Prezidente.
- Já lançou a notícia de que a empresa vai falir?
- Já sim senhor Prezidente, ficaram em pânico. Havia de ver as caras deles! Só o Tolan é que não ligou nenhuma, está muito ressacado.
- Ressacado? Mas é terça feira! Quem é que está ressacado numa terça feira!?
- Ele não leva isto muito a sério, diz que quer ser escritor, é patético.
- Ai ele é isso? Eu trato dele. Mas os outros assustaram-se?
- Avia de ver a cara deles.
- Óptimo, um bom susto para os colocar na linha, depois amanhã quero que diga o oposto, diga que as vendas subiram 30% devio ao esforço da administração para ...
- As vendas subiram 300% devido ao esforsso da adeministrassão...
- Não, não, 30%, 30%! Eu escrevo, deixe estar…

obrigado