Em primeiro lugar, gosto muito de um filme do realizador, o Darren Aronofsky: o Wrestler.
Em segundo lugar, o filme não é mau. Dar-lhe ia 3 estrelas e não 1 ou 2. Mas não 4 e muito menos 5. De vez em quando isto acontece, o mundo à minha volta embarcar num histerismo a propósito de um filme mau, como sucedeu com o fraco Gran Torino ou o Flag of Our Fathers do Clint Eastwood etc.
Mas os do Clint Eastwood são honestinhos. Este Black Swan não. Resume o que pode correr mal quando o cinema mainstream americano faz uma incursão por territórios que lhe são alheios, a puxar para o europeu a armar ao intelectual.
Enquanto que no No Country For Old Men, dos Cohen, ou na filmografia do Tarantino ou do Lynch, temos o absoluto melhor que o cinema americano tem para dar, quando o mesmo cinema americano se tenta travestir de sofisticado europeu, é costume dar merda, uma mistura de pretensiosismo, insensibilidade e de, bem, desculpem, pacóvio. Não chega a ser tão mau como aquele tortuoso remake do Asas do Desejo do Wim Wenders, aquele com a Meg Ryan e o Nicholas Cage e que faz qualquer pessoa querer suicidar-se, mas tem problemas.
O Black Swan tem excelentes momentos, sempre os mais contidos e sóbrios, uma boa produção e fotografia. Mas ao serviço de algo pretensioso e falso. E isso é, para mim, imperdoável numa obra de arte. Revela-se em coisas tão simples como a personagem idiótica do encenador ballet, com o seu sotaque francês, o requinte, o seu apetite sexual, as suas duras instruções para corrigir a pura Natalie Portman, no fundo, aquele encenador representa o cliché que o americano médio tem do que é um encenador de ballet francês, uma fantasia requintada.
O principal defeito do argumento do Black Swan é o buraco negro que se abre sempre que se introduz o cliché do “o que estamos a ver pode não ser verdade, pode ser alucinação da personagem”, o truque Sexto Sentido.
Este tipo de filmes envelhece pessimamente. É a diferença entre o Fight Club e o The Game, ambos do Fincher. Enquanto que o primeiro causou certamente um impacto maior, é inquestionável que o The Game é uma obra prima perdurável e o Fight Club um produto de época que se gastou. Quando um argumentista abre esta caixa de pandora de misturar sonho com realidade, está, de certa forma, a fazer batota, a criar efeitos surpresa sem esforço nenhum. E convenhamos, foi chão que deu uvas nas últimas duas décadas. Acho que chega. Já se percebeu. Aliás, o espectador hoje está tão treinado para isto (ou devia) que só mesmo alguém muito néscio não fica enervado quando o realizador insiste num truque que o espectador já percebeu como se faz.
Estes filmes tendem a ser sobreavaliados no seu tempo, porque transgridem o que esperamos de um filme de hollywood, à custa de excessos e de negrume. A cena de sexo lésbico deste filme tem a sensualidade das fotos da Maya para a playboy portuguesa. Comparemos como David Lynch filma a cena no Mulholand Drive. Os efeitos 3D escusados e metidos a martelo revelam bem a mentalidade bruta por detrás dele, são como sorrisos de Cavaco Silva ao pé de criancinhas, uma coisa forçada.
A milhões de quilómetros da sensibilidade do Repulsa de 1965 realizado por Roman Polanski e com uma mulher a sério, a Catherine Deneuve.
A Natalie Portman, a mulher mais bonita de hollywood, tem exactamente os defeitos da sua personagem, a bailarina boazinha, apesar de ser considerável a sua transformação no filme. Não é má actriz, pelo contrário. Mas não tem sensualidade. Já no Closer o tínhamos visto, na sua pose ridícula de striper e dominadora e num dos piores filmes alguma vez realizados. Não funciona. Há mulheres que têm sensualidade inata (Sharon Stone no Basic Instinct, Naomi Wats no Mulholand Drive) e outras que não (Natalie Portman, Julia Roberts, Gwyneth Parltrow) não que estas últimas sejam más actrizes e não sejam mulheres lindíssimas. Simplesmente, não conseguem ter aquele toque de puta que se exige numa actriz ou numa mulher em geral.
Um bonito videoclip com imagens do Repulsa.
20 comentários:
Oh Tolan, o Requiem For a Dream e o Pi são grandes filmes, foda-se... eu até acho que ele não fez mais nenhum grande filme depois do Requiem... o Wrestler é médio e o Black Swan médio-baixo...
E ao que parece, a comédia que está a fazer agora é que vai ser baixo-baixo. a ver vamos. eu acho que morreu mais um bom realizador.
Deves ter razão, apaguei a frase pateta, não vi esses filmes :\
Tolan, em relação ao filme não me pronuncio porque ainda não vi.
Acho é que o sexto sentido é em excelente exemplo de um filme que tem um truque ou um "twist", mas que é muito mais do que isso.
(não estou a dizer que tenhas dito o contrário... :) )
"Não é má actriz, pelo contrário. Mas não tem sensualidade."
Não podia estar mais de acordo contigo neste comentário (e nos subsequentes a propósito do mesmo assunto). Acontecia-me isto com a Michelle Pfeiffer: era sempre a mais linda de todas, mas das poucas que não me excitavam, desse por onde desse...
Pensei nela como exemplo, concordo contigo.
Vá mulheres em geral... toca a trabalhar o toque de puta, o Tolan sabe!
não podias estar mais errado. que raiva... burro.
sotaque francês? ele é francês!!! é propositado!!
depois, não é sensual? viste o filme? é precisamente essa a luta da personagem!
malditos cinéfilos que empestam o mundo com opiniões quais treinadores de bancada! gosta-se ou não se gosta, agora armado em cineasta é escusado!
and
Eu vi logo que não os tinhas visto...:) Por isso vê-os, valem imenso a pena! E já que falas em sensualidade, repara na estrondosa sensualidade da Jennifer Connelly no Requiem For a Dream...
;)
*pretensioso
e concordo com a avaliação geral que fazes do filme. no entanto também lhe dava um 3, simplesmente porque o tempo que passei a ver o filme não foi tempo mal passado.
porra, já é a 3º vez que me engano no pretensioso, tem o seu quê de irónico.
tem, assim chama sempre a atenção exactamente para essa palavra.
Ah, que alívio, não concordar contigo. Estava a ver que esse dia não iria chegar.
Também acho que o filme não é grande filme. E que a Portman não tem graça nenhuma. Acho mesmo que não é grande actriz e não percebo porque haveria de ganhar um óscar pelo papel. Enfim...
Que raio de filme, não gostei nem um bocadinho....
Estou aqui a esforçar-me para não falar de cinema...ainda para mais...nada, pronto, não me apetece!
Não sei como é que alguém que realiza o Fight Club, o The Game e o Seven pode realizar um filme como o Facebook, que apesar de bom está muito fraquinho para a qualidade a que o Fincher nos habituou. E Também não percebo como é que o "A Origem" foi tão esquecido nas nomeações para os óscares, que é de longe o melhor filme do ano. De bailarinas neuróticas está o mundo cheio...
O remake do Asas do Desejo do Wim Wenders, é sem dúvida um insulto ao original: é o típico "filme pastilha elástica" dos tempos modernos.
Não consigo concordar que o Closer seja dos piores filmes alguma vez realizado; pelo argumento e guião fabulosos que talvez mascare (e muito bem) essa falha.
O "Pi" e o "Requiem for a Dream" (excelente banda sonora) são obrigatórios.
Boa escolha esta do Repulsa de Polanski :)
Isto tudo para dizer que ainda não vi o Black Swan....
P.S. Não concordo com a necessidade do toque de puta que todas as mulheres deveriam ter.A sensualidade não tem que nos projectar sempre para a sexualidade. Existe outro tipo de "tesão" que pode (e deve) ser estimulado.
É muito frequente não gostar de filmes que toda a gente adora. É tão frequente que nem o admito, senão as pessoas pensam "lá vem aquela armada em boa, a desdenhar tudo o que é bom"...
Por isso fiquei muito contente quando li este teu post. :) E ainda bem que referiste, assim logo à cabeça, o Clint Eastwood! Aquele Million Dollar Baby deve ter sido dos filmes mais estúpidos que vi na vida! Precisamente por ser pretensioso...
O Black Swan sofre do mesmo mal: é armado aos cucos. A miúda é linda, claro, faz um excelente papel (e, nessa medida, ainda bem que tem a sexualidade de uma saboneteira, que é o que se pretende no filme) mas há tantos, tantos elementos parvos que não chegam para o classificar como um bom filme.
Aquela personagem do encenador/coreógrafo é ridícula.
:)
Mas pronto, era só para te dizer que fiquei contente por não me sentir, mais uma vez, sozinha neste meu desdém pelos blockbusters :)
AInda bem Laranja :) Não é que eu tenha um desdém por blockbusters, que não tenho, há uns jeitosos às vezes e que por outro lado são zurzidos pela crítica. Lembro-me assim do Guerra dos Mundos do Spielberg. Ou de filmes de terror e sci-fi como o Cloverfield. Mas pronto.
Eu agradeço muito, depois de te ler vi-o em casa em vez de pagar por ele. Achei uma coisa razoavelzinha para ver enquanto dobrava meias. Por outro lado, tenho algum medo de ser injusta: será que eu nao o achava um bocadinho melhor se nao tivesse sido festejado como um grande filme?
Tolan, se pensarmos em filmes tão diferentes como "Brigadoon", "Belle de Jour" ou "A rosa purpura do Cairo" verificamos que todos envelheceram bastante bem, superando o risco que a ambiguidade entre o que se passa na mente dos personagens e a realidade pode representar.
Em relação aos outros aspectos, entendo a sua posição, mas penso que está a subvalorizar o este cisne.
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