A propósito das fase de luto (de morte ou de fim de relação) que a ursa mor dos blogues postou, baseada nas melhores e mais bem intencionadas teorias da psicologia e que são, por ordem, choque, negação, depressão, culpa, ansiedade, agressividade e reintegração/aceitação, tenho a dizer que comigo as fases misturam-se bastante. A reintegração por vezes é a primeira, aceito sempre tudo formidavelmente bem e o choque é a última. Lembro-me que uma vez estava a conduzir e de repente apercebi-me do fim da relação com a S. e ia-me estampando num poste com o choque. E tinha acabado de namorar com ela há quase oito anos e tivera várias relações pelo meio e o Benfica até tinha ganho ao Sporting no dia anterior. Liguei-lhe ela nem se lembrava de mim, entretanto casara e tinha já um bebé e depois convidou-me a ir lá jantar e conhecer o marido. Obviamente que não fui. A culpa? Nasci com ela e nem sou católico. Tenho mais sentimentos de culpa que mil Judas a sair do Casino Estoril depois de perderem o dinheirinho todo da reforma da avó. Eu tenho tanta culpa que quando ponho os pés num tribunal, a minha tentação é de irromper pelas salas onde decorrem julgamentos e gritar 'fui eu! esse homem/mulher está inocente! fui eu!' Ansiedade? Depressão? Quando tinha oito anos, lembro-me de ter dito ao meu cão que tinha lido duas frases boas (eu, não o cão): 'quando contemplamos ao abismo em ele também nos contempla' e 'sentimos a dor mas não a sua ausência'. E notem que o meu cão era um afável Labrador, nem sequer se tratava de um Cocker Spaniel bem mais sintonizado com estes estados de espírito. ALiás, o cão foi manifestando progressivos sintomas de depressão, deixou de comer e andava cabisbaixo, só por lhe ter lido o Todas As Dores do Mundo do Schopenauer. Não sou agressivo contudo, ou melhor sou agressivo permanentemente. Não gosto da humanidade. Não gosto de pessoas. Não gosto de mim (sou uma pessoa, é lógico). Às vezes gosto de outra pessoa, por exemplo, uma mulher. E a mulher deixa de ser uma pessoa. Se passa para a categoria de pessoa, inclui-se no mesmo plano indistinto que o meu, somos meros organismos a caminho da morte que tudo relativiza. Isto por sua vez gera sentimentos de culpa evidentes e choques inesperados. A morte de uma pessoa próxima devia ter-me convencido de que nada do que é irreversível é importante mas não estou plenamente convencido que uma pessoa morta desaparece para sempre ou que uma relação acaba para sempre, o que significa que tudo acontece ao mesmo tempo, como uma enorme onda que se transforma em caos e ruído branco e os choques irracionais irrompem como relâmpagos enfurecidos em noites negras de tempestade.
Mas de resto, sou uma pessoa divertida, gosto de uma boa risota, boa comidinha, jantares românticos e de longos passeios pela praia :)
7 comentários:
Não é ursa mor. É ursa maior, pá!
Já gostas de mim? Já? Já? ("linguinha" de fora tipo cãozinho)
Quanto ao labrador, no words... (Beto!)
Já agora, as fases do luto não tem ordem, essa ideia quem têm uma ordem lógica é mito urbano...
Tanta converseta e o último parágrafo diz tudo! ;)
Concordo. A reintegração é a primeira. Mas depois passa.
O fim de uma relação é como quando se acendem as luzes do cinema no fim do filme.
Pois que um longo passeio pela praia depois de um jantar romântico, a discutir filosoficamente este post que tanto pano para mangas tem, parece-me um bom programa! :)
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