domingo, 29 de abril de 2012

Feira do Livro

Andei por ali para cima e para baixo, já tinha comprado muitos livros, sempre sem encontrar a Assírio & Alvim, muito triste.
 Começou a chover torrencialmente e corri para debaixo de uma banca da Porto Editora para me abrigar. A Plaft ficou à chuva debaixo do chapéu a chapinhar nas poças, é tipo uma pancada que ela tem e não quero alongar-me sobre isso. Estou ali abrigado, de costas para as prateleiras de livros, entalado na pequena multidão compacta que se formou, quando começo a desconfiar... Um gajo com óculos de massa e sobretudo, outro de barbas e camisola de gola alta, outro com o cabelo comprido e óculos redondos, outro magrinho com o aspecto macilento dos vegetarianos, outro vestido de preto niilista recusante da vida e do futuro a meter os pés assim e com a cabeça tombada para o lado... Voltei-me para a prateleira dos livros: Assírio & Alvim! Eu sabia! Foi o destino! Tinha-me esquecido que a Assírio & Alvim foi absorvida pela Porto Editora.
 Lá estavam os livros todos que já comprei e li, encafuados em prateleiras iguais às das outras bancas da Porto Editora. Tentei chamar a Plaft para lhe mostrar aquilo, porque gosto muito de apontar para livros à venda e dizer-lhe "tenho este, este e este" como um latifundiário a mostrar as suas terras à noiva comunista. Ela estava em modo Fred Astaire, aparecia a esvoaçar pelas poças para me avisar que tinha avistado ginja de óbidos mais acima e que já tinha lido aquele e aquele e aquele que eu lhe sugeria com condescendência, desaparecia disparada, voltava para me dizer que tinha visto farturas com bom aspecto uns metros adiante.
 Fomos beber uma ginja, eu comi uma fartura e ela comeu uma italiana que é uma coisa que parece um donut, mas chama-se italiana, assim mo explicou a menina da roulotte com uns modos bruscos. Foi depois acalmada pelas colegas, aquilo deve acontecer-lhe constantemente, pessoas da Feira do Livro a apontar para os donuts e a dizer "é um donut destes" e ela "é uma ITALIANA CARALhOS FODAM ESTES INTELECTUAIS DA MERDA! NÃO É UM DONUT! Foda-se puta que os pariu, feira do livro é sempre a mesma merda todos os anos..".
O momento alto da tarde foi quando tive a brilhante ideia de sugerir à Plaft o Espuma dos Dias do Boris Vian que por acaso é o livro preferido dela e ela já me tinha dito isso umas 4 ou 5 vezes. Talvez isso explique o entusiasmo e a  convicção com que lhe sugeri o Espuma dos Dias do Boris Vian.
 - Olha Plaft! Queres a Espuma dos Dias? Já leste? Vais adorar! Conheces Boris Vian? Devias conhecer!
- Estás gozar comigo?
Aqui devia ter dito "sim, estava a brincar ah ah", bastava observar o facto do sorriso grandioso, ainda com um bocado de açúcar por cima do lábio, se ter dissolvido numa expressão de incredulidade apática. E depois passava o resto da tarde a tentar perceber o que se tinha passado, porque estaria eu a gozar.
 - Não! A sério, acho que... ias... adorar :|
- ESTÁS A GOZAR COMIGO!?
Ok, perdi a oportunidade, pânico, ela entrou-me em modo Sigourney Weaver, Aliens. Os intelectuais à volta começaram a formar um pequeno círculo a uma distância segura e um senhor cinquentão olhou para mim mesmo com aquela cara cúmplice de "fizeste merda não fizeste? ;)"
 É evidente que depois me lembrei muito bem das conversas sobre o Boris Vian e do livro preferido dela, mas era tarde demais, há uma coisa muito enervante na vida real que é a linearidade do tempo e a ausência de botão de undo. Tentei desculpar-me explicando que ela só me tinha dito que adorava o livro e não me tinha feito uma análise crítica ao mesmo, da próxima que escrevesse um pequeno texto sobre isso e eu nunca mais me esquecia, mas a certa altura (quando ela abriu a janela do carro para apanhar ar e soltou um daqueles suspiros de "meu Deus, como é que eu vim parar aqui?") optei por calar-me.

Sei dar-lhe a volta muito bem, eu controlo a relação, ao contrário do que sucede com os outros gajos que se deixam controlar por elas. O truque é trazer-lhe oferendas diversas, de olhos postos no chão, fazer vénias, tratá-la por Deusa em discurso indirecto e apenas para emitir elogios à sua beleza, sensibilidade e inteligência. Pode demorar mas as coisas resolvem-se sem problemas e com facilidade, é o segredo de uma relaç... meu Deus, olha as horas que são, tenho de ir buscar sushi, ela está quase a acordar!!

sábado, 28 de abril de 2012

o nome dele é skrillex

Na cabeça de alguns, Skrillex parece estar para a música electrónica e o próprio dubstep (género que popularizou) como os Bush para o grunge. Ainda se agravou mais quando limpou os Emmys (primeiro produtor a ganhar aquelas categorias). Vejo o Skrillex um bocado como uma fusão de Chemical Brothers, Daft Punk, Burial e até Aphex Twin (mesmo nos videos, as influências são óbvias). Parece que foi buscar as peças a isto tudo, extraiu a parte pop mas sem sacrificar um edge agressivo (que afasta muita gente), fundiu tudo obsessivamente e ao detalhe num laptop a partir de casa e deu um toque mainstream a um género de nicho com melodias verdadeiramente catchy que uma criança entende. É acusado de ser um "vendido" mas ele nunca teve apoio comercial e promoção. Fez o disco em casa, fez upload, foi fumar um cigarro e passado um mês era uma celebridade mundial e nomeado a Emmys. Depois, em vez de destruir a cena da música electrónica, nomeadamente o dubstep (é só um rótulo por amor de Deus), o que fez foi abrir as portas e divulgar o próprio dubstep, como fizeram os Metallica com o Black Album para o heavy metal ou os Nirvana com o Nevermind para o rock alternativo mais pesado. Acho o trabalho dele absolutamente genial do ponto vista "pop" puro. Comparar isto com, por exemplo, um David Getta e afins, é um insulto.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

o jogador de poker

Hoje fui almoçar com um dos meus melhores amigos ali num restaurante em Alfragide, onde vão os camionistas e operários. Posso dizer que é praticamente um irmão, visto que nos conhecemos há 25 anos e fizémos toda a escola juntos, inclusive o curso de matemática, ao qual chumbámos um ano os dois, só para nenhum de nós se antecipar ao outro. O gajo é um pacato programador e tem um cérebro focado no jogo e na ambição de começar uma carreira no poker profissional, tudo isto potenciado por factores pessoais importantes (não tem miúda, é óptimo para a concentração). Começou a jogar poker mais ou menos ao mesmo tempo que eu, mas sem os meus problemas. Eu vim do blackjack para o poker e pelo poker domestiquei o vício do jogo, mas ao fim de centenas de milhares de mãos online e chegar a NL100 percebi que era impossível ser jogador profissional, uma fantasia que tive, seria um ganha pão a combinar com a escrita. Abandonei devido a problemas cognitivos: arrogância, indisciplina, sentimentos místicos, sensação de controlar o destino, tudo coisas óptimas para um escritor. Ele é mais calmo e cerebral (um excelente jogador de xadrez, brilhante em raciocínio profundo) e começou com uns míseros 100$ no poker online que se transformaram em largos milhares. Está neste momento a disputar pots que chegam aos 1200$. Tem, como qualquer bom jogador, a perspectiva correcta que no jogo, o dinheiro consiste em “fichas abstractas” e não dinheiro real. Jogar com 10$ ou 1000$ é igual, desde que a nossa banca possa acomodar a variância dos ganhos e perdas. E recordo que ele começou com pouco e nunca mais lá meteu “dinheiro”. Aquela banca é abstracta. O poker transformou-o numa pessoa melhor, o poker levado a sério é como um zen prático e não teórico e implica uma transformação no modo de pensar e de ver a própria vida. Sonha em deixar o emprego, estuda poker 3 horas por dia. O objectivo é chegar a high stakes, com pots de milhares de dólares. Espero que consiga. O caminho é muito difícil, até porque não tem fim. Partilhámos experiências. A ironia é que os nossos problemas, ele com o poker, o meu com a escrita, e os sonhos que temos, entalados em vidas em que encaixamos para ganhar o tostão, acabam por ser um espelho um do outro. Depois falou-me no desejo de ser encurralado e no exército que Sun Tzu coloca de propósito numa garganta que impossibilita qualquer retirada, porque sabe que perante um exército maior, o facto de não poderem fugir, motivará as suas tropas a lutar como nunca e a infligir danos sérios. Venha daí essa crise.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

blindagem

Uma forma de assegurar um estilo blindado é incluir referências auto-depreciativas, um certo cinismo ternurento, que tudo condena e perdoa simultaneamente, com recurso a ironia. Se por um lado isso cria um estilo sólido e interessante, o potencial é limitado pela aversão ao risco inerente a qualquer acto criativo puro que não contenha em si a chave para o destruir, como alguém que admite um defeito e pensa que, por admitir o defeito e viver bem com isso, o defeito transforma-se numa qualidade. Muitas vezes é o caso. Às vezes penso na evolução deste tipo de escritor (de pessoa) como uma esfera que se vai expandindo com a prática mas que não deixa de ser uma esfera e não uma lança ou uma nuvem. Estou com muito sono. Estou à espera da crise, com muito sono.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

12 boas razões para achar que a Plaft é a tal

Acabou o Portal 1.

Despiu-me até aos boxers a jogar strip poker.

Bifes bons fazem-na chorar.
Passou o teste dos cones no GT5.

Ganha-me ao Buzz 85% das vezes (eu nunca tinha perdido ao buzz).

Ganhou-me uma vez ao scrabble por mais de 100 pontos.

Ganha-me sempre ao Lobo.
Acabou o move the box.

Gostou muito do Tree of Life mas considera a cena final imbecil.

É do sexo feminino.

Acha que este livro é uma bosta.

Está a acabar o Portal 2.


terça-feira, 24 de abril de 2012

a lição


Acabei de ler a peça A Lição de Eugene Ionesco enquanto comia um hamburguer à portuguesa no irish da doca de santo amaro, à beira do tejo, indiferente às pessoas que escolhem esta área para correr com fones  e bodys de licra e passam a ofegar de autoflagelação desportiva. Gostei (da peça) mas, como todas as peças de teatro que li, causou-me uma sensação um pouco estranha, como se estivesse carregada de simbolismos e fosse uma fantasia esquemática. Mesmo na insuspeita peça de Tchékov, A Gaivota, as personagens ocupam posições simbólicas: jovem escritor falhado, o velho escritor consagrado, a actriz consagrada, a actriz aspirante falhada, a Gaivota morta, o escritor morto… Os diálogos acontecem e o tempo é denso e mágico, quando a vida real é como o universo, cheia de matéria negra de silêncio, nada, absurdo e contemplação. 

Suponho que faz parte da linguagem e das formas dramáticas este universo carregado de energia de palavras e acções. O texto tem de ir da cabeça do autor, para a do actor para a do espectador. A própria experiência do teatro, como a sala escura do cinema,  predispõe para o encantamento e é potenciada por luzes, som e encenação. Talvez o domínio do tempo seja um trunfo da literatura, pode-se congelar um instante por tempo indefinido, avançar, recuar, misturar tudo. No teatro o agora é tudo, é preciso acontecer algo, mesmo que nada aconteça, a própria espera é um acontecimento, tudo é linear.

O proclamado anti-teatro de Ionesco não é A Lição, que, pela leitura, me pareceu ser bom teatro e igual a bom teatro (embora me falte a perspectiva histórica para não considerar um cliché um Professor que mata a Aluna e uma braçadeira nazi que o protege da justiça etc. me falte a consciência das reacções à peça na época e tudo isso porque sou ignorante e por isso emito opiniões e já mal o faço a propósito de literatura notem bem, só estou à vontade é em terreno novo e...)

O verdadeiro nada não pode vir de vontade humana. Tem de provir de algo aleatório e frio e desinteressante, como são desinteressantes os exercícios de Burroughs com bocados de jornal misturados ao acaso para formar texto, especialmente se o leitor souber que foram feitos assim e que depois lhe exigem atenção e tempo para ler aquilo. O anti-teatro deve ser simplesmente mau teatro, como uma anti-restaurante, é um restaurante ali na zona do Parque das Nações.




sábado, 21 de abril de 2012

às vezes acordo com coisas destas na cabeça

- Gabinete da Presidência da República, em que posso ajudá-lo?
- Alô, bom dia, queria falar com o Presidente por favor.
- Quem devo anunciar?
- Diga que é o Patins, ele sabe quem é o Patins.
- O Patins?
- Ele sabe quem é. 
- Um momento por favor... Senhor Presidente, tem Patins em linha.


(passado umas horas e normalmente depois de dois ou três cafés, reavalio as coisas, etc.)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Oh.

Hoje abateu-se sobre mim uma depressão profunda ao pescar de dentro do armário da cozinha nada mais nada menos do que sete (SETE!) embalagens de esparguete já abertas.
Enquanto não conseguir incutir no Tolan o mínimo respeito pelas massas, nunca farei dele um homem de esquerda.

ainda por cima eu sei coisas acerca destas coisas todas e tenho um bom emprego

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Portugal é muito confuso

Estou lentamente a metamorfor... metamoforsear... transformar-me numa pessoa de esquerda. Cheguei ao ponto, vejam só, em que começo a achar ligeiramente errado o estado (no fundo eu, vocês) comprar o BPN assumindo um buraco de 6 mil milhões de euros, sendo posteriormente enrabado pelos angolanos do BIC e depois, no caso do BCP, estar em vias de injectar uns mil milhões (meus, vossos) mas sem o nacionalizar, sem o "comprar" como acontece em qualquer país de esquerda que se preze (por exemplo Inglaterra, onde o governo socialista inglês tomou conta do Lloyds e meteu lá o socialista Horta Osório). Ou seja, se bem entendo, só compramos bancos que faliram de forma catastrófica e por ilegalidades. Aos outros, os que têm hipóteses de se safar, emprestamos dinheiro. A injecção permitiria ao BCP sobreviver (e outros bancos, caso precisem). As acções vão valorizar a médio longo prazo visto estarem ao preço de um sms para outra rede e o book value do banco estar bem acima da sua capitalização bolsista. Era bonito que o estado fizesse um negócio em que podia sair a ganhar e privatizar o banco mais tarde e ter um lucro porreiro. Não sei, acho esquisito só fazer negócios financeiros em que perdemos ou perdemos ainda mais (recordo os menos dados a estas coisas de economia, que o "estado" é uma entidade abstracta que gere o dinheiro que vocês lhe dão). Isto significa que os donos do banco, os accionistas actuais portanto, só têm de devolver o dinheiro que o estado (nós) lá meteu com uns juros simpáticos. Se o banco for ao ar não há crise, nós os contribuintes estamos cá é para assumir o prejuízo. Os donos, compreende-se, não querem as patas do estado nos bancos deles, mas precisam do nosso dinheiro. Diz que dá má imagem ser nacionalizado e ter lá pessoas ligadas à política. Imaginaria que sim mas o BCP não me pareceu muito preocupado com a imagem quando teve lá o Armando Vara como bibelot ou aborrecido de ter accionistas angolanos que não são propriamente privados (no sentido não corrupto do termo). Estou confuso. Portugal é muito confuso. A minha esperança é que o Governo também esteja confuso. Constou-me que anda, o que é bom sinal. Temem (é ridículo eu sei) que uma coisa destas crie pessoas de esquerda ou liberais assim de repente, tipo os gremlins quando comem depois da meia noite e que isso signifique o seu fim. Vamos ver, eu gosto de ser como sou, moderado e tendo a ver-me como o representante da consciência colectiva de Portugal e como tendo o poder de 60% do eleitorado. Desde que me lembro, o partido que eu achava que devia logicamente ganhar as eleições, ganhou. Por isso sei que sou eu que decido. E no no dia em que achar que este governo deve cair, ele vai cair. Don't fuck with me.

tapete fofinho e creme de dia essencial

Ontem tive um choque ao pisar o novo tapete na casa de banho.

- Plaft, que tapete é aquele?
- É fofinho não é? :) É mais fofinho que o outro que tinhas, todo velho e sujo.

Todo velho é sujo... Suponho que na opinião dela, o Bukowski também era velho e sujo. Ou o Salvador Dali. Ou o João César Monteiro.

No outro dia foi a minha colecção de aftershaves que perturbou o seu peculiar sentido de lógica feminina. Diz que não faz sentido eu ter quatro embalagens quase vazias e nunca acabar nenhuma. Tomou a iniciativa de as reunir e comprimir numa só prateleira. Agora têm por vizinhos uns cremes e produtos esquisitos. No outro dia reparei num creme com o misterioso nome de "creme de dia essencial". Que raio é isso de "creme de dia essencial", quem é que compra um creme que só vai usar em dias essenciais? É normal sentir-me inseguro por ela não usar o creme todos os dias comigo?

terça-feira, 17 de abril de 2012

pedagogia para criar crianças que venham a ser especiais

Ao ritmo a que estou a desenvolver o meu talento e capacidade, já percebi que não vou nunca chegar a ser uma coisa de jeito. Sou evidentemente talentoso, mas os meus pais não tiveram grande profissionalismo na minha educação e foram demasiado brandos em diversas ocasiões. Para colmatar a impossibilidade de eu ser uma pessoa especial e bem sucedida, percebi que o truque é ter alguns filhos e continuar a trabalhar neles, mais ou menos a partir do ponto onde eu fiquei e fazer deles pessoas extremamente especiais e talentosas que vão fazer os outros pais roer-se de inveja com os seus filhos medíocres e desinteressantes nas reuniões de pais e festas de aniversário.

Só que isto de fazer pessoas especiais é também um talento e vai exigir alguma tentativa erro, tanto que planeio experimentar vários caminhos diferentes com cada filho. Por exemplo, um vai ser sempre contrariado e nunca lhe vou demonstrar qualquer afecto ou aprovação e ao outro (o ideal era ser um gémeo) vou dar tudo o que precisa: carinho, apoio e compreensão e dizer-lhe que ele é especial.

Claro que na verdade o primeiro tem muitas mais hipóteses de ser bem sucedido que o segundo e é nele que deposito as esperanças. O primeiro será certamente nobelizado ou algo do género, enquanto que o segundo, no limite, vai criar um movimento do tipo geração à rasca. É contra o pai (o ideal é a mãe participar também) que o jovem se vai rebelar e esforçar para conquistar a sua admiração e afecto para o resto da vida (sem sucesso). É preciso começar desde cedo. Nunca percebi os pais que elogiam os filhos quando estes fazem um desenho mal feito ao ponto de terem de escrever por cima o nome das coisas que tentaram desenhar, ainda por cima com erros.Se descobrir que aquele a quem estou a dar apoio e compreensão se revela mais talentoso que o filho proscrito, posso inverter subitamente os papéis sem qualquer aviso.

Sinto-me compelido a fazer um aviso, o tema é sensível, afinal, trata-se do bem estar dos pais na sociedade e não tem jeito nenhum ter filhos que os envergonhem, vão para a cadeia ou acabem mortos numa banheira antes de venderem os discos todos como deve ser. É importante o acompanhamento dos pais para os ajudar a escolher comportamentos desviantes que não sejam demasiado auto-destrutivos e que ajudem mesmo à criatividade (o famoso binómio autodestruição vs. estímulo). As doses de álcool e certo tipo de drogas (cocaína) devem ser administradas com receita médica ou auxílio de um nutricionista e mesmo assim é preciso ter cuidado porque há médicos que não são de fiar (os McCann por exemplo). De certeza que quantidade de cerveja que um rapaz de 16 anos pode beber, é totalmente diferente daquela que uma criança de 6 ou 7 pode tolerar antes de ficar em coma.

Tenho falado destes planos à Plaft porque é importante desde muito cedo estarmos alinhados com isto ou então não há futuro. E eu sou da opinião que quando namoramos com uma pessoa devemos imediatamente decidir a educação dos filhos que vamos ter, faço isso desde os 14 anos. Ela tem assim umas ideias esquisitas sobre o tema e fala em "felicidade", que é um conceito muito bonito mas um bocadinho vago e hippie demais. Mas o debate prossegue.

instântaneos entre grandes escritores #2 Sartre e Camus

- Que cadela adorável... De certeza que não queres ficar com ela Jean Paul? Parece gostar de ti. 
 - Toda a coisa existente nasce sem um motivo, emerge da fraqueza e morre por acaso. A última coisa que eu preciso é de uma coisa que nasce sem motivo, emerge da fraqueza e morre por acaso por aí a encher-me os sofás de pêlo.
- A Simone mete-te 15 gatos em casa e tu nem pias, nem quando eles te mijam o tabaco do cachimbo todo...
- Os gatos são livres, Camus. Quando me urinam dentro da bolsinha do tabaco ou mesmo no cachimbo e eu só dou por isso quando levo o cachimbo à boca e puxo duas baforadas... sinto... eu sinto isso como um acto de liberdade. Eles existem, eles são, independentemente de mim. Esta cadela procura em mim um Deus. Eu recuso esse papel de opressor.


domingo, 15 de abril de 2012

instantâneos entre grandes escritores #1 Tchekhóv e Tolstói


- Ouve o que eu te digo Tchekhiuchka: o chá verde é excitante. Pensas que não é, bebes duas taças à noite e depois não dormes nada.
- Se calhar tem razão.
- Claro que tenho, meu urso! Bebe chá de camomila por exemplo, tenho sempre o samovar cheio dele.
- Sim.
- E não te armes em esperto comigo que eu sei mais do que tu que és médico.
- Foi só uma sugestão.
-Ah bom. Então guarda-a para ti para a próxima. Quando tiveres uma barba como a minha em vez dessa barbichazeca vem cá dizer-me como devo viver a minha vida.
- Estamos só preocupados consigo avô Tosto, a Sofya pediu-me para vir cá visitá-lo.
- Essa parva!Agora tu ouves o que elas dizem? Vais longe vais..
- É só que não tem dormido nada. Tem de descansar.
- Descansar!? Viste o jornal de hoje? Já viste em que estado está a Humanidade?

sábado, 14 de abril de 2012

gajas electrónicas

Vou fazer um post, mas antes vamos ver este video pedagógico sobre o uso incorrecto de maquilhagem.


E o post é assim: hoje parece que vai chover, está assim com ares de borriço.
Tenho saudades do Atum Macaco :(
E ninguém conseguia obrigar as pessoas a ver os videos que ele postava como ele.

está explicado

Play Station... Plaft, Sílvia

quinta-feira, 12 de abril de 2012

sou um génio querida, mas ninguém o sabe a não ser eu

Já percebi a cena, há dois tipos de escritores. Bem, há muitos tipos de escritores que estão distribuídos numa espécie de eixo. Ou em vários eixos. É complicado. Bolas. Estava entusiasmado como que ia dizer e agora estraguei tudo, de há uns tempos para cá comecei a preocupar-me sempre que fazia uma generalização e a conter-me para não dizer disparates. Mas ok. Respira.



Entretanto pensei melhor e já não concordo com o que ia dizer, pensei melhor. Ia dizer que havia o tal eixo e os dois tipos de escritores nos extremos desse eixo. Um dos extremos é o que eu chamaria do perfeccionista enconado e no outro extremo, o génio que cospe textos. Penso que por esta descrição já adivinharam de qual dos extremos eu estou mais próximo, escuso de o dizer, a minha humildade impede-me. Mas o ponto não era esse. Não sei qual era o ponto. Isto ultimamente anda mal, esqueço-me do propósito dos textos a meio dos mesmos.



Ah! Ia dizer que, para o génio que cospe textos, as coisas às vezes saem más, péssimas. Se calhar por cada coisa boa, há 3 ou 4 más, ou mais. O génio que cospe textos é assim mesmo porque não leva as coisas assim tão a sério quanto os leitores parecem levar. A única coisa que lhe resta é fazer outra e outra e outra e esperar acertar mais uma vez porque ele é muito auto-crítico o que parece paradoxal mas é verdade, verdadinha, ele anda pela casa (estou só a dizer, a imaginar) de braços erguidos para o ar e a dizer "MEu DEus sou uma merda, uma fraude, um flop!" e fica prostrado no sofá uns minutos até o microondas acabar de aquecer a sopa de cebola que a Plaft fez. No processo, se tiver os genes certos, ele melhora e o mau dele melhora, é uma espécie de chão abaixo do qual ele não cai e que depois tem felizes oscilações para cima que o vão perseguir para o resto da vida e funcionar como maldições. Sim, maldições. Os leitores, insensíveis e bem intencionados, dizem-lhe "aquele que tu fizeste há 2 anos, aquele texto, foi o melhor de sempre" e os olhos do génio que cospe textos ficam marejados de lágrimas porque entretanto ele escreveu mais 200 textos. O leitor é um ingrato e um insensível porque, depois de experimentar o melhor do génio que cospe textos, não quer outra coisa, habitua-se, espera aquilo sempre como um drogado a quem deram uma vez heroína pura de elevada qualidade por engano em vez de estar misturada com gesso como é costume e vira-lhe as costas e vai a correr para outro dealer e o génio que cospe textos sabe que só lhe resta fazer outro e depois outro e outro a ver se alicia os filhos da puta de drogados que todos os leitores são.

Já para não falar naqueles "leitores" que estão sempre à espera que o génio tropece para o insultar e apanhar em falso, tipo aqueles pseudo-adeptos de futebol que odeiam o Cristiano Ronaldo porque embirram com ele por ele ser un chico guapo, rico e talientioso e que depois quando ele marca um livre e um golo de fora da área como neste último contra o Atlético, dizem "bah, nunca mais faz outra igual". Foda-se.

E era isto :) Estou mais calmo.


terça-feira, 10 de abril de 2012

tempo de fazer uma limpeza

Isto do BILF foi uma campanha de marketing que me foi imposta pelo Autor. Sei que durante uns dias me tornei completamente irresistível para o sexo oposto e para aqueles jovens rebeldes que, de acordo com o Saraiva, querem aderir à moda de ir ao cu uns aos outros como aderiram ao PREC depois do 25 de Abril. Modas, enfim. Depois de ver jovens licenciados com power balances no pulso, acho que tudo é possível. Com a mera construção de elementos básicos, projectei a imagem de que era um homem sensível, conhecedor dos meandros dos sentimentos. Estou com um mau humor de merda. Ontem cheguei a casa e a Plaft tinha um cachecol do Sporting desenrolado no meu sofá, perdão, no nosso sofá, antes do jogo. Estava refastelado depois do dia de cão, todo contente, a ligar a sportv e nem me tinha apercebido daquilo atrás de mim, quando tive o vislumbre do verde a tocar-me no pescoço dei um salto que parecia que tinha um aranhiço em cima. Sou aracnofóbico, lamento generalizar assim sobre as aranhas mas não gosto delas, acho que são assim porque é moda e acham fixe e rebelde serem assim com oito patas e nojentas. Tive de ir buscar o cachecol do Graças A Deus Sou Do Benfica e dividir o sofá em dois, com o meu cachecol um pouco por cima do cachecol dela, para dar sorte. O caralho. Não deu. A Plaft, como todas as pessoas do Sporting, não percebe puto de futebol mas é sócia desde que nasceu porque lhe pagam as quotas. Ela só começou a ligar aos resultados do campeonato desde que me conheceu e entendeu que aquele mito dos benfiquistas baterem na mulher quando o Benfica perde não era bem um mito. Não que eu lhe bata (fisicamente) mas alguma coisa devo fazer porque nas últimas jornadas e na champions ela começou a torcer, genuinamente, pelo Benfica e fica ansiosa quando o Glorioso perde, tratando-me como um tipo que sofre de stress pós-traumático, à cautela e com o cabo da vassoura a dar-me toques a uma distância segura para me perguntar se quero mais cerveja.

É verdade, trato toda gente mal, nem é nada pessoal. Às vezes começo com dissertações filosóficas que fazem o Schopenauer parecer um pateta optimista e depois lá me lembro "epá, o Benfica perdeu! É capaz de ser disso, se calhar a morte do acidental do parceiro não é a solução para o problema das relações amorosas definharem inevitavelmente em ódio e ressentimento!". Ela parecia bem intencionada, tentou transformar a casa numa festa futeboleira, tipo final de taça de Portugal no Jamor, com direito a uma bolonhesa em frente à tv e duas garrafas de vinho, cachecóis e acepipes. Pensei que ia ser uma noite perfeita, no fundo era uma armadilha cuidadosamente planeada. Reparem, nunca viu um jogo do Sporting esta época, só viu aquele e ficou toda contente. Durante um ano vai pensar que o Sporting joga sempre assim e que o Benfica é aquela merda. Depois ri-se muito sempre que aparece a cara do Bruno César em grande plano, sem qualquer respeito pelo Bruno César e por pessoas com prognatismo e estrabismo. E é racista, chamou "traidor" ao Djaló (que é preto). Riu-se dos suspensórios e dos blazers de cotoveleiras do Sá Pinto e achou-o parecido com o Jorge Jesus, tal é a profundidade da análise futeboleira do adepto típico do Sporting. E quando é o Javi Garcia ou o Volkswinkel a aparecer em grande plano e camera lenta pergunta "quem é este?" com um tom de voz inocente nada inocente.

No fundo é isto, o Sporting ganhou e celebrou a sua vitória da época, o Benfica perde o campeonato, mas eu fiquei com a sócia dos leões. Golo. Levem lá o 4º lugar, bom proveito. Eu não trocava a Plaft nem pelo 2º lugar no campeonato. Voltando ao tema inicial do post, que já não me lembro qual era e tenho preguiça de fazer scroll up, queria só reforçar esse tema e insistir nele sem contemporizações.

e a coluna chama-se "política a sério".

O José António Saraiva teve a ideia para este artigo de opinião enquanto batia uma na casa de banho do 3º piso dos armazéns do Chiado, depois partilhar o elevador com um efebo efeminado.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

a SEO (search engine optimization) do meu blogue está no bom caminho

(lista de top hits pelo google de hoje)


adeptos sporting a chorar

23

tolan
20

foto mulheres gostosas peladas
3

gnr teste modelo
3

carros tuning com gajas boas
2

gajas boas a lavar o carro
2

imagens mulheres de strippers
2

imagens para gozar com o sporting
2

nuas praia
2


Estou muito orgulhoso :)

Cinco mulheres mais importantes do que se pensava na vida de Jesus

Cinco mulheres mais importantes do que se pensava na vida de Jesus, notícia no Público.

Mulher 1:
- Espera filho, deixai-me compor o manto. Isso, pronto. Espera, tendes uma ramela... Já está, pronto. Tens as pontas todas espigadas, vou comprar amaciador de côco. Lembrai-vos, "sou o filho de Deus". Repeti comigo: "Sou o filho de Deus". Isso. Mas com mais convicção. E não vos esqueceis da parte de eu ser virgem, o Zé ainda ontem começou a desconfiar outra vez e com aquela conversa de que ele estava fora e não sei quê, ele fica azedo quando o Galileia perde, sabeis como é o teu pai. Ide lá agora, ide... Ai, espera, o lanche, quase que me esquecia...

Mulher 2:
- Baby, adoro-te... olha, sabes, os saldos do Templo estão a acabar e não encontrei as sandálias romanas que encomendei aos vendilhões, aquelas muito bonitas de couro e com incrustações de ouro, eles tinham-me prometido que as traziam de Roma, especialmente para mim... Se és homem, devias fazer qualquer coisa quanto a isso. Não sei, estou só a dizer, honey...

Mulher 3:
- Ouve o que eu te digo Jesus Miguel, não gosto de te ver com aquele teu amigo, o Judas, não é boa peça, anda metido com más companhias. A dona Aurinda ainda ontem me contou que a Francisca, sabes, a empregada do filho do Herodes, viu o Judas todo tu cá tu lá com os tropas romanos, aquilo mete droga cá para mim...

Mulher 4:
- Nada, nada. Estou bem. Não é nada. Já te disse, não é nada. Não, não estou chateada. Não estou. Não me apetece falar. Deixa lá. Não ias compreender e vai dar discussão. Já te vais embora? Pronto vai. Não é nada...

.. SÓ SINTO QUE NÃO SOU ESPECIAL PARA TI, CURAS OS ALEIJADOS TODOS E EU AQUI COM A CELULITE, PODIAS MUITO BEM DAR UM JEITINHO EM VEZ DE ME DEIXARES ANDAR COM O RABO TODO EMBRULHADO EM ALGAS ADELGAÇANTES!

Mulher 5:
- Andastes nas patuscadas com a malta dos apóstolos outra vez, não foi meu cabrão? Transformar água em vinho é contigo, mas levar o cão à rua está quieto. E esperas que eu acredite que não era a vaca da Maria Madalena ao teu lado? Cheiras a perfume que tresandas. Pensas que eu sou parva, fica sabendo que foi a tua última patuscada!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Plaft, nós os escritores somos assim...

...fixamos o olhar no horizonte, imperturbáveis, a pensar em histórias que é preciso escrever para aliviar a humanidade da angústia do que fica por dizer...


(ou então estamos só a pensar em quão injusta foi a eliminação do Benfica pelo Chelsea e na dualidade de critérios dos árbitros)






(além disso, tecnicamente, nem somos escritores)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

assunto arrumado

Do jogo como Chelsea fica-me apenas a frustração de sermos eliminados por um adversário absolutamente ao nosso alcance. É certo que o Chelsea teve várias ocasiões em que podia ter acabado com o jogo, mas a jogar com 10, com uma equipa fisicamente no limite pelo jogo com o Braga, com a defesa mais remendada que me lembro de me ver (sem um central de raiz), com substituições de contenção fisica para o derby de segunda feira (boa exibição de Djaló) e uma arbitragem inclinada para o lado dos milhões (nas duas mãos), o Benfica foi uma equipa superior e mais ofensiva. Este Chelsea medíocre será cilindrado nas meias finais.

cromos da literatura

Máximo Gorki

Com isto dos russos do século XIX é cada cavadela, uma minhoca. Para se ter noção da minha dedicação intelectual ao conhecimento da literatura, encaro a leitura de obras fundamentais como encarava as minhas cadernetas de cromos da bola em criança. Há excelentes jogadores em todas as selecções, mas só muito raramente acontece uma Alemanha de 74, uma Argentina de 86 ou uma França de 98.

E às fantasio com um jogo clássico, Russos do Século XIX vs Americanos do Século XX...

Rússia:
1-Puchkin
2- Tolstói
3- Dostoiévski
4- Leermontóv
5- Tourgueniev
6- Bakunin
7- Goncharov
8- Zukhovski
9- Gorki
10- Tcheckov
11- Gogol

USA:
1- TS Eliot
2- Hemingway
3- Steinbeck
4- Nabokov (naturalizado)
5- Dos Passos
6- Faulkner
7- Capote
8- Miller
9- Bukowski
10- Fante
11- Salinger

Parece-me que os russos venceriam o duelo, embora seja injusto comparar selecções de tempos tão diferentes.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Τα παράθυρα

Τα παράθυρα
Σ' αυτές τις σκοτεινές κάμαρες, που περνώ
μέρες βαρυές, επάνω κάτω τριγυρνώ
για νάβρω τα παράθυρα. -- Οταν ανοίξει
ένα παράθυρο θάναι παρηγοριά. --
Μα τα παράθυρα δεν βρίσκονται, ή δεν μπορώ
να τάβρω. Και καλλίτερα ίσως να μην τα βρώ.
Ισως το φως θάναι μια νέα τυραννία.
Ποιός ξέρει τι καινούρια πράγματα θα δείξει.


Cavafy (1903)

tradução:

As janelas
Nessas câmaras escuras, passando
dias pesados​​, ando para cima para baixo
navro para janelas. - Quando você abre
um consolo Morte janela. -
Mas as janelas não são, ou eu
Para tavro. E é melhor você não encontrá-los.
Talvez a morte de uma luz nova tirania.
Quem sabe que coisas novas vão dizer.



(infelizmente a tradução do google translator não capta completamente a essência do fabuloso original em grego)

preciso de terapia

O Autor

Tolan