sexta-feira, 31 de agosto de 2012

electrónica

Ainda há momentos em conversa telefónica foi a vez de um amigo desempenhar o papel habitualmente reservado para a minha mãe, ao dissuadir-me do plano de aproveitar a crise para enveredar pela escrita a tempo inteiro no final deste ano, um plano evidentemente estúpido. A Plaft, diga-se, acredita em planos estúpidos e apoia-me. Vive com pouco ela. Massa com margarina e tem ali um pitéu. Remexe nos caixotes à procura de coisas que se aproveitem. Rouba fruta na mercearia da rua. Dá moedas de cinco cêntimos aos arrumadores. Remenda os sapatos e a roupa com corda furtada de estendais alheios. Fazemos compras nas feiras dos ciganos onde ela regateia 5 pares de peúgos por 3 euros em vez de 4. Fugiu de casa aos 16 anos e sabe quais são os sítios onde se dorme melhor ao relento e sabe aprisionar pequenos animais domésticos como cães e gatos, mas não é para os comer, é para os domesticar e ensinar a roubar carteiras a turistas no metro. Temos um pequeno bando de 4 gatos, 3 cães e um guaxinim que vinha num contentor de milho dos EUA e que encontrámos no cais do sodré, perdido. À noite eles voltam para nossa casa, tocam à campainha e despejam os objectos furtados para dentro de um saquinho do pão, depois vão dormir para o jardim, jogar às cartas e beber hidromel. Ela diz que está tudo bem e que vai correr tudo bem e que podemos criar dois filhos assim na boa e que ter um carro alemão não é importante e que ter os luxos que temos, como electricidade e gás não significam nada. Ela é de esquerda, mas ainda assim é uma mulher e as mulheres costumam reagir muito mal a descidas de nível de vida do parceiro, apesar de estarem convencidas que não. Os tipos não se atiram lá dos arranha-céus em wall street porque deixam de ter dinheiro para cerveja e futebol, acreditem. Pensam é na esposa que ainda na véspera andava pela casa de fita métrica na mão e a ver onde podia instalar o novo sofá italiano que é necessário ter. Eu tento encarar a opção pobreza como uma coisa literária, tipo, uma experiência realista, do povo, essas coisas. Isso dava-me mais credibilidade. Este post chama-se "electrónica" porque eu ia escrever sobre outra coisa que já não me lembro o que era.

marte tem bolinhas brancas!


...e um letreiro enorme a dizer 100 m!
Foto no site da Nasa.

bom gosto

Infelizmente ao longo da nossa curta vida existem várias ocasiões em que o nosso progresso depende da avaliação de uma pessoa numa posição decisiva. Seja numa entrevista de emprego, num casting, na avaliação de um draft de romance, no Ìdolos, numa universidade de esquerda num curso pouco científico em que a avaliação de uma resposta depende do critério subjectivo do professor etc., em inúmeras situações ficamos suspenso no sim ou não de outrém. É uma coisa extremamente violenta para pessoas com o meu carácter. Lembro-me de uma vez que uns headunters me telefonaram (ligavam-me muito há 3 ou 4 anos, entretanto deixaram) e participei num processo de selecção. Fiz testes, aquelas merdas, eram uns 20 candidatos, no fim fiquei só eu e outro gajo. Eu tinha emprego, mas queria sair, mesmo que fosse pelo mesmo. Nisto tive a entrevista na empresa, uma multinacional em portugal. A Chefa lá do sítio entrevistou-me. Na entrevista fez questão de mencionar que "ali se trabalhava muito, era raro o dia em que saía antes das 8 ou das 9" e eu teria de ser responsável por uma equipa de pessoas que teria de manter na linha tipo tropa. Eu já era responsável tpor uma equipa de pessoas mas faz-me muita confusão quando me pedem autorização para férias ou para sair mais cedo porque sinceramente odeio autoridade, minha e dos outros, e odeio o conceito de "ter de reportar a alguém". Acho que numa organização real as pessoas só devem ser avaliadas pelos resultados. Até podem ficar em casa um mês inteiro, não me fazia diferença, desde que as merdas aparecessem feitas quando fossem precisas. Até acho uma violência a merda de ter de ir para um local físico trabalhar se isso não for necessário, mas isso sou eu, enfim, trabalhei num sítio em que 5 minutos de atraso ao picar o ponto implicavam meses de assédio do departamento de RH a ameaçar com um corte de 5 minutos de salário caso eu não desse uma justificação mais satisfatória do que "adormeci, atrasei-me" apesar de eu insistir com eles que podiam descontar os tais 5 minutos, era na boa, e fiquei traumatizado. Bom, a entrevista. Eu fiquei convencido que me iam aceitar e queria rejeitar a oferta. Epá, queria. Aquilo era muito mau. As flores sintéticas, o escritório zen, a gaja bitch com tailleur anos 90, eu ia sofrer ali, eu sabia que sim, estava melhor quieto. O meu nível era vastamente superior à da posição que me ofereciam, um lugar sem margem para a criatividade e génio de uma pessoa como eu que não pode estar amarrada a procedimentos burocráticos. Eu expliquei-lhes que lhes desenvolvia e alargava a oferta, que os fazia subir na cadeia de valor de meros providers de informação para consultoria à séria, mas eles queriam era pão pão queijo queijo, uma coisa pragmática, controlo, accounting, etc. Mas convenci-me que queria entrar para lhes dizer que não queria entrar. Para minha surpresa ligaram-me e disseram-me que não me tinham escolhido. Fiquei fodido e nunca mais concorri a nada.

lista de nomes de maçons

Estou um bocado em estado de choque. O nome do gajo do café que me serve a sandes de ovo e o sumol de ananás todos os dias faz parte da loja do GOL (Grande Oriente Lusitano). Ele realmente anda de avental, mas nunca pensei que fosse uma pessoa importante, com connections. Amanhã quem o trata por senhor sou eu, que isto nunca se sabe o dia de amanhã e quem é que nos dá um carro alemão novo.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

champions

Grupo G
Barcelona
 Benfica
Spartak de Moscovo
Celtic

Um grupo acessível ao Benfica. O Celtic pode causar algumas dificuldades se os jogadores atrapalharem a manobra ofensiva do Benfica ocupando bem o terreno de jogo. Um jogador do Celtic de pé não ocupa muito espaço, mas deitado pode ocupar uma área maior e creio que será essa a sua táctica aquando das transições ofensivas lideradas por Aimar, com Rodrigo, Nolito e Salvio em desmarcação rápida.

O Spartak de Moscovo é da rússia e está tudo dito. Ou quase tudo. É uma equipa especialmente forte a jogar debaixo de neve. Contudo, não deve nevar no Estádio da Luz (em princípio) pelo que não virá daí grande vantagem posicional e técnicotáctica. Por outro lado, se a temperatura estiver acima dos 20 graus, a equipa russa fica muito mole e alguns jogadores podem chegar a derreter. O perigo é jogar numa temperatura entre 17 e 20 graus, nesse caso os pupilos de Jorge Jesus não podem ter veleidades.

 O Barcelona tem um equipamento alternativo com um degradé de laranja para amarelo, semelhante ao efeito que se obtém se deixarmos uma lata de fanta exposta a elementos durante muito tempo. É uma reminiscência  de qualquer coisa que não devia ter sido reminisçada. A UEFA autorizou, apesar dos jogos da pré-época terem demonstrado que o equipamento provoca epilepsia a jogadores fotossensíveis. É uma questão do Jorge Jesus fazer o teste de fotossensibilidade aos seus jogadores e escolher um leque de opções bem opcionadas e fazer a preparação do embate com latas de Fanta à mercê de elementos.

Nota, Iniesta acabou de ser escolhido melhor jogador de 2011/2012 pela UEFA. Parece que indecisos entre Messi e Ronaldo, optaram pela escolha que daria menos chatices e confusão.

nada de nada



A maior parte das pessoas não percebe nada de nada e não sabe o que diz. As raras ocasiões em que  uma pessoa em particular percebe algo de qualquer coisa não compensam os benefícios de assumir que ninguém percebe nada de nada como ponto prévio a qualquer interacção humana. Assumir isto dá-nos a autoconfiança e assertividade necessárias à sobrevivência. E sobretudo, dá menos trabalho. Na primeira sessão de terapia desabafei isto e o parvalhão do psiquiatra vai e diz-me que isso podia ser um leve sintoma de delírio, indicador de esquizofrenia, porque era uma crença não baseada em factos e podia envolver uma interpretação errada da realidade. Mas o gajo, evidentemente, não percebia nada de nada e nunca mais lá voltei. Isto foi foi há 10-15 anos. No outro dia estou a estacionar o carro ao pé de Belém e quem é que eu vejo a arrumar carros, com um ar todo maltrapilho? Adivinhem lá, quem era? Um gajo que eu conhecia de vista da universidade, o M. É uma tragédia, a droga. A minha mãe foi drogada em antidepressivos. só por um mês, depois do meu pai morrer. O médico deu-lhe uns compridos que a faziam não só ficar muito bem disposta como cheia de energia. Ontem ao almoço diz-me "resolvi todos os problemes, andava sempre bem disposte, um maravilhe". Mas depois acrescentou "mas cause habituacion, a tie Michelle tome quase un par jour" e nunca mais tomou nenhum. Mas guardou todos os que sobraram, não se livrou deles, ficaram lá numa caixinha. Eu disse-lhe assim "maman, vou agora ter uma semana de cão, muito stress, vou ao brasil lá por causa daquele projecto, não me dás um desses que sobrou não?" e ela fez mesmo aquela cara que o Bilbo fez quando o Gandalf lhe pediu para ele dar o Anel ao Frodo e disse "non, non, são meus"


Orcos

A Plaft está a ler o Tolkien de uma ponta à outra. Depois do Hobbit, agarrou-se à trilogia do Senhor dos Anéis e todas as noites discutimos os acontecimentos na Terra Média. Sabe-me bem recordar aquele que foi um dos autores que mais me marcou. Ainda hoje um hobbit meu é dividir as pessoas em elfos, orcos, hobbits, anões, humanos... A Plaft é claramente uma elfa, até pela questão das orelhas que às vezes espreitam do cabelo e de um aspecto céltico. Eu sou descendente de hobbits, pois gosto mesmo muito da minha toca e de estar sossegado com as minhas coisas e acumulo muitos mathoms - o nome que os hobbits dão a tudo o que têm e não serve para nada mas de que não se conseguem livrar. Os adeptos do FCP, por exemplo, descendem de orcos criados a partir da melhor lama de Mordor.


Eu gostava muito de viver num mundo daqueles, cheio de magias e feitiços, coisas fantásticas, mistérios, fantasia. Acredito que para Tolkien, a imersão nesse mundo era total. Nos seus apontamentos, esquemas, contos inacabados, desenhos, obra, sente-se que aquilo advém de uma espécie de Universo completo do qual vão emanando coisas que ele se dá ao trabalho de colocar  no papel, como um viajante que conta algo de real, avistado num país distante, arrancado a memórias que só a esforço se tornam concretas, como quando somos assoberbados por informação e não a sabemos processar facilmente. Tentaram encontrar um paralelismo entre o Senhor dos Anéis e a II Grande Guerra mas o próprio Tolkien rejeita essa interpretação e, de facto, se fossemos a fazer o paralelismo, víamos que até existe no Senhor dos Anéis uma cultura da raça pura, uma apologia da importância da descendência, própria destes contos e deste imaginário, desde os genuínos herdeiros de reis guerreiros a elfos de raças mais ou menos puras consoante o seu isolamento.

 Há uma mitologia própria, ecos do passado nas canções, na poesia, na linguagem. Imaginem que os portugueses nunca tinham existido e que era um americano, chamado Esah de Keiroz (imigrande judeu polaco) que os inventava para se entreter, escrevendo os Maias, o Primo Basílio e assim, baseado em lendas de um povo que, no passado, tinha descoberto metade do mundo e vencido o Adamastor e que tinha a capacidade de, por um lado, criticar o próprio país de forma impiedosa e, por outro, rebentar em festa patriótica nas ocasiões especiais e devisivas, como os concertos de rock quando o cantor estrangeiro diz "obrigado, love portugal" ou em mundiais de futebol. Gostava muito de criar o meu próprio universo fantasioso assim, como quem faz um puzzle mágico, imerso num mundo paralelo, a fumar cachimbo na casinha do jardim, indiferente às bombas que chovem do céu, como o Tolkien.

E vocês são uma miséria. Não tem nada a ver com o post, mas apeteceu-me dizê-lo.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

marte



Isto aqui em cima foi uma fotografia que tirei nas minhas férias em marte, com a GoPro... mentira ;) Esta não fui eu. É uma foto tirada pelo fotógrafo da sonda Curiosity, um pequeno japonês com um fato isotérmico e uma botija de oxigénio e que come bolachas nutritivas do Celeiro. Podem ver mais fotos aqui no site da Nasa mas eu sei que vocês se estão nas tintas para estas coisas, querem é serviço público de concursos com o Fernando Mendes na televisão porque são de esquerda. Esta foto lembra-me Santo António dos Cavaleiros, ali ao pé de Loures. Só falta mesmo dois prédios altos, assim lá ao fundo e alguns pretinhos a brincar à bola com a cabeça da última vítima de carjacking. A propósito de carjacking, só para os anónimos que andam por aqui se roerem todos, tiraram-me o carro, é verdade, mas deram-me um novo, duas vezes melhor em todos os aspectos. É duas vezes mais recente, tem ainda mais cavalagem, um computador a bordo, navegação por gps, sensores de estacionamento daqueles que aparece um boneco do carro e uma cena tipo radar, espelho retrovisor que escurece automaticamente assim que leva com faróis à noite, sincronização com o iPhone que também vou receber, leitor de compact disc, rádio com os nomes das rádios numa lista etc. etc. e muito mais. Já tem dois riscos, um na porta e outro ao pé do símbolo da marca alemã. E porquê? Porque há pessoas de esquerda, nas ruas, que andam com o canivete de descascar batatas e maçãs apanhadas no caixote do lixo do pingo doce e que ficam fodidas quando vêem um carro daqueles, ainda por cima bem estacionado em cima dos passeios que o povo utiliza e riscam. Risquem à vontade. Eu gosto daqueles riscos, são cicatrizes de personalidade, digamos assim. Só quando nos sentimos alvo de inveja podemos ter a certeza de que estamos melhor que alguém. Dizem que nos Ferraris até cospem, mesmo pessoas mais à direita e tudo, que têm carros como o que eu agora tenho mas não têm Ferraris e ficam aborrecidas com isso. Marte é bonito. Gosto de ver fotos de Marte, é uma questão de aproveitar antes de um autarca marciano ir para lá fazer prédios e dos ciganos marcianos montarem barracas à volta dos prédios e de marcianos de esquerda riscarem as sondas da Nasa que lá aterrarem. Gosto de pensar que existem sítios que, não importa o que aconteça aqui, continuam na mesma. Há vento em Marte, levanta poeira e tudo e ninguém vê isso.

antes de ir dormir

estou mesmo a cair de sono e ia agora lavar os dentes e dormir, a plaft não está em casa de maneiras que não tenho nenhum motivo válido para ir para a cama e por isso pensei "não, não vou jogar magic, vou escrever qualquer coisa para "eles".
é enternecedor eu pensar em vocês no meu dia a dia.  "eles"...

Quase mil anónimos que aqui vêm e depois eu imagino como é que vocês são. E é mais ou menos assim:

São pessoas que estão à procura de qualquer coisa. Sentem-se sozinhos. Pelo menos, uma parte de vós sente-se sozinha e incompreendida. Sofreram desgostos, tiveram alegrias. Os risos sinceros  dissolvem-se num silêncio melancólico em que ninguém repara. Oh, como seria bom encontrar alguém que vos compreendesse etc. Vocês são pessoas especiais,  com necessidades especiais. Eu sou o wc com aquela sanita que tem aquelas barras de lado, o wc a que uma pessoa recorre quando há fila no wc normal do colombo e depois faz pontaria às barras e deixa aquilo a pingar e vai-se embora apressadamente para a fnac comprar livros com o cartão da fnac antes que venha uma pessoa especial usar o wc especial. Rápidos e silenciosos. Como um ninja. Vou dormir.

lição

Vocês não disseram nada sobre as fotos que tirei (na realidade são stills de filmagens que fiz) e demonstraram enorme desconsideração pelo perigo a que me submeti para as fazer e partilhar com vocês, urbanodepressivos, que nunca viram o interior de uma onda a não ser em fotos do género que ignoraram também quando as viram e assim sucessivamente. Tudo bem. Continuem assim, a ir aos centros comerciais e a ver televisão e a ser de esquerda ou direita. Entretanto li o Paralelo 42 do John dos Passos. É muito bom. É o primeiro volume de uma trilogia e vou ler o resto. Depois logo faço a minha crítica apurada. Cometi o erro de ver um telejornal, talvez o primeiro dos últimos 6 meses, e apanhei aquilo da privatização mista da RTP proposta pelo relvas e prontamente contrariada pelo Seguro que, ao melhor estilo cacique argentino, diz que nacionaliza aquela merda logo a seguir. Grande macho latino. Não devia ter visto o telejornal, sou como um lobisomem, vejo estas merdas e é tipo lua cheia quando saímos do lux às 5 da manhã, transformo-me em taxista palrador. Há pessoas, mesmo jornais de suposta referência que dizem que a RTP dá lucro e tudo, quando custou ao estado mais de 3.8 mil milhões de euros nos últimos 10 anos e recebe a maior parte das receitas de impostos e taxas na factura de electricidade pagas por nós. É que é daquelas coisas que eu... eu... Este governo é uma espécie de sandes mista de merda e queijo. Não deixa de ser de merda, apesar do queijo. O Seguro é só merda mesmo, mas não interessa, nunca ganhará uma eleição, com aquela cara de palonço manhoso. Não volto a ver telejornais. Só terei notícias de Portugal quando me baterem à porta para me prenderem por chamar palonço manhoso a alguém da política e assim. Filhos da puta. Mudando de tema, no outro dia apanhei uma tão grande que, ao sair do lux, não sei que merda fiz mas disse ao taxista para me deixar um quarteirão antes da minha casa porque já estava farto de o ouvir a chamar pelo Salazar. Nisto desoriento-me e começo a andar na direcção exactamente oposta à minha casa. Não vos sei explicar o que foram as duas horas que demorei até encontrar o caminho. A Plaft diz que eu lhe liguei e ela tentou falar comigo e depois eu terei enviado um sms a dizer "estou a ver o santo antónio". Andei por descampados, bairros sociais, fui perseguido pelo segurança de um hospital (não estou a gozar, eu não fiz mal nenhum, apenas me limitei a saltar um muro que me parecia estar entre mim e a minha casa e depois sai um gajo de um casinhoto num portão a dizer "hei, hei lá" e eu reagi como os pretos no COPS e desatei a correr), pedi informações a taxistas e esqueci-me delas segundos depois andei, andei, o sol a nascer, e eu não reconhecia a cidade, as ruas, não fazia puto de ideia de onde estava, por fim desisti e chamei um táxi de novo e o gajo diz-me "foda-se, isso é já ali atrás", andámos 1 minuto e era já ali atrás. Cheguei a casa já de dia e quase chorei ao meter a chave na porta. Que isto vos sirva de lição.

sábado, 11 de agosto de 2012

"aldeia olímpica"

Sempre que falam na "aldeia olímpica" vem-me à cabeça a imagem de uma aldeia rural cheia de atletas que dormem em casebres rústicos. Acordam cedinho. As ágeis ginastas fazem renda de bilros, os lançadores de martelo e peso ferram cavalos e partem pedras para os muros das propriedades, os atiradores de arco vão caçar perdizes, os maratonistas puxam os arados nos campos, os nadadores disputam peixe no rio com os ursos e os velocistas jamaicanos são cães pastores. O sino de bronze toca a repique e todos vão para a igrejinha no centro da aldeia olímpica. Chegou o representante do comité olímpico que convoca os atletas para a grande carroça que os vai levar ao local de competição. Os convocados pousam as alfaias e os géneros agrícolas, vestem o fato de treino e sobem para a carroça e depois aparecem nos respectivos locais de competição.

Paulo Coelho e James Joyce

Paulo Coelho diz que o Ulysses do James Joyce fez mal à literatura: Writers go wrong, according to Coelho, when they focus on form, not content. "Today writers want to impress other writers," he told the paper. "One of the books that caused great harm was James Joyce's Ulysses, which is pure style. There is nothing there. Stripped down, Ulysses is a twit."

Estas declarações causaram grande agitação porque vieram de Paulo Coelho, o que as torna ofensivas em vez de meramente polémicas. É um bocadinho o mesmo que o Tony Carreira considerar que o David Bowie "foi mau para a música porque as letras dele não fazem sentido" ou o Michael Bay considerar que o cinema de Ingmar Bergman "não tem explosões que chegue".

Paulo Coelho, por seu lado, fez muito mal à humanidade ao contribuir para fenómeno do misticismo fast-food new age que, nestes tempos de decadência da ortodoxia religiosa, encontrou terreno fértil.

No entanto, eu entendo o que ele diz de Joyce. Eu próprio já escrevi palermices do género e o Bukowski também. Já tentei ler o Ulysses duas vezes e o Portrait Do Artista Enquanto Chavalo uma vez. E desisti sempre por desinteresse. Não gosto de meta-literatura, mesmo da boa. Ainda ontem desisti de ler E Se Numa Noite de Inverno Um Viajante de Italo Calvino e já ia a meio. Cansei-me. É um daqueles romances experimentais em que cada capítulo é um exercício de estilo de um género de romance. Tal como o Ulysses, também vem com uma espécie de esquema na primeira página a explicar a obra.

Mudei para o Victoria de Knut Hamsun, com as suas histórias simples de filhos de moleiros que vivem na floresta imersos num delírio de fantasia e se apaixonam por uma menina da cidade que vem acompanhada de rapazes da cidade muito arrogantes e maus e há cavernas e espíritos e ursos.


 Não sei se sonhei com isto, mas acho que li em qualquer lado que o Joyce deixou de escrever para se dedicar à carpintaria e teria desvalorizado o que escreveu, descobrindo beleza maior nas histórias infantis e nas canções e poemas populares. Não confio na minha memória. Posso ter sido muito bem eu a escrever isto e agora julgo que o li em qualquer lado. Tenho tendência a imaginar factos que vão de encontro à maneira de como eu gostava que as coisas fossem. Por exemplo, acreditei durante muito tempo que o hino de portugal dizia "nação valente e mortal", uma versão certamente mais do agrado do Michael Bay também.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

história sem moral

Hoje, ao registar o euromilhões como outro português qualquer que espera que o seu destino se resolva por magia e com a consciência de matemático ferida no seu orgulho (estou a pagar uma exorbitância pelo valor esperado), lembrei-me de como tudo começou há uns anos.

Para me motivar a deixar de fumar, decidi que o dinheiro que pusesse de parte, jogava-o no euromilhões. O raciocínio era: "vou trocar a probabilidade de ter cancro pela probabilidade ganhar o euro milhões". Para compensar a falta de tabaco comecei a beber mais.

Depois seguiram-se as contas e a compreensão de que o euro milhões era uma aposta estúpida e que mais valia jogar um jogo de casino onde os ganhos, mesmo que inferiores, têm um valor esperado superior e dão odds mais favoráveis.

Meti-me no black jack e torrei dinheiro até mais não num curto espaço de tempo, especialmente porque ficava confiante devido à bebida em excesso nas sessões de jogo. Depois foi o poker onde a coisa encaixou melhor, uma experiência zen que durou dois anos, mas que me deu cabo da vida, não fazia mais nada, deixei de escrever e tudo e só via cartas à frente.

Depois desisti do poker e voltei a fumar. Agora estou a jogar no euromilhões outra vez. E a fumar. E a beber demais. O que se segue?


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

conselho sentimental para manter as namoradas felizes e apaixonadas #2 - a coleira com gps

Uma das manifestações de amor que as mulheres mais prezam é querermos saber sempre onde estão, a toda a hora. Existem muitos mitos sobre isto, nomeadamente, o de que relações desse tipo "as sufocam" e que "não gostam de homens ciumentos". Onde é que já ouviu isto? Dizem todas o mesmo. Contudo, as mulheres gostam de atenção e quanto mais, melhor. Acresce que muitas tendem a fugir quando são soltas na rua e só voltam quando têm fome ou frio.

Aquilo que era apenas uma fantasia típica da Guerra das Estrelas é hoje uma realidade comum e acessível. Graças à tecnologia dos satélites e aos avanços na miniaturização de componentes electrónicos, podemos hoje oferecer uma coleira gps à nossa mais que tudo e, no conforto do escritório ou de casa, no iPhone ou no PC, monitorizar a toda a hora a sua localização.

Há muitos modelos de coleiras com gps: Spot Lite GPS Locator, Garmin Dog Tracking Collar ou British Dog Net são alguns dos sites onde as podem adquirir. São vendidas como sendo para "cães" ou "gatos" devido a questões éticas e alguns preconceitos. Contudo, dado que são animais com uma circunferência do pescoço semelhante à de uma mulher, não vem daí qualquer problema.

São bastante discretas e há modelos esteticamente interessantes, tendo em conta o inevitável compromisso entre dimensão, alcance e autonomia dos modelos. Tentei encontrar uma fotografia de uma mulher com uma destas coleiras mas, por um motivo que me escapa, não encontrei nenhuma nos sites que pesquisei.

Deixo aqui algumas imagens para referência, é praticamente a mesma coisa, é só imaginar a vossa mais que tudo com uma destas.
Aqui num discreto preto, numa prática bolsinha. Toda contente :)


Aqui num sortido de cores a lembrar as criações da Swatch, bem modernas. Uhh, ela parece um bocadinho amuada nesta foto, será que é porque já não pode escapar-se para ir às compras? ;)


PS: Já sei o que estão a pensar, mas não, os discretos implantes de chips subcutâneos ainda não permitem a localização por gps. Em breve será certamente possível, mas acredito que as coleiras não vão sair de moda. Também vaticinaram o mesmo para os óculos com o advento das lentes de contacto e nunca estiveram tão in...

terça-feira, 7 de agosto de 2012




















é pena é a foto não apanhar o cheiro a vinagre

A minha mesa (vintage, anos 50, adquirida na Casa Almada) tansformada em laboratório de tratamento de fósseis. Aquela era a minha escova de dentes. A minha vodka, não sei o que está ali a fazer. "Tudo em nome da ciência", assegurou-me a Plaft. Então está bem.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

fósseis

Descobri ontem que a Plaft tem uma pancada por fósseis. Foi por acaso, íamos a passear no campo ao pé da minha casa de infância na aldeia quando eu agarrei num e lhe disse "olha, uma concha com 400 milhões de anos". Ela quase que chorou de emoção porque quando era criança queria ser "fossóloga" (discutimos o termo correcto o resto da tarde) e em Lisboa não havia fósseis. Ainda fiz uma piada sobre militantes do PCP mas ela ignorou, entrou em modo Calvin Há Tesouros Por Toda Parte. O passeio, que prometia ser romântico, contemplativo e naturalista (vi um belíssimo falcão logo no início), transformou-se numa caça ao fóssil, olhos postos no chão o tempo todo.

Tive de a levar a todos os jazigos de fósseis que eu conhecia ali na zona. Não foi complicado porque estão nos caminhos sujeitos a erosão, especialmente no topo de montes ou então na berma de campos cultivados, atirados para lá pelos agricultores quando limpam os terrenos revolvidos pelas máquinas.

Quando era puto encontrava fósseis muito grandes, sempre conchas e como não entendia a questão do mar ter coberto toda a terra, achava que eram restos de ameijoas à bulhão pato de tribos pré-históricas. Encontrámos vários e a Plaft está neste momento a passar pela fase fossóloga que deve durar cerca de uma semana.

Num manifesto excesso de confiança na amplitude de aptidões e conhecimentos dos meus leitores, queria apelar a paleontólogos, geólogos e fossólogos que nos ajudem a perceber o que encontrámos e como podemos isolá-los das pedras onde estão. Podemos usar vinagre, por exemplo, para dissolver o calcário das pedras que os envolvem?

Isto aqui é um molde de fóssil ou o próprio fóssil? E porque é que há duas camadas tão distintas de material nesta pedra


Aqui é uma conchinha pequena. Como limpar e realçar isto?


Esta está inteira, só que está enfiada numa rocha. Como tirá-la de lá?



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

brutal

Parece que há um senhor chamado Ty Segall que tem uma série de discos que eu não conhecia. Ouvi uma faixa dele (Mary Ann) enquanto bebia o café no copo de plástico e vou e digo assim cá para mim: "brutal". Desapertei um pouco o nó da gravata e voltei a ouvir. "Brutal". Enviei a faixa ao meu amigo Nuno que é o que gosta deste tipo de rock porque é programador de cenas financeiras em SQL e ele vai e faz reply "brutal", assim, com ponto de final e tudo. A partir daqui arrisco-me sempre a levar com o "já conhecia, a banda xis é melhor" mas com o Nuno isso não acontece. O Nuno não tem por hábito andar a farejar coisas porque já sabe que eu faço isso por ele e quando lhe mostro uma banda nova ele ouve lá nos seus headphones manhosos no open space onde programa e depois diz se gosta ou se não gosta. Há coisas que eu já sei que ele não vai gostar e às vezes são muito boas mas mesmo assim mando-lhe, ele diz "não me disse muito" e depois chateio-me com ele, porque é para isso que ele serve. Já sou amigo dele vai fazer 25 anos e ainda me está atravessado ele ter dito que os Thundercats dele eram mais fixes que os meus GI Joes. Mas ok. Uns preferem uns brinquedos que o pai trouxe do canadá e que consistiam num carro enorme com misseis e umas patas nas rodas e nuns bonecos com cabeça de gato em vez do realismo e dos detalhes dos GI Joe, mas tudo bem. Temos de aprender a viver com as diferenças um do outro, nomeadamente, sendo insensíveis ao ponto de vista do outro. Um fim de semana muito brutal é o que vos desejo.

nota mental: não voltar a pedir ao estagiário que veste de preto e mete a cabeça assim de lado para me arranjar stock photos de "gajos a beber cerveja" para a minha apresentação





*suspiro*

conselho sentimental #1

O departamento de marketing do Autor continua a reclamar contra o facto do meu blogue (ele diz "nosso") estar posicionado para o target feminino, classes A/B, 20-35 anos, urbano/aspiracional, que é como quem diz, "blogue de gajas". Eu já lhe expliquei que lutar contra isso é como pendurar um letreiro a dizer Liquidação Total - 80% Descontos no blogue.

Contudo, concordo com ele numa coisa: devemos ter mais conteúdos direccionados para um target masculino mais amplo. Posta de parte a hipótese de colocar uma foto de uma senhora com fartos seios de 2 em 2 posts devido a critérios editoriais, pensei que podia ser boa ideia partilhar com os homens a minha grande experiência e sabedoria sobre mulheres. Ao longo de muitos posts (um ou dois) vou dar dicas sobre a psicologia das mulheres, os seus habitats, os seus instintos e comportamentos, os hábitos de reprodução e nidificação, como domesticar as que são um bocado para o selvagem, aprender a diferenciar espécies etc. Sei que pareço altruísta, mas é-me indiferente, porque eu encontrei a Plaft e quero que os meus amigos homens sejam felizes também.

Ok, primeira dica:

Descubram um complexo que ela tenha e façam piadas sobre ele. Isto à primeira vista parece um bocadinho contraproducente. Mas a ideia é simples e prática. Se ela tem um complexo com um defeito qualquer (baixa demais, maminhas pequenas, orelhas saídas, pele com manchas, pés para dentro, gordura excessiva, cabelo espigado, olhos estrábicos, estrias no rabo, pescoço curto, dentes tortos, lábios finos etc, vocês sabem como elas são, todas têm um problema) então gozem com o defeito, sempre. Por exemplo, se ela tiver as maminhas pequenas e muitos complexos com isso, vocês estão na cama às escuras e começam a apalpá-la e dizem "epá! quem é este gajo na minha cama!!!!" e acendem a luz e tal, no gozo. Ou então, se for um pouco gordinha e estiverem na praia a nadar no mar todos românticos, digam "nunca tinha nadado com uma baleia". Se for baixa demais, metam-se ao pé dela a olhar em frente e quando a ouvirem falar, não respondam, olhem em volta a ver de onde vem a voz, intrigados.

Coisas assim, subtis. Poder brincar com as coisas é muito bom porque elas deixam de ter o complexo. Digamos que o complexo existe porque há ali uma dúvida "serei feia?". E é a dúvida que gera a angústia toda e a incerteza. Com estas brincadeiras ela vai convencer-se de que é verdade, fica com a autoestima nos níveis adequadamente baixos e muito agradecida por vocês gostarem dela apesar de tudo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

para tirar as dúvidas, façam a experiência

O meu post abaixo parece ter gerado algumas reacções de cepticismo. Faço o apelo a todos os homens que lêem este blogue (4, contando comigo): peçam as vossas namoradas em casamento, só por experiência. Mas façam isso como deve ser, modo arcaico, assim romântico e inesperado, fogo de artifício a surgir de repente no horizonte no exacto momento em que lhe oferecem o anel, ou uma flash mob a dançar Frank Sinatra, seja o que for, sejam originais e criativos e românticos. Peçam-nas em casamento com o anel e tudo. Podem pedir o anel emprestado a algum familiar, uma avó ou isso (no dia seguinte devolvem). É só mesmo para verem a reacção. Era giro se filmassem metessem no youtube. E depois venham cá contar e ver se não tinha razão, se ela não se desmanchou a chorar e não ficou toda em choque e corada e não se sente a mulher mais feliz do mundo por uns minutos enquanto vos abraça e diz "sim". Depois tenham é algum tacto para explicar que era um teste, uma brincadeira ou isso. Ela em princípio não vai levar a mal, se tiver sentido de humor. Se não tiver, também não é mulher para vocês.

"raparigas modernas", yeah right

Não se deixem enganar, são todas saídas de um romance da Jane Austen. Se dizem que acham um anel de noivado piroso, isso é meramente um desafio para encontrarem um que não o seja. Se desvalorizam ou rejeitam o conceito de casamento, é só para aumentar o índice de dificuldade e fazer um teste. Se defendem o direito ao trabalho e a querer ter uma carreira, o que estão a deixar implícito é que adoravam ter um homem forte e poderoso para poderem estar sossegadas a cuidar dos filhos e a dedicar-se à pintura, piano ou decoração. A maior parte das vezes não se apercebem disto e estão convictas de que são modernas. Estão naquilo que eu chamo de "estado de hibernação feminista". O mundo está cada vez mais repleto de ursas num rigoroso inverno de sibéria de romantismo. E saem da hibernação de duas formas, ou a bem ou a mal. A bem, é quando são surpreendidas pela própria reacção de agrado (ou mesmo euforia) por serem alvo de uma atitude romântica ou quando se apaixonam para lá da própria sanidade mental. É como se regredissem ao estado em que faziam vestidos para as bonecas e sonhavam com o príncipe encantado. A mal, é quando, aos 30 e poucos, a cuidar dos dois filhos do ex-companheiro que assumiu outra orientação sexual a meio de uma sessão de swing com um casal poligâmico, passam por uma loja de vestidos de noiva. Olham para um vestido e para o próprio reflexo translúcido no vidro da montra, sobreposto ao manequim sem rosto e choram. Amargamente.