sábado, 11 de agosto de 2012

Paulo Coelho e James Joyce

Paulo Coelho diz que o Ulysses do James Joyce fez mal à literatura: Writers go wrong, according to Coelho, when they focus on form, not content. "Today writers want to impress other writers," he told the paper. "One of the books that caused great harm was James Joyce's Ulysses, which is pure style. There is nothing there. Stripped down, Ulysses is a twit."

Estas declarações causaram grande agitação porque vieram de Paulo Coelho, o que as torna ofensivas em vez de meramente polémicas. É um bocadinho o mesmo que o Tony Carreira considerar que o David Bowie "foi mau para a música porque as letras dele não fazem sentido" ou o Michael Bay considerar que o cinema de Ingmar Bergman "não tem explosões que chegue".

Paulo Coelho, por seu lado, fez muito mal à humanidade ao contribuir para fenómeno do misticismo fast-food new age que, nestes tempos de decadência da ortodoxia religiosa, encontrou terreno fértil.

No entanto, eu entendo o que ele diz de Joyce. Eu próprio já escrevi palermices do género e o Bukowski também. Já tentei ler o Ulysses duas vezes e o Portrait Do Artista Enquanto Chavalo uma vez. E desisti sempre por desinteresse. Não gosto de meta-literatura, mesmo da boa. Ainda ontem desisti de ler E Se Numa Noite de Inverno Um Viajante de Italo Calvino e já ia a meio. Cansei-me. É um daqueles romances experimentais em que cada capítulo é um exercício de estilo de um género de romance. Tal como o Ulysses, também vem com uma espécie de esquema na primeira página a explicar a obra.

Mudei para o Victoria de Knut Hamsun, com as suas histórias simples de filhos de moleiros que vivem na floresta imersos num delírio de fantasia e se apaixonam por uma menina da cidade que vem acompanhada de rapazes da cidade muito arrogantes e maus e há cavernas e espíritos e ursos.


 Não sei se sonhei com isto, mas acho que li em qualquer lado que o Joyce deixou de escrever para se dedicar à carpintaria e teria desvalorizado o que escreveu, descobrindo beleza maior nas histórias infantis e nas canções e poemas populares. Não confio na minha memória. Posso ter sido muito bem eu a escrever isto e agora julgo que o li em qualquer lado. Tenho tendência a imaginar factos que vão de encontro à maneira de como eu gostava que as coisas fossem. Por exemplo, acreditei durante muito tempo que o hino de portugal dizia "nação valente e mortal", uma versão certamente mais do agrado do Michael Bay também.

8 comentários:

Sãozinha disse...

Esse Knut também me põe a dormir. O Joyce nunca tentei, credo.

Anónimo disse...

O problema dos medíocres não é o dinheiro que ganham, é o espaço que ocupam.
O Coelho, Paulo de sua graça, não escreve só disparates, também os diz.

Maria Helena

Isa disse...

Sim, o PC fez muito mal à língua portuguesa, entre outras coisas.

a.i. disse...

hey, não digas mal do "Se numa noite de inverno..." é um dos meus favoritos. Nenhum livro com um tão bom começo pode ser mau: aquela descrição inicial de como todos nós temos livros que já lemos, outros que dizemos que já lemos mas que não temos realmente intenção de ler, é genial.
quanto ao paulo coelho, é pena o carl sagan ter morrido antes dessa fenómeno, acho que ele era capaz de he dedicar um capítulo inteiro de uma reedição do Mundo infestado de demónios

Maat disse...

o do calvino li. há muito tempo já. não fiquei com grande impressão dele. foi daqueles livros que me custou um pouco a acabar mas acabei. não gosto de deixar livros a meio.
o Ulyses... bem, o Ulyses nunca li com medo. deves perceber que quem andou num curso de literatura tem os seus demónios. pronto, o meu é esse. 'Ulyses de James Joyce, o livro mais difícil de sempre'. tenho medo de não perceber nada, segundo consta na mitologia literária. um dia, quando for velha, e já não tiver medo de nada, tento lê-lo. até lá, continuo a ler coisas mais simples (tipo eça - que saudades de eça - vou dedicar o post de hoje à leitura).

Mak, o Mau disse...

Bem, para começar, os livros do Coelho deviam ter avisos como os dos maços de tabaco. Aquilo é nocivo e ponto final.

Quanto aos exercícios de estilo, creio que há espaço para eles, como também nunca há de deixar de haver espaço para os resumos de vulgaridades, lugares comuns e exploração bacoca de tendências. A única questão maior, a meu ver, é se é um exercício de qualidade ou não e se o autor (como o PC) vive ou não da repetição da mesma fórmula.

No caso do Ítalo Calvino, apesar da leitura não ser efectivamente fácil, olhas para a obra dele e vês que é um exercício coerente com o tipo de narrativas que ele explora. É perfeitamente viável não gostar (tanto do autor como dessa obra em particular), mas aquilo não só está muito bem construído, como mexe com quem o lê, obviamente quer no bom sentido quer no mau.

Mas neste último caso sou suspeito, porque sou adepto do jovem Ítalo.

Anónimo disse...

Vale a pena ler o Joyce, vale a pena ler o "Ulysses", custa, chega a doer, mas é bom, é único.

O Paulo Coelho diz que o "Ulysses" "is pure style. There is nothing there."; tal qual o meu cão quando, outro dia" lhe dei um pedaço de pizza.

MDRoque disse...

Li o Ulysses há anos e gostei muito... Acho que já li um livro do Paulo Coelho... estou a pensar se acabei ou não... ou então tinha poucas páginas....