quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pessoas que perderam o emprego e agora tiveram de arranjar outro: O primeiro ministro que agora é estudante de filosofia em Paris

- Bonjour! Aujourd'hui on va examiner les postulats de Kant, mais avant de comencer, je voudrais salouer un nouveau etudiant. Le ex premier ministre de Portugal est ici avec nous, et il a un nom de philosophe. Mon cher, c’est une honeur de vous avoir ici.
- Enchanté.
- Êtes vou bien instalé a Paris?
- Oui je beacoup. Eifel… mangé le croissant et le champagne… fromage! Beacu fromage. Camembér oh oh. Oui ui.
- Ah… Et vous aimez Paris?
- Oh la lá, trés trés le Paris, la cidade que ne dors jamais! Il avais les bonecos, do Dartacão, ai como é que se diz... le Dartachien, j’etais etudiant e nunca perdia un episódio. La belle et le monstre, le corcunde de Notredame que era assim marreco… marreq? Et claro, le Louvre, la Mone Lise, le Gire Soleil de Van Gogh, les impressionistas qui me fazem muita impression, mas de la bone impression... tante chose.
- Je ne comprens pas trés bien mais… euuh… vous conaissez Kant?
- Quem? Pardon, quoi?
- Emanuel Kant, le philosophe…
- Je parlê pá le francês trés bien. Peoples tell me le class was em english. I speaks le english.
- Oh, do not worri monsieur! We wil have the classes in inglish, so that you and all the students are ok and understand all dat we are saíng.
- Bolas, que este gajo faja mal que se farta. Vou ligar ao Luís... Luís, tou? Luís, disseste-me que isto era em inglês! Estes tipos falam mal inglês e não percebo o que dizem… está bem, ser simpático, mas vê lá se me arranjas um tradutor e… está bem Luís, eu ponho os livros em cima da mesa à mostra… mas ficam melhor assim um bocadinho espalhados ou assim todos alinhados numa pilha?
- Monsieur, we are not allowed to use the telephone in the class…
- tenho de desligar Luís. Sorry, le sincere pardon beacu.
- No probléme. Oh, I see that you have Nietszche books on your table. Veri interresting. You like Nietzsche.
- I like Nietzsche? I has not le moustache, I is diferent dele. É que não tem nada a ver… regardez la cape do livre, aqui ó... moustache!
- I was saíng that you must enjoy reading Nietzsche, izit not so?
- Yes, beaucoup… very much. All the times le reading, before i sleep, i read filosofia, le glass of milk, le cookie, le fromage, le sleep and… and i think very much during night. Au clair de la lune, like you peoples in france say!
- Ah, oui… Nietzsche says exceptional people must no longer be ashamed of their… uniqueness in the face of a morality for all people, which Nietzsche thinks to be harmful to the development of exceptional people. With your political experience, all that power, you must have thought about this, sometimes, non?
- Yes, i has. I likes to think.
- But do you agree with this idea of no morality for exceptional people?
- Yes.
- Yes?
- I mean no… I mean yes... Yes and no... No and yes… no? Just a bit no? Or a bit yes? Who knows? Un peti peut? La vache qui ri… ele ri? De quoi? Hmm? Of le Nietzsche? Le Kant?
- I am sorry, I’m not looking for a right answer monsieur, just what you are thinking… if you do not know and that is…
- Stop interupting me, i was answering the question, if you give me 5 minutes I can explain this!
- Pardon monsieur…
- We have great philosopher em Portugal who once said: “mais vale um pássaro na mão, que dois a voar”, better one bird in the hand than two birds flying. Voler? Vous comprends? Volare? Like this? Not in the hand, but flying. Free. If the bird is in the hand, he canot voler! We also have a philosophy in Portugal that goes like this: “ovo é, galinha o pôs”. Egg it is, chicken putt… puted… putou-o…

segunda-feira, 27 de junho de 2011

procuro emprego

Exmos Senhores,
Venho colocar-me à Vossa disposição para uma entrevista de emprego que poderá nem ser bem uma entrevista. Pode ser uma conversa. Apesar de eu ser genial, tenho a capacidade de ser humilde e sinto-me um pouco embaraçado que me queiram entrevistar e por isso ficam à vontade. Também vos posso entrevistar a vocês se quiserem.

Quero um emprego em que não tenha de pensar demais e em muitas coisas ao mesmo tempo e que não tenha reuniões. Seja qual for o emprego, só quero um em que não haja reuniões. Sei que há pouca oferta de empregos sem reuniões porque as reuniões são muito importantes para os portugueses. A Internet não chega a toda gente e a rede de telemóvel ainda é fraca e cobre apenas 10% do país e por isso é necessário transmitir informação uns aos outros em pessoa, como o Imperador Alexandre da Rússia quando se encontrava com Napoleão. Também é uma forma de combater a solidão e a exclusão que tanto mal faz nas modernas sociedades e aos velhinhos. Tudo isto eu compreendo, mas se calhar sou uma pessoa solitária por natureza.

Gostava de arranjar barcos em Peniche, por exemplo. O barco chegava com mossas e ferrugem e riscos e aquelas lapas que se colam ao casco e eu ia lá com uma faquinha e raspava bem aquilo, lavava com javisol e punha um bocadinho de cera, esfregona etc.

Gostava de uma profissão ao ar livre e no meio da verdura, mas que não seja prostituto no Parque Eduardo VII ou no Príncipe Real, que é o que toda gente me sugere quando digo que gostava de ganhar dinheiro rápido sem trabalhar muito.

Não me importo nada de ser cozinheiro, eu gosto de cozinhar e sei fazer muitas variações de massa com coisas, como atum, cavala, mexilhões. Sei uma forma de abrir as latas sem que saiam salpicos de óleo direito à pessoa que a está a abrir, o truque é não abrir a lata toda até a tampa sair, porque é quando a tampa sai que o óleo salpica.

Posso ser guarda-florestal, eu gostava e acho que tenho as qualificações para isso, ficava assim à beira da floresta e quando viessem pessoas com cigarros ou intenções de fazer fogueiras eu mandava-as dar meia volta, que fossem pegar fogo à casa deles já agora. Também sei falar com os animais e podia resolver os conflitos entre eles. Topo-lhes as manhas. Por exemplo, os esquilos fazem aquilo de vir um armar-se em engraçado à frente do urso ,a fingir que está a tocar gaita de beiços (com uma avelã) e vem outro por trás e rouba o mel ao urso que está distraído, são tipo os romenos da floresta.

Posso fazer muita coisa, se me deixarem. Posso ser nadador salvador numa praia que eu conheço e que mais ninguém conhece, ali pelos lados da Foz do Arelho, é praticamente inacessível e por isso não é vigiada ainda.

Eu quero mesmo é ser escritor mas acreditem que vou levar muito a sério o vosso emprego e as vossas ordens, desde que não interfiram muito comigo.

Atenciosamente,
Tolan

sexta-feira, 24 de junho de 2011

quero que saibam que se eu escrevo para vocês é porque me fizeram o favor de ignorar totamente o meu talento como produtor de música, obrigado :* e continuem a ouvir o vosso lixo

"Tolan" - Beach House - Pavement Remix (2007?)

já percebi porque é que a minha box às vezes muda de canal sozinha e grava coisas aleatórias

Quando as pessoas estão apaixonadas fazem coisas muito estúpidas, como estar apaixonado (por exemplo). Então deixam de raciocinar bem e tropeçam em coisas e a senhora do supermercado tem de lhes dizer o valor da conta duas vezes. Acham que estão muito felizes e, na prática, só conseguem fazer os outros todos sentirem-se miseráveis porque se lembram de ter passado por aquilo também e agora já não passam. Algumas pessoas, felizmente, demoram tempo a apaixonar-se o que dá margem de manobra para se safarem a tempo. E tendem a relativizar tudo, a crise, os problemas sérios, o trabalho, as ordens aleatórias do chefe, as conversas dos amigos que as tentam levar para temas que não a pessoa espectacular que o apaixonado eleva ao olimpo, e que é espectacular e que é assim e assado, que tem dois olhos e tudo e cabelo e mãos e os dentes todos etc. E mudando de tema, encaram a conversa do amigo que diz que vai ser pai e do outro que perdeu o emprego com tédio e contam os minutos até ao próximo mail, mensagem ou encontro com o ser humano da sua paixão. Outros ainda vão mais longe e aquelas coisas de que gostavam e que as iam entretendo perdem o interesse e tornam-se até um pouco ridículas, como quando na adolescência ainda fazemos um esforço para pegar num brinquedo que ainda há dois anos nos parecia divertido. E depois perdem o apetite e prejudicam a própria saúde, custa-lhes engolir a comida mas estão sempre com fome, dormem mal e a tensão sobe. Têm vontade de dizer a toda gente que estão apaixonados mas como os amigos começam a esconder o status online no facebook e a não atender o telemóvel, dizem a estranhos, mesmo à senhora da caixa que fica a olhar para eles desconfiada e repete o valor da conta pela terceira vez. E quando vão ao cinema e está a dar uma cena romântica acham-na falsa e pequena comparada com a vida deles e as músicas românticas, pensam que foram escritas de propósito para eles, são muito egoístas e egocêntricos os apaixonados. Os estados de espírito mudam sem aviso, ora sentem um peso muito grande no peito ora pensam que ficam levezinhos e que podem ser levados por uma corrente de ar e tudo porque determinada palavra ou ausência de palavra do seu amor os pôs assim. Claro que do outro lado está outra pessoa (nos piores casos) no mesmo estado de espírito e então esta situação tende a reagir em cadeia! É um Fukushima todos os dias, é o que acontece nas estrelas por exemplo, só que as estrelas estão longe e não chateiam, é lá uma coisa delas. Excepto o Sol, esse está perto e às vezes manda com muitos UVs para cima das pessoas que não têm nada a ver com isso e só queriam ir à praia ou então manda com tempestades electromagnéticas que dão cabo dos satélites todos e depois têm de ir lá o electricista astronauta acima arranjar aquilo, mudar a motherboard e os fusíveis. E se o electricista astronauta estiver apaixonado, a NASA está bem lixada porque ele vai trocar aquilo tudo e meter o chip no sítio errado e ligar o fio vermelho ao verde e o amarelo ao azul que são os que mandam nas boxes do planeta terra, enquanto assobia o can't buy me love dos beatles todo contente dentro do fato espacial, a embaciar o visor todo. E é por isso que a minha box às vezes tem estes comportamentos, fica aqui a nota, pode alguém ter o mesmo problema.

viver nas nuvens

A história tem uns quantos artistas geniais que se deixam enredar no hábito de tentar responder às questões que importam, Tolstói é um deles. A certa altura descobre que a raiz de todo o mal está a propriedade por exemplo, idealiza uma vida de peregrino despojado de bens. Tolstói procurava ora na filosofia (racional) ora na religião (fé) uma solução, também deixou de escrever, contrariando os amigos escritores que imploravam para que não o fizesse. Para onde quer que se virasse, não encontrava solução para os seus prórpios problemas (até se tornou, não ateu, mas profundamente anti-clerical e anti-igreja, procurando ter ele próprio a sua interpretação das sagradas escrituras). Em Portugal, Zeca Afonso foi o último artista 'santo'. A questão para ele era 'se eu penso isto, se isto é a verdade, então tenho de levar as coisas às últimas consequências' e então tinha pânico de se comprometer e não ser verdadeiro, num mundo muito cinzento e confuso que o tentava arrastar para um lado ou para o outro e que se preocupava com coisas muito mais prosaicas e práticas.

As questões que importam têm o problema de não terem resposta e qualquer cidadão normal, mesmo um com algumas angústias, ou mesmo um artista qualquer, convive bem com isso.

Podemos pensar em Deus num momento em que vemos um céu estrelado ou num funeral, mas não é que tenhamos de pensar nele 24h por dia ou quando estamos na privacidade do WC e isso se torna constrangedor. Podemos preocupar-nos com os pobres mas não significa que tenhamos de sacrificar a nossa situação e sermos peregrinos sem nada. Conheci uma pessoa assim uma vez, e era uma pessoa tenebrosa, fez isso de dar tudo, mas depois cravava as pessoas para tudo e não se calava com o facto de ter feito isso, tinha muita fé e tentava convencer os outros a fazer o mesmo.

somos só uns pequenos animais, uns bichos. As ovelhas são demasiado burras para irem sequer para a sombra das árvores ali ao pé e muitas morrem de insolação e nós somos assim. E depois alguns armam-se em cão-pastor. Tolstói e Zeca Afonso pensavam que eram parte do rebanho com as suas músicas e livros porque sentiam que não eram compreendidos integralmente ou que aquilo era entretenimento, o que em grande parte é verdade. Mas essas coisas, os seus livros ou músicas, eram pequenas nuvens a passar por cima do rebanho, projectando um pouco de sombra fresca nas existências áridas.

"é canónico, só experimentando."

O Atum Macaco respondeu à corrente dos livros.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

a conversa ficou-se por aí

Pensei em mais pessoas para a rúbrica do you think i'm sexy, é complicado, porque o objectivo não ser "mauzinho" e seria mauzinho se incluísse o Rui Santos, ou Pedro Rolo Duarte ou o José Luís Peixoto. O António José Seguro é uma classe totalmente à parte. Tem um ar confiante embora nos seja misteriosa a origem dessa confiança, mesmo com um grande esforço de observação e alguma boa vontade. Tem uma posição importante  e ambiciona ter uma posição ainda mais importante; uma que tenha influência na nossa vida e nas nossas posições na vida. Que mal nos fez? Nenhum. Que bem nos fez? Nenhum. O que quer ele? Não sei. É complicado recordar com clareza qualidades distintivas, detalhes. Uma pessoa ouve-o falar no telejornal e depois é acometido de uma amnésia indiferente no curto espaço de tempo de ir buscar mais uma cerveja ao frigorífico.

A propósito, recordo-me da primeira página do Almas Mortas do Gogol em que é introduzido o protagonista Tchítchikov: Na britchka vinha um senhor, nem bonitão, nem feio de todo; nem muito gordo, nem muito magro; não se diria que fosse muito velho, nem tão-pouco muito jovem. A sua entrada não provocou na cidade qualquer alvoroço nem foi acompanhada por nada de especial; apenas dois mujiques russos parados à porta de uma taberna em frente da estalagem trocaram algumas impressões que, aliás, tinham mais a ver com a carruagem do que com o seu passageiro: «Ena - disse um para o outro -, que roda! O que achas, uma roda destas aguenta até Moscovo, se for caso disso, ou não aguenta? - «Aguenta.» respondeu o outro. «Mas até Kazan não aguenta?» - «Até Kazan não aguenta» - respondeu o outro. A conversa ficou-se por aí.»

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Do You Think I'm Sexy? #1

Nome Completo: António José Martins Seguro
Data de Nascimento: 11-03-1962
Habilitações Literárias: Licenciatura em Relações Internacionais, Frequência de Mestrado em Ciência Política
Profissão: Docente Universitário;
Pofissão: Deputado e candidato à liderança do PS

Senhoras e homosensuais, avaliem numa escala de 1 a 10 em que 1 significa "António José Seguro" e 10 significa "George Clooney / Colin Firth / Tolan ".

terça-feira, 21 de junho de 2011

well, I'm a lady, you know?

Fui muito injusto porque a Lady oh my Dog! me tinha passado a corrente às 0:13 do dia de hoje e eu não vi e logo a Lady Oh My Dog! que é uma lady, you know?

1 - Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
Volto a alguns livros por questões técnicas, do género lembrar-me de como o Bukowski começa um livro ou como o Twain mantem a coerência numa voz juvenil etc. De resto, com o alzheimer, vou ter vontade reler o mesmo livro todos os dias, provavelmente as mesmas 10 páginas.


2 - Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Sim, Ulysses, James Joyce e praticamente dos os livros de análise matemática e cálculo numérico na universidade.


3 - Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?
Um bom que não tivesse lido ainda, assim pelo menos ainda lia mais um.

4 - Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
As Mil E Uma Noites. Nunca o vi à venda.


5- Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?
O Castelo, do Kafka, não tem cena final, é inacabado, a edição que li tinha esboços de vários finais alternativos e o facto do Kafka não saber como terminar aquilo apenas reforçou mais o próprio livro.

6- Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
Sim, ficção científica manhosa (Aventuras de Tom Swift, Os Trípodes, Contos Fantásticos de Ray Bradbury) e muita BD (Tintin, Asterix, Spirou, Snoopy, etc.), Jack London, O livro da Selva etc.

7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
O Dom Quixote de Cervantes, não é um livro chato, mas tem partes que são, é um calhamaço gigante. Li-o até ao fim porque agora já posso dizer que o li e isso confere-me credibilidade e até uma certa mísitica.


8. Indica alguns dos teus livros preferidos.
ver post abaixo

9. Que livro estás a ler neste momento?
Guerra e Paz, Tolstói ehehehe bingo ^_^


10. Indica dez amigos para o Meme Literário:
http://ruadaabadia.blogspot.com/
http://quintoesquerdotras.blogspot.com/
http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/
http://oanaogigante.blogspot.com/
http://restosesobras.blogspot.com/
http://desertacoes.blogspot.com/
http://atumacaco.blogspot.com/
http://naopercebiapergunta.blogspot.com/
http://infernocheio.blogspot.com/
http://viagensnasurrealidadequotidiana.blogspot.com/

uma auto-corrente de post literário

Anda aí uma corrente que ninguém me passou e era sobre livros, pedia-se a bloggers que respondessem a uma série de perguntas sobre livros (agora já não vale). Em consequência disso e da situação do Fernando Nobre, esta noite, sonhei que saía um artigo num jornal com uma apanha dos melhores bloggerse estavam lá uns 8 nomes, incluindo alguns obscuros e eu não estava e fiquei irritado. E depois uma mulher, que pelos vistos devia ser minha esposa, diz-me: "mas não és tu que dizes que os críticos não percebem nada?" e eu anuí tristemente "sim, sim, é verdade" e comecei a tentar ver a coisa pelo lado positivo: "se fazem uma lista e eu não estou nela, quer pelo menos dizer que sou diferente" e atirei o jornal para o lado. Só que no íntimo sabia que ela ficaria orgulhosa se o meu nome saísse ali porque, para uma mulher, é importante o que a sociedade em geral pensa do seu homem (traduzido em fama e dinheiro, normalmente ambos). Depois voltei a sonhar que perseguia coelhos, que é uma coisa que me descontrai bastante e acordei bem disposto porque percebi que nem sequer estava casado nem nada.

Não recebi esta corrente, mas recebi há tempos um mail de um leitor a perguntar-me directamente os 10 livros que eu recomendaria como imprescindíveis para se ler e comecei a trabalhar nessa lista de 10 livros, muito feliz de me pedirem a opinião (falei nisso a uma miúda, para a impressionar). Também me pediu uma lista dos 10 melhores videogames (é um bom leitor, o leitor ideal diria). A dos jogos, cheguei logo à conclusão que é impossível de se fazer. E a dos livros, também.

No caso dos jogos, o problema tem a ver com a tecnologia e a sua exponencial evolução num curto espaço de tempo. A literatura é, tecnologicamente, a mesma coisa: letras a formar palavras que formam frases, ideias etc. Um jogo tem de envolver os sentidos com o recurso da tecnologia e qualquer hardcore gamer só jogará a um jogo da geração anterior da consola ou do computador, por piada (ou porque não tem dinheiro para uma PS3 nova), quanto mais um clássico da Atari com 30 anos. Ora, na literatura, macacos do Monkey Island me mordam se não podemos hoje ler o  Dom Quixote do Cervantes e mesmo assim retirar um prazer real e efectivo, sem qualquer esforço ou condescendência - nunca dizemos "olha que engraçados que eram os livros nesta altura ahahaha tão fofinhos, o Sancho Pança é uma bola e o D.Quixote um rectângulo com uma linha que deve ser a lança ahahah e as descrições são todas pixelizadas ihihihih".

É claro que podia resolver isto pensando nos jogos de que retirei mais prazer, mas o problema é que a tecnologia apareceu com a minha infância e evoluiu comigo, tornando-se indissociável da capacidade de ficar imerso num mundo imaginário próprio das brincadeiras. Não vou ser eu aquele trolaró que diz que os desenhos animados no nosso tempo é que eram,  porque hoje, aos 35 anos, fica a olhar com cara de parvo para os bonecos que os filhos vêem. A não ser, claro, que a tecnologia evolua até ao ponto de enganar todos os sentidos, como no Existenz do Cronenberg. Aí a coisa muda, vai acontecer e, nesse momento, a arte dos jogos estabilizará enquanto tecnologia veremos apenas evoluções na forma, como sucede no Cinema, pontuadas por detalhes tecnológicos superficiais (3D, gráficos digitais etc.).

Quanto aos livros, cheguei à conclusão que era um pouco escusado fazer uma lista dos melhores, visto que estaria a chover no molhado.Então lembrei-me de listar livros que considero mais próximos de mim, isto é, uma lista mais coerente, feita de livros que têm algo em comum, achei que podiam ter sido escritos tendo-me a mim como o seu leitor ideal. À medida que vamos lendo pode começar a desenhar-se um padrão pessoal de gosto, como se na literatura vissemos reflectida um 'eu' até então desconhecido, a desenhar-se com bocadinhos da grande obra literária universal que também diz muito ao meu semelhante, inclusive semelhantes que nasceram há 300 anos. Existe a probabilidade de um leitor deste blogue gostar deles, a não ser que esse leitor leia este meu blogue com o mesmo espírito com que eu leio o 5 Dias ou os posts do Henrique Raposo que o maradona às vezes linka. Mas mesmo isso não é certo porque tenho recebido relatos de pessoas desiludidas com o Bukowski por exemplo, o que me faz pensar que este blogue não está a ser bem feito. Portanto, vou inaugurar uma nova forma de fazer correntes, que é dirigi-las para mim e acabá-las em mim: Tolan, por favor, começa a fazer a lista de rajada sem pensar muito e pára dentro de 20 minutos.



O Castelo, O Processo, o Estrangeiro (ou América) - Kafka
Gogol (em geral)
Um Herói do Nosso Tempo - Leermontov
O Idiota, os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo - Dostoiévski
Le Rouge Et Le Noir - Stendhal
Voyage au bout de la nuit - Céline
Salinger (Salinger em geral)
Post Office, Ham on Rye, contos em geral - Bukowski
L'ecume des jours, Morte aos feios, Elas não percebem nada etc. - Boris Vian
Fome - Knut Hamsum
Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Molloy - Becket
Saroyan em geral
As aventuras de Huckleberry Finn - Mark Twain
O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
Os Nús e os Mortos - Norman Mailer
A extensão do domínio da Luta - Houellebecq
Lolita, Convite para uma decapitação, O Dom - Nabokov
O Deserto dos Tártaros - Dino Buzzati
Contos (em geral) - Truman Capote
A Queda, o Estrangeiro - Camus
Guerra e Paz - Tolstói
Contos em geral - Tchékov
Robison Crusoe - Daffoe (versão original completa)
Dom Quixote - Cervantes
Confissões de Uma Máscara, O marinheiro que perdeu as graças do mar, - Mishima
Belle du Seigneur - Albert Cohen
Tolkien em geral, particularmente o Silmarillion, o Hobby e o Senhor dos Anéis
Contos em geral - Guy de Monpassant
Poe (contos)
Além - Huysmans
O Ano da Morte de Ricardo Reis e O Evangelho Segundo Jesus Cristo - José Saramago
Cartas de Guerra, volumes 1 e 2 de crónicas, Fado Alexandrino - António Lobo Antunes
Eça, em geral duh
Heart of Darkness - Conrad
Shining - Stephen King
A Ilíada e a Odisseia - Homero 

acabou o tempo

*acrescentei agora o O Que Sabemos do Amor - Raymond Carver, este tem de lá estar.

** apercebi-me ao ler a lista que não sei quem sou mas não queria apagar aquele parágrafo com a lenga lenga do nosso retrato pessoal a desenhar-se etc., talvez se desenhe mais facilmente com uma lista dos grandes livros de que não gostámos (livros que sabemos que objectivamente são bons mas com que não fomos à bola)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

a pergunta que todo o blogger faz de forma mais ou menos implícita em todos os seus posts

ronery, I am sooo ronery


Eu compreendo-te Nobre, amigo, eu compreendo. Eu também disse que não seria apenas "mais um escritor" e que se fosse apenas mais um escritor renunciaria ao cargo de escritor embora saiba que isso não é bem verdade e se calhar até fico contente com um livro impresso e fazer aquelas conferências culturais e debater livros num palco em frente a uma plateia de gente a esforçar-se por ver elevação naquilo tudo. Somos fracos. É estúpido não é? Uma pessoa está sossegada a fazer aquilo que sabe e todos gostam de nós e depois vai e por orgulho, por missão, por uma qualquer angústia que nos faz pensar que os outros precisam de nós, o país inteiro (quiçá o mundo!), mete-se numa aventura a pensar que os caminhos se vão abrir todos e que as pessoas nos vão compreender e depois ninguém quer nada connosco e somos um empecilho tão grande que mesmo num acordo entre dois partidos de direita somos a única coisa que fica de fora. E de longe, quando comparados com deputados ou escritores portugueses, até parecemos piores do que eles, o que se nos afigura como a pior humilhação possível visto serem precisamente estes os homens que considerávamos fazerem mal aquilo que nós saberíamos fazer muito melhor. Resta-nos a consolação que, com o tempo, com a nossa morte e o desaparecimento da nossa pessoa, nos vão ver de outra forma e reconhecer o nosso génio e pedir desculpa pelo quão injusto Portugal foi connosco, como foi com o Camões por exemplo. É possível que isto seja uma triste ilusão mas é indiferente porque, como estamos mortos, não somos confrontados com isso. Espero que encontres conforto nestas palavras.
Abraço

se calhar era só alguém que picava cebola ali por perto

«Depois do almoço, Natacha, a pedido do príncipe Andrei, sentou-se ao clavicórdio e cantou. O príncipe Andrei estava junto à janela a conversar com as senhoras e a ouvi-la. A meio de uma frase teve de se calar e sentiu, inesperadamente, que as lágrimas lhe apertavam a garganta, umas lágrimas de que não se sabia capaz. Olhou para Natacha a cantar e na sua alma aconteceu qualquer coisa nova e feliz. Feliz e ao mesmo tempo triste. Não tinha motivos válidos para chorar, mas estava prestes a chorar. Chorar por quê? Pelo amor antigo? Pela pequena princesa? Pelas suas desilusões?... Pelas suas esperanças de futuro? Sim e não. O que lhe provocava aquela vontade de chorar era uma terrível oposição, que súbita e agudamente consciencializou, entre qualquer coisas infinitamente grande e indefinível, presente nele, e qualquer coisas estreita e carnal, que era ele próprio e, até ela própria. Aquela oposição atormentava-o e alegrava-o enquanto Natacha cantava.» - Guerra e Paz - Tolstói, Editorial Presença, tradução Filipe e Nina Guerra.

codex

Sentir que se está bem quando na realidade se está mal ou sentir que se está mal quando na realidade se podia estar pior, são erros comuns. Às vezes, na esplanada das mesas de plástico vermelho, pouso o Guerra e Paz ao lado da caixinha de guardanapos e pergunto-me se somos dignos de o ler. Mesmo que o céu esteja nublado à noite, há todo um universo acima das nuvens e outro debaixo delas. Uma sensação desagradável é não saber o que fazer da vida mas essa sensação desagradável é constantemente substituída por outras como tomar um duche de água gelada porque o esquentador não funciona. Vou dar uma voltinha de bicicleta. Os travões da minha bicicleta estão carcomidos do salitre e já não funcionam, cada viagem é uma prova de fé.

reconstrução

Agora que as coisas entre mim e a Nastássiuskinha terminaram, estou a passar pela fase de reconstrução dela e a analisar friamente o que se passou. Só podemos amar uma gata que não conhecemos muito bem, já o dizia o Bukowski. Achei que o pêlo dela era sedoso e bonito quando na realidade estava sempre emporcalhado de andar por aí de rojo. Achei que ler-lhe Tolstói em voz alta lhe agradava, mas na realidade só esperava pela próxima cavala em azeite e a maior parte das vezes adormecia. Achei-a elegante mas na realidade é apenas escanzelada, o ser ruim emagrece. Pensei que o seu espírito fosse elevado mas é do género de pessoa que para se lavar se lambe a si própria. Sempre a recusar os meus avanços para festas nas orelhas com desculpas como "fffsssssss" e "meaaaaawwww!!!" E eu até sou um homem experiente, não sei como caí nisto. Se me dessem um cêntimo por todas as vezes em que ouvi fffssss, meaaaaw e 'estou muito cansada', tinha agora o suficente para comprar um... uma... sei lá, uma sandes de ovo. O problema é ser uma gata, as gatas têm uma comunicação complicada e livre arbítrio, nunca sabemos o que estão a pensar e o que vão fazer. Do que eu precisava era de uma boa cadela, como a Virgínia Woof. Não era muito faladora, mas sabia sempre no que ela estava a pensar: comida agora? passear? ohh não vás embora! voltaste! sim, aí atrás da orelha é bom etc.

domingo, 19 de junho de 2011

todas iguais

Porra, dei-lhe polvo, dei-lhe atum, dei-lhe cavala, tudo coisas que eu próprio como e comprei-lhe o mix de croquetes para gato e hoje estou a ler o Guerra e Paz a beber uma cerveja, a relaxar o corpo dorido do surf e oiço uns gemidos dengosos. Olho para o quintal do lado e está um gatarrão ruivo em cima da minha Natasha. E a morder-lhe o pescoço e a tentar pôr-se a jeito. E ela a fingir que não gostava, estava colada ao chão e com as peles todas esticadas para trás com os dentes a verem-se porque o outro a estava a morder no pescoço e não a deixava fugir.

Fiquei em choque. Levantei-me, entornei cerveja e o livro e gritei

NATASHA! Como pudeste? E o polvo à marinheiro!?! Não significou nada para ti? Fui eu que fiz de ti uma estrela no video dos x-files no meu blogue! É debaixo do meu carro que te abrigas todas as noites quando o motor está quentinho! É na minha cadeira que deixas o teu pêlo seboso! E agora aqui como uma rameira, em brincadeira sado-masoquistas com esse... esse...


Ajoelhei-me e chorei um bocadinho.

Porquê Natushka, Nastássia, Tasha, Tashiuska...

Os dois pararam com aquilo e olharam-me fixamente, ele com os dentes ferrados no cachaço dela e a Natasha com a cara esticada pelo repuxão. Ele não saía de cima dela, se calhar à espera que aquilo (eu) passasse e desaparecesse. Então fui a correr direito a eles e o gatarrão fugiu para os arbustos do quintal e a Natasha refugiou-se debaixo de umas escadas.

Hás-de cá vir! Hás-de querer ver a Lua à noite comigo enquanto fumo um cigarro e te dou lulinhas em caldeirada! - ainda lhe gritei.

Porra. Preciso de beber hoje.

sábado, 18 de junho de 2011

é bom aproveitar as férias para descontrair com hobbits relaxantes

surf movies

Gosto muito do meu Tolstói, há muito que não lia um livro com este sentimento pleno, não apenas de gosto ou empatia, mas também existencial, torna-me observador e pensativo. Estou numa zona sem cabo, ao pé do mar e com duas pranchas de surf, uma grande para os dias de ondas pequenas e outra pequena para os dias de ondas maiores (hoje é um desses dias). Há lojas de surf que vendem filmes de surf e vou lá de bicicleta ver as coisas. Sempre tive algum preconceito contra filmes de surf recentes, tendia logo a pensar numa uma estética Portugal Radical, cheia de cortes, montagem histeriónica e um rock apunkalhado de 2ª, quando não ska, esse terror musical. Como em todos os géneros, nos filmes de surf há clássicos e outros de mastigar e deitar fora, há coisas boas e más e há um punhado de obras com uma fotografia que poderia pertencer a filme do Malick.

Tenho notado uma crescente consciência artística e contemplativa nos realizadores e na atitude geral no surf actual, a reflectir-se logo nas bandas sonoras muito interessantes ou na procura de referências "retro", desde as próprias pranchas às carrinhas antigas que transportam os alemães às centenas aqui para a praias de Peniche.

Os meios digitais democratizaram a realização de filmes independentes de qualidade, mas o mercado do surf também cresceu e popularizou-se e, havendo patrocínios de marcas, há a possibilidade de usar meios que antes eram tão artesanais como o próprio surf. Pode dar-se o caso de estar apenas mais atento a isso porque também tenho um crescente desejo de fuga e contraste com a cidade e a vida de ruído e stress. Isto não é novo, na cultura dos 60s é importante distinguir bem o movimento hippie do movimento do surf. Apesar de ambos serem uma oposição ao modo de vida materialista e convencional, no surf não há propriamente modo de pensar ou uma consciência política. O contacto espiritual com a natureza é prático e directo e o objectivo é só andar numa onda perfeita.

Aqui dois exemplos recentes de bons filmes.



é fraqueza entre ovelhas ser leão*

Quando escrevi isto estava a pensar, entre outros, no Francisco José Viegas, uma pessoa que nunca me fez mal nenhum, nem fará (se Deus quiser), mas pela qual sempre nutri uma antipatia séria. É agora Secretário de Estado da Cultura. É jornalista, é uma coisa muito curiosa em Portugal, a quantidade de jornalistas que estão em altos cargos, por exemplo, na administração de empresas ou no marketing. Vejo Viegas como um parvenu que escolheu um ponto diferenciador para ascender: a cultura. Toda a paixão pela lusofonia, particularmente o Brasil, sempre se me afigurou como uma forçada procura de massa crítica aqui na aldeia, uma vez que o Brasil é um mercado gigantesco e uma pessoa que estabeleça uma ponte entre o Brasil e Portugal, pois que tem mais peso na cultura. Não sei se foi o Brasil  que procurou Viegas.

 Fernando Pessoa ou Camões são como adereços que o ligam a uma história credível e que o distinguem dos outros, mais contemporâneos e superficiais, mais de modas. Sobre Camões nas escolas diz que o problema é político, porque Camões «desde o século XIX que, infelizmente, Camões é sinónimo de patriotismo. Primeiro, pela mão dos republicanos; depois, pela do Estado Novo; depois, alternadamente, ora pela “esquerda cívica”, ora pela “direita das escolas”. De fora fica Camões como um génio a ler, reler e comentar. Às vezes, no Dia de Camões e das Comunidades, apetecia sugerir a leitura do autor de Os Lusíadas – um soneto que fosse, uma redondilha. Hão-de ver que é deslumbrante. » Não sei se o problema de Camões com estudantes é ver-se envolvido nestas considerações mas Francisco José Viegas não hesita. Eles, os senhores das escolas, não compreendem Camões porque não são livres de espírito, são da "esquerda cívica" ou da "direita das escolas". Viegas compreende, está acima disso e não teria dificuldade em ensinar Camões a putos irrequietos. Havemos de ver que é deslumbrante, como Viegas e só Viegas vê. Prevê-se também que Camões deverá ser servido, como um sublime acepipe cultural, nas próximas comemorações oficiais do dia da raça, talvez declamado pela bela voz de barítono de Pedro Passos Coelho sob o olhar beatífico e pestanejante do Professor Cavaco Silva.

Mas não é só em Camões ou Pessoa que Viegas parece procurar aquela mística de ligação com o passado e planar acima do seu tempo ao qual é imune, de charuto na boca (fumar é politicamente incorrecto etc.), qualquer fait divers serve. Por exemplo, a propósito da E. Colli, esfrega as mãos: «Algum dia teria de acontecer — e logo numa quinta de agricultura biológica. Parece que, até agora, as suspeitas acerca do E.coli recaem em amostras que têm sido porta-estandarte da dietética moderna e da «cozinha ilustrada»: pepino, rebentos de soja, beterraba, rebentos de vegetais usados em sanduíches. Sim, faltam a rúcula-bebé (etc.)
 
Qualquer dia tinha de acontecer, pois evidentemente. Também vamos aguardar serenamente pelo dia em que, não sei, alguém que defende os direitos dos animais maltrata uma criança ou que um ciclista em Lisboa atropela uma velhinha.

Também é fascinante a capitalização que tenta fazer de um misterioso judaísmo para se diferenciar. Um exemplo de fundamentalismo islâmico é noticiado, como a proibição de um beijo ou a obrigação de usar o véu e pimbas, Viegas refere-o e exibe-o a  um fantasma de esquerda anti-semita, com a autoridade de ser vítima pois é uma espécie de judeu por usocapião, não é como nós.

Assim, vai sendo politicamente incorrecto. Um observador atento poderia considerar estranho que uma pessoa assim tão politicamente incorrecta e livre e culta chegue a ministro ou secretário de estado em Portugal. A propósito, Vasco Pulido Valente descreve a sua curta passagem pelo parlamento como deputado do PSD focando-se nos urinóis da assembleia que, entupidos, transbordavam de mijo.

*frase de Camões

sexta-feira, 17 de junho de 2011

só gosto de ti

Tinha 8 anos e gostava muito desta música e pensava na Susana quando a ouvia. Uma vez atirei-me para uma piscina para lhe provar o meu amor. Não sabia nadar e ia morrendo afogado. Ela foi chamar a minha mãe, que me salvou in extremis e foi sobretudo humilhante. Enquanto cuspia água e tossicava, com montes de mirones à minha volta e uma Susana preocupada, tentava demonstrar que estava tudo sob controlo e que eu sabia bem o que estava a fazer.


Os anos passaram e continuo a gostar da música (ainda mais) e hoje ouvi-a no rádio, um pouco depois dos Roxette. Os nomes vão mudando, estilo slot machines, a música é a mesma.

é preciso é calma

Hoje na Calçada de Carriche, a descer, o trânsito parou de repente e à minha frente, aí dois ou três carros, um jipe e um golf encostaram lado a lado, ocupando as duas faixas. Um pretalhão saiu de dentro do golf e tentou abrir a porta do jipe e este continuou com elas trancadinhas, se fosse eu também fazia o mesmo. Mas não arrancou, para meu espanto (eu tinha fugido logo). Não, o gajo saiu do carro com ar de "foda-se, vamos lá resolver isto..." assim meio a rir. Era calmeirão, t-shirt justinha e com cabelo à escovinha, pinta de suburbano. Se eu não fosse um pretalhão também tinha fugido do senhor do jipe. Mas o pretalhão não era eu e o calmeirão também não era eu e os dois envolveram-se ali à porrada. Claro que o preto mandou logo o suburbano ao chão e dominou-o mas não lhe deu pontapés e murros com ele no chão, isso é mais as meninas adolescentes, essas é que são tramadas. E então os carros começaram a apitar, inclusive os que vinham no sentido contrário que abrandavam para ver o espectáculo. Ouvi uma mulher a gritar "parem com isso!" muito preocupada. Ninguém saiu dos carros, eu muito menos, eram os dois duas bizarmas e depois estava a dar uma música gira na M80, o Listen To Your Heart dos Roxette. Às tantas o preto soltou o gajo e com ele ainda no chão esticou-lhe o indicador do género "isto é para aprenderes mano" e voltou para o carro. O outro levantou-se, sacudiu-se e quando ia a entrar no carro, a rir-se e a compor a t-shirt toda torta, vira-se para os carros todos a buzinar e grita "calma caralho!"

quinta-feira, 16 de junho de 2011

músicas que gosto de ouvir quando conduzo com grão na asa e com as janelas abertas e a BT não me manda parar #2

Iggy Pop - Tonight

Twain

Fascina-me o modo como Mark Twain consegue recriar o seu universo infantil no Tom Sawyer sem ser declaradamente autobiográfico, apesar de Sawyer ser ele e mais duas outras pessoas, mas sobretudo ele, e de tudo se passar nas margens do seu Mississipi de infância e de conter uma sátira muito pessoal.

Mark Twain utiliza uma técnica que também vemos em Walt Disney e especialmente nas bds do "tio patinhas" de Carl Banks que organizam aquele universo. Tom Sawyer não tem história. Não tem mãe (sabe-se que é orfão) e do pai nem se fala. O que é fascinante é que isso nunca surge nas reflexões de Sawyer: ele nunca cai numa melancolia ou numa reflexão sobre o porquê de não ter mãe e pai e dos outros meninos terem. Do mesmo modo, nos Tio Patinhas, não existe uma única relação de parentesco directo: pais, filhos, irmãos. São todos primos, sobrinhos, tios, netos, avós etc. A única coisa que interessa é o momento presente, em que acontece algo, uma aventura.

Já no Huck, é totalmente diferente. O livro é bem mais intimista e uma obra digna de figurar no canône ocidental. Para além da questão fundamental de ser na 1ª pessoa, como disse no post abaixo, a figura do pai violento e bêbedo surge frequentemente e é comovente a situação de Huck. Huck não tem ninguém, não tem lar e não tem raízes, é um "bom selvagem". Tom tem uma tia que gosta dele e é um jovem mais normal apesar de tudo. Huck não é ninguém, é um cão solitário.

Nos desenhos animados da nossa infância não é pois de admirar que a figura imortalizada tenha sido Tom Sawyer e o Huck um mero side-kick simplório, o objectivo de um desenho animado é semelhante ao das bds do Tio Patinhas. A literatura é outro território.

jantar de idiotas

Ontem decidi quebrar a tradição do filme de terror para me animar e alguei uma comédia, o Dinner for Schmucks com o Steve Carell e aquele gajo dos Flight of The Concords (que rouba um bocado o filme). Foi uma comédia agradável dentro do género.

O que mais me comoveu e fez rir foram as cenas do genérico inicial. Só vemos as mãos do Steve Carell a montar estes pequenos cenários com ratos mortos empalhados (um hobbit como outro qualquer) recriando o seu próprio casamento (infernal) num mundo de sonho e fantasia.




Tolstói

É praticamente inútil, e mesmo arriscado, perder tempo com autores contemporâneos ou do próprio país (quando só os lemos porque são, neste caso, portugueses). Só mesmo com muita sorte se encontra algo que compense o tempo perdido. Editam-se livros que fazem mal, afundam as pessoas numa mediocridade. Chamamos obras ao que fazem e aos seus autores damos-lhes o nome de escritores ou pior, poetas. E fala-se neles e alimenta-se um espírito de novidade, de revelação e atribuem-lhes prémios franchisados, com nomes de escritores mortos que não têm culpa nenhuma e que depois são impressos nas capas. Tudo isto me causa alguma angústia, vergonha e sentimento de culpa, porque meti na cabeça que iria escrever ficção. O único motivo pelo qual perco tempo com autores contemporâneos, particularmente portugueses, é para me sentir menos culpado e mais motivado. A mediocridade é tão evidente que perdemos qualquer vergonha ou sentimento de inferioridade, muito pelo contrário. Pensamos 'bom, já que as coisas são assim, mais um não faz mal'.

O nosso meio literário / intelectual (qualquer meio, aliás, é o mesmo no da gestão ou do marketing ou da política) quando comparado com outros países civilizados parece uma associação recreativa de uma aldeia em que doutores obstinados e estrategas da carreira, que sabem umas coisas 'de fora', profundamente insensíveis e sem coração ou sentido de humor, encenam imitações de civilização para uma plateia ignorante e provinciana.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

músicas que gosto de ouvir quando conduzo bébrio(c) com as janelas abertas e a BT não me manda parar #1

The Horrors - Sea Within a Sea


(c) termo com copyright do Atum Macaco

pêlo tóxico

Apercebi-me, há momentos, enquanto estendia um filete de cavala à gata preta esfomeada que mevoltou a arreganhar os dentes pelo 8º dia consecutivo, que não estou bem. Quer dizer, a minha situação. Não sou só eu que o vejo, vários amigos comentam-no, pelo chat do messenger ou do facebook, embora todos tenham uma impressão diferente de mim e diagnósticos também incoerentes. No pátio do bungalow só vejo um parque de estacionamento, sem carros, está deserto. Em frente ao parque há um muro alto com arame farpado que não deixa ver a vasta planície de dunas e por cima há uns cabos eléctricos onde de manhã se pendura um pássaro que não sei identificar mas que faz o mesmo barulho crruuu cruuu crruuu todas as manhãs.
Vou de bicicleta ao supermercado e encho os alforges da mesma com cerveja e whisky e carne congelada e snacks e latas de conservas. Almoço a ver o telejornal e o país parece uma metáfora de mim, é uma coisa impressionante. Às vezes pergunto-me se não sou apenas uma antena receptora de más vibrações karmikas, eu que nem acredito nessas coisas. E quase choro quando vejo os esforços de orgulho, como aquele video de provocação à finlândia em que falam nas coisinhas boas que fazem, como a via verde ou os cartões pré-pagos dos telemóveis, como crianças a mostrar garatujas e infantilidades a adultos que os censuraram.

Hoje desinfestaram o parque, um camião passou por aqui a despejar veneno tóxico na cadeira em que estou sentado e na mesa amarela onde tenho a garrafa de JB e pevides. Espero que tenha caído algum insecticida em cima da gata preta, mata-lhe as pulgas, ela... ela é rija. Apesar de recusar qualquer avanço meu para uma festinha, não sai daqui e passa os dias à espera de atum, debaixo da minha bicicleta ou mesmo em cima da cadeira, enchendo-a de pêlo tóxico. Lembra-me uma pessoa e gostava mesmo de ser amigo dela. Se calhar já somos amigos. Perdidos, perdidos, perdidos... Não consigo ver o eclipse, há nuvens, ainda pensei correr a casa da minha mãe, pedir-lhe para tirar o telescópio de dentro da adega (está coberto de teias de aranha, não lhe toco) e tirar umas belas fotos e postar aqui mas que se dane, é só uma lua e uma sombra, consigo fazer isso com uma lata de cerveja e um candeiro. Era melhor que houvesse ondas e não há praticamente ondas há 8 dias, 8 dias seguidinhos com o mar praticamente inerte e as famílias felizes a tomar banho abençoadas pela bandeira verde e eu vejo aquele mar que não quer brincar e volto a pedalar para casa, aborrecido. Tomo café na esplanada de mesas de plástico vermelho e vejo famílias e casais com cães e volto para casa. À noite leio o Guerra e Paz à luz dos candeeiros do parque de estacionamento porque acho que estar no exterior é mais saudável e esforço a vista.

Um velho anda para trás e para frente com o seu audi novo no parque de estacionamento deserto, parece hesitar em escolher um lugar, há tantos que o velho pondera e hesita, pondera e hesita, avalia as casas, as potenciais sombras do dia seguinte, e anda aos círculos e enerva-me. Finalmente estaciona e ao passar por mim diz "boa noite!" e eu respondo "boa noite" com sinceridade, sem sequer pensar nisso e sorrio, cheio de boa vontade de repente, como se estivesse sintonizado com o universo. Estendo-me na cadeira e olho as nuvens pesadas não vejo a lua mas sei que ela está lá, consigo imaginá-la.

Tom Sawyer e Huckleberry Finn

Li há poucos dias o Tom Sawyer de Mark Twain (a melhor pessoa que já viveu).
Apesar de serem dois livros aparentemente próximos (o Huck é uma personagem secundária no livro do Tom e depois sucede o contrário), são na realidade muito distintos. O Huckleberry Finn foi finalizado uns seis ou sete anos depois, com muita reescrita à mistura e tem um tom bem mais sério e por vezes melancólico e é, justamente, considerado por alguns (nomeadamente o Tolan e o Hemingway só para citar dois nomes de peso) como a obra 'mãe' da literatura moderna americana. A gande diferença técnica entre os dois é que o Tom Sawyer é contado na 3ª pessoa e o Huckleberry Finn na primeira pessoa. Enquanto que no livro de Tom Sawyer a consciência de Mark Twain, jovial e irónica, é uma referência e uma âncora (várias vezes o Mark Twain dirige-se directamente ao 'leitor'), no Huck, a escrita na primeira pessoa (um puto espontâneo e sem educação) causa um estranhamento mais poderoso e intenso.

Tenho feito uns exercícios nesta voz juvenil, uns ensaios dispersos a tentar encontrar as bases para o romance. É difícil encontrar o equilíbrio entre um "eu" de agora e um eu com uma idade que nem consigo bem precisar, com um misto de inocência mas que também deixe espaço para a ironia e alguma profundidade.

Talvez tenhamos tendência para subestimar os miúdos, eu certamente nunca fui pessoa de falar com crianças com a voz alterada e de forma simplória, como se fossem debilóides. Lembro-me de isso me causar forte irritação logo aos 3 ou 4 anos, os beliscões nas bochechas e a forma como por vezes oram falavam comigo, ora de mim na 3ª pessoa aos meus pais como se eu não estivesse ali "ele é sempre assim tão calado e sério?"

a capelinha de cinco andares

Pelos vistos os donativos à igreja têm vindo a cair e os eclesiásticos, naturalmente preocupados, salientam que os portugueses não estão menos generosos (os donativos ao Banco Alimentar aumentaram) mas que isto são sinais de dificuldades das pessoas e que há uma questão cultural, na opinião de um bispo ouvido na tvi, as pessoas parece que têm mais facilidade em dar coisas do que dinheiro.

Ninguém duvida que a Igreja tem uma obra social importante. O que se calhar pode fazer confusão (e a julgar pelos testemunhos em várias reportagens, inclusive de fiéis, faz) é que nesta altura o dinheiro possa ser utilizado para construir um mamarracho destes.


Pondo de parte o atentado urbanístico e arquitectónico (5 andares, meu Deus...) o luxo custa para cima de 3.1 milhões de euros e também é financiado pela Câmara Municipal de Oeiras.

João Leitão

e agora

este blogue vai fazer uma breve pausa de algumas horas por diversos e variados motivos que se prendem com escovar os dentes ao som da música abaixo e para ler o Guerra e Paz e dormir. Durmam bem, meus pequenotes.

terça-feira, 14 de junho de 2011

dedicado ao comentador anónimo que uma vez disse "que maravilha" a uma cena electro que postei e aos que me mostraram as músicas com os cães :*

(os outros podem ignorar, obrigado)
DATA - Blood Theme

muito gosto eu destas merdas

pronto, 7 dias ou mais, em anos cão, são 28 dias, é muito tempo (nota: em anos cão, os primeiros 2 anos de vida multiplicam-se por uma factor de 10.5, depois disso é por 4, agora ficam a saber que tenho mais de 2 anos)

Nota prévia: após ter lido mais uns capítulos, nomeadamente, o da Batalha de Austerlitz, a minha opinião sobre isto tudo, mudou, mesmo assim fica aqui o texto:

Estou a ler o Guerra e Paz de Lev Tolstoi, tradução do duo dinâmico Nina e Filipe Guerra, é uma obra esmagadora. Não no sentido dos 4 volumes que, com optimismo ingénuo levei comigo para férias, caso me faltasse leitura. O Tolstoi é efectivamente um nome que se pode pôr ao lado dos deuses do Olimpo da literatura, pelo menos, a julgar pelo 1º volume que terminei hoje. Seria de esperar que uma obra da dimensão do Guerra e Paz tivesse a chamada "palha". Pois não tem. Comparando outros grandes autores com o Tolstói ao nível de palha, é como comparar uma sala de operações de um hospital com um curral de vacas. Percebo pois que alguns (não cito nomes nem faço links mas eles sabem que são eles) digam que Tolstoi é muito superior a Dostoiévski. Pois eu compreendo que o digam, mas é estéril pensar assim. Considerando que Tolstoi e Dostoiévski são contemporâneos, este último consegue um salto para a "modernidade" na literatura pela introdução de uma componente mais visceral e, talvez, psicanalítica, que em Tosltoi, apesar de existir e ser bem evidente, não deixa de parecer "homérica", naquele sentido clássico do termo. O meu primeiro impulso genuíno - fundamentado na minha ignorância - foi o de acreditar que o Guerra e Paz era umas boas décadas anterior a um livro como o Crime e Castigo, mas não, são contemporâneos. As personagens de Tolstoi, em combate, não têm propriamente medo de morrer (no sentido existencial) mas sentem antes uma euforia ou uma honra que por vezes é confrontada com o caos e o ridículo de um ferimento ou de uma cobardia. O drama da batalha (os mortos, feridos, estropiados) desenrola-se como num pano de fundo infernal mas algo neutro.

É uma obra disruptiva face ao espírito da época (e ao próprio género 'romance') no retratar de uma sociedade em que a guerra, apesar da recente introdução da moderna estratégia (em que Bonaparte é um mestre), é para os russos uma oportunidade de ascensão e de honrarias, desenvolvida como um teatro abstracto pela alta sociedade enquanto que no terreno de batalha vive-se um caos e uma espécie de anti-climax, tão bem representado por soldados com lama até aos joelhos ou no oficial corajoso que é ferido em combate e que pensa "isto não me pode estar a acontecer".  Mas mesmo assim, é claro que na época de Tolstói a guerra era diferente ou, pelo menos, o espírito dos homens (e das sociedades) que partiam para a guerra. O Imperador Alexandre, passando revista às tropas, provoca num oficial o desejo de morrer por ele, que nada o faria mais feliz. As batalhas tinham algo de 'simbólico' e cavalheiresco, a começar pelo curioso facto de altas patentes do exército poderem ser mortas em batalha por participarem nas investidas da linha da frente e usarem sabres e de haver alguma improvisação. Temos também a sensação que Napoleão 'é forte' porque vem 'do povo'e ascendeu pelo seu próprio punho e determinação implacável. É, aliás, admirado pelos russos que, nesta altura na alta sociedade, falavam francês com muita frequência e a sua figura intensos debates, talvez um prenúncio de coisas que se iriam passar no próximo século.

Apesar da I Guerra Mundial ter sido o fim de uma inocência, vemos que mesmo na II Guerra Mundial não havia consciência do drama individual. Pegue-se no exemplo do desembarque na Normandia. Homens com passado e identidade são atirados para uma situação em que é certo que boa parte deles irá morrer anonimamente assim que sair do barco. Uns anos depois o homem ganha outro tipo de consciência (quase neurótica) quanto à própria mortalidade e liberdade.

Contudo, em Dostoiévski, essas sementes já lá estão mais visíveis, em dramas individuais, em personagens que têm dilemas existenciais profundos e que são 'modernos', aliás, aqueles temas viriam a impor-se. Em Tólstoi isto parece existir mas de uma forma implícita, o que lhe acrescenta uma dimensão clássica e porventura superior. Dostoiévski que desce à visceralidade da psique humana dos seres mais simples e oprimidos, no fundo, o povo e também a temas espirituais, éticos digamos assim. Pode ser pois o "repórter social" para o Nabokov (não linko o blogue do Nabokov, ele que arranje visitas sozinho) mas consegue criar personagens que estabelecem, ainda hoje no século XXI, uma empatia total com o leitor (ele reconhece-se nelas) enquanto que as de Tolstoi não deixam de causar algum estranhamento e até alguma inveja, como se fosse uma época para sempre perdida.

É curioso, o caminho destas coisas. A Ilíada de Homero tem batalhas mas aí só existem num plano de homens candidatos a deuses ou deuses, o resto são números abstracos. Em Tolstói, vamos até ao nível do responsável por um pequeno pelotão de artilharia, mas ainda não vi "o soldado raso" tratado com profundidade psicológica, continua a ser um número (50 mil efectivos russos contra 150 mil franceses etc.). Os Nús e os Mortos do Norman Mailer, já versa sobre o tal soldado raso na II Guerra Mundial (no Pacífico), o pequeno pelotão de meia dúzia de homens comuns.

E hoje em dia, chegámos ao ponto de psicanalizar os estrunfes, considerando-os racistas e marxistas.

não falo com ninguém (excepto com a senhora do supermercado) há 7 dias por isso sejam compreensivos

terça-feira, 7 de junho de 2011

até breve

Vou fazer uma pausa no blogue por diversos e variados motivos.

-->(aqui havia texto)<--
até ao meu regresso, deixo-vos com um bonito poema do meu anti-profeta preferido.

"there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?"

— Charles Bukowski

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Deixem a anti-matéria em paz :(

Cientistas do CERN conseguiram finalmente aprisionar anti-matéria durante alguns minutos. O ano passado tinham aprisionado 38 anti-átomos de hidrogénio, agora foram 300 e por mais tempo. Para conseguirem fazê-lo têm de aproximar a temperatura do zero absoluto. É muito frio. Para terem uma ideia o mais científica possível, é ainda mais do frio (muito mais) do que o congelador do frigorífico quando se carrega no botão de congelação rápida. E têm de o fazer num contentor magnético especial. O que me assusta um bocadinho é que a matéria reage com a anti-matéria e ambas se aniquilam, libertando muita energia, mais do que a que um aquecedor eléctrico consome num inverno inteiro.

Isto aqui é a armadilha. Não sei como os átomos de anti-hidrogénio são totós ao ponto de entrar naquilo, vê-se logo ao que vão. A cadeirinha é para a dona Aurora, a auxiliar do CERN, vigiar os anti-atominhos para a ver se não anti-fogem e se não andam à anti-bulha.


Estão a tentar explicar um dos grandes mistérios da cosmologia e o Big Bang. Supostamente deveria haver tanta matéria como anti-matéria e isto ser tudo um grande 'nada' de energia mas o universo desviou-se para o lado da 'matéria'. Os cientistas não percebem porquê e acham que há muito mais matéria do que anti-matéria no universo, mas eu duvido muito disto. Por exemplo, quando fazia os testes na universidade, devia ter muita anti-matéria na cabeça porque quando chegava ao exame, a matéria tinha desaparecido.

Sou contra experiências em animais e anti-matéria. Estão os átomozinhos de anti-hidrogénio anti-sossegados na sua anti-vida e pimbas, ficam aprisionados na ratoeira magnética gelada. Não deve ser nada agradável, esperemos que não se aborreçam.

O meu receio é que os cientistas só consigam descobrir uma explicação para o Big Bang provocando o Big Bang II - A Vingança Fatal. Talvez as últimas palavras Professor Hangst do projecto Alpha, um dos responsáveis por estas experiências, venham a ser 'Ah! Então foi assim que tud...'

E recomeça tudo outra vez, num loop infinito. Não me apetecia ter de fazer os exames de Análise Matemática IV outra vez.

sou uma pessoa de cães

sábado, 4 de junho de 2011

alguns excertos de um bom professor

The object of fiction isn’t grammatical correctness but to make the reader welcome and then tell a story . . . to make him/her forget, whenever possible, that he/she is reading a story at all. The single-sentence paragraph more closely resembles talk than writing, and that’s good. Writing is seduction. Good talk is part of seduction. If not so, why do so many couples who start the evening at dinner wind up in bed?

(...)

A novel like The Grapes of Wrath may fill a new writer with feelings of
despair and good old-fashioned jealousy—“I’ll never be able to write anything that good, not if I live to be a thousand”— but such feelings can also serve as a spur, goading the writer to work harder and aim higher. Being swept away by a combination of great story and great writing—of being flattened,in fact—is part of every writer’s necessary formation. You cannot
hope to sweep someone else away by the force of your writing until it has been done to you.

(...)

One of my favorite stories on the subject—probably more myth than truth—concerns James Joyce. According to the story, a friend came to visit him one day and found the great man sprawled across his writing desk in a posture of utter despair.
“James, what’s wrong?” the friend asked. “Is it the work?”
Joyce indicated assent without even raising his head to look at the friend. Of course it was the work; isn’t it always?
“How many words did you get today?” the friend pursued.
Joyce (still in despair, still sprawled facedown on his desk):
“Seven.”
“Seven? But James . . . that’s good, at least for you!”
“Yes,” Joyce said, finally looking up. “I suppose it is . . . but I don’t know what order they go in!”

On Writing - Stephen King.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

sempre que oiço falar em 'E-Coli' é mais ou menos isto que imagino



(Na cozinha de uma casa moderna e acolhedora, o e-Collie está provavelmente a tentar criar uma caption para um loldog no icanhashotdog.com pois parece bem humorado e prestes a rir, com o olhar perdido num dos cantos da sala em contemplação sonhadora. O gato à janela, o da esquerda, aparenta fazer um comentário cínico como 'mnhec' ou 'meew', talvez implicitamente sugerindo que o icanhascheezburger.com é bem melhor ou que o laptop não é um MacBook mas sim um HP. O gato da direita, esse, olha directamente para o espectador, como que o interrogando, não sem alguma ironia. A caneca pousada na mesa, decorada com o que aparenta ser uma reprodução do empire state building enquadrado por duas ovelhas num plano mais próximo, deixa outro mistério: sem polegares oponíveis, como pode o Collie beber da mesma? Poderá estar aqui uma sátira à modernidade? Nunca o saberemos, o sorriso do gato encerra o mistério. Notem também a referência aos girassóis de Van Gogh, no canto superior esquerdo, o que confere substracto e consistência clássica à composição. Podem comprar este bonito Collie With Computer da artista Susan Alison aqui)

foi com a força da mente

Estou a pensar incluir um anexo no romance com os melhores bloopers narrativos, cortados da versão original. Este causou muita risada ao revisor:

'Meti as mãos nos bolsos e acendi um cigarro.'

quinta-feira, 2 de junho de 2011

é ficção

Várias pessoas (uma) alertaram-me para a possibilidade da ironia do post sobre a revisão do meu romance ser incompreendida, sugerindo que o tal revisor, o meu amigo, está desiludido.

Queria aqui abrir um parentises de seriedade para dizer que ele teve um ataque de pânico a meio da noite uns dias depois de começar a ler porque é uma das pessoas em que me inspirei e teve de meter baixa médica. É assim tão bom, o livro :)

Há a hipótese de não ter sido por causa disso, mas sim por café a mais nesse dia e stress, mas vamos acreditar que sim, que foi. Sempre disse que admirava obras que fossem directas ao sistema límbico mas nem nas minhas maiores ambições pensei chegar a este nível.

Vou jantar com ele daqui a pouco e pagar-lhe uns copos e fazer olhos de cachorrinho.

Espero que a minha mãe tenha os calmantes por perto quando o ler.








mãe, é tudo ficção ok? :]

a revolução é mais daqui bocadinho

Há muitas músicas que falam de revolução e que instigam a pequenada à mesma. Tanto pode ser Beatles como Rage Against The Machine, Bob Dylan como Chemical Brothers. O rock é óptimo para exorcisar durante breves minutos o desejo de revolução e depois uma pessoa acalma. Cada um tem a sua música mais adequada.
A minha música de revolução é a Revolution dos Spacemen 3.


É uma música que me dá vontade ir para a rua, para o Rossio, manifestar que estou contrariado com as coisas e que acho as cenas mal em geral (salvo honrosas excepções). Com óculos escuros e a mover-me preguiçosamente avenida abaixo, encontraria outros como eu. Todos com cara de aborrecimento a fumar cigarros, ficavamos por ali, a ouvir Spacemen 3, Velvet Underground, Jesus And Mary Chain, Sonic Youth, My Bloody Valentine…
E enviariam a polícia de choque. Perfilada de azul escuro, as sombras negras projectadas na calçada, ficaria muito bem filmada a super 8, para depois se pôr no youtube.

Não vai acontecer.

comunicação não-verbal, she has it

quarta-feira, 1 de junho de 2011

os verdadeiros sinais da decadência dos valores

Depois da Jaguar e da Porsche terem morrido para mim (começou com o Boxter, definhou com o Cayenne, bateu a bota definitivamente com o 'utilitário' Panamera), a Ferrari faz um gigantesco FF de quatro lugares e tracção às 4.

Não, não é um BMW série 1 em esteróides

Já tinham feito outro de quatro lugares, o 612 Scaglietti, e este é um dos mais potentes alguma vez feitos pela Ferrari - quase tão potente como o Enzo. No entanto, como argumento de venda, no próprio site da Ferrari, está este preocupante parágrafo: «The FF: the Ferrari Four. Four as in four-wheel drive. Four as in the four comfortable seats that cocoon driver and occupants alike.»

Isto é preocupante. A minha querida Lamborghini também lançou ou vai lançar o aberrante Estoque de 4 portas, 4 lugares, desenhado para o segmento familiar.

O que acho piada nisto é que eles metem sempre motores brutais nestas coisas, como se tivessem um peso de consciência 'sim, é verdade, tem 4 portas e é confortável, mas tem 650 cavalos por isso é um Lamborghini' ou, no caso da Porsche 'isto não é um VW, reparem, tem aqui o símbolo da Porsche'.

Preferia muito que a Lamborghini e a Ferrari continuassem fieis e a fazer carros com pouca fiabilidade e que eu nunca poderei comprar e mesmo que tivesse dinheiro, não comprava. Ou comprava? A piada é essa, é um objecto que nos desafia imediatamente no acto de compra por não ter base racional - e por nos meter medo em vez de nos atrair com facilidades e mordomias e conforto.

O Aventator, LP700-4


- Querida? errm... lembras-te da Mercedes Vito que eu tinha dito que ia comprar para podermos levar os miúdos para o Algarve? Afinal comprei um prático Aventator LP700-4 e levo um de cada vez, em numa manhã está toda gente lá! Quem quer ir no Aventatorinho? *ovação eehhhh!!!! \o/*
- Estás doido!?!?
- Calma querida, com o que sobrou das nossas poupanças e venda de todo o nosso património, comprei-te uma Ford Transit de 1992, tem imenso espaço.