sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Limbo
No Bairro Alto havia um sítio, o Limbo. Não sei se alguém alguma vez aproveitou o Limbo. Alguém? O Limbo era escuro e frequentado essencialmente por góticos. Eu tinha uma amiga meio gótica, pálida, com cicatrizes de tentativas de suicídio nos pulsos e neonazi, era fixe. Não pensem que era neonazi mesmo, era uma coisa que dizia que era, como eu quando digo que sou neoliberal e sou apenas liberal. Tinha o cabelo curto à rapaz, espetadinho e tatuagens e era incapaz de me tratar por "tu", tratava toda gente por você. Chorava quando ouvia músicas tristes no meu velho ford às voltas por Lisboa comigo com os copos e sem saber bem o caminho para casa. A pista de dança tinha uma teia de aranha gigante no tecto, o que me deixava um pouco desconfortável, mas suponho que era uma decoração gótica. Era inocente aquela teia, era uma espécie de helloween permanente. No piso de cima havia uma mesa de matraquilhos. E os góticos pareciam monstrinhos simpáticos que corriam da criptas para aquele sítio, fugindo a luz e da família, escondendo a cara coberta de base branca na gola dos sobretudos de cabedal e não os conseguia imaginar num transporte público. No escuro (era mesmo escuro o sítio) ninguém reparava na minha indumenta de beto surfista. O bartender e a bartender (deviam ser um casal) estavam cobertos de tatuagens e vestiam cabedal justo e eram simpáticos. E o dj, num trono decorado com autocolantes de sinais de radioactividade, passava Joy Division, New Order, Smiths, Cure, Depeche Mode e muitas coisas industriais e pesadas que não conseguia identificar. E ficávamos sentados encostados à parede, no escuro, a beber vodkas que brilhavam nas luzes negras e os góticos pareciam-me guaxinins eriçados, a dançar aos sopetões na pista e havia amor, digo-vos meus amigos, havia amor pela música naquele sítio como nunca mais vi em lado nenhum. Depois fechou.
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12 comentários:
Limbo nunca fui. Eu era mais Jukebox.
depois fechou e agora é o Berlin. e antes era o La Folie, da última vez que andei pelo alto do bairro alto.
Jukebox. Mas o cenário era igual. às vezes ainda vou a noites dessas, numa de national geographic e revivalismo.
Eu costumava ir lá ouvir Godflesh, Sepultura e outras coisinhas boas... Ah... Bons tempos! Agora só temos o Transmission e a Juke!
E mais sítios em Lisboa com som alternativo rock porreiro, sem ser o Incógnito que é o único que eu conheço? :\
Tókio claro
Transmission/ disorder ( nunca atino com o nome ), Roterdão, metropolis. Juke já não há ( ou mudou de sitio? ).
O tókio não tinha fechado?
Sim o incógnito é mm o sítio mais fixe.
O LUX têm noites.
Da ultima vez que fui ao Roterdão aquilo tava mta mauzinho, mas já foi à uns meses.
States em Coimbra. Lisboa é para meninos...
A minha casa... tenho um leitor de cds que não regurgita rodelas de plástico com com alternativo nem rock porreiro. E um café no rés-do-chão que vende mines. O que é que é preciso mais? Também tenho uma vizinha solteira, nos setenta anos, bem conservada, se quiseres gajas para o imbiente.
Tem ou não tem potencial?
noir na rua da madalena
não, não, que raio de comentarios, supra. o limbo era aquele sítio onde encontravas as pessoas mais inesperadas, porque o limbo agregava. nesses tempos acho que fui gótico sem saber. depois foi no limbo que fui convidado para padrinho de casamento entre um rockabilly e uma pós-moderna. e isso diz tudo. no limbo gozei os meus últimos fogos-fátuos de pré-adulto e foi bom. depois cortei o cabelo, passei a ir ao lux (1.º piso!).Luís.
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