quinta-feira, 7 de julho de 2011

Urso Panda


Este é mais um post dedicado ao Panda Bear, porque o Tomboy é claramente um dos melhores discos que ouvi nos últimos anos e eu gosto muito disso quando isso acontece e depois apetece-me desabafar e um blogue é óptimo para isso.

Panda Bear - Alsatian Darn (Tomboy 2011)


Por vezes ao ouvi-lo sou acometido de uma agradável sensação de estar a aprender a ouvir música e, ao mesmo tempo, de já conhecer isto de algum lado. Nunca consegui entrar em Animal Collective (a banda a que ele pertence). Adorava certas músicas mas, no geral, considerava os discos um pouco caóticos demais. Reconhecia-lhes uma imensa qualidade e originalidade, mas também por vezes a sensação de que a originalidade, o soar como nada antes, era uma busca radical que sacrificava componentes mais melódicas e clássicas e não se compadecia com o conforto do ouvinte. É uma busca legítima para uma banda, mas também pode colocar facilmente a música num terreno de uma atitude mais superficial. Aliás, vejo os Animal Collective como uma pop levada a um extremo forte e interessante, mas que dificilmente conseguia fazer uma ligação emocional comigo. É o tipo de bandas que depois influencia 300 bandas que aperfeiçoam os conceitos em bruto e os arredondam para um consumo mais amplo. Certamente que voltarei a ouvi-los com atenção, desde o início.

O Noah Lenox é ele próprio uma emanação (ou será um arquétipo?) de algo que está nos Animal Collective mas que aqui aparece mais humano e simplificado. O que me surpreende na sua música é a forma como se desenrola com ondas que depois encaixam, a música dele é como um puzzle que se vai resolvendo até fazer sentido. Como alguém que julgamos ser louco e alienado e que depois de uns minutos, começamos a perceber que afinal está ali um génio. Tudo isto me lembra outra descoberta deste ano, o Gary Wilson. E nada disto parece ser feito com esforço ou artificialismo. A nível de produção (um hobbit) é magistral a forma como as misturas dominam os reverbs (complexos) e as camadas sucessivas e saturadas que brincam umas com as outras, conseguindo fazer de um disco gravado numa cave em Lisboa, por um gajo que se auto-intitula Urso Panda, uma coisa própria de espaços luminosos e grandes horizontes e enlevos de alma e flashbacks à infância e correrias em campos de trigo.

Não quero exagerar e dizer que oiço o "ar de Lisboa" no Tomboy do Panda Bear, porque isso seria reduzir o meu apreço por ele a uma coisa provinciana e patriota (já o ter um tema chamado Benfica, confesso que contribui) mas sem dúvida que o considero uma feliz coincidência. Quando caminharei por Lisboa a ouvir o Tomboy nas orelhas e dentro da cabeça, sentirei um poucochinho mais a música e a cidade, um privilégio. Deviam dar o nome dele a uma rua. Quem não gostaria no nº2, 2ºDTO da rua Panda Bear? E vou utilizá-lo muito porque eu ando a precisar de ouvir coisas assim nesta fase.

2 comentários:

Anónimo disse...

Um brutalissimo album que em nada fica atrás do Person Pitch (e já esse era um portento). Já tinha ficado bastante bem impressionado com a versão mais primitiva e crua que ele apresentou no Lux no início do ano passado, mas agora, com todas as nuances no seu sítio certo na versão de estúdio, nada menos que divinal...

Tiago disse...

estava aqui a varrer o disco rigido a escolher o que ia ouvir. Facilitaste a escolha. :)