Já escrevi sobre ele mas, finalmente, o cabrão do esquizofrénico de Alvalade reconheceu-me. Ando há um ano a dar-lhe merdas, cigarros aos três de cada vez e trocos e ele nunca fala ou esboça um sorriso, apenas fica assim assustado na passadeira, de mão estendida. Hoje finalmente sorriu. O dia estava-me a correr mal e isto deixou-me bem disposto, como aquelas velhinhas tiazocas que dão coisas aos pobres na igreja de Alvalade e ficam assim paradas à espera que eles façam aquelas vénias de infinita gratidão e as fazem sentir-se como a Madre Teresa Calcutá com camarote reservado no Céu. O tipo lembra-me o meu tio. O meu tio era esquizofrénico e tinha exactamente a mesma postura e mímica corporal, o mesmo cerco de timidez que o fazia mover-se lentamente como se tivesse os músculos presos, o mesmo olhar fixo nos outros, a mesma pele meio avermelhada e aspecto desleixado, o mesmo excesso de roupa em dias de calor. Este aparece no McDonalds onde vou jantar regularmente, como o velho das barbas e do boné de que acho que já falei uma vez. Chega ao balcão e pede um copo de água e depois tira uns pacotes de açúcar. Senta-se na mesa mais encafuada que houver, virado para a parede, despeja o açúcar para o copo, mexe com cuidado, bebe um pouco, mexe mais um bocadinho e bebe um pouco, prolonga o prazer, na sua toca no McDonalds.
3 comentários:
:) somos vizinhos, sempre que me encontro na pátria amada, naturalmente ;)
Se sempre q criticar um post escreveres um tão bom como este vou criticar o blog todo.
Não percebi o comentário do anónimo aqui de cima. Quem é que critica e quem é que escreve?
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