Há um certo tipo de mulheres que te faz sentir católico: não importa o que faças, tens culpa e a culpa acompanha-te permanentemente. Queres chegar ao céu, pedes perdão, não sabes bem de quê, a uma entidade que se remete ao silêncio ou que fala por sinais, como o voo da gaivota, uma auréola à volta do sol ou um 'não estou aborrecida, estou só magoada'. Revês mentalmente todos os teus passos desde que nasceste, à procura do que fizeste de errado. Confessas-te aos teus amigos e contas o que fizeste e eles parecem perceber o teu Deus porque têm todos opiniões assertivas sobre o que fizeste mal mas tu desconfias que ter-lhe dito que ela está no top 5 pelo menos é mesmo um elogio e não uma ofensa ou que trocar-lhe o nome pelo de uma ex não é nada de grave porque também estás sempre a confundir o Ben Stiller com o Adam Sandler ou o Robert De Niro com o Al Pacino. No fundo sentes que eles percebem disto tanto como tu e achas que eles deviam arranjar uma mulher também para falarem com conhecimento de causa. Às vezes parece que estás a fazer os rituais todos bem mas é pecado se tu em vez de beberes um cálice de vinho na missa do jantar, beberes a garrafa toda para lhe provar a tua fé como deve ser. E exige monoteísmo e a terra treme e o céu desaba quando tu lhe confessas o fascínio pelas religiões politeístas à maneira grega e romana ou quando, nas suas escavações arqueológicas - ao teu pc, telemóvel, blogue, facebook, gavetas ou debaixo da cama - são descobertos artefactos e relíquias de cultos pagãos anteriores. Mas quando te sentes bem, vês o teu Deus em tudo, nos pássaros a cantar, no sol que nasce, no sorriso das crianças, no pedreiro das obras do prédio ao lado que não tem a chave para entrar nem telemóvel e das 8:00 às 8:20 da manhã grita ininterruptamente 'Oh CAAAARLOS!? CAAAARLOS? ABRE O CARALHO DA PORTA FODA-SE! CAAAAARLOS!', nas belas flores, nas nuvens, nos outros vizinhos que vêm à varanda ver o que se passa, nos seus roupões, ensonados, é tudo bonito e perfeito. Com o tempo deixas de ir cometendo tantos erros nos rituais deste tipo de mulher. Um erro, por exemplo, é dizer 'este tipo de mulher', ela não pode ser 'um tipo', é um exemplar único. Ficas satisfeito contigo mesmo de teres aprendido esta lição. A próxima é evitar dizer-lhe que todas as mulheres são um exemplar único como ela. Com o tempo, aprendes a evitar pensar por ti e ficas orgulhoso de teres decorado algumas passagens do seu livro sagrado:
Namorados, sede submissos à própria namorada, como convém nas Amoreiras" (Colossensas 3:18)
O homem aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que o homem ensine, nem exerça autoridade de mulher a propósito das compras ou sugira a decathlon como uma opção para a aquisição de roupa confortável; esteja, porém, em silêncio" (1 Timótea 2:11-12)
Em todos os jantares com os pais dela, conservem-se os homens calados a propósito dos montantes totais das suas compras nas Amoreiras, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissos como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a sua própria namorada; porque para o homem é vergonhoso falar disso em frente aos pais dela" (1 Coríntias 14:33-35).
12 comentários:
Tolan, gosto muito do que escreves.
Era só para dizer isso.
haha praise the lord...ess!
Em grande!
Escreve o livro e dá-lhe um nome tipo "Como lidar com uma mulher sofrendo o ménimo de consequências nefastas humanamente possível" XD
*mínimo
Delicioso!
Elevação, pá. Elevação. Punhas aqui uma referência ao Pascal e à fé e à razão e o texto ficava muito mai'rico.
"Learn from those who were bound like you. . . . Follow the way by which they began: that is by doing everything as if they believed, by taking holy water, by having Masses said, etc. Naturally, even this will make you believe and will dull you. -'But this is what I am afraid of.'- And why? What have you to lose?"
gajas....mas quem é que dá importancia ao que as gajas pensam ou dizem? só outras gajas!!!
estás a ficar abichanado, tolan.
Não li o texto todo.
Vim directa aos comentários, e vou dizer o que acho:
"Ahahahaha és espectacular pah! Sentimentalista também, o que é bonito se fores um Casanova dos tempos modernos! Que faz serenatas e coisas fofinhas!"
:)
Tolan, pá, ó meu, não sei se estás a ficar abichanado ou não, mas isto não teve piada nenhuma, não, não.
Não fosse o que se passou no mês de Dezembro, pá, era gaja p'ra te mandar um chapadão nas fuças.
Mais respeitinho p'ra com as mulheres.
Vai dar umas trancadas que esse teu trauma passa-te.
Beijo, meu querido.
Post Scriptum: Gosto de ti na mesma.
Like it, like it, like it!
Um homem capaz de reinventar as escrituras levava-me ao altar!
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