quinta-feira, 17 de março de 2011

comovente

As catástrofes à distância têm um grau de drama tão abstracto que não conseguimos comover-nos. Somos bombardeados por catástrofes nos media, sejam guerras ou catástrofes naturais e, por defesa, é natural que nos tornemos um pouco mais frios. Essa frieza também varia em função da identificação com as vítimas. Assim, é natural que o 11 de Setembro nos comova mais que os números abstractos de civis mortos no Afeganistão.

Depois, temos a matemática fria. Sabemos racionalmente que 10 mil mortos é pior que mil mortos mas menos mau que 20 mil mortos, mas os números causam reacções emocionais que não são proporcionais. É um caso em que o todo é inferior à soma das partes. É só quando descemos ao nível do drama individual e particular, que algo muda. Pelas zonas afectadas no Japão, haverá neste momento milhares de histórias assim, comoventes: Japan earthquake: Father's search for missing wife

12 comentários:

Pedro Góis Nogueira disse...

Esta do Japão é a maior catástrofe que assisti em vida. Sem ser em números frios (que vão aumentando e com uma ameaça apocalíptica a pairar) o balanço definitivo só estará resolvido daqui a umas décadas...

Anathelion disse...

Ha uma citacao que gosto e odeio simultaneamente. Gosto dela pela verdade cinica que espelha; odeio-a por ser atribuida a Stalin. Conheco-a em ingles, mas traduzida sera mais ou menos isto: a morte de um homem e' uma tragedia, mas a morte de um milhao de homens nao passa de uma estatistica.
Ha uma versao anedotizada sobre dois politicos que discutem como invadir um pais (escolha o conflito que quiser) e diz um para o outro: Ja sei como vamos fazer! Bombardeamos os x milhoes e matamos um dentista. Diz o outro: um dentista? Porque um dentista? Ao que o primeiro responde: ves? Ninguem quer saber dos x milhoes...
Eu tambem acredito que e' a personalizacao da tragedia, ou das causas, que mexe connosco. O efeito perverso e' que com o deficit crescente de atencao de que todos vamos sofrendo, chega-se a uma altura em que ate a personalizacao das vitimas se torna cansativa quando nao quase pornografica (como foi por exemplo no Haiti).
Congratulo-o pelo seu blog e pela sua escrita; ainda que nao comentadora sou leitora diaria de ha uns tempos para ca e sempre com agrado.

Maria Flausina disse...

Anathelion, excelente comentário. Estou de acordo com tudo, até com o último parágrafo.

Anónimo disse...

ocorreu-me logo a expressão do Stalin, mas já cá está.
é por isso também que, por muitas criancinhas a morrer em áfrica que haja...as tragédias pessoais assumem sempre esse papel.

btw, feliz aniversário***

Unknown disse...

A Pólo diz que o Tolan faz anos e eu creio na Pólo, portanto, que as algálias fiquem bem longe de si.

Parabéns!!! ;)

Aladdin Sane disse...

Ao que parece isto não acontecerá de novo, agora no Japão.

A propósito, este dfb tem uma frase que não é deste mundo: "you held my hand and we fell into it, like a daydream or a fever"

Unknown disse...

Muitos Parabéns!

MJ disse...

Muitos parabéns Tolan!

Anónimo disse...

Mais uma dessas historias comoventes: -Boy continues lonely search for family members- http://www.asahi.com/english/TKY201103160138.html

Aladdin Sane disse...

chuif, sniff

Anónimo disse...

Muitos Parabéns Tolan!!
Tentei falar ctg, mas já deves estar com aqueles dramas das mulheres....a partir de uma certa idade ficam deprimidas....

Tolan disse...

Aladin, o video dos cães já o conhecia (enviei-o para a minha mãe chorar). Essa música de GSYBE não conhecia, fantástico o poema...