Fiz o Atum Macaco uma pessoa mais feliz por ter visto até ao fim (3 vezes, 2 delas só o audio) o primeiro video deste post. Nele, o professor Sir Ken Robinson defende um novo paradigma para a educação e critica, de forma bastante válida, os defeitos do actual. Será necessário o visionamento do referido vídeo (é muito divertido, ainda por cima) para compreender o post que se segue na sua plenitude. Preferia que fosse assim já que resumir o video obrigar-me-ia a um texto demasiado grande para as dificuldades de concentração dos meus cansados leitores. Decidi nem sequer intercalar o texto com fotos de gatinhos fofos.
No geral, concordo com as críticas feitas ao sistema de ensino actual feitas pelo Sir Ken Robinson mas não vejo que a alternativa utópica ali proposta seja possível sem exigir que a própria sociedade a jusante se transforme totalmente. Começa pelo elevado custo económico de adaptar um esquema de ensino às especifidades de cada miúdo, de acordo com critérios potencialmente subjectivos, como as suas capacidades de trabalhar em grupo, sozinhos, de criar, de estudar, de pensamento lateral, de interesses etc. O que sucederia se um tipo de miúdos fosse muito mais caro de educar que outro tipo de miúdos, sendo que o segundo tipo de miúdos era economicamente mais valioso do que o primeiro, condenado ao desemprego?
Na prática, esta diferenciação já existe no ensino privado e, note-se, acarreta consigo injustiças. Pais com dinheiro podem potenciar o contexto dos filhos de diversas maneiras, de acordo com as suas tendências, a começar pelo facto de os colocarem em escolas melhores onde têm acompanhamento maior, de lhes pagarem livros ou brinquedos ou actividades de acordo com os seus gostos.
Temos de admitir que alunos da mesma idade são, em média, mais parecidos entre si, ao nível das capacidades cognitivas e que esse é um critério objectivo para os enfiar numa sala de aulas e ignorar as suas especificidades. Sobretudo, considero que isso é irrelevante no que respeita a características especiais e diferenciadoras. Não me lembro de exemplos (mas pode haver) de pessoas que estudaram em contextos especialmente criativos e livres se tornaram bestiais e relevantes, em qualquer plano.
Os exemplos opostos são mais numerosos.
Contextos contrários às inclinações pessoais são favoráveis para reforçar e gerar um movimento de resistência e dotar o indivíduo de defesas e métodos para sobreviver. Penso que os casos paradoxais de pessoas que cresceram numa bolha afectiva e económica, como é o caso de muitos betos, acabam por dar jovens adultos profundamente desinteressantes, superficiais, sem curiosidade nenhuma e, portanto, adaptados a gerir empresas, bancos e coisas importantes, mas de resto, completamente inúteis.
Acredito, pela observação de um número infinitamente superior de casos de génios da arte ou da ciência, que as características subjectivas de que fala o professor Ken Robinson, são superiores ao contexto. Os génios transcenderam sempre o contexto. O maior erro do Ken Robinson é dizer que “há muito mais génios só que não sabem que o são”.
Tenho a convicção que isso não é verdade. Uma pessoa especialmente boa em qualquer coisa, ou com interesse enorme por qualquer coisa, atribui sempre uma importância relativa menor à escola e à universidade do que aquilo que lhe interessa a sério.
O professor fala na questão da felicidade e eu aí concordo. Concordo que uma coisa é um sistema que visa a felicidade das pessoas que o frequentam e outro, de inspiração económica, que se preocupa primeiro com o seu sucesso profissional e supõe que daí virá a felicidade geral. Em parte, o modelo até funciona bastante bem nesse aspecto. Tenho a certeza que existirá uma boa correlação entre felicidade e médias escolares, assim como existirá uma boa correlação entre nível de vida e felicidade. O problema são os tais falhados e inadaptados, a maioria. O sistema é claramente darwiniano e, por isso, natural. Todos os sistemas que impliquem selecção natural por critérios objectivos como correr mais depressa ou ser mais esperto, são naturais.
Para a esquerda, na qual gosto utopicamente de me incluir, o "natural", não é uma coisa incontornável, é dever da sociedade evoluir, proteger os mais fracos e não deixar ninguém de fora. Mas pergunto-me se, numa turma especial de miúdos com talentos especiais idênticos, não iríamos criar graves complexos nos míudos menos bons, menos especiais, ao estarem constantemente a conviver com outros com os mesmos talentos. Paradoxalmente, não os estaríamos prejudicar ao colocá-los num contexto em que deixassem de ser tão especiais?
Para finalizar, a minha principal oposição ao sistema actual prende-se com o excesso de trabalho, de exames, de ocupação de tempo que exige aos alunos. Há cada vez mais exames e avaliações e cada vez mais cedo. Os putos precisam de mais tempo livre e de menos stress. A escola deveria dar a hipótse de aprender música, uma boa biblioteca, clube de ciências, desporto, seja o que for, e talvez fosse mais útil ter mais disto do que aulas e aulas, estudos e ainda por cima explicações. O astrofísico João Magueijo, uma espécie de rebelde à sua maneira, inovador com a sua teoria da velocidade da luz não ser constante, já tinha referido este ponto numa entrevista, em tempos, como um problema da nova geração de alunos.
2 comentários:
não só concordo como também estou muito feliz.
Eu agora ia dizer qualquer coisa sobre o Barthes e a tua visão um bocado "burguesa" do "natural" mas infelizmente tenho que trabalhar...
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