terça-feira, 12 de outubro de 2010

a doce música da vitória

Andava atrás desta rapariga estilista há quase um mês. Ela tinha um talento miserável como estilista mas vestia-se bem, era muito social e tinha umas maminhas jeitosas. De vez em quando mostrava-me esboços que estava a fazer e tinham todos o aspecto de bonecas Sailormoon passadas a papel vegetal, como as que uma sobrinha de um amigo meu faz. Mas eu dizia-lhe “wow, foste tu que fizeste?” e ela ficava toda corada e contente.
Finalmente consigo um jantar com ela e, menos de uma hora antes da hora marcada, quando ainda estava no escritório, ela manda-me um sms a dizer que vinha com três amigos, todos gays, colegas do curso de estilismo, se eu não me importava. Respondi-lhe que não havia problema. Desliguei. Continuei a trabalhar, mas depois os suores frios, princípios de ataques de pânico e hiperventilação obrigaram-me a ir à casa de banho e fiquei lá até serem horas de sair.
Não estava suficientemente bem vestido para enfrentar um esquadrão G, o meu cabelo precisava de um corte há mais de um mês e estava com a pele muito pouco hidratada. Pensei em cancelar o jantar mas tinha mesmo de vencer a minha fobia. Além disso, pensei que se passasse este teste com distinção, ela não me poderia resistir. Se eu caísse nas graças dos três amigos gays era bem mais significativo que o aval do pai, da mãe, dos avós, das primas.
Enquanto conduzia para o Sheraton, fui ensaiando personalidades e falando sozinho. É evidente que tinha que adoptar uma personalidade especial para a ocasião, algo de que eles gostassem. De quem gostam eles? Do Cristiano Ronaldo, do Pedro Granger, do José Sócrates, de forcados, do vocalista dos The National, de homens de uniforme… a lista era infindável. Fiquei-me pela personalidade cowboy marlboro. Era um valor seguro. Eles gostam dessas coisas, lembro-me do video do George Michael, com os cobóis aos beijos e do brokeback mountain… Na altura pareceu-me boa ideia.
Semicerrei os olhos, os maxilares tensos, gestos lentos e decididos, Clint Eastwood, pensa no Clint Eastwood… Chego ao restaurante e lá está ela acompanhada de três bichas que pareciam teletubies excitados. Quase que tive um ataque epilético com o choque de cores e perfumes. Um deles bateu palminhas e chocalharam pulseiras. Indeciso e sem saber como cumprimentar gays acenei com a cabeça. Só rezei para que ninguém conhecido me visse ali.
Pedi um whisky, logo para começar.
- Então Tolan, o que gostas de fazer? – perguntou-me um.
- Gosto de caçar.
- De caçar?
- Yep.
- Caçar... animais?
- Sim. E esfolo-os eu próprio, tenho uma colecção de...
- O C. é da liga dos direitos dos animais e eles são todos vegetarianos. - interrompeu a miúda, tentando aligeirar as coisas. Instalou-se um silêncio desconfortável.
- Estou a brincar. - disse.
- Ahh! - exclamaram.
- Adoro animais fofinhos! E o David Bowie. E os Abba. Hey, uma dúvida! Estou a pensar cortar o cabelo, como é que acham que me ficava bem? Esperem, antes de responderem, vamos pedir margueritas para todos?
Ouvi palminhas e o chocalhar de pulseiras, a doce música da vitória. O problema, evidentemente, é que ela perdeu todo o interesse por mim e da última vez que ouvi falar nela, namorava com um forcado.

8 comentários:

Cate disse...

Ahahah! Má escolha de personagem!

binary solo disse...

gostei mais do outro final da história. pena teres mudado.

Tolan disse...

Mudei umas 4 vezes. Mas isto é real.

pedro b disse...

um casal homossexual, foi-me apresentado como fazendo parte do vasto "sindicato".
eu disse em jeito de brincadeira (mas sério, porque realmente pertenço) que fazia parte da ordem. fui imediatamente ignorado...

B. disse...

Tão bom!!!
Que risada.

Bluesy disse...

Tipo isto? http://www.ebaumsworld.com/video/watch/80776464/

Anónimo disse...

hum hum. impressionante.
ena, tantos seguidores já. ah, e adicionaste links. até aposto que o pipoco mais salgado é amigo da pipoca mais doce, mas não ponho as mãos no fogo. voltando aos seguidores, é um conceito um bocado parvo, não?

o/

maria

Tolan disse...

Estou a formar um exército de seguidores do Tolan. Em breve seremos suficientes para ir à Fnac reclamar por causa de um portátil que se avariou com uma bebida entornada e que o seguro me recusou a pagar dizendo que consideravam que tinha sido "oxidação de componentes". Todo o objectivo deste blog é só mesmo para esse objectivo.