segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Escrever para jovens

O Jack Kerouac tem pelo menos duas virtudes. Faz-nos acreditar que a coisa correcta a fazer é largar tudo, viajar e viver intensamente. E, indirectamente, que todos podemos escrever um romance. Não me sinto muito confortável com estes efeitos. Primeiro, não posso fazer isso à minha mãe, isso de sair por aí a tomar drogas e abandonar tudo. E não me sinto muito à vontade com o estilo do On The Road porque consegue ser aborrecido por vezes, o que é um feito num livro tão pequeno. Diz que tiraram mais de 120 páginas do original, o que dá que pensar. O Kerouac tinha uma abordagem confessional à ficção, abordagem que eu próprio já percebi que partilho ao chamar-lhe, pomposamente, “verdade”.
Seja como for, o gajo era bom. O que ele fazia tinha, pelo menos, vitalidade e originalidade e sem dúvida que teve um impacto grande a vários níveis. Gosto da ideia do impacto na juventude. Talvez as melhores obras sejam as que conseguem mexer a sério com adolescentes, com jovens. Naquela idade, as fronteiras entre a arte (cinema, música, literatura, poesia) e experiências reais, estão muito esbatidas. Assim, é frequente um puto achar que aquilo é a melhor coisa que já viu e ficar durante dias a fio abalado por um livro ou um filme, sentir-se inspirado por ele, sentir um sentimento de perda e solidão porque aquilo acabou e já não há mais.

8 comentários:

Anónimo disse...

ºhey tolan, nada a ver com o tópico mas

http://www.youtube.com/watch?v=DX1iplQQJTo&feature=player_embedded

Tolan disse...

ahahahah isso é muito bom :))

DCSdeC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
DCSdeC disse...

Eu tenho um carinho muito especial pelo On the Road.
Quando o li na tenra e impressionavel idade dos 16 fiquei assombrada. Num misto de sentimentos. Por um lado tive uma vontade descomunal de mandar tudo às urtigas e ir embora, correr mundo e nunca mais olhar para trás. Contraiar o caminho para uma vida rotineira e monotona que nos dizem que é assim que deve ser. Por outro lado, uma melancolia e deprimência - mas lá está, os National são uma das minhas bandas preferidas por isso os estados de deprimêncis são constantes :P - e a frustação de não conseguir faze-lo.Talvez por ter a coragem. Nada era perfeitamente claro naquela altura, mas sentia-me presa e o On the Road apareceu como se que o caminho para a liberdade.
Agora na tão mais madura e sábia idade dos 18, já não existe tanto o sentimento de frustação e angústia, mas a vontade de correr mundo continua. Assim como o On the Road, que ainda me faz perfeito sentido.

DCSdeC disse...

*não ter a coragem...

Tolan disse...

DSCdeC, esse sentimento On The Road acentua-se com o primeiro emprego de secretária, computador e chefe, 8 horas a amochar, a tirar pausas para ir beber um café e tirar folhas da impressora debaixo de uma luz neon branca, a ouvir o pessoal casado a falar dos problemas dos filhos... estás feita :\

pedro b disse...

eu confirmo. acentua-se fortemente!

Beatrix Kiddo disse...

"Assim, é frequente um puto achar que aquilo é a melhor coisa que já viu e ficar durante dias a fio abalado por um livro ou um filme, sentir-se inspirado por ele, sentir um sentimento de perda e solidão porque aquilo acabou e já não há mais." Eu fiquei assim quando li o mundo de Sofia no 9º ano. Aquilo é a ponta do iceberg e eu achava que tinha descoberto a montanha toda (montanha, iceberg, fail, percebeu-se acho eu)