Um amigo avisou-me que existe o João Tordo. Chegou em primeiro lugar no Prémio Saramago em 2009. Folheei o blogue do João Tordo mas é um daqueles blogues de quem não tem tempo a perder com blogues, pelo que não pude retirar nada de especial, a não ser que não tem tempo a perder com blogues, ou seja, é focado e trabalhador. Escreve um romance de 300 páginas de dois em dois anos, já fez 4. Li esta entrevista em que diz coisas que parecem simpáticas embora um pouco neutras. Por exemplo, diz que detesta cada vez mais autores do estilo Dan Brown. E confessa:«Quando estou a escrever um romance é também das poucas alturas do ano em que bebo café e fumo cigarros logo de manhã.» Grande maluco. Vi entretanto outra entrevista em que elogia os benefícios da bebida mas diz que não anda praí a embebedar-se. Estas confissões naifs revelam uma certa honestidade. Uma certa "straightness" que acaba por funcionar a seu favor no meu complexo esquema mental de arrumar as pessoas, uma vez que eu estou completamente longe de a ter e admiro as pessoas assim. No fundo, inspirou-me simpatia. Eu, por outro lado, quando estou a escrever um aborto de romance, é também das poucas alturas do ano em que começo a beber minis ao pequeno almoço, consumo pornografia em grande quantidade, falo sozinho o tempo todo e fumo depois de lavar os dentes, antes de ir para a cama. Mas eu poderia estar a mentir só para me armar porque tenho essa tendência - o que explica porque não sou escritor, essencialmente, antes do ser, já o sou. Também diz que nessas alturas evita ler livros de autores bons para não se influenciar porque tem tendência a copiá-los. Eu faço exactamente o oposto para ser influenciado no sentido certo. Não são necessariamente os bons, por exemplo, Dostoiévski, Thomas Mann ou Nabokov não me influenciam. Mas existem o que eu chamo de escritores droga. Guardo-os para essas alturas, são uma espécie de medicamento de prescrição, com um efeito específico que vem na bula:
Bukowski: foge à norma, morrer não é grave, não podes ter medo.
Knut Hamsun: usa a loucura, fá-los quererem salvar-te.
Salinger: sê adorável, fá-los apaixonarem-se por ti.
Houllebeq: sê um filho da puta cínico com piada, fá-los sentirem-se culpados por estarem apaixonados por ti
Hemingway: não sejas lamechas, escreve como um homem.
Tennesse Williams: podes ser um bocadinho lamechas. Mas com estilo.
Flannery O'Conner: (ver Hemingway)
Alguém já leu João Tordo? O que acharam?
13 comentários:
Não li ainda João Tordo, cujo nome se aproxima demasiado de um cantor da nossa praça, o que não sei se abona muito a seu favor. Li algumas entrevistas com o rapaz ao longo dos últimos 3 anos e visto ser tão jovem acho que lhe devíamos dar todos algum apoio moral. Vou ler este livro um dia.
Um abraço.
P.S.: correcção ortográfica: os advérbios de modo na língua portuguesa que derivam de palavras com acento, ficam sem acento: necessariamente/automaticamente/etc. Obviamente não precisa de publicar este comentário.
tu por acaso não és o juvenal não?
Rafaela, já corrigi o horrível "necessáriamente" (eu sabia que havia qualquer coisa de profundamente errado ali). O João Tordo é mesmo filho do cantor Fernando Tordo. Por acaso, apesar de não ouvir regularmente o cantor Fernando Tordo, tenho-o arrumado numa boa prateleira, é um bom poeta e letrista (se é ele que as escreve, creio que sim). Gosto muito do Adeus Tristeza. E no outro dia ouvi o tema Tourada na rádio e fiquei fascinado pela letra (e não gosto de "touradas").
o poema da Tourada é do josé carlos ARY DOS SANTOS
O Fernando Tordo esta muito bem e cantou imensos poemas do Ary, como disse a Blimunda. Nao vale a pena confundir o pai com o filho.
Do Joao Tordo, so li o blogue e uns pequenos excertos de um livro que uma amiga minha andava a ler. Nao gostei muito. No mesmo blog, ha um certo post em que Joao Tordo diz que ja esta cansado de o compararem sempre com Paul Auster. Eu tambem estaria cansada. E uma macada muito grande, escrever coisas e depois as pessoas virem dizer que nos escrevemos como o Paul Auster, quando ainda por cima toda a gente sabe que o Joao Tordo e muito melhor.
Acho que estas a perder imensamente por nunca teres lido Joao Tordo.
De alguém (credenciado) que já leu o último: http://daliteratura.blogspot.com/2010/09/joao-tordo.html
(obrigado Blimunda!)
Rita, eu preciso de ler um autor contemporâneo português também, um de 4 em 4 anos.
Ana, crítica positiva, mas também confesso que é raro ver o Eduardo Pitta fazer uma crítica negativa ou ácida a um livro português. Pode ser coincidência de só ler livros bons ou então só fala desses.
Peço desculpa pela ousadia na correcção da sua gralha, meti-me onde não devia certamente. De qualquer forma, aprendi algo: não sabia - por falta de pesquisa certamente - que João Tordo era filho do Fernando Tordo. Apesar de ser um músico que não produz muito, é provavelmente dos cantores da velha guarda mais respeitados (inserindo-o no grupo do Paulo de Carvalho, Godinho, etc). Um bem-haja e até breve. :=)
A maria do rosário pereira acha que sim...e embora, neste caso, não seja imparcial costumo concordar com ela:
http://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/18069.html
nunca li nada dele nem me parece que algum dia o faça. é amigo da pipoca mais doce e isso para mim diz tudo. para além de que tem uma cara que apela à violência e um ar que não me agrada. depois sempre me irritou o facto de alguns escritores/poetas fazerem alarido nos seus blogues/páginas pessoais quando alguém "credenciado" lhes faz uma crítica, sobretudo se for positiva. gosto do pai, é um bom intérprete, e o "Tourada" é simplesmente genial.
e é só isto. um bem haja e beijinhos, Tolan.
um dia serás um grande escritor como o maradona, e o Eduardo Pitta e a Maria do Rosário Pedreira abraçar-te-ão com palavras de afecto e incentivo, tenho fé nisso. o/
maria
Estás a falar a sério? É amigo da pipoca mais doce? :| oh meu deus...
sabia que ficarias indignado, mas temos de saber contornar esta dura realidade... seguir em frente, calcorrear as estradas, galgar o susto. talvez se todos dermos as mãos - eu, tu, a pipoca mais doce, o João Tordo - e fecharmos os olhos com muita força, talvez o tio vânia não nos abandone tão friamente. estou em crer que ele voltará um dia, cheio de amor para nos dar como só ele sabe. estou em crer que sim. e então as ruas encher-se-ão de luzes para o receber, e ele sorrirá especialmente para mim, no meio de um filme mudo e indecifrável.
o meu abraço, Tolan, bem haja.
maria
Vamos dar as mãos! Vamos!
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