domingo, 30 de junho de 2013

desisto

E quase no fim da 4ª série, a 1813ª inconsistência absurda num argumento que se arrasta, à 39ª cena de Jesse Pinkman a fazer a cara de escolha difícil / momento de tensão / mato o Walter não mato...

 

... desisto de ver o Breaking Bad. Teve os seus bons momentos, mas em nenhum deles entrou o actor que faz de Pinkman e cujo único dom de representação parece consistir em, nos momentos mais dramáticos, esvaziar os pulmões, ficar todo vermelho e babar-se enquanto grita com voz de def, com com pausas entre as palavras, com um indicador espetado ou uma pistola na mão, a marcar cada sílaba.

A actriz que faz de Skyler tem a mesma boca de charroco indisposto da season 1...

...à season 4.

 Pelo menos, dou-lhe o mérito de conseguir unanimidade entre o nosso gosto (meu & Plaft) e o público que também a parece detestar, a julgar pelos comentários nas interwebs. Curiosamente, percebe-se pelo texto que a intenção dos argumentistas não era fazer uma personagem unidimensional e detestável e que havia mesmo vontade de lhe conferir complexidade, riqueza, ambiguidades, momentos de comédia, momentos dramáticos e que era suposto, a certa altura na temporada, ser credível que o Walter White gostasse dela e a aturasse. Mas isto é só um detalhe. O argumento parece ser escrito por pessoas limitadas e com princípio de alzheimer. Desde o início da série que desconfiei da premissa. Um tipo tem uma doença terminal e por isso escolhe fazer droga. É infantil e irritou-me. Boas séries, bons argumentos (weeds, dexter, madmen etc.), não precisam de uma justificação radical para um "breaking bad" até porque o mundo está cheio de pessoas exactamente iguais a nós que cometem crimes sem motivo nenhum especial. Aliás, é completamente inverosímil no mau sentido, mas não importa, porque a certa altura o cancro é simplesmente varrido para fora da série. Linhas narrativas são pura e simplesmente esquecidas, não de propósito, mas simplesmente porque não conseguem lidar com mais de duas ideias por episódio.Assim, se o foco é um negócio de droga, o cancro do White, o facto de ter tido uma filha bebé, a relação com a Skyler, tudo se eclipsa e esfuma misteriosamente, apenas para ressurgir quando não for credível ou quando interromper uma parte interessante. 

Do cast, destaca-se Dean Norris (agente Schrader), o único que consegue tornar interessante qualquer cena em que entre. Bryan Cranston (Walter White) é um excelente actor, mas acaba também por ser o mais fustigado pelos problemas de argumento e realização que o incluem em cenas que se arrastam e repetem:  whalter white descobre uma tramóia e tenta convencer um jesse hostil, walter white tenta falar com skyler e ela não lhe fala, walter white tem crise de nervos, walter white coloca os óculos com as mãos a tremer, walter white implora a alguém qualquer coisa etc.

Ah, não podia deixar de referir uma cena que para mim foi uma espécie de apogeu do tipo de descuido e amadorismo da série: quase nenhum dos actores que fazem de mexicanos dos cartéis sabe falar espanhol, mesmo nos papéis importantes. Nos EUA, onde os hispânicos são mais que as mães, é obra! Falam todos como se tivessem acabado de ouvir aquelas cassetes de aprendizagem no carro a caminho das filmagens.

Compreendo inteiramente que a série seja um sucesso. Exceptuando a season 1, nenhuma das três seasons seguintes é dolorosa de ver e há mesmo alguns episódios muito bons. O facto é que a vi até quase ao fim da season 4, embora o tenha feito sempre na esperança que melhorasse (o Jesse e a Skyler levassem um tiro nos cornos). É verdade que por vezes maus actores e maus argumentistas também produzem coisas originais porque "têm lata" e não me refiro a uma lata competente como a que foi necessária para aquela cena sangrenta do Game of Thrones (um exemplo de argumento à prova de bala). Refiro-me a uma lata que vem da incompetência e falta de noção. Tanto lhes pode dar para coisas brilhantes como o advogado Saul Goodman (outro grande actor) como para disparates  como aquele desastre aéreo /acto de Deus sobre a cidade. Contudo, o motivo pelo qual esta série é tão bem cotada pelo público e por grande parte da crítica, permanece para mim um mistério que nunca se dissipou.

20 comentários:

MDRoque disse...

Foste bastante mais corajoso do que eu, que comecei a achar a 2ª temporada chata e nunca mais vi. E olha que eu gosto de coisas chatas e até com pouca acção....

Maat disse...

nem de propósito. acabei hoje a season 4 e conto começar a ver a 5 brevemente.
tolerei o Jesse na primeira season, a partir daí foi sempre a descambar.
sempre odiei a Skyler e cada vez ela está pior. para além de agora na season 4 parecer uma porca de tão gorda que está.
o Saul é espectacular. também gostava muito do Mike, que acho que vai voltar a aparecer.
não é uma série perfeita, mas dentro do que conheço (pouco) e tenho seguido mais ou menos, é das melhorzitas.
e não deixaria de ver agora no fim, que só falta uma season.

e já que falas no Weeds, essa para mim foi super fail. aquilo foi a descambar fortemente ao longo das seasons. tanto que eu adorava a Nancy e chegou a um ponto que era ela o único motivo por que eu contnuava a ver. até que mesmo assim se tornou unsuportável e parei a uma season do fim.

dexter é sempre mais do mesmo. deixei também na season 4 ou 5.

well, better call Saul!

disse...

sempre ficamos com este remix hipnótico.

Unknown disse...

Aprecio muito o seu blog. Todos os dias tenho visitado o mesmo e delicio-me com os seus posts. Espero que continue com o bom trabalho.

Cumprimentos

Margarida Fonseca Dias

www.europeanemaildatabases.com

Tolan disse...

Zé, esse remix é simplesmente épico!

maat, não concordo, o dexter é desigual, tem seasons melhores e piores mas o nível está uns quantos furos acima do breaking bad.

M D Roque, aquilo até melhora depois. A primeira é mesmo a mais penosa. Depois vai sendo um pouco menos arrastada.

Anónimo disse...

vi a série há já algum tempo mas do que me recordo o cancro do walter white teve sempre presente. as consultas, as sessões de quimioterapia, etc.. gosto da forma como o Walter White passou de herói a vilão, porque a partir de um determinado momento é nisso que ele se torna. e vista a partir desse ponto de vista, a série torna-se interessante.

mas isto só prova como os gostos são discutíveis nestas coisas. Weeds é de tremendamente gratuita e absurda. Então e a premissa de Dexter? um miudinho que assiste ao assassinato brutal da mãe e transforma-se num serial killer com um código de honra que lhe permite matar apenas criminosos? tão ou mais infantil que breaking bad. uma palermice rebuscada. mas gosto de ver!

Anónimo disse...

já agora porque é que isto

"whalter white descobre uma tramóia e tenta convencer um jesse hostil, walter white tenta falar com skyler e ela não lhe fala, walter white tem crise de nervos, walter white coloca os óculos com as mãos a tremer, walter white implora a alguém qualquer coisa etc"

constitui para ti um "problema de argumento"?

não te estará a escapar qualquer coisinha? assim de repente.. não terás esquecido que o walter white se transformou num traficante de droga, ainda por cima sem código moral, como por exemplo o dexter?

de facto a série não é perfeita, a premissa inicial é infantil e um pouco preguiçosa, mas acho que precisas ver tudo de novo!!!

trollofthenorth disse...

O Saul Goodman é tão bom que vai ter direito a Spin Off em nome próprio.

No meio de tanta merda a que dão o nome de série, Breaking Bad ainda está no meu top cinco. Não podem aparecer Sete Palmos de Terra a todo o momento.

Rita F. disse...

Deixei de ver o Breaking Bad depois de alguns episódios da season 1. Não gostei muito e achei que não valia a pena o esforço, mas gosto do actor principal.
Há pouco tempo vi o Wire de uma ponta à outra. Esta, sim, é série que merece ser vista. Tão boa como os Sopranos (alguns dizem que até é mellhor, mas isso eu não consigo dizer).

Tolan disse...

Rita, a season 1 de facto é pior. é tão má que eu e a Plaft só continuamos a ver precisamente pelos ratings e recomendações. Estávamos só intrigados: como era possível a série ser tão apreciada? Depois ela melhora substancialmente e tem episódios muito bons e que te colocam naquela esperança que a série vá melhorando e até vai. Acho que a season 4 acaba por ser a melhor. Mas no final da season 4 cometeram o maior fuck up de argumento que já vi na vida. Não só resolvem uma linha narrativa com um gajo a tropeçar numa carpete, assim como quem varre um problema para debaixo do tapete, como criam uma situação final totalmente inverosímil e que eu sinto como profundamente insultuosa à minha inteligência. Para quem viu a série, o Jesse deduzir(?!) que foi o Walter que envenenou o miúdo. Uau. Simplesmente uau. Triplo uau. Eu levantei-me do sofá e fui para o pc. A Plaft ainda viu até ao fim e contou-me as reviravoltas seguintes. Ficámos os dois em silêncio e depois fomos ver sopranos.

a palavra chave aqui é verosimilhança. Vou ter de escrever um post sobre isso.

Anónimo disse...

tolan, há algo de básico e óbvio que não percebeste, ou não queres perceber, ou não tens vontade, ou não sei, se calhar não estás para aí virado.

o walter white não é o herói, é o vilão.

o jesse não é herói nem vilão, é um paspalho viciado em droga.. achas que um paspalho toxicodependente consegue pensar em coisas inteligentes? não achas que seria estranho se o jesse fosse um génio?

a skiler foi apanhada no meio daquilo tudo sem saber ler nem escrever.

a história não é sobre um parolo que decide tornar-se traficante de droga quando descobre que tem um cancro em fase terminal.

é sobre um tipo que sempre quis ter tudo na vida mas, por vários motivos, não o conseguiu até ter começado a traficar droga. o cancro, o bebé, etc., são detalhes no meio disto tudo.

tudo bem que não é a série mais profunda e não se compara a six feet under, sopranos, ou outras. mas não é má de todo. longe disso.

dexter, por exemplo, que citas como exemplo de uma série bem escrita, tem uma premissa inicial 100 vezes mais preguiçosa e infantil, é repetitiva no mau sentido da palavra e está carregada de personagens completamente inconsequentes como aquele masuka, a irmã do batista, metade dos namorados que a irmã do dexter teve (mesmo assim continuava com muitos e percebia-se na mesma a intenção) para não falar do comportamento que ela teve quando descobriu que o irmão era um serial killer.. se queres falar em inverosimilhança podes começar por aqui.

mas olha. eu gosto de ver o dexter!

Anónimo disse...

mas olha lá, ó tolan, tu que és escritor ou ambicionas a isso, responde lá, se quiseres (como é evidente!!):

a premissa tem obrigatoriamente de ser verosímil?

um tipo que acorda transformado num insecto gigante, uma "cegueira branca" que cega todas as pessoas menos uma, um mafioso com ataques de pânico, sei lá.

fico à espera do teu post sobre verosimilhança.. só não me digas que isso é essencial.

de resto, estás à vontade.

Anónimo disse...

mas olha lá, ó tolan, tu que és escritor ou ambicionas a isso, responde lá, se quiseres (como é evidente!!):

a premissa tem obrigatoriamente de ser verosímil?

um tipo que acorda transformado num insecto gigante, uma "cegueira branca" que cega todas as pessoas menos uma, um mafioso com ataques de pânico, sei lá.

fico à espera do teu post sobre verosimilhança.. só não me digas que isso é essencial.

de resto, estás à vontade.

Anónimo disse...

Ver séries é quase tão degradante como assistir novela.
A única difrença é o poder de compra:
os devoradores de séries compram mais tecnologia que os noveleiros.
mas amerda é exatamente a mesma.

Anónimo disse...

Quando dizia "a merda", queria significar "as premissas"

e as premissas são:

gentes com vidas moles projetam-se no écrã
onde seres interessantes que debitam 30 frases interessantes por minuto se pavoneiam.

mas é tudo um logro: as 30 frases/min são fruto de 10 horas de bebida e charros

os argumentistas destilam as 10 horas em 50 minutos de filosofia cool não-stop.

trollofthenorth disse...

Este ultimo anónimo é parvo. Pela lógica dele, teatro e cinema também são merda. De literatura então nem se fala. Tome-se o exemplo de Pessoa.

A pesca do atum é que é fixe.

Tolan disse...

anónimo, foda-se, só vi isto agora (o de cima, não este último). Foda-se, não discuto com quem confunde verosimilhança com fantasia, etc.
E este último, bah, é pedante.

André disse...

Porque é que te chocou o Jesse ter achado que o WW tinha envenenado o miúdo? Não é que ele estivesse errado, nem que, dada a evolução do carácter Whiteano nessa temporada, isso não fosse plausível. Mas se calhar não me estou a lembrar de alguma coisa.

Anónimo disse...

Somos 2. Um mistério pq é tão amada pela crítica e por alguns amigos meus que eu julgava terem bom gosto :D
Nuno Rechena

Filipe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.