sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

o contexto das coisas

Uma foca entra num bar cheio de gente e diz:

─A existência assemelha-se a uma esfera que rola sobre planos inclinados invisíveis, uma topografia de acasos e decisões aparentemente conscientes. Uma vida nunca sobe, só desce, até estagnar numa cova depois de umas espirais bonitas. Às vezes as esferas chocam umas com as outras e alteram trajectórias. Uma existência plena recusa entrar em espirais nas covas confortáveis e procura o choque com outras esferas.

As pessoas do bar ficam em estado de choque:
─ Uma foca que fala!
─ Uma foca falante!
─ AHAH! Lindo!

Batem palmas, riem, admiram o truque, tentam descobrir se o som vem de um altifalante escondido ou se é um ventríloquo que está a pregar uma partida. A foca parece um pouco frustrada. Ninguém aparenta levá-la a sério. Depositam-lhe um filete de peixe à frente, num pequeno pires ‘para ver se ela gosta’. A foca abana a cabeça e suspira, com os olhos fechados.

7 comentários:

Maria disse...

Teoria da incompreensão. Como compreendo.

São João disse...

e do que a foca precisava mesmo, era de um whiskey...

Walter Ego, o Mestre disse...

Viva a foca! Os humanos são mesmo estúpidos!

Anónimo disse...

Pôssas, que bar manhoso, nem uma palavra sobre o valor intrínseco da intervenção! :)

trollofthenorth disse...

Eu já achei estranho toda a gente a bater palmas, quando essa é a pièce de résistance da foca...

Tolan disse...

ahahaha :D

Anónimo disse...

É mesmo uma pena a pequenez das pessoas.