sábado, 4 de fevereiro de 2012

peixe aranha

Quando somos picados por um peixe aranha - já me aconteceu 7 ou 8 vezes - a primeira sensação que se tem é a de que se pisou uma concha afiada.
Se tivermos a sorte de ser a primeira vez que nos aconteceu, ainda temos alguns minutos de despreocupação, feliz, sem a ansiedade que caracteriza a situação de se ser picado pela segunda ou terceira vez.
Depois, parece que ficou um bocado da concha dentro do pé, talvez um vidro espetado ou mesmo uma agulha de seringa com HIV a subir pé acima. O que é estranho é que quando examinamos o pé fora de água, só mesmo espremendo com força é que se pode ver um pequeno fio de sangue de um corte minúsculo.
Uns minutos depois e a toda a nossa existência fica focada na zona do pé, somos apenas um pé, às vezes o início de uma perna e dói :(
Mas a dor é pública. Não é uma coisa que se tem na cozinha quando se dá uma cabeçada na quina da porta do armário aberta e podemos ser mariquinhas à vontade. Não, acontece numa praia, a quilómetros do próximo sítio mais privado. Controlamos as expressões de dor, estoicamente, mas o coxear praia acima de punhos cerrados e o responder “ggghghsfmffmmm” quando nos perguntam se foi um peixe aranha, trai-nos facilmente.

Se for um nadador salvador a perguntar-nos isso, é coisa para atrair a curiosidade mórbida de todo português entorpecido pelo sol e pela digestão. Pousa a Lux ou o Correio da Manhã e aproxima-se de nós com interesse, animado por estar a acontecer qualquer coisa.

Depois temos de ouvir conselhos como “mije para cima disso” ou “queime com um cigarro”. Até já me sugeriram esfregar bosta de cão.



(o título do post era "o amor, ai o amor" só que fica melhor assim, mais subtil)

4 comentários:

Sairaf disse...

Andar na areia a ferver é uma boa solução, mas depois corres o risco de te dizerem, "olhe lá, a menina é tolinha, anda para ai às voltas na areia quente!!"...

Alexandra disse...

Mezinha da minha bisavó para picadas de abelha (quem diz abelha diz peixe aranha): mijar para um canteiro e esfregar a terra húmida na picada. Na areia da praia também deve dar resultado. Já com o amor... tenho dúvidas.

Cat disse...

A parte pior destas coisas, para além da dor, é a constante lembrança da dor. Fica-se-nos ali a moer, às vezes por uma vida.

(isso da cabeçada no armário, já me aconteceu, e de facto chorei e gritei um foda-se quão alto me apeteceu... muito mais catártico)

Sofia disse...

se me acontecer (espero que não) aposto que grito todas as car&%$!das que me vierem à boca, quero lá saber de quem esteja ao pé, pelo que tenho visto nas praias do sotavento, deve doer e muiiiito.