Do total de desempregados em Portugal, entre 8 a 10% são licenciados. 1/10 do total de desempregados. É um número que pode surpreender por ser pequeno, uma vez que nos media e com movimentos como o "geração à rasca" há uma percepção generalizada de que este problema se sobrepõe a outros. É preciso não confundir "jovem" com "licenciado" em primeiro lugar. 55% dos jovens portugueses com idades entre 20 e 24 anos não tem sequer o ensino secundário concluído e continuamos a ser os campeões do abandono escolar: 28,7% de abandono, ou seja, 1/3 dos nossos jovens desistem da escola.
Depois, é preciso perceber se falamos de aumentos relativos de desemprego. É certo que foi o grupo dos jovens licenciados que teve o maior aumento de desemprego no conjunto da OCDE. Contudo, o relatório "A procura de emprego dos diplomados com educação superior" de junho de 2010 do GPEARI revela que houve um aumento de 25% no desemprego dos licenciados de 35 a 54 anos. Nos jovens licenciados com idades inferiores a 24 anos o aumento foi de 13%, quase metade.
Também é preciso ter em conta que Portugal foi um dos países da OCDE onde o número de licenciados mais aumentou nos últimos anos, quase ao dobro da média da OCDE (o que é normal, visto que partimos de uma das posições piores). Para além do problema conjuntural de crise e que tem feito disparar dramaticamente o desemprego em todas as faixas etárias e níveis de qualificação, é preciso ter em conta ponto de partida conjuntural. Podemos ter jovens qualificados demais para um mercado que, estruturalmente, não tem ofertas de emprego qualificado.
Deviam divulgar os índices de empregabilidade dos cursos de cada universidade. O curso em si não significa nada, a universidade em que ele é obtido tem extrema importância. Estes dados deviam ser consultados pelos jovens antes de escolher cursos e já existem, não estando contudo sistematizada a sua divulgação. Por exemplo, o curso Serviço Social da Universidade de Trás os Montes tem 40 desempregados por cada 68 alunos licenciados. Por outro lado, Engenharia Civil no técnico tem 1 desempregado por cada 252 licenciados. Mas não penses que é só "ser engenheiro" que te safa. Se tirares engenharia biotecnológica na Escola Superior Agrária do Politécnico de Bragança, podes ser um dos 51 desempregados por cada 97 licenciados. Também se devia divulgar o salário médio auferido por licenciados dos cursos de cada universidade, nos primeiros anos de emprego.
O futuro de muitos destes jovens qualificados em Portugal deve passar pelo empreendedorismo, como profissionais liberais ou empresários. Seria interessante que vários cursos incluíssem qualquer coisa deste tipo nos seus programas. Por vezes o caminho é sinuoso e não se trabalha directamente na área de licenciatura. Isto é particularmente importante em áreas que sabemos estar saturadas, como Direito ou Economia ou Gestão, mas que formam jovens com alguma flexibilidade laboral, especialmente os que vêm das universidades de referência nesta área.
É essencial que os jovens entendam que o emprego não é um direito. Por mais que possa ter sido vendido assim, o "direito ao emprego" não existe. Existe o direito a ter uma vida digna, a protecção social, a justiça, a democracia, a liberdade, a livre iniciativa, a saúde, a educação... Mas ninguém tem o direito pré-definido de ter alguém que lhe pague um salário para desempenhar uma função que ninguém precisa, porque isso significaria obrigar outros a pagar esse emprego do seu bolso.
Deve entender que tem de fazer concessões e adaptar-se, investigar todas as possibilidades, estudar coisas para as quais se calhar não sente a mesma vocação ou são mais puxadas, ir para fora, trabalhar noutras áreas, aprender outras coisas. Podem estar à rasca, mas não se está tão à rasca como as pessoas mais crescidas, cheias de dívidas, contas a pagar e filhos ou baixas qualificações.
21 comentários:
O Tolan anda a revelar a sua veia moralista... Yuk
um dos textos mais claros que li sobre o assunto.
Obrigada pelo prazer da leitura.
É importante que escrevas isto de forma a não ter que ouvir que um canudo não serve para nada.
Há sectores que têm de ir buscar mão de obra estrangeira porque os jovens não se interessam.
Bom texto!
www.magazinevencedora.blogspot.com
E não é vergonha nenhuma trabalhar numa área "ao lado" ou mesmo diferente daquela em que se tirou o curso. Cada um faz o que pode e como pode.
Por acaso estou a trabalhar na minha área mas licenciei-me numa má fase. Quando entrei ainda não havia muitos licenciados de privadas a saturar o mercado, mas quando acabei, jasus, de direito éramos mais c'as mães. E nos anos seguintes agravou-se. A existência de dados sobre a empregabilidade de cada curso era mesmo importante.
três coisas:
geração à rasca foi a nossa 30-45, filhos da revolução, pais sindicalizados, PGA prolixo, direito ao emprego, toma lá recibos verdes. a seguinte não tenho tanta certeza, acho que é só a geração morangos com açúcar.
divulgar os números de empregabilidade dos cursos é o suficiente para foder a estatística. por outro lado seria um ideia para se ir tapando buracos à saída de alguns cursos e amenizando engarrafamentos de desempregados a caminho do abismo à saída de outros cursos.
não me lembro da terceira coisa, mas já cá volto.
No que respeita ao imbecil que me acusa de "moralista", o meu discurso é responsabilizador, quer dos jovens, quer das universidades, quer dos media na análise destes temas.
Passa-se sistematicamente a ideia de que:
a) os jovens licenciados são os que mais sofrem com o desemprego;
b) tirar um curso não serve para nada;
c) aos jovens licenciados é devido um emprego, independentemente do curso, da universidade em que o tiram e da procura de trabalho nesse sector em Portugal.
E isto num país que já tem elevados índices de abandono escolar e cujo o problema estrutural passa pela baixa qualificação e produtividade da sua mão de obra. Não é um bom discurso.
Também tende a apagar o papel activo que o jovem tem na sua situação.
O direito à educação superior deve ser garantido. Quando leio notícias de estudantes universitários que passam fome ou têm de desistir dos estudos para trabalhar e sobreviver, revolta-me muito, porque é gravíssimo.
Infelizmente, com o massacre das "gerações à rasca" nos media, cria-se a ideia que até é melhor o gajo não estudar porque só ia perder tempo, visto que os que estudam não têm emprego etc. etc.
No primeiro emprego a contrato que arranjei, há 14 anos, disseram-me explicitamente que tudo o que eram currículos com licenciaturas de privadas eram postos de lado... Dentro da minha área sou da melhor universidade, portanto safei-me.
Já penseou que nem toda a gente consegue entrar no técnico? Já pensou que nem toda a gente consegue completar uma licenciatura no técnico?
Tolan eu ando numa das faculdades e cursos referidos no teu post, e pah ha emprego sim, com mais ou menos dificuldade, mas é verdade que já nao se começa a ganhar tao bem como antes. No entanto obrigado por me teres deixado tão optimista para o futuro que se avizinha!
Ó anónimo, mas é suposto privilegiar-se o mérito ou não? Se me disser que há gente que não tem possibilidades financeiras para vir estudar para o Técnico ainda aceito, agora não conseguir entrar ou sair?
E ao anónimo aqui de cima... é obvio que toda a gente não consegue entrar ali. E porquê? Pela mesma razão que não basta "querer" ser médico.
Em relação aos custos, é a propina igual a medicina, por exemplo... acho que só os politécnicos é que são mais baratos.
Responsabilizador, sem dúvida. Jovens, crianças, pessoas em geral: aceitem de uma vez que a vida é uma corrida de obstáculos, ainda por cima com concorrentes a mais, para se servir cada vez mais e melhor a Produtividade! (cuidado, não se deve dizer a palavra Capital.) Moralista ou moralizador, deixa-os falar, que explicaste bem o teu ponto de vista (e isso já se sabe, todos temos um). Jovens, façam o que tiverem de fazer, vocações, interesses e talentos são palavras obsoletas e de esquerda - se no fim da vossa vida esforçada e engajada conseguirem comprar o veleiro, cumpriram a vossa missão.
O desemprego é muito elevado nos jovens licenciados mas quase 3/4 arranjam empregos e não vêm todos do técnico... :|
A precariedade dos contratos e a exploração dos jovens licenciados é outro tema, não o abordei. Prende-se não só com a situação actual do mercado deprimido, mas também com a existência de dois sistemas: um que não tem nada e vive de recibos verdes e precariedade e outro que tem todas as regalias e se protege pelos sindicatos ou pelas corporações como a ordem dos advogados ou dos farmacêuticos ou dos médicos que, naturalmente, defendem os interesses da classe.
Tolan,
Como são contabilizados os desempregados? Por quem está inscrito no centro de desemprego? (é uma pergunta sincera, porque não sei mesmo) Mas forma como a estatística é feita pode enviesar totalmente as conclusões que dela se retiram...
Bjs,
M.
O que quis dizer é que sim, quem sai do Técnico provavelmente tem emprego garantido, mas nem todos temos cabeça para isso. Se isso deve ser premiado? Deve sim senhor. Mas apenas quero dizer que nem todas as pessoas têm capacidade para ser médicas ou eng.ª ou advogadas. No entanto, podem na mesma cursar.
As pessoas andam tão agressivas, valha-me Deus!
M. existe a estatística do centro de emprego e o INE. O INE calcula por um Inquérito ao Emprego bastante representativo. Normalmente o número de pessoas inscritas no centro de emprego subestima bastante o número de desempregados em épocas de recessão (é o caso) e sobrestima em épocas de crescimento.
Anónimo, concordo, só referi que apesar da situação ser muito má, a maior parte dos estudantes mesmo assim arranja emprego mais facilmente que pessoas sem curso superior.
Mas é preciso realismo. Todos os líderes do Geração à Rasca são licenciados em Relações Internacionais na universidade de coimbra. Um deles tem um mestrado em estudos sobre paz e conflitos em África. Os outros, não sei. Não entendo que noção do mundo tem alguém que tira este curso e mestrado sem admitir algum risco de desemprego. Conheço um gajo, por acaso, que conseguiu carreira diplomática sem qualquer cunha (algo raríssimo) e vencendo dezenas de candidatos. E antes de conseguir isso, trabalhou num balcão da caixa para sobreviver. Isto do à rasca é muito relativo.
Acho que um curso deve preparar-nos para a vida. Ensina-nos a escrever,a e pensar, a pesquisar, a responder sobre pressão, etc. Acho que um curso deve ser encarado dessa forma. Tirei um curso de línguas, não vou ser professor, muito bem o que posso fazer com isto então? Acho que as pessoas não se deviam limitar ao curso. Tenho um amigo que estudou Estudos Europeus, não está na UE, pois não, mas trabalha em hotéis de 5* por esse Mundo fora. Quando o contrato num hotel acaba segue para outro. Se é muito bem pago? Não sei, sei só que é feliz
Esta conversa do pessoal licenciado é uma coisa que me tem tirado do sério nos últimos tempos. É óbvio que é essencial seguir para o ensino universitário (contra mim falo que não tenho sequer frequência universitária). A questão, quanto a mim, é que as últimas gerações o fez sem qualquer sentido de trabalho, luta e interesse. Fez porque, como muito bem dizes, achou que isso lhes traria o tal direito ao trabalho, em especial aos ordenados chorudos e essencialmente ao poder. Alguém lhes terá enfiado isso na cabeça.
Tenho duas licenciadas a trabalhar comigo há uns meses, destas últimas gerações, duas que tiveram a "sorte" de arranjar um emprego e, honestamente, sinto-as tão alheadas da realidade, tão cegas, tão surdas, tão petulantes,tão usurárias e, oxalá me engane, tão futuras filhas da puta. Tão sinónimo deste post, que até dói. E nem tão pouco estão à rasca, imagino se estivessem. E comento isto sem pinga de ressabiamento. Não sou licenciada por opção, escolhi trabalhar, e também não sou uma cinquentona na prateleira e as duas licenciadas estão longe de me assustar. Assustador é ver que a crise de muitos destes à rasca, é mais de valores do que de outra coisa. Sim tenho um filho e contas para pagar e quando esta gente entrou na faculdade já eu andava à rasca. Não lhes posso é dizer nada disto porque, choram. A sério, choram por tudo e por nada. Ah, não é por tudo e por nada, é porque estão à rasca. Pois.
Isso da empregabilidade dos cursos é mesmo muito importante.
Já em 97, quando fui para línguas, sabia que iria acabar no desemprego se não me "desenrascasse" de outra forma. Fiz aquele curso porque era a minha paixão, paguei-o do meu bolso e paguei as minhas contas a trabalhar em call-centers, fábricas e o que houvesse. Mas sempre soube que não era um curso para ir trabalhar.
Assim como uma ideia que não sei se está no post ou nos comentários acima, que é a de criar cadeiras universitárias nos cursos que ensinem e preparem e expliquem aos jovens como criar o próprio emprego...
quem é que escreve os posts dos números, é o Tolinhas ou o Autor?
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