Hoje, 9 de Novembro, é o Dia Internacional do Fascismo e do Anti-Semitismo. A 9 de Novembro de 1938 os Nazis partiram as janelas todas às lojas dos judeus. Essa noite ficou conhecida como "Kristallnacht" e é vista como o início simbólico do Holocausto que vitimou 6 000 000 de judeus (provavelmente um número arredondado ao milhar pelo menos).
Aos 7 anos de idade fiquei impressionado com os volumes da II Guerra Mundial que tinha em casa, especialmente com as fotografias da iconografia das SS, as caveiras e as suásticas que causavam tanto medo e que se assemelhavam aos orcos do Senhor dos Anéis, ao Greyskull do He-Man ou ao Império do Star Wars.
Não percebia bem o que eram "6 milhões de judeus". O número era absurdo e "judeu" para mim era um conceito um tanto ou quanto abstracto também. O único judeu que conhecia era o Woody Allen e achava-o engraçado e custava-me a acreditar que tinham morto seis milhões de Woody Allens, porque é que alguém havia de fazer isso?
Tanto fiquei impressionado com as suásticas que convenci dois amigos a pintarmos uma série delas nas paredes da nossa aldeia, durante a noite. Armados com um balde de tinta vermelha e trinchas, pintámos suásticas bastante tortas e a escorrer tinta, o que lhes dava um aspecto "sangrento" que até ficou fixe. Por isso, em 1984, uma pacata aldeia rural da zona oeste acordou decorada por um Joseph Goebbels de 7 anos e dois capangas da Gestapo. Para além das suásticas, o M. também pintou uma piça na paredes da garagem do tractor do senhor L.
Não deu assim grande bronca, os conhecimentos de história dos aldeões eram parcos e a indignação resumiu-se termos sujado as paredes que tiveram de ser caiadas de novo. Não havia judeus lá aldeia, imagino que se houvesse uma família judia, não teriam achado piada nenhuma.
Maior bronca deu a minha acção greenpeace radical para salvar as rãs do riacho que estava a secar no verão: tirei as rolhas dos ralos dos tanques de água para rega em todo o vale para inundar o rio. Resultou, por umas horas, o rio voltou a secar e as rãs ficaram tristes outra vez. O efeito mais significativo foi ter obrigado uma dúzia de agricultores septuagenários a acartarem canecos de água em carrinhos de mão até às primeiras chuvas de outono e eu evitar sair de casa durante quase todo o verão.
Conheci o primeiro judeu no curso de matemática (óbvio). Um judeu mesmo judeu em Portugal é muito raro porque a Igreja os converteu amavelmente há séculos. Em Portugal há mais daquelas pessoas que dizem que são judias como dizem que são liberais de direita ou anglófilas, só para chatear as pessoas do PCP. Mas este era mesmo judeu a sério, um tipo extremamente inteligente, de óculos redondos, muito agarrado ao dinheiro como eles são e que queria especializar-se em gestão de derivados nos EUA.
Ao pé dele sentia-me culpado não sei bem de quê, eventualmente do episódio das suásticas na minha infância. Estava-lhe sempre a pedir desculpa por tudo e por nada, ganhava-lhe uma mão à espadinha e pedia-lhe desculpa, sentava-me antes dele e pedia-lhe desculpa, apontava para qualquer coisa ao longe e temia fazer algo como uma saudação hitleriana, recolhia o braço e pedia desculpa e às tantas comecei a evitá-lo porque me fazia sentir triste e culpado. Só que isso não resolveu o problema, ainda o agravou.
Um dia, já meio bêbedo da happy hour numa quinta feira, enquanto ele contava moedas daquelas escuras dos cêntimos que tinha apanhado do chão, ganhei coragem cheguei-me ao pé dele e disse-lhe: «em nome de todas as pessoas, queria-te pedir desculpa por termos morto seis milhões dos teus». Ele não me respondeu mas tirei um enorme peso de cima. Sugiro-vos que façam o mesmo a um judeu hoje, peçam desculpa, vão ver que tiram um peso de cima. E já que estamos nisto, peçam desculpa a um comunista pelo fascismo também. Se encontrassem um judeu comunista até podiam despachar logo tudo de uma vez, mas isso não deve ser muito comum em Portugal.
Dito isto, resta-me desejar um bom dia internacional do anti-semita e do fascista a todos vós e que sejam tolerantes.
9 comentários:
A 9 de Novembro de 1989 caiu o muro de Berlim.
"6 000 000 milhões", isso é praí uns 6 triliões. Parece-me excessivo ;)
Olha, faz aí um post assim "Gestão de derivados: The last frontier".
corrigido... para citar a Sarah Silverman: matar 6 milhões de judeus é errado, mas 6 trilões seria simplesmente imperdoável.
Ahah. Quase tão bom como Louis CK.
eh pá, em tempos li um texto em que um blogger tinha a sensação de ter sangue judeu, ou coisa que o valha. foi o primeiro caso de judaísmo histérico que conheci.
agora esta cena que aqui escreveste está refinadíssima. you`re the guy!
"judaísmo histérico", é isso mesmo, grande termo!
Off-topic within :) com a tua referência a um judeu comunista.. lembrei-me dos mitos sociais urbanos que durante anos eu e o meu gang tentámos combater/encontrar.. qualquer dia arranjo coragem para elaborar!
Acompanho-te à distância de um stalker competente :)
*uma stalker*
então? não há hate mail?
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