sexta-feira, 1 de julho de 2011

o amor e os tempos

O amor no século XIX era uma coisa à maneira, pelo menos aqui na Rússia do Guerra e Paz do Tolstói. O Harold Bloom parece que refere alguma misoginia do Tolstói, mas penso que está enganado, é preciso contextualizar a obra na época e reparar que ele trata do mesmo modo mulheres e homens. Há personagens masculinas como Boris ou Anatole que são mais detestáveis que qualquer mulher de Tolstói no seu próprio campeonato: fúteis, vaidosos, estúpidos, manipuladores etc.

O que talvez não haja é uma mulher com o nível de complexidade de um Rostov ou Andrei, é certo, mas  parte da "complexidade" destas personagens advém de experiências exclusivas dos homens: guerra, duelos, paixão (são eles que cortejam), governo de propriedades, ascendência de título, dinheiro, liberdade individual etc.

A mulher desta sociedade aristocrática russa não fazia nada a não ser esforçar-se para ter um bom partido. E para tal, nos melhores casos, cultivava o espírito, dançava, cantava, lia, rezava, embelezava-se e sonhava. .

Casavam muito cedo e normalmente com homens mais velhos. O dinheiro e a posição compensavam a idade. Também podiam ser terrivelmente interesseiras, coisa que não mudou hoje em dia, continua a haver esse tipo de mulher; homens grosseiros e desinteressantes, ou porque são famosos ou ricos ou ambos, têm mulheres e/ou amantes belíssimas (sendo o oposto muito mais raro).

Tal como hoje, no século XIX na Rússia havia sentimentos de amor e podiam determinar casamentos. Mulheres recusam bons partidos porque não os amam e vice versa. Não há, pelo menos aqui no Guerra e Paz, o casamento forçado, contra a vontade, embora seja notória a influência de uma série de factores, como a benção dos pais; a vontade das famílias. Era possível impedir um casamento ou dificultá-lo muito, da mesma forma que se podia montar uma espécie de armadilha, colocando os potenciais noivos em situações de interacção romântica no baile.

O que é muito diferente face a hoje é o namoro e a perspectiva do casamento.Naquela altura, homens e mulheres decentes, para consumarem a sua paixão, tinham de se comprometer. As hormonas podiam estar aos saltinhos mas primeiro tinham de casar. O namoro é rápido, feito por vezes na presença de familiares ou em bailes, perante os olhares de estranhos. A forma como se apaixonam é feita de sinais, esboços, impressões, ela canta e ele chora, ele dança e ela fica apaixonada, uma palavra, um ombro nu, uma carta, umas conversas. Não há passagem pela antecâmara da amizade, do esquadrinhar dos defeitos e virtudes e muito menos, do sexo. Há apenas uma curta janela de oportunidade para dizer o que se tem a dizer e caso um homem demonstre "interesse" numa jovem que corteja, tem de declarar as suas intenções e ser honrado, falar com a família, comprometer-se e pedi-la em casamento para o resto da vida. Extraordinário no Guerra e Paz é o caso de dois noivos cujo casamento o pai não aprova e diz ao filho que vá para o estrangeiro 1 ano, sozinho, e que se mesmo assim depois de um ano quiserem casar, que casem. Escrevem-se cartas e anseiam pelo dia em que poderão estar juntos. Não casam, um deles apaixona-se por uma pessoa detestável e falsa e não adianto muito para não "spoilar" o livro, mas dá que pensar.

Hoje, apesar da liberdade que temos em conhecer, namorar e viver juntos, as separações são cada vez em maior número (sejam divórcios, fins de namoros longos etc). Não que os casamentos sejam mais disfuncionais do que antes. A mulher é mais independente, não se vivem tantas situações hipócritas, a sociedade é mais tolerante, a separação legal é mais fácil etc. Isto, apesar de ser nítido que estamos mais centrados em nós próprios e na consciência do nosso direito a estarmos bem.

Enquanto que no passado o salto no escuro obrigava a um compromisso com uma situação estática e a uma abnegação total do "eu" e desse compromisso podia advir uma forma de amor, à semelhança do que sucede com aquele nosso colega de trabalho que é uma pessoa palerma mas de quem acabamos por ser amigos por o aturarmos todos os dias, hoje podemos construir uma situação romântica a pouco e pouco, com coisas que imaginamos serem fases e que, para cada salto de uma fase para a outra, podemos não ir iludidos; temos mais certezas, garantindo transições suaves e racionais, inclusive, para uma separação se for caso disso, uma separação que se admite, não sem algum cinismo, a priori, no próprio dia do casamento.

Depois há um tipo de pessoas cuja única pergunta que parecem fazer constantemente é "qual é a forma mais bonita de nos estamparmos?"

Eu acho esta aqui bonita, fica aqui a sugestão para esse tipo de pessoas.

2 comentários:

Margarida disse...

So true! Faço parte desse grupo de pessoas e somos algumas.
E nem perguntamos qual é a forma mais bonita. É à sorte e à morte! Estampamo-nos c uma pinta do caraças!

O casamento tb é um belo de um estampanço, c música e tudo! :)))

Joana Felix disse...

Oh palhaço... Tem tomates, dignidade, honestidade e educação e diz na cara das pessoas o que mencionas aqui e ali, em vez de andares por aí a escrever e a fazer filmes a tentares ridicularizar os outros, e sê uma pessoa verdadeira e com carácter em vez de quereres dar a entender aos outros aquilo que não és (falso).
Só para que saibas que quem é ridícularizado aqui és tu, com estas atitudes imaturas e sem qualquer interesse.