quarta-feira, 18 de maio de 2011

paisagem americana



Uma das questões essenciais é se os EUA parecem o que parecem porque são assim ou porque são filmados por americanos, mesmo hipsters amadores com uma super 8.
Um olhar americano sobre os nosso subúrbios e paisagens desérticas do alentejo, daria o mesmo resultado? Não sei, mas duvido. Por vezes penso que é uma questão de espaço, de distância entre as coisas, de luz, de objectos detalhados e horizontes Nos subúrbios portugueses ou nas paisagens das estradas nacionais, mesmo as do Alentejo, as coisas são mais compactas, o espaço é menor, há mais curvas suaves e as imagens são sobrecarregadas de detalhes e contrastes. Há pormenor e textura nos sobreiros e oliveiras, padrões geométricos nas charnecas, nas vinhas e pomares de minifúndio. Também pode ter a ver com a camada recente de instalações comerciais, um McDonalds, uma bomba de gasolina, um Walmart, um motel, uma espécie de existência perene e improvisada, os monumentos são de contraplacado e neon, por contraste aos nossos em pedra, com séculos. Um dos caminhos mais americanos que conheço é o que vai de Mafra a Sintra pela nacional. Há vilas com stands de automóveis com fitas e descontos em cartazes, exposições ao ar livre com artigos aberrantes em mármore, tijolo e loiça, fios de electricidade a cortar os céus, restaurantes de passagem com aspecto agressivo. A paisagem é incaracterística e e árida, entalada entre o mar, o campo e a serra. É apenas uma estrada com construções caóticas a poucos metros da berma. São só uma dúzia de quilómetros e com a serra de sintra a sul e o mar a oeste.

Nas dunas do Baleal, procuro campos de visão em que possa ignorar a existência de Peniche, do mar, da estrada, do hotel Soleil, dos bloco de apartamentos construídos apressadamente no início do milénio. Foco-me num enquadramento fechado de dunas e cardos e imagino que aquilo é um deserto que se estende por centenas de quilómetros sem nada, a não ser talvez uma estação de serviço e um motel decadente. Preciso de espaço.

2 comentários:

I. disse...

Esta música é A música.

Anónimo disse...

emborrachada curricular centenas madri educadores beneficia encarregaram lave tomarmos vásquez