sexta-feira, 6 de maio de 2011

teenager



às vezes, quando estou mesmo com a neura de inspiração, recuo aos anos 90, os da minha adolescência. Foram anos de videos de cores e roupas saturados, fluorescentes, Parker Lewis, tartarugas ninja, Nivana, televisões privadas e meia dúzia de paixões platónicas nos corredores da escola.

A infância e a adolescência são os períodos mais interessantes na vida de qualquer pessoa porque têm o absoluto que a vida jovem ou adulta não têm. Dois bons adultos que se entendem têm tendência a, de certa forma, partilharem conhecimento, eu sei que tu sabes, tu sabes que eu sei. Um gajo quando tem 14 anos não sabe absolutamente nada, não tem nada a ensinar a ninguém e as outras pessoas têm tendência a agravar a confusão, dos pais aos amigos, das paixões platónicas aos professores, é tudo intenso e confuso.

A primeira bebedeira que tive foi de tequilla, no interior norte de Portugal, num acampamento numa reserva natural, não me lembro onde.

Sei que bebi vinho quente de malgas e depois tequilla, perante o olhar desconfiado de locais. Entornei um shot na mesa e sorvi a mesa, para gáudio de todos. Lembro-me que a M. e  L. e A. estavam lá e eu estava a apaixonado pelas três mas que numa velha ponte romana, entusiasmado pelos vapores etílicos, imitei um touro e os meus amigos, bons amigos diga-se, tourearam-me com agrado, o que eliminou hipóteses com a L. e a A.

Desviei-me do caminho e desci uma vereda cheia de árvores e silvas e deixei-me cair exausto debaixo de um céu estrelado e puro e cristalino, o céu da serra do interior norte, um céu granítico, diamantes em veludo negro. Estava eufórico da bebedeira, aquelas primeiras em que uma pessoa se sente bem e tal. Quando dei por isso, tinha a M. ao pé de mim, ficou preocupada, havia uma escarpa grande para um rio, cá em baixo e achou que devia tomar conta de mim, os outros que fossem andando e foram. Acho que ela queria  - viria a saber anos mais tarde - curtir comigo. Eu não sabia isso, porque raio é que... não sabia isso. O vento às vezes soprava muito forte nos pinheiros e ouvia uma coruja ao longe. Se não fosse ela a arrastar-me pelo braço de volta ao acampamento, tinha ficado ali a dormir.

10 comentários:

Isabel disse...

Este texto, embora acabe abruptamente, está muito coerente… não sei se entendi! Acho que me está a escapar qualquer coisa.

(btw, às vezes nem mesmo os bons adultos percebem o isso. Isso que tu não percebeste enquanto teenager. E olha que a rapariga foi uma querida, preocupada que caísses do precipício e te afogasses no rio. Vocês às vezes são mesmo vistas curtas)

TheWriter disse...

Eu também queria uma continuação :D

Eu também estou na fase de Teenager... E é uma fase a aproveitar :D

Exceptuando a parte da bebedeira.. Não sou muito do género de beber. :D

Handsomed.74 disse...

pá, afinal não estavas assim tão alccolizado ou não seria possível lembrares-te de metade dos factos relatados:)

M. da Correia disse...

A M. manda dizer que:

1) Não eram pinheiros, eram salgueiros - e não era vento-vento, era mesmo o Jorge Palma a cantar o jingle da versão portuguesa do "The Wind in the Willows"

2) Não era tequilla; era álcoól canforado. Enfiaram-te o barrete; realmente pagaste os shots por preço de tequilla. Os locais estavam a olhar desconfiados com medo que tu topasses.

3)O que tu chamas "escarpa grande para um rio" era o tanque de fibrocimento da avó da M., sobre o qual te deitaste eufórico. De barriga. Donde prossegue que o céu de "diamantes em veludo negro" era mesmo um vestido preto com lantejoulas que estava de molho em Clarim.

4) A M. compreende a tua discrição sobre a cena da "tourada" e acha nobre e digno que evites falar da tua experiência traumática numa cena que parecia saída do "Rasganço" mas sem Universidade ao fundo. Um dos teus "bons amigos" diverte-se de quando em vez a mandar postais anónimos aos outros a dizer "Eu sei o que fizeste ao Tolan na ponte romana".

5) Ainda que temendo desapontar-te, a M. admite que sim, queria curtir contigo, mas não de forma muito inocente: ela precisava da tua ajuda para um teste de matemática. A M. guarda de ti agradáveis memórias: os outros eram uns brutos que só a ajudavam nos testes se ela os deixasse tocarem-lhe nos seios com onze dedos - mas tu não; tu não pediste nada em troca e, depois de 15 dias em que te achou um coninhas, acabou por perceber, ao ver um episódio do 'Olhos de Água', que era uma questão ortográfica: afinal, o que eras era um chóninhas.

6) Por falar nisso, a M. pergunta se não queres passar por casa dela para a ajudar a preencher o questionário dos Censos - diz que está atrapalhada com as somas.

Catarina disse...

A minha primeira bebedeira foi de shots de tequilla, 20 escudos cada shot, num bar que fazia matinés... Tinha 14 anos, e faltei à aula de EVT dessa sexta à tarde :)

Diego Armés disse...

Que belo texto...

Tolan disse...

Obrigado a todos, foi só um ensaio e é por isso que acaba abruptamente mas poderia ter 400 páginas :]

Tolan disse...

(um ensaio, para um próximo romance)

a.i. disse...

ai que eu vinha aqui dizer que tinha a sensação que ou eu estava lá e era a A. (o meu nome começa por A.) mas não, agora vejo que apareceu mesmo foi a M. e desmistificou a coisa toda.
bolas! e eu que ia jurar que isso se tinha passado no gerês, nma colónia de férias para onde eu ia no verão e onde uma pessoa podia fingir que não era crominha.

Pintas disse...

É por escrita assim que eu gosto tanto deste blo. Fui obrigada a roubar para o meu. thanks. ..mesmo tendo acabado abruptamente.