quarta-feira, 6 de abril de 2011

Com os Copos


Ando a ler com deleite o "Com os Copos" do Miguel Esteves Cardoso, uma colecção de crónicas - excelentes - sobre bebidas. Já passei em tempos uma fase de cocktails caseiros. Tinha uma namorada que ficava mais namoradeira quando estava com os copos, mas não gostava de beber vinho ou cerveja. Então investi bastante nessa arte, construindo uma garrafeira das mais diversas bebidas destiladas, sumos e refrigerantes, vinhos generosos e licores, enfim, todo um arsenal digno de um pequeno bar. Guiava-me por um livro de receitas de cocktails bastante completo (com que ela ficou, quando nos separámos). Ela gostava particularmente das minhas margeritas, Manhatans e bloody marys. Em boa verdade, abandonei esse hobby uma vez que apanhávamos os dois valentes bebedeiras pouco saudáveis e o ser namoradeira era-me inútil, pois era frequente eu adormecer imediatamente assim que aterrava na cama, para não falar na performance que era prejudicada.

Esse livro era apenas de receitas, não chegava aos calcanhares deste "Com os Copos" do Miguel Esteves Cardoso que compensa o número limitado de bebidas com o seu apuramento, degustação, enquadramento, histórias pessoais, enfim, toda uma mística que ensina realmente a escolher, comprar e apreciar a bebida (e a água, a fruta, o gelo, o copo, a própria luz).

Tem até uma belíssima crónica sobre escrita e substâncias como o alcool, nicotina, cocaína, heroína, anfetaminas etc.

As bebidas destiladas são mais agressivas. O Bukowski, um expert na matéria, dizia que um homem pode beber vinho e cerveja toda a vida, mas o whisky morde e, em minha opinião, tem razão. Além disso, com os cocktails, o efeito do álcool é rápido e potente. Em 30 minutos podemos ter já um cabeção que torna inútil qualquer tentativa de escrita e que no dia seguinte dá uma valente ressaca.

A cerveja e o vinho permitem um consumo prolongado durante horas, sem causar particular alteração psíquica. O meu normal diário / nocturno são 5 ou 6 cervejas ou 1 de vinho,com intervalos de uma noite (horrível) em que não toco em nada. Sempre gostei de beber um copito ou dois.

A ligação com a actividade de escrever é aquela de que fala o Miguel Esteves Cardoso. A bebida pode actuar como um desinibidor (até um certo ponto, claro) e na escrita também é necessária uma desinibição, embora não seja por isso que a consumo. Não existe um carácter instrumental nisso. Quando tenho tempo escrevo de manhã ou durante o dia, e não bebo, e as coisas até podem sair bem. E sem dúvida que em excesso prejudica. Por exemplo, para escrever bem, o meu limite são 4 cervejas. Nem é muito. A partir daí a qualidade decai porque perco concentração.

Preciso apenas de ter um copo por perto quando é noite. Também faço coisas saudáveis e evito doces por exemplo.

11 comentários:

Anónimo disse...

Tb li recentemente e ficou-me uma dúvida. Ele foi mm Barmen ou trata-se de um "personagem"?

Pedro Góis Nogueira disse...

Tens boa pedalada. Disso podes estar certo :)

Tolan disse...

Anónimo, pelo que percebi, ele criou uma personagem, acho que não foi barmen :)

obrigado Pedro. Acho.

Anónimo disse...

Hmmm... 5 ou 6 cervejas ou uma garrafa de vinho por dia durante muitos anos não auspicia nada de bom! Palavra de médica.

Anónimo disse...

há um par de anos tive um namorado q quando bebia (e só bebia) whisky, transformava-se num monstro. quando não bebia era um médico.

Pedro Góis Nogueira disse...

Mas há que ter cuidado, os médicos dizem que não se deve exceder as três cervejas médias ao dia, ou os dois copos de vinho. Se bem que eu acho que também dependa de pessoa para pessoa. Eu por exemplo, com cinco cervejas tenho de ir à casa de banho de 10 em 10 minutos. No mínimo...

Maria disse...

Se é MEC, é bom de certeza

Beatrix Kiddo disse...

é um livro a comprar

Tolan disse...

Cara médica anónima (não sabia que médicos liam este blogue caramba), tem certamente razão, mas vocês receitam xanaxes e prozacs e outras coisas a quem se queixa dos mesmos problemas de que eu me queixo :)

Maat disse...

mas, tolan, xanax e prozac e outros do género são legais e têm as suas vantagens:
-nao acusam no teste do balão
-são subsidiados parcialmente pelo estado
-podes meter na tua declaraçõa de IRS
-os efeitos psicotrópicos também são bastante agradáveis.

Isabel disse...

Já eu não evito os doces, mas evito a cerveja. Também não evito o vinho ou cocktails, que também me deixam um bocadinho mais namoradeira. E eu gosto.