sexta-feira, 11 de março de 2011

procuram abrigo

Nisto dos putos e das canções e gerações e protestos, estas coisas giras que ciclicamente acontecem com todas as gerações saudáveis, tenho visto exemplos de cinismo e maldade para com os putos e as suas manifestações.

Não gosto de ver essas personagens na minha própria geração (77), nem daí para baixo.

Admito isso nos velhos lógicos, senhores com alguma idade e com a 4ª classe, que têm uma visão do mundo formada pelo Correio da Manhã e que ligam para o Forum TSF, ou nas tiazocas que vivem em microcosmos ou no Pacheco Pereira.

Mas não em pessoal de 30 e tal anos que cresceu a ouvir rock e com o Herman José e que ainda apanhou a Internet na universidade.

É legítimo e útil criticar as reinvidicações, questionar a utilidade da manifestação, mas não o sintoma em si, não o carácter dos jovens, não o serem preguiçosos, baldas, mimados, desinteressados, decadentes, indisciplinados ou ignorantes... Pensemos antes que coisas como o eventual desinteresse de uma geração pode ser um sinal que o que existe agora é desinteressante e nós é que já estamos tão condicionados por esta merda que nem questionamos as coisas que nos obrigaram a engolir.

Às vezes acho que as pessoas fazem isso porque se sentem ressentidas de terem tido de abdicar dos seus próprios sonhos para se encaixarem em rotinas miseráveis e massacrantes, com as vidas pessoais subjugadas a empregos claustrofóbicos, em que grande parte do problema é precisamente aturar algumas pessoas da geração anterior, a que manda em nós e define regras por vezes absurdas e irracionais.

E muito menos, nunca, jamais, never, com o disparate de se considerar uma nova geração pior que a anterior, pior do que a própria.

A única coisa que pode haver é uma preciosa ingenuidade, comove-me que os putos estejam chateados. O cinismo ácido que tenho visto por aí... É na desconfiança da geração seguinte que reside o primeiro e mais grave sintoma de estar velho.

Para um puto entalado numa vida sem perspectivas, o primeiro verso do gimme shelter dos Stones é mais do que o primeiro verso do gimme shelter dos Stones


Yeah, a storm is threatening
My very life today
If I don’t get some shelter
Lord I’m gonna fade away

7 comentários:

André C. disse...

Ámen.

Pedro Góis Nogueira disse...

Concordo. Mas por outro lado quem manda à maior parte dos jovens tirarem cursos de Direito, Sociologia e Relações Internacionais? Com uma média de 200/300 alunos de Direito por turma/ano, quantos potenciais advogados precisamos realmente? E então sociólogos ou embaixadores e demais membros governamentais? Um pouco de lucidez aqui também é importante.
Acho horroroso que Miguel Sousa Tavares e alguns reaccionários de direita tratem os precários de Deolindos para baixo, mas há coisas em que os os tais se puseram a jeito e isso é inegável.
Agora a agressão entre gerações é inqualificável, mas é o que mais temos vistos nestes últimos dias. E dá-nos ideia do que os críticos colunistas têm acerca dos Deolindos (salvo seja) e do que é receber 500€ em contratos renováveis à semana...

Tolan disse...

Pedro, concordo em absoluto, mas a culpa não é só deles mas sim do descontrolo na oferta de cursos. Nos EUA as universidades são obrigadas a publicar índices de empregabilidade e salários médios para os cursos e os putos quando escolhem já sabem ao que vão. E penso que os pais também têm alguma responsabilidade, deviam conhecer o mercado de trabalho ou procurar informar-se e aconselhar os putos.

Sara disse...

De tudo o que li e ouvi sobre o assunto, esta é a opinião mais equilibrada e abrangente.
É claro que a colagem de alguns partidos irrita porque hipócrita e inconsequente. Mas isso faz parte da narrativa da democracia.

Madalena disse...

Concordo muito. Tenho ouvido/ lido as coisas mais incriveis sobre isto e tb me tem feito impressão. Parabéns ao BILF :)

Anónimo disse...

"Às vezes acho que as pessoas fazem isso porque se sentem ressentidas de terem tido de abdicar dos seus próprios sonhos para se encaixarem em rotinas miseráveis e massacrantes, com as vidas pessoais subjugadas a empregos claustrofóbicos, em que grande parte do problema é precisamente aturar algumas pessoas da geração anterior, a que manda em nós e define regras por vezes absurdas e irracionais."

Não tenhas dúvida alguma.

Isabel disse...

Terceiro parágrafo, depois o seguinte, o outro e o outro. E por aí adiante.

Geração à rasca? Eu estou é à rasquinha. Tudo o que é cliché desta crise encaixa aqui para os meus lados. Excepto a parte da casa dos pais, isso felizmente está resolvido há muitos anos. Mas pelo caminho que isto leva...