quarta-feira, 23 de março de 2011

o que sabemos de vender livros a gajas

Não costumo aceitar sugestões de leitura de mulheres, normalmente. O meu inconsciente tratou de perder durante meses o "O que sabemos do Amor" de um tal de Raymond Carver que me tinha sido emprestado pela bluesy, que é uma mulher, ficam a saber. Também tenho sempre relutância em ler traduções de livros que posso ler em inglês ou francês. Já tentei ler os Irmãos Karamazov em russo mas só conseguia contar o número de ocorrências da palavra Карамазовы (102). E esta é do João Tordo, um autor que a nível estilístico tem tantos recursos como o John Galliano na prisão. Mas não está má, o gajo é sóbrio e trata com respeito e contenção a obra. Exceptuando o título tenebroso.

Acontece que após múltiplas ameaças de morte da referida Bluesy, encontrei o livro, aparentemente por acaso enquanto procurava outra coisa. O Que Sabemos do Amor é um título tão mau que eu preferia morrer às mãos da Bluesy do que passar mais vezes pela humilhação de pedir à miúda gira da Fnac se têm o "O que sabemos do Amor".

Numa maratona, já li três contos e concluo que o Raymond Carver é muito bom e que é um escritor para gajos e algumas mulheres com problemas graves (não quero de modo nenhum deixar implícito que é o caso da Bluesy).

De maneiras que não compreendo o título que bem que podia ser de um livro do Pedro Paixão, esse magnífico escritor para senhoras, que conta na sua fértil bibliografia com títulos tão bonitos e subtis como "Muito, meu amor", "Nos teus braços morreríamos", "Os corações também se gastam", "Cala a minha boca com a tua" ou "O mundo é tudo o que acontece". Bitches love that shit não é? Deve sair tanto como as apple pies do Mac a 1 euro cada duas. Parece que as estou a ver, os maridos refastelados no sofá a ver o Benfas ou a ressonar ao lado na cama e elas a sonhar com muitos meus amores que nos braços delas morreriam de coração gasto e bocas caladas, que é coisa que acontece muito, e que faz o mundo e, depois de apagarem a luz, tocam-se sem o marido se aperceber, imaginando-se possuídas pela voz do Pedro Paixão, encarnada num George Clooney (porque o Pedro Paixão é bastante feio) ou num José Rodrigues dos Santos, a debitar poesia fogosa durante o acto.

Percebo que o título original do Carver, para o conto homónimo, era Beginners, aliás, vem em subtítulo na capa da edição da Quetzal, o que foi uma boa opção. Beginners é bonito e ajustado ao tom dos contos. Principiantes? Ficaria muito mal? Aprendizes? Não sei. Talvez colocar Beginners em grande e em subtítulo "O que sabemos do amor", invertendo o aspecto da capa. O 1º editor, para além de esquartejar a obra original do Carver (aqui reposta na sua versão original num esforço de louvar) criou o título "De que falamos quando falamos de amor", o gajo percebia de marketing como o Pedro Paixão e o Mac. Mas mesmo esse, apesar de trapalhão e idiota, era menos Pedro Paixão que "O que sabemos do amor". O que sabemos do amor parece uma daquelas prendas de piada, depois o livro não tem nada, é só páginas em branco e oferecemos aquilo às pessoas e toda gente se ri menos quem recebeu a prenda.

No essencial, o Raymond Carver, é muito bom e é isso que importa não é? É. Obrigado Bluesy e as melhoras.

9 comentários:

Lester Burnham disse...

Oh Toaln,

se tivesses lido o original, terias reparado que o titulo de tenebroso pouco tem...

Tolan disse...

Mas eu falei nisso, o original não era Beginners?

Camille disse...

O meu dia atè estava a correr bem. Depois, vem um gajo e relembra-me que o Pedro Paixao existe.
: /

Cat disse...

Não, bitches DON'T love that shit.
Há mulheres que são muito gajos a ler, se me permites.
Ou que simplesmente têm, ah, bom gosto. Pronto, já disse.

kawamura disse...

ADORO intelectuais complexados do tipo “tenho um interesse por poesia e pela Morte” – são tão sexy – e que sentem necessidade de dizer ao Mundo que conseguem ler obras em Inglês e Francês, meu deus já estou com calor e tudo...

“(...)imaginando-se possuídas pela voz do Pedro Paixão, encarnada num George Clooney (porque o Pedro Paixão é bastante feio) ou num José Rodrigues dos Santos, a debitar poesia fogosa durante o acto.” – isso é tudo wishful thinking ou é experiência própria?

Isabel disse...

Bitches love that shit… NOT. Agora as tartes de maça do Mac… i'm love in it!

Timóteo de Azevedo disse...

Talvez por estar half ébrio mas achei bastante piada à parte em que se fala esteticamente de Pedro Paixão.

Beatrix Kiddo disse...

deve haver tantas mulheres a ler desses livros "amar depois de amar-te" como homens que não lêem at all. "ambos os dois" estão no caminho para a desgraça eheh

Patife disse...

Deixa-me cá rir para dentro com todas as minhas forças. O tom da cadência da escrita é fabuloso, caraças pá. ;)