Não costumo aceitar sugestões de leitura de mulheres, normalmente. O meu inconsciente tratou de perder durante meses o "O que sabemos do Amor" de um tal de Raymond Carver que me tinha sido emprestado pela bluesy, que é uma mulher, ficam a saber. Também tenho sempre relutância em ler traduções de livros que posso ler em inglês ou francês. Já tentei ler os Irmãos Karamazov em russo mas só conseguia contar o número de ocorrências da palavra Карамазовы (102). E esta é do João Tordo, um autor que a nível estilístico tem tantos recursos como o John Galliano na prisão. Mas não está má, o gajo é sóbrio e trata com respeito e contenção a obra. Exceptuando o título tenebroso.
Acontece que após múltiplas ameaças de morte da referida Bluesy, encontrei o livro, aparentemente por acaso enquanto procurava outra coisa. O Que Sabemos do Amor é um título tão mau que eu preferia morrer às mãos da Bluesy do que passar mais vezes pela humilhação de pedir à miúda gira da Fnac se têm o "O que sabemos do Amor".
Numa maratona, já li três contos e concluo que o Raymond Carver é muito bom e que é um escritor para gajos e algumas mulheres com problemas graves (não quero de modo nenhum deixar implícito que é o caso da Bluesy).
De maneiras que não compreendo o título que bem que podia ser de um livro do Pedro Paixão, esse magnífico escritor para senhoras, que conta na sua fértil bibliografia com títulos tão bonitos e subtis como "Muito, meu amor", "Nos teus braços morreríamos", "Os corações também se gastam", "Cala a minha boca com a tua" ou "O mundo é tudo o que acontece". Bitches love that shit não é? Deve sair tanto como as apple pies do Mac a 1 euro cada duas. Parece que as estou a ver, os maridos refastelados no sofá a ver o Benfas ou a ressonar ao lado na cama e elas a sonhar com muitos meus amores que nos braços delas morreriam de coração gasto e bocas caladas, que é coisa que acontece muito, e que faz o mundo e, depois de apagarem a luz, tocam-se sem o marido se aperceber, imaginando-se possuídas pela voz do Pedro Paixão, encarnada num George Clooney (porque o Pedro Paixão é bastante feio) ou num José Rodrigues dos Santos, a debitar poesia fogosa durante o acto.
Percebo que o título original do Carver, para o conto homónimo, era Beginners, aliás, vem em subtítulo na capa da edição da Quetzal, o que foi uma boa opção. Beginners é bonito e ajustado ao tom dos contos. Principiantes? Ficaria muito mal? Aprendizes? Não sei. Talvez colocar Beginners em grande e em subtítulo "O que sabemos do amor", invertendo o aspecto da capa. O 1º editor, para além de esquartejar a obra original do Carver (aqui reposta na sua versão original num esforço de louvar) criou o título "De que falamos quando falamos de amor", o gajo percebia de marketing como o Pedro Paixão e o Mac. Mas mesmo esse, apesar de trapalhão e idiota, era menos Pedro Paixão que "O que sabemos do amor". O que sabemos do amor parece uma daquelas prendas de piada, depois o livro não tem nada, é só páginas em branco e oferecemos aquilo às pessoas e toda gente se ri menos quem recebeu a prenda.
No essencial, o Raymond Carver, é muito bom e é isso que importa não é? É. Obrigado Bluesy e as melhoras.
9 comentários:
Oh Toaln,
se tivesses lido o original, terias reparado que o titulo de tenebroso pouco tem...
Mas eu falei nisso, o original não era Beginners?
O meu dia atè estava a correr bem. Depois, vem um gajo e relembra-me que o Pedro Paixao existe.
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Não, bitches DON'T love that shit.
Há mulheres que são muito gajos a ler, se me permites.
Ou que simplesmente têm, ah, bom gosto. Pronto, já disse.
ADORO intelectuais complexados do tipo “tenho um interesse por poesia e pela Morte” – são tão sexy – e que sentem necessidade de dizer ao Mundo que conseguem ler obras em Inglês e Francês, meu deus já estou com calor e tudo...
“(...)imaginando-se possuídas pela voz do Pedro Paixão, encarnada num George Clooney (porque o Pedro Paixão é bastante feio) ou num José Rodrigues dos Santos, a debitar poesia fogosa durante o acto.” – isso é tudo wishful thinking ou é experiência própria?
Bitches love that shit… NOT. Agora as tartes de maça do Mac… i'm love in it!
Talvez por estar half ébrio mas achei bastante piada à parte em que se fala esteticamente de Pedro Paixão.
deve haver tantas mulheres a ler desses livros "amar depois de amar-te" como homens que não lêem at all. "ambos os dois" estão no caminho para a desgraça eheh
Deixa-me cá rir para dentro com todas as minhas forças. O tom da cadência da escrita é fabuloso, caraças pá. ;)
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