quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

os meus discos preferidos não interessam a ninguém #666: Dr. Dre - The Chronic e breve raciocínio sobre coisas e isso


As pessoas têm o hábito de reduzir coisas que não conhecem a um estereótipo redutor de que não gostam. Nunca me esqueci ouvir um fadista dos antigos, o João Braga (creio) dizer que "o rap é a antítese da música". Tive pena dele e na altura eu nem ouvia rap. Talvez aquela frase, daquele arquétipo de pessoa antiga, tenha contribuído para começar a ouvir rap. A primeira canção rap portuguesa, curiosamente, é do Herman José, a música do genérico do Tal Canal. Os meus amigos rockers também desprezavam (alguns ainda desprezam) música de dança, house, techno etc. Conheço algumas mulheres (a evitar) que não gostam de álcool, em geral. Tudo bem, a humanidade é assim. Eu não gosto da Federação Portuguesa de Futebol, ópera e instalações artísticas em geral.

A propósito da ópera, fico sempre com a sensação que as pessoas forçam um interesse na ópera por refinamento cultural e exibição social, embora algumas, muito poucas, acabem por gostar genuinamente da ópera. Penso que conseguem gostar de ópera quando passam para o nível de poder não gostar de ópera mais vezes do que as vezes que gostam de ópera. Existirá algures uma ópera que seria a ideal para mim, não a encontrei. O S. Carlos cheira-me a provincianismo e decadência, apreciação injusta, certamente.

Nas instalações artísticas de contemporâneos o problema é outro. Sem o filtro do tempo e uma biografia relevante, os textos que acompanham, criticam ou apresentam exposições de instalações de artistas contemporâneos são frequentemente um hino à ausência de nexo, inteligência e objectividade, embaladas num pacote pretencioso, críptico e elaborado. No fundo, tentam colocar a obra acima de qualquer eixo de apreciação objectivo, não existe "bom" ou "mau", apenas uma intencionalidade que é descrita e nós temos apenas que calar e ficar a olhar para o tubo de metal em cima de uma cadeira virada contra a parede que tem uma racha e um prego.

Voltando ao rap ou ao hip-hop, há bom e mau, como em tudo. Não percebo grande coisa disso, mas este dico do Dr. Dre está lá. Gostaria muito de descobrir o The Chronic da ópera. Quanto à Federação Portuguesa de Futebol, não quero gostar dela.

Yet The Chronic is first and foremost a party album, rooted not only in '70s funk and soul, but also that era's blue party comedy, particularly Dolemite. Its comic song intros and skits became prerequisites for rap albums seeking to duplicate its cinematic flow; plus, Snoop and Dre's terrific chemistry ensures that even their foulest insults are cleverly turned. That framework makes The Chronic both unreal and all too real, a cartoon and a snapshot. No matter how controversial, it remains one of the greatest and most influential hip-hop albums of all time

4 comentários:

Laura Nadar disse...

"As pessoas têm o hábito de reduzir coisas que não conhecem a um estereótipo redutor de que não gostam."

E é isto que acaba por ser feito quando se refere às instalações artísticas. Falta talvez acrescentar ao "não gostam" qualquer coisa como "falta de disponibilidade". E claro que uma afirmação como esta de que as instalações são frequentemente "um hino à ausência de nexo" não podem ser levadas a sério. É tão pretensioso aquele que presume comunicar sem elaborar primeiro na linguagem de que está a fazer uso como aquele que presume estar ciente de todas as possibilidades de conhecimento e entendimento passíveis de ser transmitidas num determinado tempo e/ou espaço.

A arte não pretende ser apenas e para uma apreciação objectiva. Se assim fosse, nada era autêntico, nada se acrescentava ao mundo das aparências exterior, nada se acrescentava, nada se sentia...

Tolan disse...

há sempre uma apreciação objectiva porque o dinheiro e, sobretudo, o tempo que o público tem disponível para ver as coisas não é infinito. Tem de fazer escolhas objectivas, podem resumir-se a "aquilo tem mais interesse que aquilo, vou ver aquilo".

eu não me referia à falta de qualidade das instalações, falava sim dos textos sobre instalações e performances.

O que digo é que na minha ignorância geral sobre instalações e performances, ninguém nunca me despertou interesse porque o discurso crítico é um prolongamento da subjectividade estética ou técnica das obras e não fornecem ao espectador qualquer ferramenta para ele ver e apreciar por si.
Se alguém deu espaço aquele artista para expor um escadote com um balde de tinta em cima e colocou uma etiqueta de preço, isso é tudo muito objectivo. Tempo (o meu), espaço, dinheiro, fama.

Sabemos que estas cotações são muitas vezes especulativas, há um aspecto de "investimento" na arte como em ouro ou títulos do tesouro e podem ser descoladas de qualquer valor intríseco, devido a lobbies, hypes ou simplesmente sorte. Mas atenção, só me acontece pensar este tipo de coisas sobre exposições de instalações ou performances que me aborrecem de morte e não têm valor estético ou técnico nenhum, pelo menos, aparente, a não ser um manifestozeco qualquer, uma intencionalidade supostamente original e subsersiva ou uma ironia sem piada. Esta é uma velha discussão recorrente :)

Anónimo disse...

Quanto à ópera, experimenta as de Mozart. Qualquer uma. Subirás ao céu.

Quanto às ”instalações”, concordo. Na sua grande maioria, ou são productos de imbecis genuínos ou são simples vigarices. Enfim, o pessoal tem que se entreter com qualquer coisa. Pelo que me toca, quero que se fodam e agradeço que não me venham com explicações.

Carla disse...

É verdade!
A mania que as pessoas têm que quando não gostam de uma coisa essa mesma coisa não tem valor, devia ser banida do planeta.
Em todas as valÊncias há o bom e o mau. E temos que aceitar que para mim o mau pode ser o bom para o outro.
Eu também não gostava nada de metal, rap e fado e agora gosto. E não era pelo facto de não gostar que achava este ou aquele estilo menos válido.