quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

não foi um exemplo muito feliz...

Jornalista: Estudaste o quê?
Jovem desempregado: Cinema, na Universidade da Beira Interior.


Reportagem na SIC, no Portugal 2011, agora mesmo, sobre o desemprego e condições precárias dos jovens.

13 comentários:

Anónimo disse...

Porquê que não foi um exemplo muito feliz?

Tolan disse...

Tinha acrescentado um post gigantesco a explicar porquê mas entretanto falou o reitor do Técnico a dar números esmagadores da empregabilidade dos licenciados e achei que não valia a pena. Acho que um curso de realização de cinema é um exemplo extremo e pouco representativo. Mas se formos para exemplos mais comuns, o padrão é ausência de matemática na profusão de cursos para os quais não há procura no mercado de trabalho, ou porque os cursos resultaram da criatividade de marketing de universidades ou porque os respectivos sectores estão em crise. E isto já era assim em 1996 quando escolho o meu curso contra a minha "vocação". Aliás, a minha vocação nem era cinema, mas aposto que me seria infinitamente mais divertido tirar um curso de cinema do que enfrentar os cornos da matemática (até chumbei um ano). Mas nunca tive problemas de empregabilidade.
Em certas áreas a solução é ser o melhor dos melhores, não há lugar à mediocridade, emigrar ou então a iniciativa própria e criar o seu emprego, a sua empresa. Se não há mercado para uma empresa na área que o licenciado gosta, porque motivo haveria de existir uma empresa que o contratasse? O que acho é que falta noção e realismo aos jovens na altura da escolha do curso. E acho que as vocações se sobrepõem às formações académicas, tanto é que mesmo nas áreas tecnológicas e de engenharia, os Bill Gates e Zuckerbergs nem sequer precisaram de curso. Um jovem, se acredita no seu valor e que algo de errado se passa porque não existe uma empresa para lhe oferecer um emprego, deve partir do pressuposto que os mais velhos são estúpidos demais para compreender isso (em grande parte pode ser verdade) e rebentar com as empresas e negócios dos mais velhos. O que eu gostava de ver era os mais novos a rebentarem com as empresas e negócios enquistados dos mais velhos. Isso é que eu gostava. Mas em Portugal, ter um "Dr." no nome do filho é tudo para uma geração de analfabetos e subqualificados que pensam que um curso superior vale alguma coisa e é uma promoção social per si.

Pólo Norte disse...

Estás com sorte que não foram sacar do brilhante exemplo do curso de Anatomia Patológica, Citológica e Tanatológica...

Pólo Norte disse...

Ou Psicopedagogia Curativa da Universidade Moderna...

I. disse...

Palmas ao comentário do Tolan. DE alguém que, em 1989, escolheu um curso contra a sua "vocação" porque (uma chatice!) tinha noção que os seus pais não lhe iam dar de comer a vida toda.

Já agora, não perguntaram ao jovem e premiado realizador se já tinha mandado curriculum para as produtoras que filmam os morangos com açucar. Quase a apostava que a resposta seria negativa, mas adiante.

Inês disse...

Viva Tolan,
Conheço-te por outro nome, mas como este tema me interessa e trabalho nele, deixo aqui o meu comentário.
Tb vi o programa e tenho uma opinião um pouco diferente da tua.
Acho que as pessoas devem escolher os cursos consoante o que querem e lhes interessa, eventualmente juntando algum pragmatismo e aproximarem o que gostam com uma perspectiva de empregabilidade. Mas não concordo, de todo, que uma pessoa deva escolher aprender (para mim é isso que significa uma licenciatura, uma pós-graduação, um mestrado, um phd, um post-doc, o que seja - e não um canudo - quero lá saber de ter Dra. atrás do nome, apesar de me chamarem isso todos os dias). Ao mesmo tempo, acho que é importante - e aqui falo de entidades públicas - que seja feita uma análise de antecipação das necessidades do mercado de trabalho e essa poder guiar, em certa medida, as aberturas de cursos públicos. Mas o mercado de trabalho não pode ser o único factor que paute a oferta de conhecimento universitário - mas isto é claramente uma opção ideológica.
Agora há aqui outra nuance, que é a capacidade/vontade - ou se quiseres a flexibilidade - de os empregadores contratarem pessoas que não têm a formação exacta para o emprego mas que tenham capacidades de aprendizagem e de adaptabilidade - é que aprendemos a vida toda, se assim quisermos, e não apenas durante 3 anos entre os 18 e 21 anos de idade. Excepção feita, claro está, a cursos como engenharias, arquitecturas, medicina, etc, etc., em que de facto o conhecimento especializado é necessário.
Em síntese, sou a favor de uma abordagem mista: os cursos ditos superiores devem ser, a meu ver, adequados às necessidades do mercado de trabalho em alguma medida, mas ao mesmo tempo, as pessoas devem poder escolher de acordo com as suas vocações. E o mercado de trabalho, deveria ser flexível (e seguro) o suficiente para acomodar isto.
Não vou pedir desculpa pelo tamanho da minha dissertação, porque viva a liberdade de expressão, mas este post faria provavelmente mais sentido num fórum do que num blog. E ainda mais interessante se debatido ao vivo.

Beatrix Kiddo disse...

"Já agora, não perguntaram ao jovem e premiado realizador se já tinha mandado curriculum para as produtoras que filmam os morangos com açucar. Quase a apostava que a resposta seria negativa, mas adiante." ser muito mal pago e trabalhar 12 horas também acaba por ser chato...no entanto tem de se começar por algum lado

Tolan disse...

Inês, o que eu digo é que as pessoas por vezes escolhem os cursos em função da facilidade e da ausência de matemática e ciências e não por vocação. Quanto às empresas acomodarem, por mais boa vontade que exista, não se pode criar empresas só de propósito para acomodar trabalhadores. Um distorção que existe é a exploração dos jovens pela precariedade, maus salários e estágios não remunerados, devido à pouca oferta e muita procura de empregos. Não devia ser permitido a uma empresa que apresenta lucros, pagar abaixo do salário mínimo a um recém licenciado por exemplo, porque o valor do trabalho não pode depender apenas das leis liberais da oferta e da procura porque o mercado não é perfeito e há uma exploração por parte dos mais organizados e fortes: as empresas. Neste particular tenho de referir o péssimo trabalho dos fossilizados sindicatos e do PCP que não se soube adaptar aos problemas dos jovens e continuam a tratar os "trabalhadores" de forma colectiva, como uma espécie de operários fabris, em permanente conflito com o patronato e o grande capital. Não é de admirar, enquanto que há décadas os sindicalistas eram mais instruídos e informados que aqueles que defendiam, hoje, com a excepção de alguns sectores, é ponto assente que os jovens que deviam ser defendidos são mais qualificados e bem formados que os sindicalistas. Agora podemos culpar os jovens, a minha geração, por não ter qualquer espírito de associativismo e ser bastante individualista, pois podia criar as suas estruturas de defesa organizada. Somos educados assim, a competir, competir na escola, nos empregos, na economia e a deixar os mais fracos para trás.

Inês disse...

Quanto à matemática que falas, não tenho estatísticas à mão (tu provavelmente terás :) e acredito que poderá ser verdade. Pessoalmente, licenciei-me em Economia, portanto derivar mais do que derivei, só provavelmente alguém licenciado em matemática aplicada...Quanto às empresas, não quis, com o que escrevi, dizer que devam contratar pessoas que não tenham competências mínimas para a função,mas há alguma margem de flexibilidade noutros sítios (Londres é um bom exemplo disso) que não existe em Portugal para pessoas com qualificações ditas superiores. O mesmo argumento poderia aplicar-se aos call centers, alguém formado em arqueologia n é exactamente especializado em chagar pessoas infinitamente ao telefone, mas esses acomodam toda a gente...Quanto à mão invisível, salário mínimo e papel de alguns sindicatos, não poderia estar mais de acordo. Não diria que os jovens em Portugal são generalizadamente acomodados - como hoje ouvi neste programa. Infelizmente, acho que o associativismo em Portugal está demasiado ligado à politiquice, mas acho que o sermos competitivos não é incompatível com a capacidade de nos associarmos. Btw, gosto muito do som da música dos Deolinda e comovi-me quando os ouvi no Coliseu, mas o aproveitamento que alguns têm feito e daí criarem o epíteto Geração Parva...acho que não era bem isso que eles queriam dizer. Mas quando vi o Louçã à Porta do Coliseu, vi logo que dali ia surgir um Manifesto Bloquista.

I. disse...

Beatrix, como pessoa que começou por algum lado, a trabalhar muito e a ganhar pouco (às vezes nada) e sem querer desculpar esse estado de coisas (da exploração, que é verdade que existe) sim, é preciso começar por algum lado. Já ouvi histórias absurdas de pessoal que "não tinha tirado um curso para fazer esse tipo de trabalho".
Ninguém recebe ofertas de emprego para realizar longas metragens ou filmes de autor. Nos entretantos, há que comer.

Claudia disse...

Exemplo dos parvos que são. É muito mais giro estudar cinema e ciências forenses do que coisas chatas. Até lá vivão os pais que os sustentem, enquando os parvos se divertem e arrastam. E é tão rebelde, escolher um curso por "vocação", do que por emprego...
Os parvos tem a ver com o meu post de hoje e não poderia deixar de comentar mais este exemplo da parvoíce...

Anónimo disse...

Ó Cláudia, "vivão"????????

anouc disse...

Ele podia tentar ser "o senhor que passa as películas no cinema". Como o Tyler Durden no Fight Club.