segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

dicas do Tolan para o jantar romântico - a escolha do vinho

Vinho é muito importante. Sem vinho, não há jantar! Eu preciso de vinho para ser eu próprio, sóbrio sou uma pessoa detestável e lúcida.

Quanto aos vinhos, há de três cores, tinto, branco e verde. Também há rosé, mas se querem escolher vinhos cor de rosa, este texto não é para vós.

Independentemente da cor, escolham o vinho como se fizessem ideia do que estão a escolher. Eu tinha por hábito pedir vinhos inexistentes só para me armar, como um "Focinho de vaca, Reserva 98" ou um "Bicicleta da Porca 2002", mas deixei-me disso quando um dia me trouxeram mesmo um "Pedra do Urso".

Normalmente os vinhos mais caros têm garrafas que parecem de vinhos mais caros e ficam mais bonitas na mesa. E quando forem provar o vinho, finjam que eram mesmo capazes de mandar uma garrafa de vinto euros para trás, elas gostam daquele momento de suspense.Uma vez de vez em quando cuspam o vinho, indignados e gritem com sotaque francês "Oh mon dieu, que porcarie eh eshta? Pfff" Nas outras, façam que vão mesmo aprovar mas antes do empregado começar a encher os copos, levantem a mão, como se tivessem acabado de detectar uma cena manhosa, deixando-o com a garrafa suspensa. E depois aprovem.

Não se metam é com merdas de toques de avelã e carvalho e canela, com final de boca prolongado. O mais provável é que se fodam se apanharem com uma que percebe de vinhos a sério. E estão vocês a confundir canela com baunilha ou final de boca com princípio de língua ou carvalho com contraplacado IKEA.

11 comentários:

marocas disse...

Tinto, branco e verde? :)

anouc disse...

O mais importante no vinho não é a cor, é o grau. Tudo o que tiver menos de 13º volta pra trás. Ai.

A Força Suprema disse...

Tolan, amei!
O vinho faz de nós pessoas francamente melhores.

(Focinho de Vaca é muito bom =). Mas olha que o "galhofa" também. mas este é real)

naked sniper disse...

vinho verde não tem a ver com a cor, pá

Anónimo disse...

Adorei o texto. Dos teus melhores.

Nandita disse...

Eu, que me comprometi a so apreciar vinho quando for adulta (e que longe que isso esta), quero crer que foi brincadeira ou lapso, essa do vinho verde...

Tolan disse...

As vossas observações lembram-me uma velha anedota:

- Pai, se isto são uvas pretas, porque é que estão brancas?
- Porque ainda estão verdes.

Patife disse...

Tolan, homem, que não conhecia o teu blog, pá, deixa-me cá fazer-te a devida vénia, caraças.

"Eu preciso de vinho para ser eu próprio, sóbrio sou uma pessoa detestável e lúcida" é capaz de ser das coisinhas mais visionárias que li hoje. E olha que passei o dia a ler Gogol.

Ainda estou a imaginar o possível design de um "Focinho de vaca, Reserva 98". Perfeito. ;)

Tolan disse...

Obrigado patife! Eu sempre achei isto, aliás, bebo generosamente todas as noites, mas inspirei-me inconscientemente (e agora a vê-la citada assim, conscientemente) num diálogo da peça Puntila e o Seu criado Matti do Bertol Brecht, em que se diz isso. Não sei se ainda está em cena no teatro aberto, é muito engraçada.

Tolan disse...

nota, não se diz exactamente isso, o conceito da peça é que é esse, o de um latifundiário rico que é uma besta quadrada quando está sóbrio e uma pessoa excelente e humana (que trata bem os criados) quando está com os copos.

Patife disse...

Tolan:
O conceito, assim no geral, também é explorado pelo Charlie Chaplin num dos seus filmes mudos. Mas fica sempre meio à deriva a noção de algo que tu deixaste clara: "para ser eu próprio". Quer o Brecht quer o Chaplin brincam com personalidades diferentes por força do álcool. Apreciei foi a noção do "ser eu próprio".

Nota: Para o Patife "Teatro Aberto" é outra coisa. E sim, dou sempre as pancadas de Molière. ;)