sexta-feira, 17 de setembro de 2010

hoje

As aulas no liceu do meu bairro já começaram e a rua está cheia de vadios antes e nos intervalos das aulas. Saio de casa com o fatinho, ressacado das cervejas e do poker até às 3 da manhã, a caminho de mais um dia de trabalho na porra da city provinciana de Lisboa e os putos, sentados nos muros, a fumar cigarros, a abanar as pernas. Parecem cães. A rir, ladram. Muito se riem os adolescentes. Eu era nerd e fazia toda gente rir naquela idade. As raparigas giras gostavam de me ter por perto, mas não suficientemente perto para mim. As miúdas tímidas andam em grupos de miúdas tímidas, com os dossiers apertados contra o peito. São as que vão pagar os subsídios de desemprego dos outros todos. Os putos com as calças a meio do rabo, parecem uns anormais. Abrem alas para eu passar, não me desafiam. As raprigas riem-se, oiço umas bocas, uns piropos seguidos de risos, não sou bibi, mas é porreiro. Entro no carro, ponho white stripes bem alto. Ao fim do dia, às vezes vejo grupos em que há uma óbvia tensão, as aulas acabaram, estão dois putos na tasca a falar com duas miúdas, vou lá comprar mais cerveja, e eles estão naquele jogo, desajeitados, a flirtar uns com os outros. Ou então um rapaz e uma rapariga estão encostados num sítio meio escondido, a falar. Eles comportam-se como chimpanzés, elas têm medo. Era fixe, reviver a adolescência mas com a autoconfiança do Cristiano Ronaldo. Falaria menos, muito menos. Não seria tão palhacito. Não me apaixonaria platonicamente por qualquer rapariga que cometesse o erro de cruzar o olhar comigo. Não ficaria noites e noites a repisar todos os pequenos sinais e conversas para as perceber e a alimentar fantasias irreais. Seria bem mais decidido e não teria timidez. Eram apenas putos, como é que eu tinha tanto medo do que pudessem pensar de mim? Chimpanzés e rapariguinhas assustadas... Tive uma adolescência estranha e muito difícil, feita de portas do quarto a bater com muita força. Uma raiva enorme, como se procurasse a minha individualidade total e estivesse sempre frustrado pela minha própria cobardia e timidez. Depois finalmente vim viver para Lisboa, sozinho, aos 18 anos. Aa sensação de ver as luzes da cidade ao domingo à noite, na A8, ao descer a serra de Loures. A exaltação da liberdade, do recomeço. Mal começava a ver as luzes, carregava no play do sony walkman e ouvia coisas como esta:

6 comentários:

Cat disse...

Fazer a A8 a ouvir Smashing Pumpkins. Tantas vezes.

pacica disse...

OMG!! (Modo: fã histérica!) Tenho um comentário do Tolan, o meu bloguer masculino favorito!!! :D Yeahh!

pacica disse...

Ah e a proposito, o meu mood hj também andou por aí. Inclusive, publiquei também Smashing Pumpkins pelas redes sociais, mas o "1979".

M. disse...

Porra, com este postalhão até eu me fiquei a sentir um rapazito inadaptado nos anos 90.

Rita F. disse...

Olha! Ainda há dias me lembrei do Today, escrevi sobre isso e deixei no blog... não consegui foi encontrar o vídeo original que tu tens, teve de ser um pirata.
Deve ser tudo da idade. Estamos a recordar a bizarria da adolescência e recuamos às mesmas coisas. Como dizia o TS Eliot - I grow old. I shall wear the bottom of my trousers rolled.
E isto é o mais sensato que se pode dizer acerca do envelhecimento. Não vale a pena pensar mais. E ouvir o Today faz bem, é uma canção tão boa.

Juanna disse...

Gostei deste blog esquizofrénico.