sexta-feira, 19 de abril de 2013

tartes

É preciso não esquecer o exemplo do concurso de tartes da minha aldeia que se realizou no Salão Recreativo nas festas de uma das muitas nossa senhoras celebradas no querido mês de agosto de um qualquer 1980 e qualquer coisa. A minha mãe, estrangeira que troca a capital europeia pela ruralidade lusitana num assomo de entusiasmo neo-hippie pós revolucionário, fez uma tarte de maçã. Apresentou-a ao juri de tartes, ela que nem articulava português. Foi educadamente rejeitada pelo palato do júri de donas de casa portuguesas. Apesar da simpatia com que todas mordiscaram a arte e posteriormente contiveram os esgares, recordo-me dos seus protestos, no caminho para casa, com a tarte quase intocada. Usou pouco açúcar e não cozeu demais a maçã, para realçar o sabor e a acidez natural da excelente reineta e exercer um contraste agradável com a massa e o pouco açúcar. Disse-me que o palato português na doçaria estava muito mal educado*, as outras tartes não só tinham uma massa demasiado espessa, doce e "saibrosa", como tinham um travo a margarina e gema de ovo, sendo depois cobertas por vestígios de maçãs demasiado cozidas e empapadas em calda doce enjoativa. E assim se concluiu, logo na mais tenra infância, a minha primeira lição para enfrentar o meio literário.

3 comentários:

Tiago disse...

Não me lembro dessa. lembro-me de muita merda no Salão, mas essa não. e nunca me hei-de esquecer daquele boomerang.

Tolan disse...

Não eras nascido! Fora de brincadeiras, isto é das primeiras recordações! Devia ter 5 ou 6 anos no máximo.

Vareta disse...

Tens um asterisco em "mal educado" que não remete para lado nenhum. É uma inovação de sintaxe, semear estrelinhas nas frases?