terça-feira, 16 de abril de 2013

chipre

O exemplo do Chipre é positivo. A solução encontrada, na opinião de tantos políticos portugueses, Cavaco Silva à cabeça, tocou num suposto "princípio sagrado": o dinheiro que se tem no banco. É curioso este conceito. Não há problema em cortarem-nos um terço do salário pela via dos impostos, mas já o dinheiro no banco, é uma coisa completamente diferente e sagrada! Podemos acabar um ano com menos 5, ou 10 mil euros na conta, mas se fossem lá directamente tirar 1 euro, ui. É claro que é a solução que menos interessa a quem tem grande património e a que menos interessa à própria banca.

Não é mais "limpo" fazer um haircut nos depósitos dos dois bancos cipriotas envolvidos no problema? Não é mais limpo rapar também 60% dos depósitos de investidores russos que procuraram fugir do controlo do governo russo e dos impostos russos e que eles paguem também parte da factura, em vez de serem todos os contribuintes cipriotas a pagar? Ou mesmo russos? Não fez bem o governo russo em recusar auxílio aos "empresários" russos nesta matéria? Devemos nós ter pena da banca portuguesa que com isto teve 1,8 mil milhões de euros em perdas? E se fossem 50 mil milhões? Já devíamos socorrer os bancos para evitar a sua falência? Qual é o montante a partir do qual o estado deve assumir as perdas dos bancos? Não é menos recessivo cortar dinheiro estacionado em bancos, penalizando sobretudo grandes depositantes? Quantos portugueses têm mais de 100 mil euros num banco? E os que têm, perdiam grande nível de vida se perdessem 40% do montante superior a 100 mil euros numa conta? É preferível ir buscar o mesmo dinheiro pela via do aumento de impostos e redução de salários a todos os portugueses, mesmo os desgraçados que não só não conseguem poupar um euro como estão asfixiados por créditos contraídos?

E já agora, a propósito da transparência que não existe no sector bancário e que não consta da lista de preocupações do FMI de que falo no post anterior, deixo só aqui uma lista dos prémios de excelência que o Banco do Chipre (RIP) recebeu nos últimos anos:
Feb 25 2011 - The Banker magazine ranked the Bank of Cyprus amongst the leading banks of the world.

Apr 4 2011 - The prestigious Global Finance financial magazine honours the Bank of Cyprus with the title of Best Bank in Cyprus.

Jun 15 2011 - The Bank of Cyprus has succeeded in being included in the category of «Best Banking Organizations» worldwide at the annual World Finance Banking Awards of the internationally acclaimed financial magazine World Finance.

Sept 13 2011 - In the framework of its annual “Awards for Excellence 2011”, the Bank of Cyprus was named Best Bank in Cyprus by the international financial magazine EUROMONEY.

Nov 1 2011 - The Bank of Cyprus was awarded the ‘JP Morgan Chase Quality Recognition Award’ for its funds transfer operations for the eleventh consecutive year.

Dec 1 2011 - The Bank of Cyprus was named “Bank of the year 2011” in Cyprus by the prestigious international financial affairs publication The Banker, during its annual “Bank of the Year Awards 2011.”

Feb 9 2012 - Bank of Cyprus has been named as the Best Bank for Private Banking in Cyprus, by the internationally acclaimed magazine EUROMONEY.

Mar 23 2012 - The international financial magazine ‘Global Finance’ has named the Bank of Cyprus the best banking institution in Cyprus in the Developed Markets category of “World’s Best Banks Awards”.

Sep 26 2012 - Bank of Cyprus has been awarded the ‘2011 Citi Performance Excellence Award’ by the world-renowned financial organization Citibank, for global electronic payments leadership and excellence.

14 comentários:

SJ disse...

Tolanito, és canhoto ou estás a ficar?

Tolan disse...

Isso da esquerda vs direita é uma coisa que não me interessa nada e que em Portugal serve de pretexto para todo o tipo de juízos e preconceitos. Interessam-me ideias concretas. É tempo de atirar esses velhos paradigmas para o lixo e pensar nos problemas de acordo com a realidade actual. Nem a esquerda se entende (BE e PCP não se podiam odiar mais) e até dentro do BE há guerras sectárias de acordo com detalhes ideológicos. É tudo uma enorme fantochada e resulta na enorme abstenção, uma vez que os partidos e os políticos estão posicionados dentro de uma encenação total que pertence a outro século. Daqui a nada aparece a alguém a dizer que sou de direita porque sou contra os eurobonds ou a favor da privatização / extinção da RTP :) Depois aparece outro a dizer que sou de esquerda por achar que o estado não deve injectar dinheiro na banca e deixá-la arder :)) E tudo isto é dito num certo tom de "insulto" ou acusação etc. como se vivessemos no PREC.

Não tenho qualquer interesse em sentir-me parte de um grupo de gente que pensa da mesma maneira que eu e tenho horror à carneirada que está implícita no conceito de ideologia e de partido político. Tendo a concordar mais frequentemente com liberais e sinto-me liberal, um grupo que não tem expressão política em Portugal (reflexo do nosso atraso endémico).

SJ disse...

respira, respira, prooooonto, já passou...

(desculpa, esqueci-me de colocar um :P no fim do comentário)

SJ disse...

E já agora: sim, tens razão nisso tudo, voto em ti.

euexisto disse...

livra-te mas é dos neo.

é outro facção da carneirada já definida

euexisto disse...

*outra

a.i. disse...

ah Tolan, o teu discurso agora (a parte final) fez-me lembrar o primeiro patrão que tive (um senhor da velha guarda, que dizia mal da esquerda) e de quem eu gostava (e ainda gosto) muito e que me dizia sempre: eu não pertenço nem nunca pertencerei a qualquer associação de malfeitores (ele dizia isto a referir-se a partidos, maçonarias, etc..) - portanto, independência acima de tudo concordo!

Tolan disse...

O conceito de "neoliberal" é um mistério. O neoliberalismo existe desde os anos 30 e é uma ideia económica tão válida como outra qualquer mas só nos anos 80 e 90 ganhou a conotação de filho da puta e passou a significar uma espécie de ditadura e máfia da finança. Não sei o que há de "neoliberal" ou liberal em meter contribuintes a pagar buracos financeiros, assim como não sei o que há de comunista em fuzilar possíveis dissidentes ou enviá-los para sibéria.

Em qualquer caso, não sou neoliberal. Não me revejo na componente da ausência de regulação que é uma premissa base do neoliberalismo. E sou a favor de redistribuição de riqueza, salário mínimo etc.

Tolan disse...

a.i., a única organização de malfeitores a que pertenço é ao Benfica e já me custa muito.

ah, mais uma coisa, sou elitista, no sentido da grécia antiga. Acho absurdo que o meu voto valha o mesmo de alguém filiado na CGTP ou que ouve toni carreira. Depois não se queixem de termos Seguros, João Jardins, Passos e Sócrates, ou Pepe Grilos e Berlusconis. Mas como me parece perigoso mudar esse sistema, o melhor é educar e instruir as populações, para sermos todos elitistas :) É essa a minha visão de longo prazo: uma população mais educada, instruída, consciente, crítica, cívica, activa... o resto vem por arrasto, incluindo a produtividade. Por mim a troika metia era objectivos de resultados dos alunos em exames monitorizados por eles. Portugueses bons a português, matemática, história, biologia, artes ou profissionais qualificados... numa geração, teríamos um super país :))

euexisto disse...

:)
e um super tolan (heil hitler)

é nesse sentido sim, da ausência de regulação e de filho da puta com as letras todas.

mas é óbvio que um gajo que gosta de bukowski não podia ser tão javardo

euexisto disse...

e carrega benfica!

Anónimo disse...

é por isto e por muito mais que eu te leio.

beijo

yossarian disse...

havia um gajo que curtia a vida o tempo todo. um dia veio a crise e... continuou a curtir. depois havia outro gajo formiguinha que poupava, poupava. um dia veio a crise e comeu-lhe o bolo. para quê ser formiguinha no chipre? pensando bem, é melhor ser cigarra em toda a europa, ah ah. olha, os colchões espanhóis é que estão a dar. e isto é apenas o princípio, há muitas diferenças, umas para pior, outras para menos pior. talvez não haja formas justas de crises.

Peppy Miller disse...

Parece a renegociação dos Swaps da metro do Porto.
Agora falando do Chipre: concordo com tudo o que dizes e temo algumas imparidades em Bancos Portugueses e não só. (mas isto é só uma ideia).
Um haircut era muito mais limpinho do que aquilo que eles fizeram. Acho que foi mais um braço de ferro que outra coisa qualquer.
Um haircut era muito mais limpinho e gostava de ver a gentinha que fez balurdios com o resgaste do Chipre a perderem denheiro.Compraram dívida soberana que se vence em Junho com yields líquidas de 30%.
Cambada de oportunistas!!