quarta-feira, 7 de novembro de 2012

intelectual subway games



Hoje no metro sentei-me num daqueles três bancos que estão virados de lado, concretamente, na ponta mais à direita. Ao meu lado sentou-se uma de óculos de massa e ar alternativo que abriu um livro e começou a ler imediatamente. Nunca se sabe se são mesmo espertas lá por saberem ler. Por exemplo, a Plaft sabia ler, mas foi só depois de me ganhar ao buzz, ao poker, ao rummy cub, ao scrabble, ao eclipse, ao pictionary e a todos os jogos, que percebi que ela era capaz de ser assim para o espertalhuço apesar de uma pessoa olhar para ela na rua e achar que é apenas uma tonta que tem mas é a mania. Voltando ao metro. Olhei de lado e não consegui perceber que livro era, não tinha bonecos mas as letras eram suspeitas: muito grandes. Já vi raparigas assim com pinta até ter o primeiro vislumbre da capa daquilo do 50 Sombras ou do José Luís Peixoto, o que provoca exactamente a mesma sensação de ver uma mulher por trás que parece assim jeitosa e vocês vão com o vosso copinho de champanhe ter com ela e depois ela volta-se e é toda estrábica, tem prognatismo e os dentes de baixo sobrepõem-se ao lábio de cima estilo cão boxer e vocês fazem meia volta buscar um gin tónico. Bem, mas estou ali a ler o meu Thomas Mann e ela a ler a cena dela, sossegadinhos, e passado um bocado levanta-se uma senhora que estava na primeira cadeira e um gajo daqueles de cachecol e sapatinho italiano apanaleirado e abre um livro e senta-se ali ao lado da minha vizinha. E assim ficámos os três a ler, sentadinhos ao lado uns dos outros, numa carruagem de analfabetos funcionais, estilo freiras num sítio público, a espalhar a a fé no Plano Nacional de Leitura e a fazer as pessoas sentirem-se mal e culpadas por serem ignorantes e desperdiçarem a vida. Aquilo enervou-me, a lata dele puxar do livro dele e juntar-se à nossa sessão de leitura. Espreitei e vi-lhe o tamanho do livro, discretamente. Não devia ter mais de 200 páginas, uma treta qualquer, muito provavelmente poesia, a julgar pelos sapatos. Ri-me. O meu Mann tem 700 páginas de prosa, incluindo passagens de dezenas de páginas a descrever coisas só por descrever embora isso não dê para ver assim de fora. Fechei-o para lhe poderem ver o volume,  pois assim de perfil parece ainda maior. Chegámos ao Rossio e ela de repente estremeceu, vinha completamente absorta na leitura e demorou alguns segundos a perceber onde estava, olhou em volta e de um salto precipitou-se para a porta empurrando as pessoas que já entravam na carruagem. Percebi que não estava atenta à situação que se vinha a desenrolar, vinha mesmo a ler. Por outro lado, o leitor de poesia estava a olhar de lado para o meu Mann de olhos muito arrregaladinhos. Saí na estação seguinte e fiz o caminho a pé, em passo rápido.

23 comentários:

Anónimo disse...

o "teu" Mann está na minha mesinha de cabeceira há algumas semanas (salvo seja, que não quero confusões com a Plaft!). li a primeira página e ainda estou a viajar naquele comboio. sei que voltarei àquela carruagem e farei a viagem até ao fim. o problema é o tamanha da porra das letras. "piqueno, muito piqueno"...

Anónimo disse...

Post tão sem graça, num tom de suberda deselegante. Enfim... alguém que o ature.

Anónimo disse...

Soberba... Queria eu escrever. É o que dá o comentário deselegante também.

Mariam disse...

Linha verde? Aquilo é tão mau, com gente a ler e gente a dormir, que uma pessoa está desejando sair dali e sim, há muito quem finja ler e muito quem finja dormir. Só pode.

MDRoque disse...

Homens e tamanhos... what's new ???

Izzy disse...

"apesar de uma pessoa olhar para ela na rua e achar que é apenas uma tonta que tem mas é a mania"

Um bocadinho deselegante para com a Plaft, nao? Ou isso eh tudo inveja da superidade intelectual dela.

Tolan disse...

humpf... ela tem muita mania... Não tenho inveja nenhuma, ela é mas é muita espertalhuça. No buzz tem apenas melhores reflexos. Quanto ao scrabble ela treinava com a avó e no início até queria incluir símbolos químicos só para vocês verem o nível da batotice. Inveja, eu? Pfff. Tem a mania de apontar erros de raccord nos filmes. Agora comprou umas galochas cor de rosa. E às vezes pinta as unhas e fica a olhar para elas fascinada com a cor. Anda a ler o Senhor dos Anéis que eu li aos 16 anos e faz comentários do tipo "mas estes nunca mais chegam a Mordor, caralho?!" o que é uma crítica literária bastante inapropriada acho eu. Enfim. Inveja, yeah, right...

Unknown disse...

Gosto de ler em qualquer lugar mas confesso que quando estou num local onde estão mais pessoas também a ler, faço tudo para ver o que elas leem e dou por mim a fazer juizos de valor sobre elas o que é uma estupidez pois se eu no cabeleireiro (vá lá, um pouco escondidinha) até a Maria leio.

MDRoque disse...

A Plaft parece- me uma piquena e peras ! E tem toda a razão ! ...demoram o caraças para chegarem a Mordor... vocês são dos que deixam a Rose explicar as cenas, ou passam á frente? ...

Ex-Vincent Poursan disse...

fodaçe tolan, tu não me desiludas caralho!!!

primeiros: uma gaja estrábica é a quintessência da tusa na modalidade bicos;

segundos: um gajo que calça “botinhas” e salta com medo de borrifos dum eléctrico, não tem autoridade moral - ou macheza, na linguagem dos reles necrófilos do Jorge Amado escandalosamente exibidos em horário nobre numa cadeia de televisão que se diz pública - pra chamar apaneleirado a um gajo de cachecol e sapatinho italiano. Mesmo que para rabeta só lhe faltassem as penas, o que parece confirmar-se pelos olhos arregaladinhos pró volume do teu mann;

terceiros: gajo que é gajo não se põe a ler no metro. Fica atento às gajas que lêm no metro e se possível senta-se em frente. Normalmente, páginas tantas, abrem as pernas e um gajo pra matar o tempo dá uma de Moisés… terra prometida e essas merdas;

quartos: quem não lê no metro não é necessariamente um ignorante e analfabeto funcional a desperdiçar a vida. Eu nunca leio no metro e a minha mãe jura a pés juntos que eu não sou nada disso;

quintos: um gajo apaixonado não desdenha da expressão poética, e nem o criativo mais heterodoxo associaria sapatinho italiano a poesia, salvo se o calçante for zarolho. Já a botinhas qualquer estagiário caixa d’óculos associou, pelo menos uma vez, o mann;

sextos: sobre a questão de fechares o livro para lhe apreciarem o volume… não me pronuncio!!!... mas vem na linha do mercedes coiso e tal;

sétimos: pra compor a coisa devias ter terminado com: Saí na estação seguinte e comprei uma dúzia de castanhas assadas. Descasquei-as lentamente enquanto caminhava. Não me saía da cabeça o estremecimento da miúda do metro. Por alturas do terceiro quarteirão e da quinta castanha já a tinha nua.
Inesperadamente esbarrei num poste. Um autocarro pulverizou uma poça de água nas minhas calças. Um pombo assustado bateu asas e borrou-me o pescoço com merda verde. A imagem da miúda a esvaiu-se, um senhor solicito ajudou-me a recompor – estes gajos não respeitam os peões… calaceiros… quando não estão em greve agridem as pessoas! –, dos tomates pra baixo todo molhado, as botinhas shock shlock… fodaçe!... o mann não prepara um gajo pra estas cenas.
Sentei-me à secretária… vou ali comprar umas calças e um par de peúgas. Refodaçe… o senhor solicito palmou-ma a carteira!!!

Oitavos e últimos que já é tarde: mas afinal já andas a ler o mann há quanto tempo caralho???!!!... andas a sublinhar e a escrever notas nas margens é???... o Fermat também escrevia notas, mas propunha teoremas porra!!!... tu népias, lês, observas, pensas!!!... andas é apanhado por essa tal de Plaft!!!... não te cures não!!!

Anónimo disse...

Delta de Vénus, Morte em Veneza do seu Thomas Mann, Elogio da Madrasta, só para mencionar alguns livros pequeninos e trabalhadores da mente. Pensando bem, nenhum deles apropriado para ler no metro, à vista de outros leitores indiscretos ☺

Tolan disse...

Poursan, tomei as devidas notas. Tens de me explicar as coisas porque eu quero melhorar -_-

Quanto à Plaft, pois estou apanhado por ela porque sei que se tivesse cauda ela abanava quando ouvisse a voz dela acho eu.

tata disse...

ai... melhor que o post é o teu primeiro comentário... Tive a mesma sensação que a Plaft e não foi a ler, voi a ver a merda do senhor dos aneis.

Lili C. disse...

Quando trabalho em Lisboa vou sempre a ler no metro e não escondo que de certa maneira me sinto numa posição de superioridade como quem diz "aqui estou eu a aproveitar o tempo da viagem para acrescentar mais estas linhas ao meu conhecimento e vocês aí adormecidos como se a vida já nada tivesse a dar, como um tempo suspenso na existência."

Beatrix Kiddo disse...

ri-me :)

Anónimo disse...

ler no metro? qualquer pessoa com o mínimo de experiência em transportes públicos sabe que só se lê decentemente no barco (travessia barreiro-terreiro do paço, preferencialmente) ou no intercidades. o resto é de quem não tem nada que fazer.

Catarina disse...

Estou a ler o Guerra e Paz e leio-o no metro todos os dias, e sinto-me pedante.
E sempre que vejo homens a ler livros de 500 paginas no metro, acho-os ainda mais pedantes e....pouco masculinos.
Nesse intelectual subway game parece-me que quem ganha é quem vai a dormir :D

Anónimo disse...

Forro os meus livros com papel de jornal por causa de vocês, seus cuscos pedantes do crl. Ide medir pilas para a casa-de-banho dos homens.

Anónimo disse...

Estive para nem comentar depois de ler isto: 'E assim ficámos os três a ler, sentadinhos ao lado uns dos outros, numa carruagem de analfabetos funcionais, estilo freiras num sítio público, a espalhar a a fé no Plano Nacional de Leitura e a fazer as pessoas sentirem-se mal e culpadas por serem ignorantes e desperdiçarem a vida'. Achei de uma condescendência atroz. Aliás achei de uma filha da putice que mete nojo ao caralho. Mas depois de uma profunda e profícua introspeção apercebi-me de que costumo ir no metro a topar quem são os verdadeiros leitores e quem são aqueles que vão para lá para passear os livros de lombadas largas e de nomes sonantes. E por isso veja lá... Também consigo ser condescendente ;)

Inês

Tolan disse...

Muito bem Inês, parabéns, tem muito jeito para topar coisas e fazer introspeções profícuas, continue.

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