sexta-feira, 31 de agosto de 2012

electrónica

Ainda há momentos em conversa telefónica foi a vez de um amigo desempenhar o papel habitualmente reservado para a minha mãe, ao dissuadir-me do plano de aproveitar a crise para enveredar pela escrita a tempo inteiro no final deste ano, um plano evidentemente estúpido. A Plaft, diga-se, acredita em planos estúpidos e apoia-me. Vive com pouco ela. Massa com margarina e tem ali um pitéu. Remexe nos caixotes à procura de coisas que se aproveitem. Rouba fruta na mercearia da rua. Dá moedas de cinco cêntimos aos arrumadores. Remenda os sapatos e a roupa com corda furtada de estendais alheios. Fazemos compras nas feiras dos ciganos onde ela regateia 5 pares de peúgos por 3 euros em vez de 4. Fugiu de casa aos 16 anos e sabe quais são os sítios onde se dorme melhor ao relento e sabe aprisionar pequenos animais domésticos como cães e gatos, mas não é para os comer, é para os domesticar e ensinar a roubar carteiras a turistas no metro. Temos um pequeno bando de 4 gatos, 3 cães e um guaxinim que vinha num contentor de milho dos EUA e que encontrámos no cais do sodré, perdido. À noite eles voltam para nossa casa, tocam à campainha e despejam os objectos furtados para dentro de um saquinho do pão, depois vão dormir para o jardim, jogar às cartas e beber hidromel. Ela diz que está tudo bem e que vai correr tudo bem e que podemos criar dois filhos assim na boa e que ter um carro alemão não é importante e que ter os luxos que temos, como electricidade e gás não significam nada. Ela é de esquerda, mas ainda assim é uma mulher e as mulheres costumam reagir muito mal a descidas de nível de vida do parceiro, apesar de estarem convencidas que não. Os tipos não se atiram lá dos arranha-céus em wall street porque deixam de ter dinheiro para cerveja e futebol, acreditem. Pensam é na esposa que ainda na véspera andava pela casa de fita métrica na mão e a ver onde podia instalar o novo sofá italiano que é necessário ter. Eu tento encarar a opção pobreza como uma coisa literária, tipo, uma experiência realista, do povo, essas coisas. Isso dava-me mais credibilidade. Este post chama-se "electrónica" porque eu ia escrever sobre outra coisa que já não me lembro o que era.

4 comentários:

Isa disse...

este tb é mt bom, mas às vezes nao há o que dizer. eu se fosse a ti aproveitava o que melhor te servir nos discursos de cada um e ouvia a plaft no que se refere ao vai em frente. vai em frente.
Bjo

Pipoco Mais Salgado disse...

Tolan, meu caro, no preciso instante em que entregar o BM mai-las mordomias (lembre-se daquilo do desenho do carro a passar de amarelo a encarnado quando a traseira se aproxima do Fiesta, caramba...) a Plaft vai lembrar-se de como eram bons os jantares no Sheraton regados a Cartuxa tinto, vai ficar nostálgica, a definhar a cada dia que passa, vai começar a dar-lhe cada vez mais tempo, "é para teu bem Tolan querido, escreves melhor quando ficas só tu e os teus pensamentos", e tal. As coisas são como são, meu caro.

Patife disse...

Aprecio sobremaneira o tom das gargalhadas que me provocas. Acredita que ainda estou a exsudar dos globos oculares. ;)

Anónimo disse...

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