segunda-feira, 19 de março de 2012

Rio de Janeiro



Fui ao Rio pela primeira vez na vida, num avião da Barraqueiro lá do brasil. Logo a chegar pelo ar percebi que era tudo um bocado absurdo, aquelas montanhas verdes, o mar, a água, não percebi muito bem o que ia lá fazer assim de fato e com um computador, não me parecia o género de sítio onde as pessoas levam o trabalho a sério. Também havia muitas casinhas, tipo milhões e milhões de casinhas com aspecto castiço, pareciam cabaninhas de lenhador.

Aterrámos e fiz o percurso Santos Dumont - Leblon, dentro de um confortável taxi com ar condicionado, um táxi "oficial". Paguei 70 reais. Depois de feitos os negócios e contadas as notinhas na mala, voltei para o aeroporto num táxi amarelo, daqueles com os quais sequestram pessoas e paguei apenas 35 reais, apesar de ter dado uma volta muito maior. Pedi ao taxista do taxi amarelo para me levar por "copabacana" (é copacabana, ficam a saber), ipanema e assim e vi aquilo. Foi giro. Vi o Pão de Açucar e o Cristo Rei lá ao longe. Eta mulher bonita, por todo lado. Praia, praia, praia, água de côco, o Arrumadinho a fazer jogging no Calçadão, enfim, tudo muito bonito e com aspecto de paraíso.

Falei com o taxista que era pretinho e honesto, não me assaltou nem sequestrou nem nada, fiquei muito agradecido. Era até bem disposto embora cheio de opiniões políticas de esquerda, preferia a qualidade de vida ao ritmo acelerado de São Paulo (yeah, tipo os alentejanos a criticar Lisboa...), contra a copa do mundo (tinha o argumento absurdo que os governos estoiram dinheiro em estádios e obras megalómanas hiper-inflaccionadas pelos prazos irreais destes eventos e pareceu-me desconhecer os exemplos de sucesso do nosso Euro e dos jogos olímpicos gregos, mas enfim...) e fazia acção social com música nas favelas. À procura de um ponto em comum entre nós, disse-lhe que havia de gostar de conhecer a Plaft que faz cenas desse tipo assim de esquerda e com artes.

Falámos de favelas, perguntei-lhe porque é que eu não tinha sido assaltado ainda e ele disse-me que a vida lá é normal, que o problema é a ostentação, usar fio de ouro e relógio caro é como botar minhoca na água. Disse-me que ali era seguro mas que mais para norte ficava o complexo do alemão e eu perguntei-lhe se esse complexo tinha alguma coisa a ver com a falta de colonialismo na devida altura como o resto dos povos europeus que resolveram esse assunto nos séculos XVI e XVII ou se era da vergonha do que fizeram aos judeus em meados do século XX. Não me respondeu, eles às vezes não percebem o que uma pessoa diz, temos de imitar o sotaque deles.

Ele explicou-me tudo sobre o Rio e as pessoas do Rio e pronto, risca mais uma cidade.

10 comentários:

Vareta disse...

Faz-te bem viajar, rapaz. Brilhante, o "...e pronto, risca mais uma cidade".

ANGIE disse...

Brilhante!

Cat disse...

Off topic: Isso da Barraqueiro fez-me rir. Oh, tempos de liceu. Tinha riscas azuis, o avião?

trollofthenorth disse...

Estou flabbergasted. E porquê? Porque também falei do complexo do alemão e do margarido rebelo pinto. :)

A diferença é que andaste por lá e eu continuei com o cu sentado por cá. :)

Ah, coisa feia a inveja, coisa feia.

Ps-Não deu para negociar o 1º táxi? Costuma dar.

Jade disse...

E até viste o Arrumadinho a fazer jogging? Privilégios :) Gostei da parte do Complexo do Alemão, e não sei porque o taxista não percebeu...

Quita disse...

O meu Rio é assim. Conquista. Encanta. Assusta (?), sobretudo os que se deixam levar pela onda de assaltos e artilharia pesada desenhada pela TV portuguesa.

É que nem tudo é o que parece. O Rio não é o que parece. Só quem respira o ar abafado e húmido, só quem mergulha entre morros e tantos sorrisos, tantas vezes oferecidos sem esforço, é que sabe do que falo.

Gosto quando gostam do Rio. Gosto quando se dão ao trabalho de ver de perto o que conheço de cor; a cidade que me ensinou a ser quem sou.

Gosto quando concluem que, apesar da falta de cultura europeia (não lhes serve de muito, é verdade), ali tem gente boa. Gente que ama cada recanto de onde vive, gente que se dá a conhecer assim, sem mais nem menos, numa conversa de 10 minutos dentro do taxi.

Gosto de quem gosta do Rio. Gosto.
Obrigada pela partilha.

Alexandra, a Grande disse...

Speed travelling. Me gusta. É um conceito que se estava mesmo a ver que ía rebentar por aí, mais dia menos dia.

Anónimo disse...

Na próxima vez experimenta a ida no táxi amarelo e a volta a pé.

Tolan disse...

tinha fato e um portátil e estavam 33 graus :\

Tolan disse...

não quis botar minhoca na água!