«Quem é que me tinha lixado os miolos e escondido os livros, ignorando-os e desprezando-os? O meu velhote. A sua ignorância, a aflição que era viver com ele, os seus sermões, as suas ameaças, a sua ganância. A opressão e o jogo. Os Natais sem dinheiro. A roupinha para a formatura. Dívidas e mais dívidas. Deixámos de falar. Uma vez até nos cruzámos ao atravessar a linha de comboio. Deu mais uns passos, parou e começou a rir. Virei-me e ele apontou para mim e continuou a rir. Fingia ler um livro e ria-se. Não era a brincar. Era raiva, desilusão e desprezo.
Depois aconteceu. Numa noite em que a chuva batia no telhado da cozinha, um grande espírito entrou para sempre na minha vida. Tinha o livro nas mãos e tremia enquanto ele me falava do Homem e do mundo, do amor e da sabedoria, da dor e da culpa e eu soube, naquela altura, que nunca mais seria o mesmo. O espírito chamava-se Fyodor Mikhailovich Dostoyevsky. Ele percebia mais de pais e filhos do que qualquer outra pessoa no mundo, e de irmãos e irmãs, padres e vagabundos, culpa e inocência. O Dostoyevsky mudou-me. O Idiota, Os Possessos, Os Irmãos Karamazov, O Jogador. Virou-me do avesso. Descobri que podia respirar e ver horizontes até então invisíveis. O ódio que eu sentia pelo meu pai derreteu. Eu amava o meu pai, aquele pobre, sofredor, um destroço assombrado» - John Fante, A Confraria do Vinho
12 comentários:
Gabriel García Marquéz!!!
Não sei, mas o Conrad, o Tosches e o Hemingway foderam-me a vida.
Bonito. Às vezes é preciso um "murro" desses para ver a realidade com outros olhos.
LOL R.
Hillman, jung, Campbell. Mudam a vida de qualquer um, mas é preciso querer...
E, antes deles, Hermann Hesse.
Um que me alegrou e alegra sempre a vida, o Eça, bien sur
eu para ser justo tenho de apontar o Celine e o Albert Cohen porque os li ainda na adolescência e me marcaram muito, muito muito muito muito. também podia incluir Dostoiévski, só que o li mais tarde.
Alberto Moravia.
Kafka. as coisas depois disso nunca mais foram as mesmas.
Louis-Ferdinand Céline. O maior escritor do último milénio. Já dizia o outro e com toda a razão.
Com que então és giro que te fartas? Que se lixe o post e o escritor, quero é saber se é verdade! Gargalhada.
Franz Kafka, Carta ao pai.
Bolas pá. Vim certificar-me que me ignoras.
Queria dar assim esses ares de ler imensos autores, mas não.
Sou básico.
Assim de repente lembro-me de ter descoberto Iain Banks e ter gostado. Tive uma longa fase Paul Auster, e mais recentemente amei o Ham On Rye.
Enviar um comentário