É verdadeiramente cretino isto que te vou dizer, mas é totalmente verdade: o meu leitor ideal é uma mulher. Eu tenho de escrever "para seduzir" e só tenho piada nessas fases porque estou motivado a isso. Se não é para que miúdas interessantes se apaixonem por mim, perco completamente a pica. Eu comecei a escrever por causa disso, mas não foi consciente, na altura não identifiquei o que era. Mas digo-te, não é por dinheiro pelo menos, nem sequer por estatuto ou por fama ou vaidade. Por outro lado não é também por amor à arte ou raio que o parta. Não sei o que estou a fazer. Se me apaixono e tenho assim uma namorada, uma vida boa, hei, meto a escrita de lado, não me apetece, não preciso dela entendes? E então desisti de ter namoros porque gosto de escrever porque quero ter a namorada que não tive aos 15 anos e é um ciclo vicioso. Infelizmente, o Autor não segue a mesma vida. O Autor tem assim uma miúda e está todo embeiçado, já vi no que aquilo vai dar. Ela vem cá a casa e ele esconde-me os cheetos e as garrafas vazias de cerveja, a roupa espalhada pelo chão, o volante da playstation e fecha-me no roupeiro. Oiço-lhe a voz grave a debitar piadas e risos femininos. Espero que ele consiga de vez em quando ter problemas graves com ela, arranjar uma discussão forte, umas separações e escreva alguma coisa de jeito. Não sou eu que escrevo os romances, é ele. Mas os romances demoram mais tempo a escrever e é preciso ele estar mesmo ali no ponto certo do anhanço meets raiva meets amem-me! meets suicídio, enfim, é uma questão de esperar. Ele já me disse que conta comigo, que tenho de ser eu a fazer tudo e ele só assina, pediu-me por favor por favor por favor, só quer ser uma pessoa normal, ter filhos, o bmw, esse tipo de coisas, não quer estoirar tudo sempre e tem-me trazido malgas de cheetos e cerveja boa quando ela não vem. Vou pensar no caso dele. Há uma casa no jardim (temos um jardim). Se calhar mando-o fazer obras e instalar lá uma secretária e uma cadeira, para eu poder trabalhar enquanto ele brinca aos casalinhos e aos planos de viagens a nova iorque e discutem nomes de filhos. Às vezes sinto que em Auschwitz teria um ambiente mais propício à criatividade.
Tomem:
9 comentários:
Eu prefiro o Tolan ao autor, escritor que é escritor tem angústias, dúvidas. Não é felizinho, é uma alma angustiada com as questões da existência. Eu prefiro o Tolan, gosto mt do que o Tolan escreve. Mas dou um conselho ao Tolan, não diga perco a pica no Brasil, porque isso quer dizer que perdeu o pirilau... E, juro, alguém lhe vai perguntar como foi possível, o que aconteceu, caiu?
Bjos
Clap clap clap. Poderia assinar por baixo, se, enfim.
Tolan/Autor, se continuas assim nunca vais conseguir ter a mulher dos teus sonhos. É que tu pareces ser assim mais... tipo... cromo, estás a ver?!
Clara
A mulher dos meus sonhos era a Tonicha nos seus 16 anos, enxertada do fígado da Liza Minelli. Será que a posso ter?
Auschwitz sempre me pareceu um sitio absolutamente fascinante.
(degustando um magnífico Bucellas, que acompanha um pargo assado que não deslustra)
Meu caro Tolan, a verdade é que se nota deveras a inflexão que o meu caro decidiu implementar neste caminho duro que é escrever coisas bem escritas todos os dias. Efectivamente, o meu caro, a partir do momento em que decidiu deixar de escrever coisas que só eu e, vá lá , o Maradona apreciávamos na sua plenitude e passou a escrever para um público mais Kittifaneano, passou a ter uma dicotomia de escrita perfeitamente perceptível e onde se notava a luta interna com o seu verdadeiro self. Não o censuro, meu caro, enetendo eu também que um blog serve essencialmente para impressionar mulheres. No entanto, meu caro, há uma pormenor que não deverá desprezar que é a existência de um vasto espectro de leitoras fofinhas que olham para o que escreve e pensam "ele está a escrever para mim". É difícil gerir este conjunto de expectativas e o meu caro saberá que o público feminino não é especialmente apreciador de expectativas defraudadas, sendo que a passagem ao estadio "ele antigamente tinha piada, agora é insuportável" acontece num ápice, não porque o meu caro perdeu o brilhantismo (embora focado num determinado target), mas porque não consegue garantir a fidelização a cada uma das leitoras em cada momento. A minha sugestão, meu caro, é que volte a escrever para mim, coisas cujas terceira e quarta leituras não sejam evidentes.
(mandando fechar o chapéu de sol, está um tempo fantástico no Freixo, saboreando o final a limão do Bucellas e pensando se não teria sido melhor optar por um tinto pouco encorpado)
o tolan para além de reaccionário está parvo. Bem haja, vou e não volto. Qua as tolanetes te façam muito bom proveito.
Fábio Ivanildo, nada do que faço é assim propriamente consciente, a haver dicotomia, ou tricotomia ou quadritomia é porque o meu self, na verdade, é um pouco difuso e nem eu próprio sei o que é ainda. Eu vejo lol cats todos os dias, não é forçado, gosto mesmo daquela merda e já tentei por uns na página principal do i can has e nunca consegui (o Casanova conseguiu).
Como alguém escreveu e cantou "a razão de existir de um poeta é..."
(Manel Cruz no seu Foge Foge bandido)
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