quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pingo Doce, Sabe bem pagar tão pouco

Rebentou nas mãos da Jerónimo Martins o discurso do Pingo Doce muito "tuga" e da "terrinha" e "das pessoas", com esta história de mudar a sede para a Holanda. A assinatura da marca então, é perfeita. Pôs-se a jeito.

Considero errado que empresas deslocalizem as sedes do sítio onde exercem actividade económica, em função de benefícios fiscais... mas não as posso censurar muito mais do que isso. O problema é a existência das próprias assimetrias fiscais. A prática de deslocalizar a sede é generalizada nas multinacionais.

Países como Luxemburgo, Bélgica e a Holanda têm regimes fiscais destinados a atrair sedes e capitais de multinacionais. Isto não cria apenas assimetrias entre países, mas também entre pessoas colectáveis. Não é qualquer empresa ou particular que pode fazer estes malabarismos fiscais. E isso é injusto.

Devo dizer desde já que nunca na minha vida comprei um chocolate, relógio ou canivete Suíço, não simpatizo com um país que vive das assimetrias legais e fiscais. Não gosto da Suíça desde que li livros da II Guerra Mundial, ou seja, desde os 4 anos. Não gosto de um país que tem a mania que é bom, neutro, pacífico, tolerante e ético, e depois tem os cofres cheios de dinheiro da droga e tráfico de armas e uma extrema direita efectiva que nem deixa os chamuças e os pakis terem os seus minetes sossegados lá no telhado das sinagogas deles. Mas a Suíça está fora da união monetária, tem o frango suíço e pronto, é auto-determinada e faz o que lhe apetece.

Na união monetária, contudo, parece incomportável a existência de grandes assimetrias fiscais. Para mim, como para a minha querida Angelita Merkl, não faz sentido uma união monetária sem harmonização fiscal. Por isso, tal como a Angelita meteu o Cameron mais a sua city londrina capitalista selvagem na rua, tal como disciplina os nossos "estados sociais" que na prática não sobrevivem sem a mama do endividamento, espero que vergaste ferozmente a Holanda, a Bélgica e o Luxemburgo. E se isto for uma utopia, ok, saímos do euro e cada um pode ser uma suíça ou uma venezuela, consoante a autodeterminação dos respectivos povos e exércitos.

18 comentários:

Cor do Sol disse...

Não esqueçamos a Irlanda que se está a ver livre da recessão com beneficios desses. Google, Facebook e afins tem as suas sedes europeias lá porque pagam poucos impostos.

Anónimo disse...

Bravo! Bravo! Bravo! (3x e em francês mas só porque soa melhor!)

Anónimo disse...

Foda-se! A chamada extrema esquerda anda a defender essa merda há mais de dez anos, e agora a merkel é a querida? Não há paciência.

Nunca se preocuparam para a harmonização fiscal (nem para os paraísos), quando nisso se falava eram extremismos da esquerda ultrapassada. A Irlanda, que chegou a ter impostos a zero, era tomada como a romaria que todos devíamos fazer. Só agora que isto começa a cheirar a avalanche se dignam a defender o mínimo.

Não há cú, desculpa que te diga, para que uses alguém da direita junto com as palavras harmonização fiscal. É indigno, para quem viu como eu tanta e tanta gente ser humilhada por essa mesmíssma direita. Eram comunistas encartados, bloquistas lunáticos, ditadores em miniatura, ratinhos de biblioteca com cheiro a naftalina, somente porque defendiam a harmonização fiscal. Vai lá ver as posições da CDU alemã há 10 ou 15 anos sobre isso, olha, e se tiveres paciência, vê a da portuguesa também.

Estas merdas enervam-me. Desculpem.

Pedro Góis Nogueira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Góis Nogueira disse...

Ficando-me pelo primeiro parágrafo, a questão aqui não é a deslocalização, até porque a maioria das empresas do Psi20 já se deslocalizaram para a Holanda, incluindo a concorrência do Continente. A questão é outra e quem não percebe aqui isso não vê o essencial(apesar de o Pedro santos Guerreiro ter descoberto hoje a pólvora) tem a ver com um mínimo de decoro, um mínimo - o Sr. Pingo Doce andou todo o ano passado a debitar postas de pescada, pregando os sacrifícios a bem da nação, pregando a austeridade e a que eu é que sou sério e o Sócrates um fintas, e que tudo o que tinha era sacrifício do seu trabalho e pensem o que podem fazer pelo país e não o país por vocês e blá blá blá - está tudo documentado. Claro que o Sr. Pingo Doce não prega para cá o regime da Holanda, quer é que façamos o que ele diz e não o que ele faz. A hipocrisia do homem é de vomitar. Aqui não vou contra a indignação geral, isso já não é cinismo,e apenas filha da putice, as pessoas não são tão estúpidas para não saberem que por exemplo o Belmiro também faz o mesmo, só que não o viram a andar a pastar no programa do Medina Carreira com moralismos de vão de escada...

Em relação à Merkel, fica para uma próxima :D

Tolan disse...

Para mim é-me indiferente se quem defende os meus pontos de vista são de esquerda ou direita, liberal ou anti-liberal. Sempre fui a favor da harmonização fiscal e contra as offshores. Se a Merkl fosse de esquerda ou extrema esquerda não alterava o meu ponto de vista neste ponto.

Tolan disse...

Pedro, investiguei e a Sonae continua com a sede em Portugal, mas posso ter compreendido mal (o próprio Pingo Doce na home page diz que tem a sede em Portugal por isso não sei). De qualquer forma é verdade que quase todas as empresas do PSI 20 deslocalizaram e concordo integralmente contigo, isto foi um backfire tremendo. Para além da comunicação baseada numa "portugalidade", o senhor Pingo Doce de facto pôs-se a jeito.

Tolan disse...

vantagens competitivas baseadas em regimes fiscais só o são se outros países tiverem impostos mais elevados. Sou fortemente Merkeliano neste ponto, para mim o que deve ser o motor económico das sociedades é a sua capacidade de produzir bens e serviços, e não a suas diferenciações fiscais e legais ou a possibilidade de endividamento (a esquerda portuguesa infelizmente ainda não chegou a este 2º ponto). A Irlanda aqui citada só atrai riqueza porque outros países têm impostos mais elevados. Caso não haja uma harmonização fiscal, então caminhamos para o imposto zero, no limite, uma vez que haverá sempre um incentivo, com a livre circulação de capitais, para que outro país crie um regime fiscal ainda mais favorável que os existentes. O Sarkozy, que é direita e um sujeito que detesto, tem sido uma das vozes mais activas no seio do G20 contra a existência de offshores. A mim interessa-me pouco quem diz as coisas com que concordo.

Tolan disse...

ah, e quanto à extrema esquerda, ela é contra a própria UE e a união monetária (há 10 anos pelo menos era completamente contra) por isso, é-me um pouco irrelevante o que diz, como me era irrelevante o CDS do Manuel Monteiro. Estão bem uns para os outros.

Anónimo disse...

Para os entusiastas do sistema fiscal Irlandês, e crentes no sucesso das suas medidas liberais ...
http://krugman.blogs.nytimes.com/2011/12/21/the-imf-on-ireland/

Anónimo disse...

Tenho que discordar contigo, Tolan (para grande pena minha. estou a vergastar-me mentalmente por estar a cometer este pecado mortal).
Não vivemos num mundo perfeito ou ideal, vivemos no mundo real e imperfeito, feito de diferenças e especificidades.
Se bem entendi o teu argumento, ele vai no sentido de que devemos todos competir benzinho, jogar limpinho, e, mais (e este parece-me ser o principal erro) que as condições actuais de competição são iguais para todos os países (ou deveriam, a começar pelos impostos). Ora esse raciocínio (apesar de bonzinho, muito ao gosto do BE) enfermo de vários erros, e olhando só para o caso da Holanda Vs Portugal, esses erros saltam à vista. Mas fiquemo-nos pelo principal. Restantes condições competitivas. Citando outro autor: “(...) a Holanda é um país com uma base de capital muito superior a Portugal. É um país que tem uma população mais educada que a portuguesa. É um país que tem dois dos mais importantes portos europeus. É um país que tem dezenas de milhões de consumidores num raio de 500 km.” Olhando para estes factos, e para a história do desenvolvimento económico mundial, como podes considerar que a harmonização fiscal pode ser boa para Portugal!? Estas condições manter-se-iam iguais, e o resto estaria pior. Se um país educado, desenvolvido, estável e central como a Holanda usa o sistema fiscal, imagina como ficaríamos nós (que ainda n somos as três primeiras e nunca seremos a quarta) se tudo fosse igual?!

Imagina.. Tudo constante, tudo igual, para onde iria o investimento!? Onde investirias tu!?

(peço desculpa pelo tamanho disto..)

Anónimo disse...

O Pingo Doce não deslocalizou a sua sede, mas sim o seu accionista de controlo, o que significa que continuará a pagar IRC cá, em Portugal. O seu accionista de controlo passará esse sim, a pagar imposto pelos dividendos na Holanda.

Gala

Tolan disse...

Anónimo, não entendi bem em que medida a harmonização fiscal neste caso prejudicaria portugal...? Neste momento parquear capitais na Holanda já é mais vantajoso, por isso, a não ser pela off shore da madeira, não entendo o raciocínio...?

Gala, obrigado pelo esclarecimento. De facto são as mais valias a ser tributadas, mas mesmo assim... E reforço, apesar de achar "errado" não censuro e se fosse gestor eventualmente faria o mesmo. O que explodiu no caso da Jerónimo Martins foi uma "assimetria" digamos assim entre o posicionamento quer na comunicação, quer a nível institucional, de fazer sacrifícios etc. Esta polémica não estalou em mais caso nenhum e a maior parte das multinacionais portuguesas faz isto.

Anónimo disse...

(o anónimo do comentário demasiado longo.)

O meu comentário era geral relativamente à questão da harmonização fiscal. Ela prejudica Portugal (ou países como nós, sem as + valias que enunciei relativamente à Holanda) pois retira a possibilidade de usarmos inteligentemente a politica fiscal a nosso favor, como forma de atrair investimento estrangeiro, uma vez que noutras características atractivas de investimento estrangeiro (educação, centralidade, liquidez de mercado, estabilidade legislativa, eficiência judicial, etc, etc, e tal ) estamos a anos luz desses países (quase todos nossos parceiros europeus). Naturalmente que o nosso objectivo deve ser fazer evoluir essas características no sentido de nos aproximarmos dos nossos parceiros europeus, mas no entretanto estamos a cortar as próprias pernas. (analisar exemplo americano, mesmo com todas as diferenças entre os dois. Ainda n se inventou nada mais parecido!)
Pedro

Tiago disse...

Tolas, quero só dizer-te que vou comentar todos os artigos em que uses a palavra "minete", como em "...que nem deixa os chamuças e os pakis terem os seus minetes sossegados...". obrigado por existires!

Tolan disse...

Hmmm anónimo... eu não gosto da ideia de nos diferenciarmos por regimes fiscais mais favoráveis porque não representam ganhos de produtividade nem de valor no longo prazo (à semelhança da desvalorização de moeda ou impressão de dinheiro pelos bancos centrais).

Uma coisa é estacionar dinheiro num sítio, outra é investir e criar riqueza e emprego. Os impostos de mais valias que a Jerónimo poupa são penuts comparado com o que paga de impostos ao estado português pela sua actividade diária (segurança social dos trabalhadores, IRC, IVA etc.) e com o que contribui com criação de emprego.

O que queremos é investimento e não "sediação" formal e fantasma de empresas aqui, como existe na Madeira por exemplo e que só serve para ocultar trafulhices (e a madeira está como está, não parece valer-lhes de muito a off -shore, só deve servir a alguns).

A atractividade de um país não se esgota num regime fiscal como dizes e bem. Encontrei um estudo de 2005, da Ernst & Young junto de investidores estrangeiros, as coisas pior avaliadas aqui são

"portugal domestic market"(55% más avaliações)
"R&D availability and quality" (44% de más avaliações)
"aid, subsidies and suport measures" (44% de más avaliações)

corporate taxation tem apenas 32% de más avaliações e o labour cost 23% por exemplo.

Ou seja, somos pouco atractivos porque temos um mercado doméstico miserável (somos pobres), falta mais investigação e desenvolvimento e pelos vistos faltam mais apoios do estado. Mas mesmo assim, no espectro global, temos 8% de escolha no país mais atractivo para ter um centro de I&D (a alemanha é o top com 25%) e enquanto que a Holanda por exemplo tem só 3% de escolha... E isto é de 2005, nos últimos anos os cursos de ciências tiveram um aumento de 199% de alunos.

É curioso que também somos relativamente atractivos como centro logístico, eventualmente porque apesar de sermos periféricos na europa, a nível global temos uma localização interessante, portos marítimos etc.

Tolan disse...

para concluir, a Merklina Jolie, ao tornar rígidas as variáveis fiscais, endividamento, impressão de dinheiro, desvalorização de moeda etc. obriga-nos a ajustar no que sobra e o que sobra, em minha opinião é melhor para o bem comum e traduz um crescimento económico mais estável e baseado em ganhos de produção. Podemos certamente discutir o prazo de ajuste (parece-me irreal fazer reformas tão profundas em tão pouco tempo) e o método de ajuste (podem matar o doente com a cura) mas não tenho dúvidas que a finalidade é a única que permitirá à europa ser competitiva a longo prazo no cenário de globalização face a países como o Brasil, China ou Índia que, inevitavelmente (e podem escrever isto) vão ter estoiros valentes nos próximos anos. Começo a conhecer bem a realidade brasileira e é claramente uma economia em sobre-aquecimento devido ao acesso ao crédito (que praticamente não existia), com reflexo numa evidente bolha imobiliária, dependente de um mercado interno que não se desenvolverá para sempre e a medidas ultra-proteccionistas que acabam por gerar corrupção e ineficiências económicas graves e que vão travar a internacionalização das empresas brasileiras, uma vez que serão menos competitivas do que as europeias ou americanas. Vão ver se não tenho razão.

Catarina disse...

Eu gosto muito de chocolate suíço :) Acho que deviam debater mais esse assunto!*

Por essa ordem de ideias também não consumia uma série de coisas feitas em países com mão de obra barata e regimes de prato de sopa e cama! E isso inclui mesmo muuuita coisa, infelizmente!