terça-feira, 17 de janeiro de 2012

crítico lamechas

Na excelente entrevista do ípsilon ao jovem escritor americano Philipp Meyer, autor do American Rust (que ainda não li), afirma que não fez qualquer referência biográfica na sua escrita e que é incapaz de escrever sobre algo próximo. Diz que talvez no futuro possa fazer isso, mas só com distância. O autor viveu uns tempos na cidade decadente descrita no romance, para tirar notas e ver a forma como as pessoas viviam. Criou personagens e entrou na cabeça delas e desenvolveu um romance ficcional de pendor realista que retrata a decadência da indústria do aço americana nos anos 80. É uma obra ambiciosa e consciente. Meyer apercebeu-se que nenhum livro moderno tratava os efeitos da desindustrialização dos EUA com o advento da globalização. Os críticos comparam-no a Steinbeck. Philipp Meyer veio de livros rejeitados e trabalhou quatro anos no American Rust e meteu as fichas todas na mesa, largou um emprego em wall street, ficou falido etc. E conseguiu. Boa.

Estou a ler o Confraria do Vinho do John Fante e, apesar de não ter lido o American Rust, sei que é certamente superior ao certamente excelente American Rust ou a qualquer outro romance escrito na premissa de ser independente da biografia do autor, porque gosto do Fante, do coração atormentado dele e do sentido de humor e da honestidade. Se a uns mete nojo uma arte sem uma preocupação social, para mim, uma arte sem autor porreiro, não me comove tanto. Só isso, posso admirar na mesma.

É um bocado como o Woody Allen. É preciso alguma condescendência para aturar alguns dos seus filmes mais recentes mas, a morrer um realizador, um só, qual é o único que me faria ter uns momentos de silêncio e introspecção e, eventualmente, choramingar um pouco?

2 comentários:

disse...

isso é uma premonição?

Maat disse...

'I whine. I sit and I whine.' adoro esta frase do woody allen, no annie hall. faço dela praticamente um modo de vida.