Na excelente entrevista do ípsilon ao jovem escritor americano Philipp Meyer, autor do American Rust (que ainda não li), afirma que não fez qualquer referência biográfica na sua escrita e que é incapaz de escrever sobre algo próximo. Diz que talvez no futuro possa fazer isso, mas só com distância. O autor viveu uns tempos na cidade decadente descrita no romance, para tirar notas e ver a forma como as pessoas viviam. Criou personagens e entrou na cabeça delas e desenvolveu um romance ficcional de pendor realista que retrata a decadência da indústria do aço americana nos anos 80. É uma obra ambiciosa e consciente. Meyer apercebeu-se que nenhum livro moderno tratava os efeitos da desindustrialização dos EUA com o advento da globalização. Os críticos comparam-no a Steinbeck. Philipp Meyer veio de livros rejeitados e trabalhou quatro anos no American Rust e meteu as fichas todas na mesa, largou um emprego em wall street, ficou falido etc. E conseguiu. Boa.
Estou a ler o Confraria do Vinho do John Fante e, apesar de não ter lido o American Rust, sei que é certamente superior ao certamente excelente American Rust ou a qualquer outro romance escrito na premissa de ser independente da biografia do autor, porque gosto do Fante, do coração atormentado dele e do sentido de humor e da honestidade. Se a uns mete nojo uma arte sem uma preocupação social, para mim, uma arte sem autor porreiro, não me comove tanto. Só isso, posso admirar na mesma.
É um bocado como o Woody Allen. É preciso alguma condescendência para aturar alguns dos seus filmes mais recentes mas, a morrer um realizador, um só, qual é o único que me faria ter uns momentos de silêncio e introspecção e, eventualmente, choramingar um pouco?
2 comentários:
isso é uma premonição?
'I whine. I sit and I whine.' adoro esta frase do woody allen, no annie hall. faço dela praticamente um modo de vida.
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