segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

ADD

Estou a gostar muito deste livro sobre escrever ficção do John Gardner, aquilo de me chatear com as tais fontes de autoridade foi só por embirrar, aprendi a fazer isso com os meus pais desde pequeno. Não me está a ensinar nada, mas é muito útil para angariar argumentos para depois poder embirrar com os aspirantes a escritor sem ser com argumentos básicos como "não és uma pessoa interessante, nunca vais escrever nada de jeito se não te divorciares e renegares os teus filhos e fores alcoólico". Gosto muito da parte em que sublinha que uma das funções essenciais da ficção é entreter e ter interesse e até me deu vontade de chorar quando falou em comics e no Howard The Duck, classificando essas coisas como artisticamente mais elevadas que exercícios estéreis muito bem elaborados mas chatas como tudo e que só servem para se masturbarem uns aos outros em conferências e lançamentos de livros (esta parte fui eu que acrescentei). Há décadas que não me canso de explicar que o Howard The Duck (4.2 em 10 no IMDB) ou jogos como o Grand Theft Auto - Vice City são obras primas da humanidade, mas nem é por isso. Há obras que claramente ambicionam a criar impacto por um efeito estético e formal. Era capaz de colocar o Ada Ou Ardor do Nabokov nesse campeonato. Só que o Nabokov é o Nabokov e perdôo-lhe aquela primeira parte cheia de barreiras a um leitor como eu, pouco resistente e com ADD induzido por videogames e lolcats. Ao comum dos mortais é preferível concentrar-se numa história sobre um pato que vem do espaço e conseguir fazer a coisa com estilo disso (não é fácil). Ou sobre, essencialmente, nada de especial. O falhanço é aborrecer, o falhanço é aborrecer. Não há desculpa para não arrancar um "foda-se!" de alguém, não falamos de números aqui, os números são irrelevantes e enganadores, mas tem de haver alguém assim fixe que diga "foda-se!" (no bom sentido) ou então estamos a fazer uma coisa mal. Rio-me muito (na verdade enervo-me muito) quando dizem que levo o meu blogue muito a sério ou quando tenho de ficar calado quando a minha mãe diz aos amigos distintos e respeitáveis, todos pessoas com idade e que coleccionam arte sacra, pintam, tocam cravinho e fazem coisas na gulbenkian, que eu escrevo e tenho um blogue. Mete-me sempre em alhadas tremendas e eu disfarço e digo que é só um hobbie (nem sequer digo hobbit) e que a minha mãe é um pouco maluca, não tenho blogue nenhum e ela diz no seu sotaque belga "sim filhe, tu tenj'um blóg"mas à 3ª cotovelada cala-se. E depois, interrompendo o silêncio que se forma porque toda gente pensa "coitada, é mãe dele", a minha mãe começa a falar no pêlo que a Lucy larga pela casa e todos falam de forma entusiasmada dos respectivos cães e gatos e nas respectivas consequências da posse dos respectivos animais e transformam-se em patetas e imitam os seus animais, às vezes ladram e tudo e esquecem-me. Mas eu estou atento, a observar, posso parecer um palerma agarrado ao vinho do Porto com 20 anos, mas não sou. Já não me lembro onde queria chegar quando comecei este post mas não me apetece rever.

8 comentários:

Isa disse...

a tua mãe incentiva-te, a tua mãe é uma linda.

Tolan disse...

a minha mãe incentiva-me? A minha mãe fica em pânico quando lhe falo do Bukowsky e do Fante e que devia deixar o meu emprego e ser pescador em Peniche. E depois obriga-me a comer salada de fruta porque tem vitamina C e sugere que vá passear os cães porque um pouco de ar puro me faria bem. Argh.

Isa disse...

Quando lhe disse que ia escrever, que só queria fazer isso, a minha perguntou-me do que vais viver. mas isso é preocupação de mãe. tal como a tua se preocupa qd dizes que vais ser pescador em peniche, pq ela sabe que a vida de pescador anda pla hora da morte. e que o que interessa ao mundo é que tu tenhas um emprego do qual possas falar, que entras às 9 e saias às 5. mas ela sabe que és feliz de outro modo, e orgulha-se do teu blog e tudo, eu tb sou mais feliz qd tu escreves, dás porrada no autor e tal.

Tolan disse...

Ela gosta do Autor, de mim não ._.

Isa disse...

Do Autor é mais fácil gostar, do folgazão, do que nao se importa com nada, do fortão, do maior, do, lá está, persona. eu gosto mais de saber que existe um Tolan que convive com o autor, porque nem só de persona vive o homem... e às vezes é preciso chamar o Tolan, e o mundo e suas exigências e padrões que se f... pq o mundo precisa de Tolans, já está farto de autores, que só convencem quem não faz ideia da galera que mora dentro de cada um...

Isa disse...

esqueci-me de acrescentar: e acho que ela também gosta de saber que existe um Tolan...

Patife disse...

Foda-se Tolan. Grande texto, foda-se. ;)

Tolan disse...

((abraço))