sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

adaptação

Não suporto a subjugação. Custa-me que um presidente da república fale para “os portugueses” convencido que está a falar para mim e que aquela encenação da bandeira e do hino me diz alguma coisa e que lhe confere autoridade. A revista às tropas, a hóstia, o congresso do partido, os comunistas todos a entoar a internacional, os católicos na missa, ajoelhados e o padre a ler um livro escrito para entorpecer as massas, o juiz pomposamente vestido de toga num pedestal, o jubilar de um professor, o colar da ordem , a árvore de natal e o presépio, a ordem do grão duque do raio que os parta, os trajes académicos e a bênção das fitas… O progresso é a destruição das encenações, é assim que vejo a minha utopia, sem religião, sem nacionalidade, sem nada que valha a pena viver ou morrer por, assim à John Lennon. Uma utopia é uma utopia e a minha não foge à regra: é impossível de atingir. Porque para se atingir, precisaria de existir um grupo mais forte que os outros que se lhe iriam opor e isso tornava-te igual a eles, se querias seguir o John Lennon ias parar a hippie e vestir aquelas roupas e fazer aqueles rituais e seres um imbecil como eles. Mesmo a anarquia envolve-se em rituais e símbolos que os identificam como anarquistas. A única forma de criares um grupo forte é pelo ritual e pela encenação. Não se cria um exército, nem se ganham votos ou poder de outra forma. Por isso, homens puramente livres estão condenados a vaguear como fantasmas entre os escravos que são mais ferozes e violentos do que eles ou então dares em doido. Para não seres um fantasma ou não dares em doido, adere a rituais inofensivos, que é o que faço, ao Benfica, a vestir o fato quando vou a clientes, à árvore de Natal, às prendas no aniversário, ao arroz atirado para cima dos noivos no casamento, não faz mal, sê um deles, aceita o que não mexe assim tanto contigo e não é assim tão grave e até te pode divertir, é a única coisa que interessa. Se algo de grave se passar, algo que te impeça de seres livre, então adere ao grupo que combate isso da forma mais eficaz até venceres, depois adere a outro grupo que combata esse grupo, muda, adapta-te.

8 comentários:

Anónimo disse...

adapta-te e mata a tua individualidade.

Tolan disse...

Não, não infanta punk, não foi exactamente isso que quis dizer, o que quero dizer é que podemos ser adaptáveis para manter a nossa individualidade preservada e protegida. Imagina que gostas muito muito muito de andar de pijama. Eu gosto, por exemplo. Mas se fosse de pijama trabalhar, era internado, muito provavelmente, e perdia o emprego. E perdendo o emprego, não tinha dinheiro para usar pijamas dentro de casa. É mais ou menos isto.

Tolan disse...

Ah, e os punks, são um grupo, com rituais, acho muito bem ser punk onde eles não encaixam, como na inglaterra dos 70s e 80s e naquele país asiático islâmico (qual foi?) onde lhes raparam a cabeça a todos e os meteram em campos de educação. Foda-se, aquilo é que é ser punk, respect. Agora ser punk para andar pelo bairro alto e coiso? Nah.

disse...

lê o Banqueiro Anarquista, é um livrinho, mesmo que não gostes não te tira grande tempo de vida.

homeless disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

sim, mas esse é 1 processo que acaba por nos anular, porque afinal acabamos por nunca dar vida à pessoa que realmente somos e que fica restrita às paredes lá de casa quando estamos sozinhos. digamos que o nosso verdadeiro Eu nunca fala em público, não anda nas ruas, não entra num café, não vive.no seu lugar vive um holograma 3D. era a isso que eu me estava a referir. quando fazemos algo que vai contra a nossa vontade estamos a ir contra nós próprios a favor de uma maioria. infelizmente somos obrigados o que nos torna escravos mais ou menos insubordinados

Isa disse...

Aê, Tolinhas!

Beatrix Kiddo disse...

os gunas quando vão no metro ou no autocarro estão a ser 100% eles próprios como se estivéssem em casa de pijama, e então temos de levar com os empurrões "'xa passar oubelá" e ouvir as suas músicas de tlm.