quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Spielberg, por favor, se não consegues combater a senilidade, imita o George Lucas e está quieto, tu não és um Clint Eastwood

Há uma diferença fundamental entre "comics" americanos e a bd europeia. Personagens como Batman ou Superman são uma espécie de conceito que pode ser recriado por diferentes artistas, quer na BD quer no cinema, podem sempre ser reinventados, melhor (Burton) ou pior (Schumacher). Os comics são mais descontraídos nisso, é como um franchise que é emprestado a artistas. E é uma honra poder desenhar, escrever ou filmar determinado nome da mitologia de comic americano.

Outra coisa totalmente diferente é a BD de autor. Não há 242 Tintins, há 1, o de Hergê. Por isso Alan Moore sempre recusou que fizessem um filme do seu Watchmen e recusou ser associado ao filme. Por isso o Bill Waterson sempre recusou fazer um franchise a la Garfield do seu Calvin & Hobbes.

Fazer um Tintin apalhaçado em 3D está ao mesmo nível que ter o Michael Bay a fazer um filme de acção do Dom Quixote com moínhos em 3D e gigantes digitalizados e explosões (hmm... era capaz de ser giro...). Não percebo porque optou por animação, só por aí é totalmente imbecil a escolha e um erro que felizmente poucos realizadores cometem quando se metem nisto. Isto é macaquear uma obra, é uma palhaçada.

Spielberg, o cineasta da minha vida, tem-se revelado um imbecil de primeira com a idade, um pouco à semelhança de Tim Burton mas ainda mais grave (não tão grave como George Lucas que ficou senil num ápice mas ao menos não chateou muito). Ele sempre fez merda de vez em quando (Lista de Schindler, Cor Purpura etc.) mas era intermitente e nos últimos anos até fez um Minority Report, um Catch Me if you Can, ou aquele dos aliens a invadir a terra e que eu acho que está brutaaaal (a sério).

Acho que o exemplo mais flagrante da intermitência de merda que o Spielberg é capaz de fazer é o final do A.I, obra que tem uma primeira parte fabulosa (feita com o Kubrick ainda vivo) e depois um final totalmente imbecil, spielberesco, a carregar na tecla da redenção e do sentimentalismo de pacotilha até a partir. Penso que ele às vezes pensa que o espectador médio é algo com um QI próximo de um de um americano médio. No Indiana Jones e a Caveira de Cristal conseguiu a proeza de banalizar a sua própria criação sagrada e agora estende as manápulas de judeu ganancioso a tudo o que se mexe. Qualquer dia faz-me um ET - O Regresso, todo digital e em 3D e eu mato-o.

O único filme bom de adaptação de BD europeia que foi o Asterix e Cleópatra (o 2º filme de Asterix) de Alain Chabat. Mas o próprio Asterix em BD também já era um franchise desde a morte de Goscinny em 77.

14 comentários:

Miguel disse...

Ai, que vamos discutir Tintin no cinema! Olha que vamos viajar até 1947, hã! Diz-me lá uma coisa, antes de mais: qual seria o modelo que defenderias para o filme, não sendo animação?

Teresa disse...

Não havia melhor volta a dar... que mania que os Americanos têm de pegar no que não é deles, darem umas voltas e reviravoltas e chamarem-lhes "mine".

Não quer estragar não mexe!

Miguel disse...

Mas vocês sabem meeeeesmo o que estão a dizer?!! Por acaso já tiveram ocasião de assistir a umas entrevistas bastante antigas ao Hergé, em que ele fala do processo de passagem do Tintin para o cinema, e de como isso lhe interessava?!?

Prezado disse...

Eu ainda não vi o filme, mas do tratamento 3D que vi, posso dizer de chapa: boa bosta.
O tratamento debil mental do espectador no cinema americano é comum, mas realmente encontra o auge nesse final do A.I., que é quase de dar um tiro na cabeça. O Michael-tenho-um-problema-com-tamanho-Bay também é outro mestre nisso.
Era reverem a classificação etária, um pouco como o tamanho dos sapatos: um maior-de-16 americano é um maior-de-6 europeu.

Tolan disse...

Passar ao cinema não tem mal nenhum, não foi isso que disse. O Indiana Jones do Spielberg tem muito do Tintin como herói de acção, a época, o humor, com detalhes de sorte (o Tintin é muito marcado por "sorte impossível")... eu penso que o Tintin no cinema merecia uma abordagem do género, com actores, em francês, com contenção no espalhafato, inteligência nos detalhes, algo mais adulto e não uma coisa infantilóide de animação para europeus de 6 anos ou americanos de 18. Este filme do Tintin é meramente um produto e nada mais do que isso. Não estou a defender uma coisa intelectualóide porque Hergê era popular como o melhor Spielberg.

Miguel disse...

Percebo perfeitamente o que dizes, e é só porque assisti a algumas conversas do Hergé muito antigas é que insisto: a palavra que ele mais usava para definir o resultado final da BD Tintin era "perfeição". Ele queria que no contexto Tintin, quer a técnica, quer a substância da história, fossem perfeitos. E era verdadeiramente obcecado com isso. Compreendo o Spielberg ao considerar que esse desígnio só se conseguiria atingir por meio de uma animação, afinal de contas se usasse actores em filmagem natural estaria a afastar-se da aura de perfeição visual que se consegue ao desenhar.
Hergé morreu dias ou semanas antes de se encontrar com Spielberg para conversarem sobre o filme. Seja como for, no acordo firmado entre os dois, Spielberg só colocou uma condição: que Hergé não tivesse qualquer interferência. Hergé aceitou e assinou. Porque adorava Spielberg, como ele dizia. O maior cineasta, como ele dizia. Acreditava que, mesmo sem a sua interferência, Spielberg saberia conceder ao filme o espírito que ele próprio sempre pretendeu para a BD.
Enfim, não conheço mais detalhes, mas do que sei penso que o homem não estará a dar voltas no túmulo, estou convencido de que subscreveu tudo o que foi construído para aquele filme.

P.S. talvez que a "sorte impossível" de que falas esteja relacionado com a tal "perfeição" de que Hergé falava. Até nos cenários ele era neurótico para conseguir chegar à perfeição. Não consegues isso com filmagem humana. Digo eu, claro.

Anónimo disse...

Desculpa mas eu nao acho a tua uma critica valida... Cada um com a sua opiniao, obviamente... Mas como critico de cinema nao és muito bom... continua com a prosa engraçada que para isso tens muitissimo talento...
:D

NICE

Tolan disse...

Não sabia disso, mas eu acredito que o Spielberg que o Hergê conheceu foi outro que não este. Sem dúvida que Spielberg é o realizador mais próximo de Hergê que pode haver. Mas tem feito coisas más. O Hergê foi melhorando com a idade na série Tintin. Eu tenho um bom espólio do Tintin e do Totor (a personagem antes do Tintin) A minha avó tem tudo, é belga e tem os originais da época :) Também tenho os Quick e Flupke que eram outras duas personagens dele. As coisas foram evoluindo, é giro ver essa evolução no Hergê.

Lembrei-me do Persepolis. A BD é excelente o filme também ficou muito bom, limita-se a "animar" sendo muito fiel ao estilo original e tem piada o toque retro de uma animação sem ser tridimensional. Porque não fazer um filme de animação puro e duro? O Hayao Miyazaki continua a fazer animação "tradicional", com sucesso e os resultados são bem assombrosos e interessantes do ponto de vista cinematográfico.

Tolan disse...

E quanto ao anónimo, não estou a fazer uma "crítica válida", é um resmungo.

Miguel disse...

A partir daqui, só mesmo eu ver o filme para poder discutir contigo taco a taco.
Disclaimer: eu era mais Disney e super-heróis.

Anónimo disse...

«Lembrei-me do Persepolis. A BD é excelente o filme também ficou muito bom»

Eu vi o filme este fim-de-semana. Não sou crítico e conheço alguma banda desenhada. Conheço tintin. Tintin da banda desenhada tem suspense e mistério, aventura e "passado", referências.
Coisas que se perdem, porque o primado é sem dúvida a "espetacularidade" gráfica.
Até aí não é mau.
Mas acho que puxaram ao limite a "acção", e acaba por encher chouriços a última hora de filme. Uma mão cheia de nada.
Só vale a pena pela primeira hora e meia de filme.
E sim, de tintin 0.
Filme de sic num sábado de natal.

Aladdin Sane disse...

oblá, clint eastwood? muita densidade, muita solenidade... grandes secas!

sobre o a.i., toda a razão! o final perfeito seria a cena em que o "miúdo" fica preso no fundo do mar, contemplando a estátua para todo o sempre, como se da sua mãe se tratasse. mas o museu do spielberg lá teve de engendrar um final infantilóide.

Rosa Cueca disse...

Por mim está tudo bem até me falares na Guerra dos Mundos.
É uma merda. Não há outra forma de colocar.

Anónimo disse...

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